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Os Serviços Informativos (e não só…) na Web

Capítulo 2 – Enquadramento Teórico

2.5. Educação e Comunicação

2.5.2. A Mediação da Comunicação de Conhecimentos

2.5.2.1. Os Serviços Informativos (e não só…) na Web

A proliferação de novos Media como revistas digitais, jornais online, sites, e redes sociais, fragmentou o tempo que o leitor pode despender na leitura de cada um. Os hábitos de procura e consulta de informação estão em permanente transformação. Cada vez mais o consumidor tem a possibilidade e o domínio para decidir: Quando consumir? Onde consumir? O que consumir?

85 Tal como sugere a leitura do estudo, Tendências e Prospectivas os "Novos" Jornais (2010), publicado pelo OberCom, na sociedade da informação os leitores fazem parte da própria publicação. Desta forma, tal como podemos apreender no relatório mencionado, se algo não for facilmente acessível ao leitor ele encontrará forma de o obter em qualquer outro lado e de qualquer outro modo. Os autores deste estudo salientam que os jornais são feitos de todos os materiais e suportes tecnológicos que possam transportar signos e projetar o seu valor informacional. A articulação entre palavra escrita e fotografia, infografia, vídeo, ou som, tem sido acelerada pelo elemento digital. O jornal torna-se uma plataforma multimédia onde o texto continua central mas onde já não é o elemento predominante. Prosseguem, destacando que os jornais deixam de produzir para uma audiência estática no espaço e imutável. Um segmento crescente da audiência passa a habitar em simultâneo vários contextos físicos e virtuais. Contextos móveis, globais, e que evoluem com as tendências, aumentando o poder crítico da audiência e inerentemente proporcionando novas formas de aprendizagem.

Os Media digitais facultam a transformação de produtos informacionais para produtos comunicacionais. A constante inovação de formatos e de narrativas torna-se o lema dos novos Media, os quais serão mais do que nunca produtos em rede. Este novo paradigma comunicacional e relacional complexifica e altera os hábitos de consumo de informação. Retomando o estudo Tendências e Prospectivas os "Novos" Jornais, evidencia-se que, independentemente do suporte, do grafismo ou do modelo de pagamento, a questão central continua a ser como contar histórias? A forma de contar

86 a história tem de adaptar-se aos novos Media e aos novos leitores porque o cerne da história está em transição.

Anualmente o Reuters Institute For The Study of Journalism realiza e publica um estudo sobre o comportamento dos cidadãos em relação aos serviços informativos. A análise é efetuada a um conjunto de países e, em 2015, e pela primeira vez, foram incluídas estatísticas, no suplemento ao relatório, da realidade portuguesa. Os números, recolhidos pelo grupo de investigadores portugueses, através de um inquérito a 1049 cidadãos portugueses, revelam que 65% da população acede à internet, 70 % mostra interesse por notícias e 66% tem confiança nas notícias. Ficamos também a saber que a taxa de penetração da televisão na sociedade portuguesa permanece acima de 99% e que a maioria das famílias tem mais do que uma televisão. A fidelização da população às marcas dos Media fica evidenciada na pesquisa. Os jornais portugueses com maior tiragem estão associados aos principais grupos de Media. Os jornais diários representam o maior número de vendas. A pesquisa comprova que está em cursos a transição, com sucesso, do Media tradicional para o digital. No entanto, verifica-se a inexistência de mudanças significativas na forma como as marcas mediáticas produzem e vendem notícias. A maioria das marcas continua a produzir o mesmo conteúdo adequando-o às diferentes plataformas. Os dados revelam que os leitores portugueses são muito relutantes em pagar por conteúdos digitais. A publicidade permanece a grande aposta nas publicações online. Os portugueses leem poucas notícias em Tablets e em Smartphones. Os portugueses são utilizadores de redes sociais, porém, verificam-se diferentes níveis demográficos de utilização. O Facebook é a rede social líder em Portugal, com 67% de utilizadores. Os

87 portugueses, embora bastante tradicionais no consumo dos Media, podem tornar-se ativos na partilha de notícias através das redes sociais. Na figura 14, e de forma comparativa, pode ver-se o posicionamento de Portugal em relação a outro conjunto de países quando, em causa, está a procura de notícias online por grupo de idade.

Figura 14: Proporção por idade e por país de cidadãos que só leem notícias online

Q3. Which, if any, of the following have you used in the last week as a source of news? Please select all that apply.

Base: 18–24s/25–34s/35–44s/45–54s/55+ Poland = 249/392/337/350/687, Czech Republic = 107/190/189/165/372, Austria = 109/163/185/195/357, Netherlands = 222/280/352/396/794, Urban Turkey = 203/296/233/134/175, Portugal = 108/200/209/187/345, UK = 228/258/316/442/905 Germany = 170/282/354/392/771, Spain = 186/385/437/371/647

Fonte: Fletcher, Radcliffe, Levy, Nielsen, & Newman (2015)

O interesse desta informação relaciona-se com o inquérito efetuado na segunda fase do estudo, Revistas Digitais: um recurso educativo na aprendizagem ao longo da vida, no qual intencionamos saber se existe alguma relação entre a idade e o interesse na leitura de revistas digitais. A análise deste estudo pode ajudar-nos a compreender as evidências recolhidas na população em investigação.

