4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
4.4 ANÁLISE COMPARATIVA DOS SISTEMAS COOPERATIVOS
4.4.8 Classificação em graus ou tipos de autonomia de Singulares em processos
Tendo em vista as análises de dados realizadas, foi elaborado o quadro 23, o qual
representa uma tentativa de classificar – objetivamente - a autonomia de cooperativas
Singulares em relação às respectivas Centrais, por Sistemas Cooperativos. É também a síntese
gráfica representativa final da análise, haja vista que, por meio dele, com as classificações dos
tipos ou graus de autonomia estratégica, é possível compreender em quais Sistemas
Cooperativos as Singulares tem mais autonomia.
Desta forma, foram definidas regras para realizar a classificação da autonomia de
decisão dos sistemas cooperativos. Assim, na coluna “Não tem autonomia para decidir”, os
critérios usados para a classificação dos tipos de participação dos sistemas cooperativos nas
decisões foram os seguintes: i) Inexistente: a Cooperativa Singular não possui nenhuma
participação na decisão, ou seja, a Central decide tudo sozinha; ii) Irrelevante: a Cooperativa
Singular pode sugerir algo para a Central, mas a decisão final continua totalmente da Central;
iii) Relevante: a Cooperativa Singular pode sugerir, argumentar, e negociar, influenciando
fortemente a decisão da Central a seu favor, mas a decisão final ainda é da Central.
Na coluna “Tem autonomia para decidir”, os critérios usados para a classificação da
autonomia foram os seguintes: i) Parcial: a Cooperativa Singular pode decidir sobre parte dos
processos e a Central decide sobre a outra parte; ii) Total: a Cooperativa Singular tem
autonomia total para a decidir sobre os processos organizacionais.
Desse modo, a localização de cada letra representativa de um Sistema Cooperativo no
quadro 23 significa uma classificação definida conforme os critérios expostos, baseados na
interpretação das análises realizadas neste estudo.
Classificação do grau ou tipo de autonomia por Sistemas Cooperativos
Área ou
Processo
Tem autonomia para
decidir
Não tem autonomia para decidir
Tipo de participação na decisão
Total Parcial Relevante Irrelevante Inexistente
Formulação e
decisão estratégica
▪ Decisões sobre
▪ Definição de objetivos G A, B, C, D, E, F (1)
▪ Definição de metas G A, B, C, D, E, F (1)
▪ Revisão objetivos/
metas G A, B, C, D, E, F (1)
Marketing
▪ Campanhas
- Institucionais
- Locais A,B,C,D,E,F,G
A, B, C, D, E, F
▪ Criação de produtos B, G A, C, D, E, F (3)
▪ Produtos
ofertados/enfatizados
A, B, C, D,
E, F, G (4)
▪ Taxas G, D A, B(5) C, E, F
▪ Tarifas G A, B(5), C, D, E, F
▪ Prazos G, B(6) A, C, D, E, F
▪ Formas parcelamento G, B(6) A, C, D, E, F
Recursos humanos
▪ Recrutamento e seleção G, B, D E, F (8) A, C (7)
▪ Treinamento e
desenvolvimento G
A, B, C,
D, E, F (9)
▪ Remuneração G, B A, C, D, E, F (10)
▪ Processos de trabalho G A, B, C, D, E, F
Finanças
▪ Aplicação de valores
captados G A, B, C, D, E, F
▪ Análise e aprovação de
crédito
B, C, D,
E, F, G A
(11)
▪ Inadimplência G A, B, C, D, E, F (12)
▪ Endividamento
máximo por associado G
A, B, C(14), D, E, F
(13)
▪ Distribuição de sobras G, B, C, D, F (15) A, E (16)
Contabilidade G, B A, C, D, E, F
Recursos
patrimoniais e
materiais
▪ Aquisição de
patrimônio
G, A, B, C,
D, E, F (17)
▪ Aquisição de móveis G, A, B, C,
D, E, F
▪ Aquisição de materiais G, A, D, F B, C, E (18)
Informática
▪ Aquisição de hardware G, B, D, F A, C, E
▪ Aquisição de software:
sistema de informações G
A, B, C,
D, E, F
Relações
públicas G A, B, C, D, E, F
Quadro 23:Classificação da autonomia de Singulares por Sistemas Cooperativos
Fonte: Elaboração própria com base nos resultados da pesquisa
Observações conforme números contidos no quadro 23:
1 Decisões coletivas junto à Central
2 Centralizado marketing institucional/Autonomia marketing local
3 Singulares solicitam a criação de produto à Central
4 Singulares decidem quais produtos ofertar / enfatizar
5 Faixa de possibilidades dessa Singular é considerada grande,
10 Singulares seguem plano de cargos e salários
11 Sistema A tem 3 alçadas: Singular, base regional, Central
12 Percentual e fiscalizado definido pela Central
13 Segue-se percentual legal
maior que as demais
6 Singular define prazos e parcelamentos
7 Central faz / Singular pode participar
8 Central faz da alta hierarquia / Singular dos demais
9 Central faz treinamentos institucionais / Singular os locais
15 B-C-D-F decidem sobre 85% / destinação legal mínima: 15%
16 A, E decidem sobre 50% / destinação legal arbitrada pela
Central: 50%
17 B-C-D-E-F podem adquirir até o limite legal de 50% do
Patrimônio Líquido; A até 15% definido pela Central
18 Compras centralizadas, mas podem comprar via Singulares
É necessário observar que o conteúdo do quadro 23 é uma síntese e, ao mesmo tempo,
uma simplificação dos resultados da análise. Em parte das análises realizadas por Sistemas
Cooperativos foram examinadas situações e contextos mais complexos que a classificação
objetiva representada pelo grau ou tipo de autonomia.
