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1 INTRODUÇÃO

2.1 COOPERATIVISMO DE CRÉDITO

2.1.5 Cooperativas de crédito e bancos

Com base na literatura sobre as cooperativas de crédito, pode-se inferir que as

aplicações, como a poupança, e os empréstimos ou financiamentos, são os principais serviços

oferecidos pelas cooperativas de crédito. Assim, a cooperativa de crédito é uma forma de

organização socioeconômica que se constitui em fonte de recursos não somente para

consumidores de crédito, mas também para aplicadores. Alguns cooperados podem usar estas

cooperativas exclusivamente para aplicações de recursos financeiros, enquanto outros as

consideram como fonte de consumo de crédito (BRESSAN; BRAGA; BRESSAN, 2012;

BRESSAN et al., 2013). De fato, “Quando se faz referência à concessão de crédito, devem-se

ter, de um lado, poupadores e, de outro, os tomadores de recursos.” (DAMBROS; LIMA;

FIGUEIREDO, 2009. p. 28).

De acordo com o Banco Central (2013), o objetivo da constituição de uma cooperativa

de crédito é prestar serviços financeiros de modo mais simples e vantajoso aos seus

associados, possibilitando o acesso ao crédito e outros produtos financeiros (aplicações,

investimentos, empréstimos, financiamentos, recebimento de contas, seguros, etc.).

Diante do exposto, conforme Severo et al. (2012), evidencia-se que as cooperativas de

crédito prestam serviços financeiros à comunidade onde estão inseridas, semelhantes às

instituições bancárias, mas com o diferencial de custos e taxas menores e de distribuição de

riqueza na própria localidade, ou seja, os recursos aplicados pelos cooperados são

transformados em empréstimos com taxas menores, principalmente o crédito rural, a outros

associados da mesma cooperativa. Neste contexto, em estudo sobre cooperativas de crédito,

Labegalini e Barbosa (2005, p. 11) informaram que “Várias pessoas denominaram a

cooperativa [de crédito] como ‘banco da cidade’, e se orgulham ao falar que fazem parte

dele”.

As cooperativas de crédito brasileiras são equiparadas às instituições financeiras,

conforme a Lei nr. 4.595 de 31/12/1964. Ao facilitar o crédito e serviços bancários a

populações, muitas com dificuldades no acesso aos bancos comerciais, assume, além da

importância econômica, uma importância social (FONTES FILHO; VENTURA; OLIVEIRA,

2008; CARVALHO et al., 2009). A cooperativa de crédito quebra um paradigma na

economia, principalmente na medida em que o Estado deixou de ser o provedor e passou a ser

agente ativo e regulador da atividade econômica. Desta forma, para atender inicialmente os

produtores rurais e, posteriormente o público urbano, surgiram as cooperativas de crédito com

o objetivo de promover a captação de recursos financeiros para financiar as atividades

econômicas dos associados, a administração das suas poupanças e a prestação dos serviços de

natureza bancária por eles demandada. Destaca-se que a sociedade cooperativa é diferente da

sociedade de capital (banco), pois distribui o resultado proporcionalmente às operações e

serviços. Os resultados positivos são devolvidos aos associados, proporcionalmente às

operações com a cooperativa, no exercício (SPAREMBERGER et al., 2010).

Assim, mediante a concessão de empréstimos a juros menores e com abertura de

crédito mais ágil e desburocratizada aos associados, as cooperativas de crédito surgem como

uma alternativa viável às instituições tradicionais do sistema financeiro nacional (GERIZ,

2004). Tanto que “A procura por serviços prestados pelas cooperativas de crédito vem

au-mentando de forma significativa, principalmente pelo fato de oferecerem taxas de juros e

custos de serviços sensivelmente mais baixos quando comparados aos praticadas pelo sistema

bancário.” (BRESSAN et al., 2011b, p. 258).

No sistema financeiro brasileiro, diversos papéis poderiam ser atribuídos a um sistema

financeiro cooperativo. Dentre eles, o papel de "desintermediador" financeiro, pois parcela

dos recursos financeiros dos produtores, ou dos associados das cooperativas, que

anteriormente era intermediada pelos bancos, passa a ser feita por meio das cooperativas de

crédito (BRESSAN; BRAGA; LIMA, 2004, p. 555). Melián e Cabo (2006) também citam a

intermediação e prestação de serviços financeiros como importante papel das cooperativas de

crédito. Tais autores consideram que a diferença principal das cooperativas de crédito em

relação aos demais intermediadores financeiros reside na sua forma jurídica.