Os dados representados na figura 15 demonstram que em Portugal, para uma amostra com 1049 inquiridos, o grupo etário dos 18 aos 24 anos é o que apresenta o número mais elevado de leitores que só lê notícias online. Segue-se o grupo dos 25 aos 34 anos e em terceiro, o grupo dos 45 aos 54 anos. O grupo com valores mais baixos é o dos 35 aos 44 anos.

88 Se atentarmos ao género - variável também analisada no inquérito do nosso estudo -, verificamos que em Portugal existe uma coerência de números entre os homens e as mulheres que só leem notícias online. Respetivamente 500 homens e 549 mulheres.

Figura 15: Proporção por género e por país de cidadãos que só leem notícias online

Q3. Which, if any, of the following have you used in the last week as a source of news? Please select all that apply.

Base: Male/Female Poland = 969/1046, Czech Republic = 497/526, Austria = 494/515, Netherlands = 999/1045, Urban Turkey = 541/500, Portugal = 500/549, UK = 1000/1148, Germany = 972/997, Spain = 1002/1024.

Fonte: Fletcher, Radcliffe, Levy, Nielsen, & Newman (2015)

Se avançarmos para a lista de assuntos selecionada pelo Reuters, e visíveis na figura 16, verificamos que os leitores portugueses são especialmente aliciados por notícias sobre o próprio país, seguindo-se as notícias internacionais e, como terceira escolha, os temas de saúde. As notícias de negócios e de finanças também merecem um lugar no ranking com 23% de leitores a mencioná-las. Esta informação é pertinente para a seleção das categorias de revistas digitais a incluir no campo empírico deste estudo onde pretendemos conhecer os hábitos de procura de informação online, nomeadamente as rubricas que motivam a leitura em revistas digitais.

89 Figura 16: Grau de importância de assuntos noticiosos por país

Q2. Which of the following types of news is most important to you? Please choose up to five. Base: Total sample in each country.

Fonte: Fletcher, Radcliffe, Levy, Nielsen, & Newman (2015)

Em muitos dos países onde se realiza este estudo os dados apontam para uma tendência crescente de leitores digitais. Destacamos o Japão e os EUA.

E no caso português? Será idêntica esta propensão? Tal como podemos ler no relatório, A Imprensa em Portugal. Performances e indicadores de gestão: consumo,

procura e distribuição, (OberCom, 2015) o número de leituras online regista uma

subida nos últimos anos para quase todas as publicações. Desde 2011 o número de páginas visitadas de todas as publicações tem subido consideravelmente.

A certificar esta constatação apresenta-se, no Quadro 4, as estatísticas das páginas visitadas por grupos de Media desde 2008 a 2014.

90 Quadro 4: Grupos de Media em páginas visitadas, em milhares

Fonte: Anuário de Media e Publicidade Marktest, 2013

A propósito desta subida de páginas visitadas, assinalam os investigadores do referido estudo (OberCom, 2015), a hipótese de que, tendo em conta que as audiências médias globais têm vindo a aumentar, sobrepondo-se à diminuição da circulação impressa, significa que os leitores podem estar a ler tanto como no passado mas com a diferença de que possam estar a tentar encontrar formas alternativas à leitura no formato e plataformas tradicionais. E destacam:

O peso da consulta online é incomparavelmente superior ao peso da consulta em papel. Com efeito, e só a título de exemplo, enquanto o número médio de leituras de jornais impressos, por indivíduo no território continental nacional, é de aproximadamente 0,83 jornais no ano de 2013, o número médio de consultas anuais de páginas online afetas aos grupos de comunicação envolvidos no estudo, é de mais de 210 leituras anuais por utilizador de Internet em território nacional (...)." (2015, p, 56).

91 Sem contrariar a informação anterior, todavia acrescentando mais elementos, segundo dados igualmente divulgados pela Marktest no seu estudo Bareme Imprensa

Crossmedia 2016, 6,8 milhões de portugueses contactam com jornais ou revistas,

considerando os leitores de edições em papel ou digitais, o que representa 78.8% dos residentes no Continente com 15 e mais anos.

Figura 17: Leitores de edições em papel ou digitais

Fonte: Marktest www.markest.com

O mesmo estudo indica que, "no conjunto dos títulos analisados, a cobertura máxima das edições em papel é de 67.2%, percentagem de indivíduos que contactou pelo menos uma edição destes títulos. O estudo quantifica em 47.0% a cobertura máxima digital. Isto significa que quase metade dos portugueses contacta com as versões digitais de pelo menos um dos títulos em análise. O Bareme Imprensa Crossmedia mostra ainda que 31.8% dos portugueses leem estes títulos apenas em papel, 11.6% contactam com eles apenas no meio digital e 35.4% contactam em ambos os formatos: em papel e no meio digital."

92 De acordo com as pesquisas aqui apresentadas podemos considerar que o formato editorial digital é um formato em forte expansão, o que faz prever o seu sucesso e a sua aplicação como um recurso educativo.

Porque este estudo se integra na área da educação, fazemos referência a uma plataforma digital lançada em 2013 pela Direção Geral da Educação na especialidade de Educação para os Media e que promove projetos de Jornais escolares. Esta iniciativa tem como objetivo apoiar e divulgar boas práticas de utilização de jornais em contexto educativo dotando os docentes, os alunos e as escolas de conhecimento e ferramentas que os habilitem a fazer a edição digital dos seus jornais, dando origem a novos formatos ou, até, a novos projetos. Este é um caso concreto da apropriação que a área científica da educação pode fazer com um Media digital.

E as revistas digitais, qual o seu "papel" neste ecossistema mediático?