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1 INTRODUÇÃO

2.2 ESTRATÉGIA

2.2.1 Complexidade estratégica

Estratégia vem do grego, strategos, que significa “geral”. A palavra estratégia,

portanto, significa, literalmente, “a arte do geral”. Refere-se ao que mais interessa à direção

das organizações (STEINER; MINER, 1981).

Enquanto discurso consciente de administração, a estratégia é um fenômeno

relativamente recente, haja vista que a palavra estratégia passou a ganhar impulso no mundo

dos negócios na década de 1950, quando executivos com experiência militar na Segunda

Guerra Mundial aplicaram o planejamento de longo prazo aos negócios (CARTER; CLEGG;

KORNBERGER, 2010). No entanto, tais autores alertam que “[...] a estratégia é algo mais

complexo do que parece à primeira vista: não se trata apenas da extensão das artes da guerra

[...]” (p. 30), o que ficará evidenciado no decorrer da apresentação desta literatura.

Do ponto de vista histórico, outra abordagem em relação à origem da estratégia recai

sobre os estudos do filósofo político Maquiavel (1469-1527), conforme se pode constatar

adiante.

É possível datar a estratégia de negócios enquanto disciplina com existência

consciente como um fato ainda recente, imediatamente pós-Segunda Guerra

Mundial. É igualmente possível vê-la como o fruto mais contemporâneo de

uma atividade caracteristicamente política – conduzir um empreendimento

no rumo de horizontes futuros. Concebida dessa forma, cabe argumentar que

a estratégia é, na verdade, uma diplomacia aplicada na esfera comercial, em

vez de política. Para quem sustenta esse argumento, o avô de todos os

estrategistas é o florentino Nicolau Maquiavel, que viveu de 1469 a 1527.

Para Maquiavel, a arte diária da condução do Estado era a guerra por outros

meios que não a força das armas. (CARTER; CLEGG; KORNBERGER,

2010, p. 22).

Assim, as origens históricas da estratégia, tanto baseadas na arte da guerra quanto na

filosofia política, explicam muito das concepções sobre como fazer e entender a estratégia.

De acordo com Whipp (2004), as principais autoridades no assunto construíram um

significado para a palavra estratégia que explora suas origens nas propostas militares e investe

fortemente nas expectativas racionais dos que desejam dirigir e gerenciar uma organização.

Entretanto, embora essa representação da estratégia, ou da área de administração estratégica,

tenha obtido ampla aceitação (notadamente nos Estados Unidos), ela não reflete a verdadeira

riqueza de seu domínio. O fato é que, independentemente de questões históricas, a estratégia

“[...] é considerada o ponto alto da atividade dos executivos.” (MINTZBERG, 2000, p. 16).

No entanto, ainda que seja reconhecidamente importante para as organizações, a

literatura mostra que “Não existe muita concordância a respeito da estratégia”

(WHITTINGTON, 2002, p. 2). Sãomuitas as definições(GHEMAWAT, 2000) e construções

de significado do termo estratégia (WHIPP, 2004).

Corroborando com tais considerações, Carter, Clegg e Kornberger (2010) afirmam que

as definições de estratégia são tantas quanto os estrategistas existentes e, de modo análogo,

Barney e Hesterly (2007) salientam que as definições do conceito são tantas quanto os livros

escritos sobre ele.

Portanto, “[...] parece haver pelo menos um consenso entre estudiosos do campo da

estratégia: o de que não há consenso na sua definição.” (BULGACOV et al., 2007, p. 8). O

autor pondera também que “A variedade de conceitos em torno do tema estratégia empresarial

reflete a renovação constante neste campo de estudo e também a diversidade de pontos de

vista existentes.” (BULGACOV et al., 2007, p. 8).

Para Hax e Majluf (1988), parte da confusão em torno do tema da estratégia pode ser

aliviada através da separação entre o conceito da estratégia e o processo de formação da

estratégia. O conceito de estratégia é apresentado como um modelo normativo que tem

validade para todas as empresas. O processo de formação da estratégia, no entanto, depende

da situação particular da empresa e pode ser descrita em termos de uma variedade de formas

que ela assume em diferentes organizações, dependendo dos objetivos estratégicos da

empresa, o seu estilo de gestão, sua cultura organizacional, e sua estrutura administrativa.

Contudo, os estudiosos do campo da estratégia parecem ter consenso em torno de um

aspecto central quando se aborda o tema da estratégia: a competição. Assim, de acordo com

Porter (1999, p. 27), “A essência da formulação estratégica consiste em enfrentar a

competição”. Para Certo e Peter (1993), o enfoque central da estratégia organizacional é como

lidar satisfatoriamente com a concorrência. De fato, “Se não houvesse concorrência, não

haveria necessidade de estratégia.” (CARTER; CLEGG; KORNBERGER, 2010, p. 15).

Portanto, conforme ensina Bulgacov et al. (2007, p. 3), “A importância dos estudos de

estratégia revela o interesse crescente na busca de respostas para questões fundamentais no

entendimento das organizações, tais como: Porque algumas empresas obtém mais sucesso que

outras? De que maneira uma organização pode aumentar suas chances de sucesso?”.

Diante do exposto, evidencia-se que a estratégia está relacionada a como as empresas

competem, cooperam ou coexistem no ambiente, no sentido de obterem êxito no alcance de

seus objetivos. Aquelas organizações que souberem acessar e administrar da melhor forma os

recursos no ambiente, terão maiores possibilidade de sucesso.

Neste contexto, é importante ressaltar que, para Porter (1999), a competição não se

manifesta apenas na figura dos concorrentes diretos. Ao contrário, a competição no setor se

encontra em sua economia subjacente e algumas forças competitivas, como clientes,

fornecedores, entrantes em potencial e os produtos substituídos, como se observa na figura 3.

