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Tomando como referência o conceito de Toro e Werneck (1997), entende-se por mobilização social, uma prática onde um grupo de pessoas, uma comunidade ou uma sociedade decide e atua com o mesmo objetivo comum, buscando, em cada dia, resultados decididos e desejados por todos. Ainda segundo os autores, “mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados” (TORO; WERNECK, 1997, p.5).

Nesta perspectiva, o ato de participar ou não de um processo de mobilização social é uma questão de escolha de cada um, e sendo convocado a participar, o indivíduo o faz como manifestação da própria vontade, representando uma postura de liberdade. Assim sendo, cabe destacar que a mobilização parte do princípio da opção do sujeito de querer participar, ao passo que se percebe responsável e qualificado para transformar a realidade com atitudes e ações.

No processo de mobilização os sujeitos participam em prol de um objetivo comum. A participação neste contexto constitui-se de meta e meio, e como tal, não deve ser vista tão somente “como pressuposto, condição intrínseca e essencial”, mas também que ela “cresce em abrangência e profundidade ao longo do processo, o que faz destas duas qualidades (abrangência e profundidade) um resultado desejado e esperado” " (TORO; WERNECK, 1997, p.26).

A participação é entendida como processo em que deve existir uma interação continuada entre o Estado, sociedade e outras instituições políticas. Essas relações demandam determinadas condições que dizem respeito a todos os atores e às condições estruturais e de cultura política quepodem favorecê-la ou dificultá-la (TEIXEIRA, 1997).

Segundo Bordenave (2013, p. 18) a participação deriva da palavra “parte”, desse modo, “participação é fazer parte, tomar parte ou ter parte”. Porém, o autor refere-se ao termo, sob a ótica da participação ativa e nunca da participação passiva, já que um “cidadão inerte”, ou seja, àquele que apenas faz parte, não colabora para transformar a sociedade, diferente do que está engajado, àquele que se compromete com a causa.

Nesse ponto, outras interpretações foram atribuídas, apoiando-se em definições que associam ao grau de participação, classificando-as em três condições: pseudoparticipação – onde ocorre apenas consulta relativa a determinado assunto; participação parcial – a deliberação fica concentrada em uma fração, do universo, que faz parte do processo, ou seja, dois ou mais grupos influenciam, mas o poder final restringe-se a apenas um; e participação

total – representação de cada grupo, com peso igual, na decisão final (PATEMAN, 1992).

De maneira semelhante, Arnstein (2002) propos uma tipologia de oito níveis de participação, fundamentada na hierarquização de tipos de participação e não-participação, analisando do nível mais baixo, que autora designa de manipulação chegando ao nível de poder

cidadão. A esse esquema, A Autora definiu como escada da participação-cidadã (Quadro 6)

Quadro 6 – Escada da Participação-cidadã 8 Controle Cidadão

Níveis de poder cidadão

7 Delegação de Poder 6 Parceria

5 Pacificação

4 Consulta Níveis de concessão mínima de poder

3 Informação

2 Terapia Não-participação

1 Manipulação

Fonte: Adaptado de ARNSTEIN (2002).

A Autora destaca que, os degraus retratam de maneira resumida, uma questão que pode ser ignorada, a existência de consideráveis graus para a participação, que definem o nível de envolvimento do cidadão, e, portanto, conhecer esses graus permite compreender as progressivas demandas por uma participação do cidadão como também a série de respostas incompreensíveis dos que detêm o poder.

De maneira ascendente o poder de decisão se fortalece. Na base da escada, entretanto, estão a manipulação e a terapia, que representam níveis de não-participação, empregados em substituição a participação genuína, a população não participa dos processos de planejamento ou condução de programas e é permitido aos “tomadores de decisão” “educar os participantes”. No âmbito dos degraus 3 e 4 onde estão a informação e consulta, os cidadãos são ouvidos e podem ouvir, no entanto, sem garantir que as opiniões serão consideradas no processo, dessa forma, há um “avanço nos níveis de concessão limitada de poder”, a “participação está restrita a esses níveis, não há continuidade”, não existe “garantia de mudança do status quo”. No degrau 5, pacificação, representa o nível ótimo desta concessão limitada de poder, haja vista permitir que os cidadãos proponham, porém, o poder de decisão permanece com os poderosos. Subindo a escada, o poder de decisão do cidadão se eleva, no degrau 6, parceria, é facultado ao cidadão negociar em nível de igualdade com os que detêm o poder. Nos degraus 7, Delegação de poder, e 8 Controle cidadão, o cidadão detém a maioria nos fóruns de tomada de decisão, ou mesmo o completo poder gerencial (ARNSTEIN, 2002).

Nesse contexto A Autora, destacou limitações percebidas na escada, enfatizando que na realidade, “nem os cidadãos nem os poderosos constituem blocos homogêneos”. Cada lado inclui uma “gama de pontos de vista diferentes, divergências significativas, interesses encobertos que competem entre si e divisões em subgrupos”. Deve-se perceber que “a tipologia não inclui uma análise dos principais obstáculos para se alcançar níveis genuínos de

participação”. Outro aspecto acerca dos oito degraus que deve ser observado é que “na realidade das pessoas e políticas públicas, podem” haver inúmeros degraus com distinção não tão “clara e pura”, como foi estabelecido (ARNSTEIN, 2002).

Depreende-se, pois, que o processo de participação se materializa, quando possibilita que os sujeitos participem das deliberações que lhes corresponde, seja na dimensão política, social, cultura ou econômica (ALVES, 2013).