• Nenhum resultado encontrado

2 Revisão de Literatura

3 Procedimentos metodológicos

3.1 Delineamento da pesquisa

Após desenvolver a base teórica que apoiou essa pesquisa, é importante explicitar a opção paradigmática que guiou a atividade de investigação. Coube à pesquisadora definir as vertentes ontológicas, o que é o fenômeno estudado; epistemológicas, as escolhas realizadas no que se refere a “olhar” o fenômeno; e consequentemente metodológicas, como operacionalizar este “olhar” (LINCOLN; GUBA, 2006). De maneira geral, as pesquisas são formadas por quatro dimensões: o posicionamento ontológico e epistemológico do pesquisador, o método, a técnica de coleta de dados e o modo de análise e interpretação dos dados (CRESWELL, 2010; FLICK, 2009). Nesse sentido, são apresentadas as decisões tomadas para operacionalizar o fazer científico desta tese.

Nos estudos organizacionais, as teorias podem ser construídas, segundo Morgan (2005), baseadas em quatro paradigmas muito diferentes que se referem às escolhas epistemológicas dos fenômenos organizacionais. Considerando a natureza da sociedade (objetiva versus subjetiva) e na dimensão da mudança (por regulação ou via radical), advoga-se que existem basicamente quatro lentes pelas quais se podem analisar os fenômenos organizacionais. O mainstream da academia é o paradigma funcionalista que advoga que a sociedade tem existência concreta e real, e um caráter sistêmico orientado para produzir um estado de coisas ordenado e regulado, principalmente na área da administração estratégia.

A dimensão epistemológica relaciona-se ao conhecimento e como ele pode ser obtido. Na abordagem positivista, o conhecimento é algo que pode ser adquirido procurando regularidades e relações causais. Na abordagem interpretativista, o conhecimento é relativo e só pode ser entendido do ponto de vista dos indivíduos que estão diretamente envolvidos. A maioria da comunidade científica admite que essas

formas não são puras. Nenhum conhecimento é inteiramente objetivo sem a interferência dos valores e crenças dos pesquisadores (ALVES-MAZZOTTI, 2006).

Em qualquer investigação científica, questões epistemológicas e metodológicas estão imbricadas, já que um pesquisador deve fazer uso de uma estrutura que melhor atenda aos objetivos da pesquisa, desde a identificação da escolha epistemológica até os procedimentos de coleta e análise dos dados (CRESWELL, 2010).

Assim, a opção metodológica desta tese é a pesquisa qualitativa, sendo este um conceito amplo que abrange várias formas de pesquisa e auxilia na compreensão e explicação do fenômeno social com o menor afastamento possível do ambiente natural (MERRIAM, 1998).

Para justificar a escolha desta abordagem elenca-se: na pesquisa qualitativa o fenômeno pode ser mais bem compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte e a coleta de dados acontece neste contexto; o pesquisador é o instrumento principal para a coleta de dados; há vários tipos de dados e estes podem ser coletados de diversas maneiras; a análise de dados é indutiva; a pesquisa busca “captar" o fenômeno em estudo a partir da perspectiva das pessoas nele envolvidas, considerando todos os pontos de vista relevantes (GODOY, 1995; CRESWELL, 2007); e o foco está na essência, no entendimento e na descrição do fenômeno (MERRIAM, 1998; GUBA; LINCOLN, 2006; PATTON, 2001).

Dentre as pesquisas qualitativas, Creswell (2007) defende que são cinco as possibilidades de abordagens para a investigação científica: pesquisa narrativa, fenomenologia, grounded theory, etnografia e estudo de caso. Este último é definido também como uma estratégia de investigação, uma metodologia, ou uma estratégia de pesquisa abrangente (MERRIAM, 1998; YIN, 2010). Estes últimos são mais ligados ao paradigma pós-positivista e por isso, adotados neste trabalho.

O estudo de caso envolve a investigação de um tema explorado por meio de um ou mais casos dentro de um sistema limitado e tem como características principais a descrição intensa e holística do tema pesquisado. É aplicado objetivando um entendimento profundo da situação e do seu significado (MERRIAN, 1998; CRESWELL, 2007). Ademais permite compreender os fenômenos individuais e organizacionais, principalmente, quando os objetos são complexos e contemporâneos (YIN, 2010) como os restaurantes gastronômicos.

Para Merriam (1998, p.35) há o estudo de caso qualitativo histórico (MERRIAM, 1998) que permite investigar cada empresa selecionada visando à

descrição e interpretação do processo de desenvolvimento e ou aquisição dos recursos de restaurantes gastronômicos na América Latina, ao longo do tempo.

Ademais, a metodologia longitudinal, ao explorar o contexto e o processo de mudança ao longo do tempo, permite a interconectividade entre fenômenos históricos e presentes (PETTIGREW, 1990). A pesquisa longitudinal não apenas ocorre como consequência de uma análise de dados coletados ao longo dos anos, mas também é realizada com a análise em retrospectiva do histórico da empresa. Esse método geralmente é mais complexo e requer dedicação dos pesquisadores na coleta e análise de dados. Para alcançar os objetivos nos estudos desse tipo, é preciso investigar as decisões gerenciais, a implementação das estratégias, os eventos marcantes ao longo do tempo e averiguar as contingências.

Quanto à unidade de análise do estudo de caso deve-se atentar para as pesquisas prévias que investigaram o mesmo tema, posto que a maioria dos pesquisadores deseja comparar seus achados com pesquisas anteriores (YIN, 2010, p.55). Assim, com base em estudos anteriores, as unidades de análise foram os restaurantes gastronômicos localizados na América Latina. As unidades de observação foram o contexto, o processo de formação das estratégias e os recursos internos destas empresas.

Desenvolver a visão do processo de formação das estratégias é uma questão não apenas teórica, mas também metodológica. As questões do “como” estabelecem basicamente o percurso, o rumo do processo. Reconstrói a cronologia dos eventos, decidindo onde começar e terminar e o que examinar ao longo do processo. Já as questões de “por que” se referem a “o que levou a que”, ou seja, inserir alguma causalidade entre a sequência de eventos (SMINIA, 2009). O processo como uma sequência de eventos adota uma perspectiva de desenvolvimento histórico e foca as sequências de incidentes, atividades e etapas que se desdobram ao longo da duração de existência do tema central do estudo (VAN DE VEN, 1992). Assim, o tempo é capturado nos estudos do processo por meio de uma combinação de análises em retrospectiva e em tempo real, sendo os estudos de caso qualitativos (SMINIA, 2009) - longitudinais comparativos - a principal abordagem metodológica para a investigação do processo de formação das estratégias (PETTIGREW, 1992). Sob esta visão a vantagem está na oportunidade de explorar explicações holísticas dentro e entre os casos.

A seguir são apresentados os critérios de seleção das empresas e dos respondentes.