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5 CONCLUSÕES

5.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados do estudo, pode-se afirmar que, de fato, as Singulares filiadas

em Sistemas Cooperativos perdem a autonomia de decidir sobre seus processos de

formulações estratégicas. Em outras palavras, perdem o poder de decidir - sozinhas - sobre

muitos aspectos relacionados à estratégia de suas cooperativas Singulares. Mais que isso, há

uma série de acompanhamentos, monitoramentos, controles, auditorias e fiscalizações que as

Centrais realizam nas suas respectivas cooperativas Singulares filiadas, além da definição de

regras e normas sobre a operação do negócio.

Tais controles podem ser executados on line, via sistema de informações integrado

entre as Centrais e as Singulares dos Sistemas Cooperativos. E, dependendo da situação

financeira da Singular, a Central ainda pode intervir na sua gestão, colocando um profissional

da Central para auxiliar e orientar a reestruturação da cooperativa deficitária.

Diante do exposto, pode-se questionar: Porque as cooperativas Singulares

submetem-se a todo essubmetem-se controle por parte das Centrais? Os motivos da adesão das Singulares às

Centrais podem ser compreendidos quando se analisam os benefícios que essa adesão pode

proporcionar.

Assim, é necessário considerar que as cooperativas de crédito operam no mercado

financeiro, o qual é altamente competitivo. Inclusive, os grandes e principais concorrentes das

cooperativas são os bancos, que estão permanentemente aprimorando seus processos e

otimizando a sua eficiência geral nos negócios. Portanto, para que possam competir no

complexo mercado financeiro, as Singulares também necessitam aperfeiçoar seus processos

estratégicos e sua eficiência.

Neste contexto, observa-se que a centralização do processo de formulação e decisão

estratégica por parte da Central, por meio do processo de deliberação coletiva entre e com as

Singulares, apesar de tolher a autonomia individual das cooperativas, promove, ao mesmo

tempo, o aprimoramento da gestão estratégica das Singulares.

É bem possível que muitas cooperativas, se estivessem na condição de Singulares

independentes, não teriam as condições necessárias para desenvolver os processos de

formulação e decisão estratégica de maneira sistemática e consistente, como ocorre

centralizadamente pelas cooperativas Centrais. Aliás, no mercado financeiro altamente

competitivo, é provável que muitas das cooperativas Singulares, se não fossem filiadas numa

Central, já teriam fechadas as suas portas por problemas de gestão.

De fato, neste sentido, a pesquisa constatou o caso de problemas ou entraves na gestão

de uma cooperativa Independente. Portanto, é importante salientar que, ao contrário dessa

cooperativa Independente estudada, que não possui processos sistemáticos de formulação e

decisão estratégica, todas as cooperativas Singulares vinculadas em Sistemas Cooperativos

desenvolvem, por meio da Central, seus processos de formulação e decisão estratégica, ainda

que de modo coletivo. Logo, a Central proporciona a oportunidade para que cada Singular

pense estrategicamente sobre o seu negócio e, mais especificamente, sobre as suas operações

no dia a dia.

Outro aspecto importante é o fato de que as diversas padronizações relacionadas aos

processos, aos produtos e aos serviços ofertados no mercado, as quais são criadas na Central

para todo o Sistema Cooperativo, geram economias de escala que, isoladas e Independentes,

dificilmente as Singulares conseguiriam obter. Portanto, há a redução de custos gerais com

processos, produtos e serviços, quando as Singulares são filiadas em uma Central.

Neste contexto, atrelada à padronização, está também a centralização de serviços e

atividades que, se fossem executadas por cada cooperativa, poderiam gerar altos custos

individuais, e, sobretudo, desnecessários. A Central, portanto, contribui para a redução da

estrutura organizacional das Singulares, ao executar, de modo concentrado, processos comuns

a todas cooperativas.

Como consequência da padronização e da centralização de uma série de serviços ou

processos organizacionais pelas Centrais, as Singulares podem focar-se no negócio principal

da cooperativa que é atender as demandas e necessidades dos associados, buscando gerar a

sustentabilidade econômico-financeira.

Pode-se citar também como benefício da filiação em Centrais o aprendizado gerencial

gerado para cada Singular, decorrente das relações coletivas constantes entre as cooperativas e

pela Central. A troca de informações, de conhecimento, de experiências mútuas e o estímulo

para que as cooperativas Singulares ajam de modo estratégico, torna as gestões das

cooperativas Singulares mais profissionalizadas, mais preparadas para os desafios do mercado

financeiro amplamente profissionalizado.

Portanto, tendo em vista as vantagens da filiação em Centrais, e com base nos

resultados do estudo, pode-se afirmar que é recomendável para as Singulares filiarem-se numa

Central. Em outras palavras, os benefícios auferidos pela filiação superam os custos, como os

decorrentes da perda de autonomia.

É importante registrar, no entanto, que há desafios permanentes a serem administrados

entre as Singulares e as Centrais. As relações entre as Singulares e as Centrais não podem ser

entendidas como situações sempre pacíficas e consensuais. As relações são, por vezes,

conflituosas. Há cooperativas de diferentes portes e perfis numa mesma Central, com

percepções diferentes sobre temas e assuntos. Há singulares com pessoal altamente capacitado

na sua administração, e outras não. Há muitos interesses que precisam ser equiparados. Há

Singulares recém filiadas que estão se adaptando ao Sistema Cooperativo e outras já

consolidadas na atuação junto à Central. E, nem sempre a Central tem o poder de impor, de

modo efetivo, uma decisão para a Singular. Esta, inclusive, pode desfiliar-se da Central, se

julgar conveniente, da forma como fez uma das cooperativas Independentes pesquisadas na

década de 1990, que, dentre outros motivos para desfiliar-se de uma Central, não concordou

com o fato de ter que arcar solidariamente com os custos de “falência” de outra cooperativa,

sobre a qual não tinha poder de gestão.

Logo, pode-se afirmar que há um processo de equilíbrio dinâmico nas relações entre as

Singulares e as Centrais. Trata-se, de fato, de uma relação complexa e sensível, mas que pode

ser administrada, com resultados favoráveis para as cooperativas Singulares.

Convém salientar que este modelo de gestão cooperativo, que envolve as Singulares e

as Centrais, é diferente dos formatos tradicionais de gestão organizacional vertical conhecidos

na literatura. O fato de as Centrais serem criadas e mantidas pelas cooperativas Singulares, e

as Centrais transformarem-se em órgãos controladores das Singulares, torna este modelo de

gestão peculiar, com desafios próprios.

Por fim, diante da relevância do cooperativismo de crédito no mercado financeiro e

para a sociedade, até por ser uma alternativa ao tradicional modelo capitalista de bancos

comerciais, e diante ainda de sua especificidade característica, é necessário salientar que o

marco regulatório do cooperativismo de crédito seja constantemente aprimorado, adaptado

aos novos tempos, e, sobretudo, aos novos desafios mercadológicos e sociais aos quais as

cooperativas de crédito estão sujeitas.