Convém registrar que a constatação principal da análise de dados realizada é que as
cooperativas de crédito Singulares filiadas em cooperativas Centrais possuem, de modo geral,
uma reduzida autonomia estratégica ou autoridade para decidir sozinhas sobre questões
importantes de seus processos organizacionais.
Porém, conforme os resultados expressos na análise, um dos Sistemas Cooperativos
destacou-se pelo fato de proporcionar mais autonomia às suas Singulares. Ou seja, as
cooperativas Singulares decidem sobre mais processos organizacionais. É o que ocorre com o
Sistema Cooperativo B, que foi criado por cooperativas Singulares dissidentes de outro
Sistema Cooperativo. Segundo o entrevistado dessa Central, os motivos de se sair de um
Sistema Cooperativo e criar um Sistema Cooperativo próprio foi principalmente a falta de
autonomia estratégica a que a cooperativa Singular era submetida quando pertencia ao
Sistema Cooperativo anterior.
O entrevistado afirmou que, naquele Sistema Cooperativo, teria sido invertida a
pirâmide decisória do cooperativismo, pois as Singulares tinham que, segundo ele, meramente
seguir as decisões, regras e normas que eram feitas na confederação ou na Central.
No discurso do entrevistado da Central, ficou evidente a preocupação em oferecer
autonomia para as suas Singulares, sempre que possível. Isso não significa que não haja
controles e monitoramentos permanentes, inclusive via sistema de informações integrado, on
line, sobre as Singulares. Talvez o fato também possa ser explicado pelos resultados
financeiros das Singulares, ou seja, enquanto a sustentabilidade estiver satisfatória, a
autonomia permanece.
Aliás, esta foi outra constatação geral do estudo: as centralizações, padronizações e
retirada de autonomia das Singulares por parte das Centrais estão relacionadas, de acordo com
os discursos, à necessidade de as Centrais controlarem principalmente os resultados
financeiros das suas Singulares, o que se justifica pelo fato de que os sistemas cooperativos
são solidários, e, se uma cooperativa der prejuízo, o prejuízo será dividido entre as demais.
Por fim, diante do contexto de perda de autonomia das Singulares para a Central,
convém lembrar que dentre os princípios cooperativos, um deles, em especial, gera a reflexão
sobre a situação de perda de autonomia a qual as Singulares estão submetidas:
[Princípio da] Autonomia e independência - as cooperativas são organizações
autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus membros. Se firmarem acordos
com outras organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem a capital
externo, devem fazê-lo em condições que assegurem o controle democrático pelos
seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa. (OCB, on line, 2013)
Portanto, ainda que a cooperativa Central de crédito seja criada pelas Singulares e as
decisões na Central sejam coletivas, através da participação dos presidentes ou outros
representantes das Singulares, talvez as Centrais estejam extrapolando o seu papel quando
assumem as decisões sobre a formulação e decisão estratégica, além de controlar e decidir
uma série de questões sobre os produtos, serviços e processos organizacionais das
cooperativas Singulares. Portanto, as cooperativas de crédito Singulares parecem estar
tornando-se quase que meras executoras de decisões oriundas das suas Centrais.
No documento
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - UFPR GEVERSON GRZESZCZESZYN AUTONOMIA ESTRATÉGICA EM COOPERATIVAS DE CRÉDITO CURITIBA 2013
(páginas 191-195)