• Nenhum resultado encontrado

2 Revisão de Literatura

2.1 A Resource Based View

2.1.1 Classificação dos Recursos

Os recursos são todos os inputs do processo produtivo e são unidade básica de análise da RBV (GRANT, 1991; VASCONCELOS; CYRINO, 2000). Geralmente os recursos são classificados em duas grandes categorias: tangíveis e intangíveis (GALBREATH; GALVIN; 2004). Os tangíveis são aqueles recursos capazes de serem contabilizados nos balanços empresariais, que podem ser quantificados e avaliados com clareza; enquanto que os intangíveis são aqueles que não podem ser observados ou quantificados de forma direta (GRANT, 1991) e o seu uso pode ser alavancado (HITT; IRELAND; HOSKINSSON, 2003), ou seja, não são consumidos com o uso. Apesar disto, o valor dos recursos intangíveis pode erodir por duas razões: pela incapacidade da empresa de manter os direitos de propriedade desses recursos; ou porque os avanços tecnológicos os tornam obsoletos. Em essência, os recursos intangíveis podem ser destruídos mesmo se não forem utilizados (KNOTT; BRYCE; POSEN, 2003). Hall (1992) ainda divide os recursos intangíveis em ativos e habilidades. Os ativos são os recursos que a empresa é proprietária, tais como, patentes e propriedade intelectual. Já as habilidades incluem o know-how dos funcionários, cultura organizacional etc.

Nestas duas grandes classes de recursos, Pike, Roos e Marr (2005) dividem os recursos tangíveis em físicos e financeiros; e os intangíveis em humanos, organizacionais e relacionais. Barney (1991) divide os recursos em: físicos – como plantas, equipamentos e móveis; humanos – colaboradores, corpo gerencial, experiência; e organizacionais - cultura e reputação da empresa. Já para Grant (1991) os recursos são divididos em: financeiros, físicos, humanos, organizacionais, tecnológicos e reputacionais.

Para fins de reflexão, propõe-se um quadro com a divisão dos recursos e sua posterior classificação em tangíveis e intangíveis (ver Quadro 2).

Quadro 2 – Classificação dos recursos

Classificação dos Recursos TANGÍVEIS INTANGÍVEIS

Divisão dos Recursos

Físicos (BARNEY,

1991;GRANT, 1991; PIKE; ROOS; MARR, 2005)

Plantas fabris, equipamentos, móveis, ponto de localização da

fábrica e da empresa, acesso às matérias-primas.

Humanos (BARNEY,

1991;GRANT, 1991; PIKE; ROOS; MARR, 2005)

Conhecimento, confiança, capacidade gerencial, capacidade

de inovar. Organizacionais (BARNEY,

1991;GRANT, 1991; PIKE; ROOS; MARR, 2005)

Estrutura formal de comunicação da empresa e seus sistemas

formais de planejamento, controle e coordenação.

Cultura organizacional, imagem, sistemas de comunicação,

estratégia. Financeiros (GRANT, 1991;

PIKE; ROOS; MARR, 2005).

Capacidade de levantar capital, habilidade em gerar fundos

internamente. Tecnológicos (GRANT, 1991) e

Inovação (HALL, 1992).

Sistemas operacionais, estoques de tecnologia como patentes,

marcas registradas, direitos autorais e segredos comerciais.

Ideias, capacidade científica, capacidade de inovar.

Reputacionais (GRANT, 1991). Reputação junto ao cliente: nome da marca, percepção de qualidade, durabilidade e confiabilidade do produto; Reputação junto ao fornecedor:

interações e relações de eficiência, eficácia, suporte. Relacionais (PIKE; ROOS;

MARR, 2005)

Acordos de parceria com fornecedores, centros de pesquisa ou universidades, bem como as relações com órgãos de regulamentação.

Fonte: Elaborado pela autora (2013)

Os recursos por si só são incapazes de gerar vantagem competitiva sustentável. Para tal é necessário que os mesmos tenham alguns atributos ou qualificações. Carneiro, Cavalcanti e Da Silva (1999) asseguram, porém, não haver consenso em quais seriam esses atributos. Com base neste trabalho e em Bulgacov, Arrebola e Gomel (2012)

elaborou-se um quadro (3) que resume as características necessárias que os recursos devem ter para serem potencialmente geradores de vantagem competitiva sustentável.

A primeira característica do recurso para gerar vantagem competitiva sustentável é o valor que se refere ao potencial do recurso de explorar oportunidades e/ou neutralizar ameaças do ambiente (BARNEY; 1991). Outro atributo dos recursos estratégicos é a raridade (REED; DEFILLIPPI, 1990; BARNEY, 1991; PETERAF, 1993). O recurso considerado raro é aquele que é escasso entre os concorrentes atuais e potenciais (BARNEY; 1991) ou que são específicos da empresa (REED; DEFILLIPPI, 1990).

Quadro 3 – Características dos recursos para gerar vantagem competitiva sustentável

Determinantes dos Recursos Características e atributos dos recursos Dierickx e Cool (1989) Reed e DeFillippi (1990) Barney (1991) Grant (1991) Peteraf (1993) Collis e Montgomery (1995) Hill e Deeds (1996) Valioso X Raro X X X Não imitável ou replicável X X X X X X X Insubstituível X X X Durável X X Não transparente X X Não Comercializável X X X X Apropriável X Superioridade competitiva X Fonte: Carneiro et al. (1999) e Bulgacov et al. (2012)

A não imitabilidade se refere à desvantagem de custo que os concorrentes terão para obter os recursos estratégicos em comparação às empresas que já os possuem (BARNEY; 1991). É interessante perceber que esta é um atributo enfatizado por todos os autores investigados. Para Barney (1991) esta não imitabilidade se deve a condições históricas únicas, ambiguidade causal e complexidade social. Para Dierickx e Cool (1989), as barreiras de imitação decorrem das deseconomias por compressão de tempo, eficiência por massa de recursos (quando o incremento de um recurso é facilitado pela posse de níveis elevados deste recurso), pelo inter-relacionamento entre recursos, pela ambiguidade causal e pela não erosão dos recursos. Este último conceito similar ao conceito de durabilidade proposto por Grant (1991).

Um recurso ser insubstituível significa que não deve haver outros recursos que permitam o desenvolvimento das mesmas estratégias ainda que de um modo diferente,

mas que não sejam raros ou imperfeitamente imitáveis (CARNEIRO; CAVALCANTI; DA SILVA, 1999). Ademais os recursos para gerarem vantagem competitiva sustentável devem ser não transparentes ou difíceis de serem reconhecidos e replicáveis (GRANT, 1991; PETERAF, 1993) e não comercializável, ou seja, não podem ser adquiridos no mercado, pois devem ser desenvolvidos internamente (DIERICKX; COOL, 1989).

Por fim, Grant (1991) defende que os recursos estratégicos devem ter apropriabilidade, ou seja, a captação do valor do recurso deve ser adequada unicamente para a empresa detentora do mesmo; e ter superioridade competitiva que significa que o recurso realmente é o melhor em relação aos competidores.

Quanto ao modo de aquisição e ou desenvolvimento dos recursos, Barney (1986) e Dierickx e Cool (1989) propuseram mecanismos diferentes nos anos 80. Porém, em meados dos anos 2000, Binder (2006) constatou que a grande maioria dos estudos empíricos considera os recursos como pré-existentes à organização e mesmo alguns anos depois este ainda permanece um tema negligenciado pelos pesquisadores da RBV. Logo, o próximo tópico aborda essas duas propostas e a possibilidade de uni-las em um modelo teórico único.