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Narrativas Para as Revistas Digitais

Capítulo 2 – Enquadramento Teórico

2.6. Revistas Digitais

2.6.5. Narrativas Para as Revistas Digitais

Os dispositivos móveis evoluiram e proporcionaram o surgimento de novas narrativas. As revistas digitais (Pluvinage & Horie) oferecem uma narrativa que combina elementos estáticos, como texto, com elementos dinâmicos, como áudio, vídeo, infográficos, gráficos dinâmicos. Esta conjugação entre os elementos comunicacionais proporciona uma experiência multisensorial em que é usada a visão, a audição e o tato. Permite experiências de leitura sensíveis ao toque e a obtenção de informação mais completa. As revistas, como menciona Tavares (2011), são um reflexo e resultado de algo sobre o que elas dizem e, do qual, elas fazem parte.

A narrativa para uma revista digital é uma narrativa multimédia e, esta está associada à migração das revistas para o ambiente digital. As potencialidades do meio são, deste modo, os canais promotores do conteúdo.

Anthony Quinn (2013a) identifica sete fases na migração das revistas para o ambiente digital. Começa por descrever a produção digital com início em 1980; seguindo-se a revista em CD-Rom em meados de 1990; prosseguindo com os Websites também em meados de 1990; ainda as revistas digitais online em meados de 1990; a Extensão da marca em início de 2000; as revistas digitais, em formato exclusivamente online em meados de 2000 e, por fim, a partir de 2010 as revistas digitais exclusivamente para leitura em dispositivos móveis, com uma narrativa multimédia.

Acrescentando alguns elementos a esta perspetiva histórica diz-nos Freire (2016), que para Anthony Quinn a primeira fase é anterior ao início da Internet. As revistas circulavam por e-mail ou em serviços de teletexto. A segunda fase é a da produção

122 digital consolidada com a utilização de programas de edição eletrónica. As revistas em CD-Rom consistiam em publicações gravadas exclusivamente para este dispositivo. A terceira fase, carateriza-se pela criação de Websites destinados à divulgação das revistas. As versões eram reproduções em pdf, a que Quinn atribui a denominação de

digital facsimiles. A extensão da marca inclui a introdução de redes sociais e canais no Youtube. A partir de 2006 encontram-se criadas condições para a publicação de

edições exclusivamente online. Em 2010, com o lançamento do ipad, dá-se um importante salto na história das revistas e suas narrativas.

Para Stam & Scott (2014) o estilo de escrita de uma revista digital apresenta diferenças em relação à revista em papel, sugerem:

 Write shorter sentences for digital.

 Use more headings within the text for digital media to guide the reader.

 Use bullet point lists on digital content which can be scanned and absorbed quickly.

 Keep repeating the main subject in digital content.

 In news writing for digital media, revert to the inverted pyramid style so that the

information is presented rapidly and accurately. (p. 166)

Figura 29: Pirâmide invertida

A emergência no mercado de dispositivos móveis está a provocar uma migração de conteúdos impressos para conteúdos digitais. Muitas são as estratégias dos grupos

123 editoriais para venderem as suas publicações. A título de exemplo, e no contexto internacional, se observarmos os números que nos são apresentados no relatório divulgado em 2015 por Mitchell & Page, constatamos que algumas revistas como a

Rolling Stone e a The New York Magazine geram a maior parte das suas vendas através

da versão digital. A The New Yorker é a revista com mais assinaturas digitais com cerca de 80 000, seguida pela Wired com aproximadamente 75 000 assinaturas.

No quadro 7 podemos observar as subscrições de quatorze revistas entre os anos de 2012 a 2014 e concluímos que o crescimento de vendas tem sido acentuado.

Quadro 7: Subscrição de revistas digitais

Fonte: www.journalism.org/2015/04/29/news-magazines-fact-sheet/

Para McLoughlin (2000), o papel e o tipo de impressão conferem à revista uma certa aura de sofisticação e glamour que a distingue dos outros Media. A ligação de conteúdos diferenciados, como colunas, fotografias e ficção geram produtos distintos. O design das revistas digitais é muitas vezes uma réplica das revistas impressas. A

124 maior parte das editoras não tem uma orientação específica para a criação de conteúdos específicos para publicações digitais.

De acordo com o género jornalístico a construção narrativa de uma revista toma diferentes formas. Os textos adaptam-se aos leitores e à temática. Analistas deste meio (McLoughlin 2000; Holmes, 2012) apontam como traços das revistas de informação geral: o contexto; o problema; a resolução; a moral, uma sugestão de orientação ainda que apenas implícita na leitura. São textos escritos (Ponte, 2012) de um modo vivo, dialogante, fazendo intervir amiúde relações entre os participantes, numa polifonia de vozes. A narrativa combina-se com momentos descritivos.

A leitura de uma revista digital é diferente da leitura de um livro digital ou da leitura de um jornal digital. As revistas são essencialmente visuais. Por detrás da ligeireza que as caracteriza está um trabalho profundo e exaustivo. Tornar simples o que é complexo é muito difícil e requer muita perícia. As revistas digitais pretendem ser um produto elaborado e sofisticado que integra textos, imagens e som, com grande eficácia e beleza.

Seguindo uma linha semelhante à técnica de storytelling, Holmes (2009) desafia-nos a uma reflexão sobre o elevado número de revistas disponíveis para leitura em comparação com o número reduzido de jornais e, inversamente, a elevada quantidade de estudos académicos que encontramos sobre jornais e os que encontramos sobre revistas.

"Here is an experiment to try; it comes in two parts. First, pick a newsagent, any newsagent. Look around. On some kind of stand in the foreground you

125 will see a dozen or so newspapers. Look around again. On a different stand, or stands, you will see dozens, scores or possibly hundreds of magazines, depending on the size of shop you have selected. Now, take yourself to a library, preferably one with an academic connection. Fire up the online search and look for books about newspapers, then look for books about magazines. The search results are likely to be in inverse proportion to the result of the newsagent survey. Hundreds of books about newspapers, perhaps a couple of dozen about magazines; if you are in a good library.

Why this neglect? Magazines have an important role to play in our culture. They are, as almost everyone will readily admit, sources of pleasure for millions of readers and that alone gives them a cultural value. They are almost as readily granted an important role as informers and educators; anyone wanting to acquire more knowledge about carp fishing, fashion, steam railways, home decoration, the medical profession, local government, cross stitching, or practically anything else under the sun, can easily and relatively cheaply find or be directed to an appropriate magazine.(p. VIII).

As revistas promovem a aquisição de conhecimento, conseguem cativar leitores mais resistentes a outros formatos de leitura, o que, por si só, já são bons motivos para considerar a revista como um bom recurso de aprendizagem. Perspetiva sublinhada por Holmes:

Magazines, then, are vectors of pleasure, they encourage the acquisition of knowledge, they may play an important role in the formation of identity, they are open to resistant readings, they easily encompass and incorporate flexible

126 and varying conditions of consumption and production, and they form a readily accessible community focus. (2009, p. VIII-IX)