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1 INTRODUÇÃO

2.1 COOPERATIVISMO DE CRÉDITO

2.1.4 Cooperativismo de crédito no Brasil

Historicamente, é possível inferir que a experiência brasileira com o cooperativismo

de crédito vem de 1902, quando, por iniciativa do imigrante padre suíço Theodor Amstad, foi

criada a Sociedade Cooperativa Caixa de Economia e Empréstimos de Nova Petrópolis, que,

após inúmeras transformações ao longo do século passado, em março de 2007 passou a

funcionar como “Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de Associados Pioneira da Serra

Gaúcha – Sicredi Pioneira RS”. A partir daquela iniciativa, surgiram inúmeras outras

cooperativas da espécie que, diante do foco eminentemente rural, eram subordinadas ao

Ministério da Agricultura (SOARES; MELO SOBRINHO, 2008, p. 70).

As cooperativas de crédito observam, além da legislação e normas gerais aplicáveis ao

sistema financeiro: a Lei Complementar nr. 130, de 17 de abril de 2009, que institui o Sistema

Nacional de Crédito Cooperativo; a Lei nr. 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que institui o

regime jurídico das sociedades cooperativas; e a Resolução nr. 3.859, de 27 de maio de 2010,

que disciplina sua constituição e funcionamento. As regras prudenciais são mais estritas para

as cooperativas cujo quadro social é mais heterogêneo, como as cooperativas de livre

admissão (BCB, on line, 2013). De acordo com o Banco Central do Brasil, a cooperativa de

crédito é

[...] uma instituição financeira formada por uma associação autônoma de

pessoas unidas voluntariamente, com forma e natureza jurídica próprias, de

natureza civil, sem fins lucrativos, constituída para prestar serviços a seus

associados. O objetivo da constituição de uma cooperativa de crédito é

prestar serviços financeiros de modo mais simples e vantajoso aos seus

associados, possibilitando o acesso ao crédito e outros produtos financeiros

(aplicações, investimentos, empréstimos, financiamentos, recebimento de

contas, seguros, etc.). (BCB, on line, 2013).

É importante destacar que as cooperativas de crédito são caracterizadas pela união de

pessoas com objetivos comuns (FONTES FILHO, MARUCCI, OLIVEIRA, 2008) e têm

como foco, não o lucro, mas sim, o atendimento aos seus associados (RUDIO, 2010; GERIZ,

2004; VILELA; NAGANO; MERLO, 2007), visando o equilíbrio entre os aspectos

econômico e social (SILVA FILHO, 2002).

As vantagens da constituição de uma cooperativa de crédito são: i) a cooperativa pode

ser dirigida e controlada pelos próprios associados; ii) a assembleia de associados é quem

decide sobre o planejamento operacional da cooperativa; iii) a aplicação dos recursos de

poupança é direcionada aos cooperados, contribuindo para o desenvolvimento do grupo e,

também, para o desenvolvimento social do ambiente onde vivem; iv) o atendimento é

personalizado; v) o crédito pode ser concedido em prazos e condições mais adequados às

características dos associados; vi) os associados podem se beneficiar com o retorno de

eventuais sobras ou excedentes (BCB, on line, 2013).

Neste contexto, a importância das cooperativas de crédito como indutoras do

desenvolvimento do local ou da cidade, da região ou do país, é reconhecida por diversos

autores (ARAÚJO; SILVA, 2011; LEISMANN; CARMONA, 2010a; 2010b; CASAROTTO

FILHO; MINUZZI; SANTOS, 2012; FREITAS; FREITAS, 2011; MELIÁN; CABO, 2006;

FERREIRA; GONÇALVES; BRAGA, 2007; SOUZA; PEREIRA; MAGALHÃES, 2010;

SILVA et al.; 2006; CUEVAS; FISCHER, 2006; SILVA FILHO, 2002; GERIZ, 2004;

JUNQUEIRA; ABRAMOVAY, 2005; FREITAS; AMARAL; BRAGA, 2008; ABICHT et

al., 2012; OLIVEIRA; SILVA, 2012; LABEGALINI; BARBOSA, 2005; FONSECA et al.,

2009; FONSECA; CAVALCANTI; MAGALHÃES, 2010; PAVÃO et al., 2012; FREITAS;

FREITAS, 2011; OÑATE; LIMA, 2012); DAMBROS, LIMA, FIGUEIREDO, 2009;

SOARES; MELO SOBRINHO, 2008; RODRIGUES; ARCÊNIO, 2012).

