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2.2 GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

2.2.3 Política Nacional de Recursos Hídricos

2.2.3.5 Cobrança pelo uso de recursos hídricos

O instrumento da cobrança pelo uso da água tem como propósito o reconhecimento da água como um bem-dotado de valor econômico, assim como impulsionar o incentivo ao uso racional da água e produzir recursos financeiros para financiar programas, estudos e intervenções contemplados nos PRHs, custear despesas do SINGREH e assegurar a efetividade financeira das Agências de Água (ANA, 2014).

Desse modo, e, ponderando os desafios impostos à gestão de recursos hídricos, a cobrança fundamentada em padrões técnicos e sociais, pode ser considerada como instrumento facilitador e propulsor, para além do desestímulo ao desperdício, tornar efetiva à prática da gestão nos moldes da descentralização e participação.

Segundo Milaré (2013), o exercício da cobrança pelo uso de recursos hídricos firma o princípio da “internalização” proveniente dos custos ambientais daqueles que usufruem das águas, entretanto, quando a sociedade não assume de fato o pagamento desses custos econômicos, o faz a partir da degradação da qualidade ou da quantidade do manancial. Ainda conforme o autor, o encorajamento ao uso racional dos recursos hídricos, tem por meio do estabelecimento da cobrança, um mecanismo viável de gestão das águas, pois pode incentivar a redução do consumo de água e a melhoria da qualidade dos efluentes, indo além do reconhecimento de uma fonte de recursos para custeio de programas.

Consoante a ANA (2014), os mecanismos e valores arrecadados por intermédio da cobrança pelo uso de recursos hídricos devem ser negociados a partir de debate público no âmbito dos Comitês de Bacia hidrográfica, não havendo a possibilidade de deliberações isoladas de instâncias governamentais, sejam elas do executivo ou do legislativo. Por outro lado, e no âmbito dos corpos de água de domínio da União, compete à Agência Nacional de

Águas arrecadar e distribuir os recursos oriundos da cobrança pelo uso de recursos hídricos, às respectivas Agências de Água, e, no âmbito dos corpos hídricos de domínio dos Estados, a implantação e operacionalização da cobrança pelo uso deve atender às diretrizes das Políticas Estaduais de Recursos Hídricos

A cobrança pelo uso de recursos hídricos não representa um imposto, pois está desvinculada de um fim determinado, nem tão pouco é considerada uma taxa, porque não está relacionada a nenhum tipo de prestação de serviço, sendo, dessa forma, caracterizada como um preço público, pago por interesse particular, em contrapartida pelo uso de um bem público, através da captação de água ou lançamento no manancial, seguindo os padrões estabelecidos na legislação ambiental, e, os valores arrecadados da cobrança devem retornar em forma de investimentos para a bacia hidrográfica que os originou, atendendo ao que consta nos Planos de Recursos Hídricos (ANA, 2014).

Por sua vez, e, segundo destaca Milaré (2013), a Lei da Águas permite exceções quanto a destinação dos valores arrecadados com a cobrança pelo uso da água, o que não representa exclusividade para a bacia hidrográfica que gerou os recursos, podendo dessa forma ser aplicados em outra bacia.

De acordo com a Lei das Águas, os usos possíveis de cobrança serão aqueles sujeitos à Outorga de direito de uso de recursos hídricos. Segundo a ANA (2014), essa interpretação instituiu a relação formal entre o instrumento econômico, Cobrança pelo Uso, e o instrumento de regulação ou de comando (outorga), além da integração desses com os Planos de Recursos Hídricos, os quais devem definir as prioridades de uso e o enquadramento dos corpos de água em classes segundo os usos preponderantes.

A cobrança pode ser admitida também como instrumento de mudança social, que a partir da possibilidade de incentivo a racionalização pelo uso de recursos hídricos e aplicação de valor a ser pago pelo uso, é possível que se introduza novos paradigmas de consumo, partindo do princípio que quanto mais os usuários captam água ou lançam efluentes no corpo hídrico, maior será o custo pela operação, ou seja, maior será o pagamento pelo direito de uso do bem público, e, desse modo, pode-se construir uma nova cultura de utilização dos recursos hídricos, convergindo para melhoria dos aspectos de qualidade e quantidade desses.

Nesse ponto Mesquita (2017) acrescenta que, é fundamental um paradigma de consumo que evite o desperdício da água, preservando esse bem para as gerações futuras. De modo geral, preços muito altos podem ser inviáveis do ponto de vista econômico e político. Nessa perspectiva, devem ser implantados de maneira gradual, possibilitando a adaptação dos usuários por meio de técnicas produtivas com menor consumo de água.

Cerqueira (2017) também contribui nessa questão, afirmando que a cobrança representa um instrumento essencial para que o sistema de gestão das águas funcione de modo sustentável, visto que, possibilita a proteção desse recurso, pois os valores arrecadados são investidos na bacia e assegura o atendimento dos múltiplos usos.

Segundo a OCDE (2015), o Brasil deve prosseguir fomentando a implementação do instrumento de cobrança pelo uso de recursos hídricos, objetivando desse modo, minimizar as pressões sobre as águas superficiais e subterrâneas, do ponto de vista quantitativo e qualitativo, resultado do aumento da demanda por água para os diferentes fins, sobretudo, nas regiões características de estresse hídrico, onde ocorrem intensa disputa entre os setores usuários de água, além de considerar, também, a necessidade de manutenção das vazão ecológica6.

Neste sentido, a OCDE (2017), aponta para a necessidade de discussão diante do cenário de eventos extremos e contínuos que ocorrem no Brasil, devendo, desse modo, estar em evidência na agenda política, no ponto que trata da gestão da água, visando impulsionar os diferentes instrumentos, sobretudo, a cobrança na busca pela segurança hídrica7 e o crescimento sustentável.