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4 A TRANSFORMAÇÃO TÉCNICA DA NATUREZA E SEU CONTEXTO DE

4.5 Desenvolvimento sustentável enquanto discurso

enquanto recurso, há uma forte intenção em negociar a coexistência dos seres humanos e da natureza. O quadro acima apresenta apenas alguns acordos recepcionados, embora muitos outros sejam assinados.

4.5 Desenvolvimento sustentável enquanto discurso

Apesar das diversas proposições de nenhum modo a solução da crise ambiental deve ser buscada em formas de produção que conduzam a modificações no modo capitalista de produção e de consumo de mercadorias, considerando que a essência do problema está na relação homem-natureza que perpassa pela mercantilização das relações impostas pelo modo de produção e por todo o sistema capitalista.

A reflexão não deve perder de vista que há um domínio político ideológico e econômico que garante a reprodução dos padrões de produção e consumo capitalista e não apenas isto, mantém também o status quo ao permitir que áreas ―ambientalmente‖ ricas sejam responsáveis pelo equilíbrio do planeta, situadas principalmente nos países subdesenvolvidos, discurso legitimado e gerenciado por políticas ambientais globais a partir de países centrais, desenvolvidos.

A concepção de desenvolvimento sustentável posta tem contribuído para encobrir as relações de poder entre as nações e tem legitimado intervenções em áreas determinantes para o ―futuro do planeta‖. Tal discurso tem protegido os modelos de exploração dos recursos naturais capitalistas dos países centrais, havendo, portanto uma ―reterritorialização dos espaços que se contrapõe às fronteiras políticas e sociais nacionalmente conquistadas‖ (FERNANDES; GUERRA, 2006, p.13).

Esse ―novo colonialismo‖ ambiental desencadeia não apenas o desrespeito às fronteiras, à soberania, mas promove e acirra conflitos ao impor mudanças localmente desnecessárias, mas que são importantíssimas para o sistema pressionado pelos limites energéticos, hídricos, minerais, genéticos que impedem sua expansão e reprodução.

Verifica-se, portanto que não há um interesse em estabelecer um novo pacto social, com base em novas relações entre sociedade e natureza, tão pouco uma reflexão sobre a condição humana nas sociedades modernas.

Vivenciamos a ―reinvenção da idéia de progresso, que ao mesmo tempo se confunde com a de fronteira de recursos, de possibilidades de realização, valorização econômica. Fronteira entre o conhecimento e o desconhecido. Ainda, fronteira como lugar de invenção dos mitos e assim poder chegar ao desafio de desconstruir àqueles que se reproduzem na atualidade‖ (FERNANDES; GUERRA, 2006, p.19).

Quando analisamos historicamente cada dimensão que o desenvolvimento enquanto teoria caminhou, percebemos que as sucessivas crises e apogeus do sistema capitalista exigiram que internamente o sistema demandasse mudanças, por vezes estruturais, que refletiram diretamente na organização da sociedade. Mudanças não aleatórias e despropositadas, mas com forte objetivo de manter o sistema capitalista como hegemônico.

Considerando que tal sistema submete a sociedade à pior condição humana por se basear na exploração e submissão desta para a manutenção e reprodução do próprio sistema, entendemos que modelos de desenvolvimento como o desenvolvimento sustentável devem ser postos em prática como uma forma de estabelecer não apenas um novo paradigma, mas uma alternativa ao sistema capitalista enquanto sistema ―único‖, dominante e hegemônico.

5 A NATUREZA DO HOMEM: DESTRUIÇÃO E PODER NO OESTE DO PARÁ

[...] Nós falamos agora pelo nosso povo, pelas crianças e pelos animais. As estrelas no céu nos contam nossas histórias passadas, nos guiando no presente e indicando o futuro. Esse é o território de Karosakaybu, onde sempre vivemos. Somos a natureza, os peixes, a mãe dos peixes, a mangueira, o açaizeiro, o buritizeiro, a caça, o beija-flor, o macaco e todos os outros seres dos rios e da floresta. Ainda vivemos felizes em nosso território, a correnteza dos rios nos leva para todos os lugares que queremos, nossas crianças podem nadar quando o sol está muito quente, os peixes podem brincar e ainda se multiplicam com fartura, mas fomos obrigados a aprender duas novas palavras da língua dos pariwat, palavras que nem existem na nossa língua:

preocupação e barragem. (CARTA MUNDURUKU, 2016).

A filosofia da natureza e a história do Direito são também como um espectro do homem, afinal todas as ideias construídas revelam muito o que o homem é na sua essência. Entender o que é outro foi também nosso recurso metodológico para entender como o homem vê a natureza e em qual lugar ele a coloca. Assim, também o fizemos com o Direito, pois os instrumentos legais que possibilitam e facilitam muitas vezes a ação violenta do Estado também tem homens por detrás. As transformações que o conceito de natureza vem sofrendo ao longo de todos esses anos nos conduziram ao caminho da destruição. Todo o discurso de desenvolvimento foi um indutor ainda mais eficiente de destruição, pois acelerou a invasão dos territórios e reviveu os grandes processos de colonização.

Para os países ditos do terceiro mundo, a crise ambiental é mais um processo de inversão dos papeis desempenhados dentro do grande jogo de poder que se tornou a aceleração dos processos de destruição da natureza. Os números no capítulo anterior não revelam apenas a falsa premissa de vocação agroexportador que o Brasil, por exemplo poderia ter, que para muitos tem! Os números revelam o principal a saber: o DESTINO de todos esses produtos que causam a destruição da natureza neste país.

O bioma amazônico jamais teria como VOCAÇÃO o desenvolvimento de uma atividade de monocultura, como é o caso da Soja que avança todos os dias sobre a floresta, tão pouco a pecuária e a atividade madeireira. A Amazônia é uma floresta tropical de clima quente e úmido, com altos níveis de biodiversidade, alguns especialistas dizem que cerca de 60% de todas as espécies do planeta se