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Cirurgia ortognática e integração social

CAPÍTULO 5 – A EMERGÊNCIA DE UMA ERGONOMIA ESTÉTICA

5.4 MELHORANDO A AUTO-ESTIMA: A CONTRIBUIÇÃO DAS CIRURGIAS

5.4.1 Cirurgia ortognática e integração social

Numa época em que há incisiva pressão contra o emprego formal, dadas as dificuldades dos empresários em pagar com facilidade os encargos trabalhistas, qualquer pretexto por mais sutil pode ser assacado contra a presença do trabalhador em determinado cargo ou função.

Se nos lembrarmos da “Pirâmide de Maslow” (Fig. 1), na medida em que se sobe de posto nas organizações, exige-se cada vez mais um “padrão estético” ao trabalhador, traduzido em sua postura, vestuário, maneirismos sociais, etiqueta e outras exigências não-escritas, mas que pesam sobremaneira em sua aceitação.

Um defeito físico, sobretudo o facial, concorrerá para afetar as ambições desse trabalhador no sentido de ser aceito nas funções de diretoria ou de alta assessoria de direção, em virtude de que esses postos representam o “cartão de visitas” da própria organização.

Uma das alternativas para resolver os defeitos flagrantes da face é, sem dúvida, a cirurgia ortognática que, ao ser realizada, contribui sobremaneira para acelerar os processos de integração social de pessoas discriminadas no ambiente de trabalho.

O ortodontista e o cirurgião buco-maxilo-facial, ambos dentistas, são convocados a preparar a cirurgia, que perfaz um ciclo completo de dois anos, divididos em fases: um ano e meio para o preparo da cirurgia; de três a seis horas, para a cirurgia propriamente dita; 48 horas para alta do paciente e, finalmente, seis meses a um ano de ortodontia pós-operatória e finalização de caso.

Quando é feita a correção da posição das estruturas ósseas através da cirurgia ortognática, o rosto modifica-se, embora não seja objetivo único do

tratamento a transformação estética: visa-se, na verdade, aperfeiçoar a mordida, a fala, a respiração e a deglutição.

De tal modo esse procedimento cirúrgico é efetivo que 96% dos pacientes, ao perceberem os resultados, testemunham que gostariam, caso fosse necessário, de realizar a cirurgia outra vez148.

O aparelho ortodôntico em si é freqüentemente tido como uma coisa corriqueira, mas tem um papel importante no tratamento ortodôntico e cirúrgico do paciente com problemas dento-faciais.

Embora seu valor em dar forças ortodônticas para um posicionamento dentário pré-operatório e pós-operatório seja bem entendido, os ortodontistas ainda subestimam a quantidade de esforço colocada no aparelho durante sua operação. Neste momento, os aparelhos ortodônticos e dentes servem como alavancas para os ossos. Eles são usados para estabilizar a posição do segmento e segurar a fixação máxilo-mandibular antes da colocação final dos fios trans-ósseos ou parafusos e miniplacas de titânio. Os aparelhos são frágeis ou facilmente quebráveis ou exibem tolerância excessiva de fio-braquete no momento da cirurgia, o que pode causar complicações, incluindo aumento no tempo de operação e erros no posicionamento dos componentes esqueléticos.

Uma relação esquelética anormal, além dos prejuízos estéticos que acarreta para o indivíduo, ocasionando a “feiúra”, produz também sérios problemas funcionais, como a falta de engrenagem dos dentes, a modificação do espaço anatômico da cavidade oral e um posicionamento errôneo da língua, com a conseqüente modificação da voz e da pronúncia de determinadas sílabas, como as labiais, as linguodentais e outras.

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A respiração também pode ser prejudicada em menor ou maior grau, como no caso das micrognatias, que provocam a redução das vias aéreas superiores e contribuem para o conhecido ronco noturno ou apnéia do sono.

Cada tipo de deformidade esquelética requer uma determinada técnica cirúrgica, envolvendo apenas reposicionamento de segmentos do esqueleto facial, através de osteotomias e fixação interna rígida, de miniplacas e parafusos de titânio. O tegumento (tecidos moles) acompanha naturalmente a nova posição dos ossos remanejados, proporcionando verdadeiros milagres no contorno facial e no perfil da face operada. A moderna Cirurgia Ortognática não lança mão dos preenchimentos estéticos do passado, como os implantes de silicone, nem admite mais as amarrilhas dos dentes, por 30 – 60 dias, eliminando assim o desconforto, a interferência na alimentação e os riscos de um acidente por asfixia149.

A decisão cirúrgica só é tomada depois de minucioso diagnóstico, realizado a partir do exame clínico do paciente e de meticulosa análise cefalométrica (para estudo do esqueleto facial), de estudo radiográfico e de modelos de gesso de ambas as arcadas dentárias. Na maioria dos casos é necessário um preparo ortodôntico prévio antes da realização da cirurgia.

Uma vez tomada a decisão de operar, a cirurgia é então realizada nos modelos de gesso, seguindo-se todos os passos da análise cefalométrica, respeitando-se cada milímetro a ser retirado ou acrescentado. Confeccionam-se então os guias cirúrgicos ou “splints”, que orientarão o cirurgião durante o ato cirúrgico. Com essa seqüência de detalhes e a redução do trauma cirúrgico, os resultados pós-operatórios podem ser surpreendentes, com o mínimo de dor, edema

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e traumatismos cutâneos resultantes do afastamento intempestivo dos tecidos moles.

Outro dado de extrema importância é que a equipe cirúrgica deve constituir-se de cirurgiões capacitados e experientes, capazes de se revezarem no campo cirúrgico, sem prejuízo dos resultados. As cirurgias ortognáticas não devem ser realizadas por um cirurgião isolado, auxiliado por recém-iniciados em cirurgia.

Enfim, cirurgia ortognática é, na verdade, a arte de transformar faces, tornando-as perfeitas ou quase perfeitas.

Decorre daí que temos plena consciência dos efeitos sociais desses procedimentos cirúrgicos, que podem ser combinados com outros, no âmbito da cirurgia plástica, ajudando a evitar dificuldades de relacionamento para diversos colaboradores, desejosos de colocar as suas ambições de natureza funcional mais sobre os seus méritos do que na aparência.

Ocorre que os méritos só são avaliados de per si, quando as questões da aparência ou da obesidade estão solucionadas, remanejando o foco de julgamento da atitude do colaborador sobre o seu comportamento funcional estrito.

De qualquer maneira, não se discute mais a utilidade da cirurgia ortognática na melhoria das condições de saúde e bem-estar do trabalhador, assim como no grau de integração social que obtém a partir do sucesso dessas intervenções.