Pode-se compreender tal atribuição de importância por meio das muitas funções ou

papéis desempenhados pelas cooperativas de crédito no ambiente em que atuam, tais como:

promoção do acesso ao crédito mais fácil e barato (GONÇALVES; BRAGA, 2008;

FERREIRA; GONÇALVES; BRAGA, 2007); promoção do acesso aos recursos oficiais para

agricultores de forma mais barata e eficiente que o governo (JUNQUEIRA; ABRAMOVAY,

2005); promoção da desintermediação financeira (FERREIRA; GONÇALVES; BRAGA,

2007); promoção de acesso, democratização e socialização do crédito (SEVEGNANI;

HOELTGEBAUM; LOESCH, 2011; VILELA; NAGANO; MERLO, 2007) e do

microcrédito (ARAÚJO; SILVA, 2011); desconcentração da renda (NAGANO; MERLO,

2007); promoção de melhoria da qualidade de vida local (LABEGALINI; BARBOSA, 2005);

promoção da inclusão social e resgate da cidadania, organização de cadeias produtivas,

difusão tecnológica e viabilização de infraestrutura, financiamentos para agricultura e

viabilização de repasses de recurso públicos por meio de programas oficiais para produtores

rurais (RODRIGUES; ARCÊNIO, 2012); fonte de recursos para o agronegócio (BRESSAN;

BRAGA; BRESSAN, 2004); concessão de crédito para produtores rurais e pequenos e médios

empresários urbanos, pois é conhecida a dificuldade de acesso ao crédito para as pequenas

empresas, devido ao custo do crédito ou pela exigência de garantias reais (CASAROTTO

FILHO; MINUZZI; SANTOS, 2012); e até a atuação das cooperativas de crédito como

prestadoras de serviços de análise e garantia de crédito para seus cooperados. Neste sentido,

há experiências recentes do BRDE - Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, no

estado de Santa Catarina, atuando com cooperativas de crédito na função de prestadoras de

serviços de análise e garantia de crédito (CASAROTTO FILHO; MINUZZI; SANTOS,

2012).

Corroborando com o exposto, Soares e Melo Sobrinho (2008) afirmam que o setor

cooperativista é de singular importância para a sociedade, na medida em que promove a

aplicação de recursos privados e assume os correspondentes riscos em favor da própria

comunidade onde se desenvolve. Por representar iniciativas dos próprios cidadãos, contribui

de forma relevante para o desenvolvimento local sustentável, especialmente nos aspectos de

formação de poupança e de financiamento de iniciativas empresariais que trazem benefícios

evidentes em termos de geração de empregos e de distribuição de renda.

Ademais, as cooperativas de crédito têm importância significativa no contexto da

economia, uma vez que podem atuar de forma preponderante junto à classe de trabalhadores

das mais variadas atividades, buscando amenizar as dificuldades financeiras de seus

associados (SILVA FILHO, 2002). Em síntese, conforme ensina Meinen (2012b), o círculo

virtuoso do cooperativismo de crédito pode ser entendido da seguinte forma:

[...] se os recursos dos cidadãos e das empresas forem destinados às

cooperativas, estas os realocam na mesma região; redistribuídos, geram

renda e aumentam o poder aquisitivo da população, que passa a consumir

mais; em decorrência, há incremento no faturamento das empresas;

vendendo mais, as empresas abrem novas vagas de trabalho, absorvendo

especialmente o público jovem; o aumento das vendas também repercute na

arrecadação de impostos; com mais recursos, o poder público pode investir

em infraestrutura e outros projetos de desenvolvimento econômico e social,

o que faz ampliar a capacidade produtiva, gerando novas riquezas. O

resultado final é a melhora da qualidade de vida na área de abrangência da

cooperativa. (MEINEN, 2012b, p. 54).

As cooperativas de crédito geram emprego e riqueza (ARAÚJO; SILVA, 2011). Por

todas essas constatações, o governo federal tem incentivado o segmento de cooperativas de

crédito como forma de inclusão social, principalmente em relação ao acesso a serviços

financeiros (FERREIRA; GONÇALVES; BRAGA, 2007) e incentivos ao empreendedorismo

(FONTES FILHO; VENTURA; OLIVEIRA, 2008).

Levando-se em consideração que o crédito no mercado financeiro brasileiro é escasso,

falta ao Brasil avançar nas condições de financiamento, ou seja, no crédito, para que se

impulsionem os investimentos (GIMENES; GIMENES, 2008) e a atividade produtiva

(SOARES; MELO SOBRINHO, 2008). O problema não é a disponibilidade de recursos, o

problema é como fazer chegar o dinheiro às micros e pequenas empresas (CASAROTTO

FILHO; MINUZZI; SANTOS, 2012).

Logo, o aumento da oferta de crédito no Brasil é uma condição necessária para que a

economia tenha maior desenvolvimento. Numa economia desenvolvida, é necessário fazer

fluir os recursos que sobram de agentes econômicos que não pretendem investir para aqueles

que têm projetos viáveis e que vislumbram oportunidades e não têm recursos financeiros

suficientes (LEISMANN; CARMONA, 2010a, p. 51). O ramo de crédito teve ampliação nos

últimos anos no país, devido ao cooperativismo de crédito. Em face de um sistema financeiro

competitivo e de um mercado financeiro cada dia mais oneroso e restritivo, as cooperativas de

crédito despontam como uma alternativa para oferecer vantagens aos cooperados (ARAÚJO;

SILVA, 2011).