Portanto, de acordo com Fonseca et al. (2009), é notória a importância das

cooperativas de crédito, que na contramão dos bancos, devolvem grande parte dos depósitos

para os seus locais de origem na forma de operações de crédito, realizando a intermediação

financeira, de forma a maximizar a reciclagem dos recursos que são poupados,

direcionando-os para o investimento e contribuindo para o desenvolvimento regional.

Soares e Melo Sobrinho (2008) corroboram com o exposto ao afirmar que todo

arcabouço regulamentar promulgado a partir de 1992 reconhece o cooperativismo de crédito

como importante e eficiente veículo de acesso aos serviços financeiros e indutor da

concorrência, o que resume a sua importância estratégica para o SFN (Sistema Financeiro

Nacional). O governo considera o cooperativismo de crédito fator preponderante para atingir

essa meta e, para isso, muito há de se investir em termos de organização.

Neste contexto, tendo em vista a inevitável associação, ainda que equivocada, da

expressão “bancos” às cooperativas de crédito, é necessário lembrar que as cooperativas de

crédito têm objetivos antagônicos às demais corporações financeiras, haja vista que são

sociedades de pessoas e não visam o lucro (SILVA FILHO, 2002). O quadro 2 apresenta uma

comparação das principais características que evidenciam as diferenças entre os bancos e as

cooperativas de crédito.

Bancos Cooperativas de Crédito

a) Sociedades de capital a) Sociedades de pessoas

b) Poder exercido na proporção do número de

ações

b) O voto tem peso igual para todos (uma pessoa, um

voto)

c) As deliberações são concentradas c) As decisões são partilhadas entre muitos

d) Os administradores são terceiros (homens do

mercado) d) Os administradores-líderes são do meio (associados)

e) O usuário das operações é mero cliente e) O usuário é o próprio dono (cooperado)

f) O usuário não exerce qualquer influência na

definição dos produtos e na sua precificação

f)Toda a política operacional é decidida pelos próprios

usuários/donos (associados)

g) Podem tratar distintamente cada usuário g) Não podem distinguir: o que vale para um, vale para

todos (art. 37 da Lei 5.764/71)

h) Preferem o público de maior renda e as maiores

corporações h) Não discriminam, servindo a todos os públicos

i) Priorizam os grandes centros (embora não

tenham limitação geográfica)

i) Não restringem, tendo forte atuação nas

comunidades mais remotas

j) Tem propósitos mercantilistas j) A mercancia não é cogitada (art. 79, parágrafo único,

da Lei nr. 5.764/71)

k) A remuneração das operações e dos serviços

não tem parâmetro / limite

k) O preço das operações e dos serviços tem como

referência os custos e como parâmetro as necessidades

de reinvestimento

autosserviço apoio da informática

m) Não tem vínculo com a comunidade e o

público-alvo

m) Estão comprometidas com as comunidades e os

usuários

n) Avançam pela competição n) Desenvolvem-se pela cooperação

o) Visam ao lucro por excelência

o) O lucro está fora do seu objeto, seja pela sua

natureza, seja por determinação legal (art. 3o da Lei nr.

5.764/71)

p) O resultado é de poucos donos (nada é dividido

com os clientes)

p) O excedente (sobras) é distribuído entre todos

(usuários), na proporção das operações individuais,

reduzindo ainda mais o preço final pago pelos

cooperados e aumentando a remuneração de seus

investimentos

q) No plano societário, são regulados pela Lei das

Sociedades Anônimas

q) São reguladas pela Lei Cooperativista e por

legislação própria

Quadro 2: Diferenças entre bancos e cooperativas de crédito

Fonte: Meinen (2012b, p. 51)

“A apreciação comparativa das características de um e de outro modelo

organizacional não deixa dúvida: cooperativa de crédito não é banco e com banco não se

confunde” (MEINEN, 2012b, p. 52). Inclusive o artigo 5º, da Lei nr. 5.764/1971 estabelece

que “As sociedades cooperativas poderão adotar por objeto qualquer gênero de serviço,

operação ou atividade, assegurando-se-lhes o direito exclusivo e exigindo-se-lhes a obrigação

do uso da expressão ‘cooperativa’ em sua denominação”. O parágrafo único do mesmo artigo

decreta que “É vedado às cooperativas o uso da expressão ‘Banco’”. Portanto, as cooperativas

de crédito brasileiras não podem, sob o ponto de vista legal, serem denominadas de bancos.