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Classificação de Revistas Digitais

Capítulo 2 – Enquadramento Teórico

2.6. Revistas Digitais

2.6.4. Classificação de Revistas Digitais

A revisão da literatura também nos mostrou que a classificação atribuída às revistas digitais não é unânime. As diferentes teorias que resultam da elaboração de estudos sobre esta temática apontam para classificações distintas de acordo com o meio, o formato da publicação e a natureza do conteúdo.

Alguns autores, como Dourado (2014) admitem que as revistas digitais podem ser distribuídas em três formatos: na Web, em Smartphone e em Tablet. No estudo realizado por esta investigadora é possível identificar seis modelos de revistas digitais: Sites de Revistas, Webzines, Revistas Portáteis, Revistas Expandidas, Revistas Nativas

114 Digitais e Revistas Sociais. Em relação aos Sites de Revistas refere que praticamente todas as revistas impressas têm Sites de Revistas que funcionam com objetivos distintos, nomeadamente, a fidelização do cliente ao produto impresso, ou como canal para aprofundar os assuntos tratados, ou proporcionando ao cliente recursos multimediáticos nas narrativas, com áudio, vídeo, infográfico interativo ou galeria de fotos. O Site pode ainda proporcionar a participação do público ou de produção de conteúdo colaborativo. As Webzines, segundo modelo, são publicações fechadas distribuidas num meio digital. Permitem a inserção de narrativa multimédia enriquecendo o conteúdo. Sobre as Revistas Portáteis refere que o surgimento dos aplicativos de revistas que podem ser adquiridos em lojas virtuais como a App Store, da marca norte americana Apple, de modo gratuito ou pago, deslocaram o consumo para os pequenos aparelhos móveis. Em relação às Revistas Expandidas, quarto modelo, salienta que as revistas que dominam o mercado com vendas e anúncios afirmam a presença editorial também nos dispositivos móveis, suporte em que são disponibilizadas as publicações deste paradigma. Tais revistas utilizam a versão impressa na íntegra e adicionam novos elementos de conteúdo multimédia em níveis de aplicações diversas. Por serem uma extensão potencializada da versão impressa, Dourado (2014) optou por designá-las Revistas Expandidas. As Revistas Nativas Digitais constituem o quinto modelo. São publicações desenvolvidas exclusivamente para Tablet e têm crescido no mercado editorial. "Pelo caráter exclusivo, pensadas e desenvolvidas com foco na plataforma, a expectativa é que as produções sejam interativas e experimentais, propondo uma linguagem inovadora, condizente com as características do suporte Tablet. A proposta da revista é, justamente, apresentar o conteúdo de forma inovadora e inédita, a partir do uso da tecnologia, buscando não

115 repetir formatos típicos de outros medium, inclusive, da própria revista impressa." (Dourado, 2014, p. 120). Neste tipo de modelo o leitor pode ser incluído na construção do conteúdo. O sexto modelo identificado por Dourado refere-se às Revistas Sociais. "Este conjunto abarca os produtos autodenominados revistas que são visualizados através de softwares que rodam em sistemas operacionais de tablets. Estes programas são convertidos em produtos a partir do uso continuado do usuário, que configura perfis de redes sociais para receber informações noticiosas ou da esfera privada." As informações são organizadas funcionando como agregadores de conteúdo. "A prática destes produtos, intitulados revistas, tem relação direta com a cultura vigente no ciberespaço, principalmente em termos de autonomia de produção e de distribuição de conteúdos" (p. 121). A autora salienta que os quatro modelos iniciais têm muitas semelhanças com as características das revistas impressas, "tendo a capa como principal representação simbólica e identitária da revista, e com conteúdo disponibilizado de modo sequencial, algumas com simulação do folheio, como as Webzines, que são pensadas para leitura em computador, note ou netbook. O folheio é adaptado – não simulado – nas Revistas Expandidas e Nativas Digitais, ambas consumidas em tablets, com navegação por conteúdo e orientação de leitura dinâmica, aspectos previstos na especificidade tecnológica do aparelho" (p. 123).

Numa outra perspetiva, Burke (2013) classifica as publicações digitais de duas formas distintas. A primeira debruça-se sobre o formato da publicação, a segunda sobre o tipo de conteúdo divulgado de forma digital. Como alguns tipos de publicação podem ser desenvolvidos em mais do que um formato, Burke (2013) relacionou os tipos de

116 publicação e os formatos mais adequados a cada um deles. A relação entre tipos e formatos de publicações digitais encontra-se expressa no quadro 5:

Quadro 5: Classificação das características dos dispositivos

Fonte: Burke (2013)

O conteúdo digital pode ser divulgado através de diversos dispositivos de leitura que determinam a capacidade para a leitura de cada tipo de publicação digital. Burke (2013) classifica-os em quatro classes: computadores, smartphones, ereaders e tablets. Destaca ainda diversos tipos de publicação digital em relação aos seus formatos, dos quais destacamos: o Pdf, a réplica digital e a revista interativa. O Pdf foi, e continua a ser para algumas publicações, o formato privilegiado para a distribuição das publicações digitais. Possui alguma interatividade através de hiperlinks e é possível a sua leitura em quase todos os dispositivos. A réplica digital é, como o próprio nome indica, uma cópia da versão da revista impressa e permite a introdução de hiperlinks, com texto, audio e vídeo. A revista interativa nasceu, segundo a classificação proposta por Burke, com o ipad e apresenta uma interatividade acentuada. É um formato

117 desenvolvido especificamente para ecrãs táteis e que possibilita uma grande interação com o utilizador.