Figura 3: Forças que governam a competição no setor

Fonte: Porter (1999, p. 28)

A potência coletiva dessas forças determina, em última instância, as perspectivas de

lucro do setor. Entretanto, “Independentemente da potência coletiva, o objetivo do estrategista

empresarial é encontrar uma posição na qual a empresa seja capaz de melhor se defender

contra estas forças ou de influenciá-las em seu favor.” (PORTER, 1999, p. 28). Assim, para

este autor, “Estratégia é criar uma posição exclusiva e valiosa, envolvendo um diferente

conjunto de atividades.” (p. 63). Observe-se que não se trata, necessariamente, de posição

geográfica.

Na sequência, outras definições de estratégia são apresentadas, o que permite ter uma

compreensão melhor da sua complexidade. Mintzberg (1987) reconhece a existência de cinco

definições múltiplas para a estratégia:

O setor

As manobras

pelo

posicionamento

entre os atuais

concorrentes

Poder de

negociação

de clientes

Poder de

negociação de

fornecedores

Ameaça

de novos

entrantes

Ameaça de

Produtos

ou serviços

substitutos

 Estratégia como plano: um tipo de curso de ação conscientemente pretendido, uma

diretriz (ou conjunto de diretrizes) para lidar com uma situação.

 Estratégia como pretexto: uma manobra ou um truque para superar o concorrente,

pode ser um sinal enviado ao mercado de algo a realizar, que não se realiza.

 Estratégia como padrão: consistência no comportamento ao longo do tempo, um

padrão em uma corrente de ações.

 Estratégia como posição: um meio de localizar a organização no ambiente, nicho,

um local único, um domínio de produto-mercado.

 Estratégia como perspectiva: perspectiva compartilhada por intenções ou ações,

pessoas unidas por pensamento e/ou comportamento comum.

Para Barney e Hesterly (2007, p. 5), “[...] a estratégia de uma empresa é definida como

sua teoria de como obter vantagens competitivas”. De acordo com Certo e Peter (1993, p. 17),

“Estratégia é definida como um curso de ação com vistas a garantir que a organização alcance

seus objetivos”.

Carter, Clegg e Kornberger (2010), ao analisarem algumas definições de autores

(Chandler; Learned et al.; Thompson e Strickland; Murray e Grisley) de disciplinas

diferentes, concluem que quatro características são compartilhadas: (i) estratégia teria a ver

com o futuro e com os objetivos que se pretende alcançar; (ii) trata-se de matéria preocupada

com a maneira de alcançar esses objetivos; (iii) parece contar com estratégias em função da

concorrência; e (iv) parece tratar-se de negócio da alta administração. Porém, os autores

argumentam, que embora todas essas definições tenham sua utilidade, elas não captam as

maneiras pelas quais a estratégia pode ser formatada ou implementada. Um dos motivos é que

a administração, em geral, e a estratégia, em particular, são disciplinas muito anistóricas.

Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) apresentam dez escolas de pensamento sobre a

formulação de estratégia. Tais escolas são apresentadas no quadro 9.

Escola Processo de formulação de estratégia

Do Design De concepção Estratégia é fruto de desenho informal,

essencialmente de concepção

Do Planejamento Formal Estratégia formulada por meio de planejamento

formal, racional, separado e sistemático

Do Posicionamento Analítico Estratégia definida por meio de seleção de posições

Empreendedora Visionário Estratégia criada a partir da visão do grande líder

Cognitiva Mental Estratégia formulada na mente do estrategista

De Aprendizado Emergente Estratégia emerge em passos curtos, à medida que a organização se adapta ou “aprende”

Do Poder De Negociação Estratégia formulada por meio de negociação com

grupos conflitantes ou outros stakeholders

Cultural Coletivo Formulação coletiva e cooperativa da estratégia,

estratégia enraizada na cultura organizacional

Ambiental Reativo Estratégia reativa às pressões externas impostas às

organizações, reação ao contexto externo, ambiente

De configuração De Transformação Combina as outras escolas, busca a integração,

agrupa elementos de todas para criar a estratégia

Quadro 9: Escolas de pensamento sobre formulação de estratégia

Fonte: Elaborado a partir de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p. 13-14)

As dez escolas se encaixam em três agrupamentos. As três primeiras são de natureza

prescritiva, as seis seguintes preocupam-se mais em como as estratégias são formuladas, e o

terceiro agrupamento tem apenas a escola de configuração, que procura integrar as demais.

Muitas vezes, a compreensão dos estudiosos de estratégia limita-se a apenas uma parte

do todo, ou seja, uma escola, o que pode limitar as análises. Ao descrever tais escolas de

pensamento, os autores alertam que o processo de formulação de estratégias é complexo e

pode envolver diversas abordagens, que podem se intercalar, se complementar.

De modo geral, ainda que existam várias abordagens à formulação de estratégias,

conforme se constata por meio das escolas citadas, “O processo de administração estratégica é

um conjunto sequencial de análises e escolhas que podem aumentar a probabilidade de que

uma empresa escolherá uma boa estratégia, isto é, uma estratégia que gere vantagens

competitivas.” (BARNEY, HESTERLY, 2007, p. 10). A figura 4 ilustra o processo de gestão

estratégica.

Figura 4: O processo de administração estratégica

Fonte: Barney e Hesterly (2007, p. 10)

A seguir, é apresentado um breve referencial teórico sobre planejamento estratégico,

haja vista que em pesquisa preliminar in loco, bem como conforme a literatura, observou-se

que as cooperativas de crédito se utilizam do planejamento estratégico anual como

instrumento de gestão estratégica.