• Nenhum resultado encontrado

Capítulo III: O processo da tomada de decisão

1. Clarificação do conceito

É reconhecida a sobeja importância que revestem as performances no quotidiano de uma organização, daí que as atenções do(s) decisor(es) se concentrem na maximização dos interesses da sua instituição e, para consegui-la, nas decisões certeiras que potenciem o(s)

melhor(es) resultado(s). Na terceira parte do nosso trabalho de investigação, colocaremos em foco alguns dos mais destacados aspetos de todo o processo que leva à tomada de decisão, tida nestes propósitos como a essência da destreza gerencial, os ventos que permitem ao leme rumar na direção correta. De facto, uma das responsabilidades fundamentais que cabe a qualquer gestor, seja de que âmbito for, será eleger ou decidir a melhor alternativa num contexto de tempo e espaço que lhe são proporcionados. O sucesso organizacional repousa pois na opção pelo melhor caminho, the one best way, parafraseando os já propalados princípios taylorianos, que todos os decisores almejam concretizar nas suas tarefas.

A decisão é um elemento que faz parte do nosso dia-a-dia, integra a nossa rotina desde o ato mais insignificante ao mais exigente. Frequentemente e perante diversos âmbitos e circunstâncias, somos levados a resolver, deliberar e escolher uma ação para solucionar um problema, quer individualmente quer em grupo/organização. Esta solução reveste o que podemos apelidar de facetas ecléticas, seja racional ou emotiva, de feição simples ou complexa ou ainda ponderada ou célere; ela de facto representa uma atitude para responder a um determinado obstáculo ou situação que precisa ser ultrapassado. A decisão procura restaurar o equilíbrio perdido, o que nem sempre corresponde a regressar ao status quo anterior, não raras vezes instaura-se uma nova ordem, uma mudança. Essa missão que está inerente no processo de tomada de decisão acarreta sempre uma grande envolvência e até responsabilidade, “nada é mais difícil de executar, mais duvidoso de ter êxito ou mais perigoso de manejar do que dar início a uma nova ordem das coisas”, professava Maquiavel na educação do seu jovem príncipe cerca de cinco séculos atrás.

Embora a decisão reproduza o rosto e o cálculo daqueles que a determinaram, não representa uma unidade em absoluto, como nos refere Winterfeldt, pode denunciar pontos de vista heterogéneos e refletir vários prismas, “(…) as a problem or an opportunity, as a strategic choice or a tactical move, as an approach to balance multiple objectives, or as a means to meet a specific goal” (2001: 261).

De notar ainda que reencontramos essa latente heterogeneidade no facto de ciências de distintos quadrantes concorrerem para explicitar o processo da tomada de decisão, “behavioral disciplines include anthropology, law, philosophy, political science, psychology, social psychology, and sociology. Scientific disciplines include computer science, decision analysis, economics, engineering, the hard sciences (e.g., biology,

chemistry, physics), management science/operations research, mathematics, and statistics” (Turban et al., 2007: 49). Á primeira abordagem portanto, este campo de investigação parece abranger uma amplitude de conceitos e paradigmas fruto de várias aportações, uma transdisciplinaridade, o que desacredita por isso o juízo vindo do senso comum que encarava a decisão como o resultado de uma simples demonstração de talento, mero misto de inteligência e intuição, ou por outras palavras, de arte e engenho.

Quando o processo da tomada de decisão na esfera da gestão de uma escola com contrato de autonomia despertou o nosso interesse, considerámo-lo a priori uma peça fundamental do xadrez em questão. Em boa razão, porque o que levou e permitiu a esse pelotão de escolas reivindicar mais autodeterminação e a gestão responsável das suas expetativas, assentou na força e pertinência de decisão das mesmas, naquilo que lhes possibilitou afirmarem-se enquanto escolas com iniciativa, proativas, motivadas para o desafio e capazes de superar os obstáculos, já que cada escola discriminou “(…) os aspetos em que quer incidir o seu esforço de melhoria e para cuja superação define objetivos, programa ações e estabelece indicadores para avaliar a sua concretização” (Formosinho, 2010: 26). Essa capacidade de agir, esse zelo pouco vulgar envolve um processo de tomada de decisão bem cimentado e, porque não, algo arrojado, para além de um projeto educativo sólido e com uma visão clara. Segundo Donnelly et al., a decisão é muito mais do que uma formalidade, trata-se de um processo interativo e dinâmico que não representa um fim em si, mas sim um meio para atingir um fim (2000: 121), uma estratégia digamos, que abarca mais ou menos recursos, dentro de um leque mais ou menos amplo de riscos, mas que aspira a um determinado resultado ou efeito.

Com o objetivo de esclarecermos esta problemática e sustentados numa variada bibliografia, verificámos que ao processo da tomada de decisão encontram-se intrinsecamente apostos múltiplos aspetos e fatores, alicerçados em modelos e quadros teóricos referenciais que devem ser tidos em linha de conta por quem aborda o estudo de qualquer organização e a lógica decisória que a assiste. O dito processo dinâmico que referenciávamos anteriormente, longe de circunscrever-se a um ato isolado, ocorre na sequência de uma história que o clarifica. Para Winterfeldt, os elementos preponderantes na tomada de decisão resumem-se a quatro: “the decision maker, the stakeholders, the decision alternatives, and the decision objectives” (2001: 261). Voluntária ou inconscientemente, este quarteto privilegiado está debaixo do jugo de informações vindas

quer do meio envolvente (nível externo: económico, político, sociocultural e normativo) quer do seio da própria organização (nível interno: estrutura, planeamento, controlo e lobbying), influenciando o produto final. Tanto o(s) decisor(es) como as partes interessadas podem ser um indivíduo, um grupo ou, inclusive, uma organização.

Ainda no dizer do último autor, o(s) decisor(es) controla(m) o processo de escolha entre um conjunto de alternativas, bem como se submete(m) a uma hierarquia de influências que vai desde os especialistas aos líderes intermédios e de topo. As partes interessadas representam todos aqueles que são afetados ou estão interessados na decisão e devem fazer parte do seu processo de construção porque podem influenciá-lo sob diversos ângulos. O(s) decisor(es) controla(m) as opções de escolha e, por sua vez, são as opções de escolha que ordenam as consequências importantes que recaem sobre as partes interessadas. Por último, no que toca aos objetivos, estes definem os valores que norteiam a ação do(s) decisor(es) e, frequentemente, são conflituosos entre si na procura da decisão (2001: 261-263).

De seguida, centrar-nos-emos nos principais pontos teóricos que marcam, na nossa opinião, o processo da tomada de decisão numa organização: as etapas, os níveis e os modelos. Não querendo fazer destes elementos a sinopse rígida e exaustiva que esgota este conceito, são decerto o seu núcleo duro. Por fim, aplicaremos algumas destas noções no nosso terreno próprio de investigação, a organização educativa, para contextualizarmos as suas implicações no quotidiano da escola e, se possível, depreendermos como se formula no quadro da gestão e administração escolar.