Por sua vez, a propósito de formatos de revistas digitais e com destaque para as emagazines, Scolari (2013) refere que:

La difusión de una nueva generación de dispositivos de comunicación con interfaces táctiles como el iPad y la consolidación de lógicas de producción/consumo inovadoras están reformulando el panorama descrito. Las revistas online están entrando en una nueva fase de mutación que lleva al nacimiento de lo que podemos llamar la emagazine. ¿En qué se diferencia una

emagazine de la clásica revista online? Por un lado, las nuevas publicaciones

siguen siendo un contenido interactivo y multimedia pero ahora, para ser consumido, debe ser leído através de una aplicación diseñada para dispositivos móviles. (p. 13)

Scolari estabelece uma comparação: entre as revistas impressas, as revistas Web e as eMagazines e analisa alguns indicadores como: frequência, estrutura da informação, conteúdo, financiamento, produção, distribuição, consumo, texto e web 2.0, de destacar, que para Scolari as revistas impressas e as eMagazines não se enquadram no indicador da Web 2.0. Alerta o especialista para o facto de ser difícil fazer uma previsão de evolução e de interfaces de leitura-escrita porém organiza a informação e apresenta-a no quadro 6.

118 Quadro 6: Revistas impressas, Revistas Web e eMagazines

Fonte: Scolari (2013)

No artigo, onde divulga o estudo em que explora estas questões, Scolari (2013) revisita McLuhan e faz uma aplicação das quatro leis dos Media de McLuhan às emagazines. Na primeira lei - a da extensão – as emagazines aumentam a nossa capacidade de estarmos informados ao incorporar novas textualidades audio/visuais interativas e a possibilidade de as consumirmos sem estarmos ligados à rede. Na segunda lei - a da caducidade – as emagazines ficam obsoletas à semellhança das revistas impressas porque não atualizam o conteúdo em tempo real. Na terceira lei – a da recuperação – As emagazines recuperam o prazer pela leitura offline, lenta e extensíva, típica das publicações impressas. Na quarta lei – a da reversão – Scolari salienta que as emagazines nascem com o objetivo de recuperar leitores e configurar um modelo de negócio baseado na venda de conteúdos informativos digitais com um ritmo semanal ou mensal.

119 Vejamos na figura 28 a forma como Scolari recombina nas eMagazines as diferentes tipologias de revista.

Figura 28: Recombinação das interfaces das eMagazines

Fonte:Adaptado de Scolari (2013)

As revistas digitais pertencem definitivamente a uma categoria distinta das eMagazines, porém, e apesar da diferença terminológica continuam a ser confundidas. Los diseñadores de las primeras emagazines volcaron en el nuevo medio lo que sabían hacer: diseñar revistas de papel y sitios web. En este contexto las

emagazines están más ancladas en la tradición de los productos cerrados (las

120 volátil de la world wide web. Si ésta es profunda, infinita y compleja, las

emagazines son produtos simples, casi lineales, basados en una arquitectura de

la información cerrada.” (Scolari, 2013, p. 16).

Carlos Scolari recomenda que os sites das revistas devem apostar no fluxo contínuo de informação/portalização; em seções temáticas/eixo temporal; em conteúdo mais especializado do que generalizado; financiamento gratuito com menos publicidade; equipa profissional; distribuição por meio de rede digital e de site na Web; texto menos informativo e mais opinativo; utilização da Web 2.0, principalmente por meio de blogs. As webzines são fechadas, com capa, miolo e contracapa, voltados para a

interface digital; consumidas por meio da Web. Permitem, contudo, a inserção de

potencialidades digitais como animações, hipertextos, recursos multimediáticos como vídeos, gráficos ou fotografias, além de espaços interativos que promovam a participação. Na estruturação do conteúdo destaca-se a valorização estética praticada nestas publicações.

Num estudo desenvolvido por Santos Silva (2014), sobre o aproveitamento das potencialidades dos dispositivos móveis pelas revistas impressas, e utilizando como estudo de caso a aplicação de uma revista portuguesa, concluiu a autora que, perante todas as expetativas e ferramentas ao alcance dos editores, o software é subaproveitado e a edição para Tablet ainda se assemelha, em quase todos os aspetos, à lógica linear da revista em papel.

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