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2.2 GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

2.2.4 Sistema de Governança e Governabilidade dos Recursos Hídricos no

2.2.4.4 Comitê de Bacia Hidrográfica (COBH)

O Comitê é a instância de debates prevista no SINGREH, no qual são deliberadas as questões relacionadas à gestão dos recursos hídricos de determinada bacia hidrográfica. A maneira como devem ser estruturados, segundo a legislação, permite fomentar a gestão participativa e descentralizada dos recursos hídricos, procedendo para implementação dos instrumentos de gestão, na negociação de conflitos pelo uso da água e na garantia dos usos múltiplos da água na bacia. Por isso, são conhecidos como “parlamentos da água” e sua composição inclui entes do poder público, da sociedade civil e dos usuários.

A Lei das Águas, trouxe uma redefinição do modelo de gestão que passou a ser descentralizado, participativo e democrático, por meio do mosaico institucional dos Comitês de Bacias Hidrográficas constituídos com a participação das três esferas governamentais, dos usuários das águas e das entidades civis de recursos hídricos, tendo entretanto, a representação governamental, ou seja, dos poderes executivos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, limitada à metade do total de membros.

Os CBHs são colegiados que têm como área de atuação a totalidade de uma bacia hidrográfica, uma sub-bacia ou grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas. No que tange a regulamentação dos comitês no país, a Resolução N° 5 de 10 de abril de 2000 do CNRH, estabelece as diretrizes para a formação e funcionamento dos CBHs, de forma a implementar o SINGREH. Este documento foi alterado por meio da Resolução CNRH N° 24, de 24 de maio de 2002, desse modo, a composição dos comitês se estabelece com os seguintes percentuais dos segmentos: até o limite de 40% para representantes dos poderes executivos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios; no mínimo 20% para os votos dos representantes da sociedade civil – qualquer organização não pública, nem empresarial, cujas atividades estejam vinculadas de algum modo à água; e 40% de usuários de recursos hídricos da área de atuação.

Sobre esta questão, Moreira (2008, p. 26) analisando as fragilidades das representações nos Comitês destaca que:

considerando que as decisões tomadas nos CBHs devem nortear a implementação das políticas públicas referentes ao recurso água, as quais se destinam a sociedade como um todo, os representantes da sociedade civil é, indiscutivelmente, o segmento mais frágil: dependente de recursos externos, é geralmente descapacitada tecnicamente; e inferiorizada numericamente nas cotas de representação deste segmento (MOREIRA, 2008, p. 26).

Conforme a Lei das Águas, o número de representantes de cada segmento, bem como os critérios para sua indicação serão estabelecidos nos regimentos dos comitês, limitada a representação dos poderes executivos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios à metade do total de membros.

Os Comitês de bacia não possuem personalidade jurídica, pois suas competências são de cunho deliberativo, propositivo e consultivo (Quadro 4), realizadas por meio de debate e articulação entre seus representantes, e não executivo, sendo esta competência reservada à Agência de Água, que segundo a lei, deve dar o suporte técnico ao parlamento, exercendo, entre outras, a função de secretaria-executiva. Os Comitês de Bacia definem, portanto, as diretrizes de gestão dos recursos hídricos em sua área de abrangência (ANA, 2011).

Quadro 4 – Atribuições dos Comitês de Bacia hidrográfica no Brasil

Delibera

tiv

a

s

1. Arbitrar em primeira instância administrativa os conflitos pelo uso da água.

2. Aprovar o Plano de Recursos Hídricos da Bacia hidrográfica e consequentemente: metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade; prioridades para outorga de direito de uso de recursos hídricos; diretrizes e critérios gerais para cobrança; e condições de operação de reservatórios, visando a garantir os usos múltiplos.

3. Estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos.

4. Estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo. P ro po sit iv a s

5. Acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da Bacia e sugerir as providências necessárias ao cumprimento de suas metas.

6. Indicar a Agência de Água para aprovação do Conselho de Recursos Hídricos competente. 7. Propor os usos não outorgáveis ou de pouca expressão ao Conselho de Recursos Hídricos

competente.

8. Escolher a alternativa para enquadramento dos corpos d’água e encaminhá-la aos Conselhos de recursos hídricos competentes.

9. Sugerir os valores a serem cobrados pelo uso da água.

10. Propor aos Conselhos de recursos hídricos a criação de áreas de restrição de uso, com vista à proteção dos recursos hídricos.

11. Propor aos Conselhos de recursos hídricos as prioridades para aplicação de recursos oriundos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos do setor elétrico na bacia.

Co

ns

ultiv

a

s 12. Promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação das entidades intervenientes.

Fonte: ANA (2011).

As competências definidas em lei podem ser traduzidas em ações representativas de articulação e construção de consensos, e as deliberações que resultam do consenso criam acordos que contemplam os interesses dos diferentes atores presentes no Comitê por meio de um processo de negociação.

Segundo Almeida (2014), os Comitês de Bacias Hidrográficas, aparecem como um dos autores na gestão territorial da bacia hidrográfica, reunindo o poder público, usuários e sociedade civil, porém, é o poder público que impõe mais força nas ações do Comitê.

Segundo Morais et al. (2018), o cumprimento da função dos Comitês subordina-se além dos preceitos que constam na legislação dos recursos hídricos, ao próprio estatuto, onde são estabelecidas as normas e procedimentos para promoção das reuniões deliberativas, as formas de participação, o processo eleitoral para composição da diretoria e da plenária. Nesse ponto, inclui-se também as finalidades do colegiado, as atribuições da diretoria e do plenário, a organização, o processo de desligamento, e, por fim a composição das câmaras técnicas e grupos de trabalho.

2.3 GESTÃO INTEGRADA, DESCENTRALIZADA E PARTICIPATIVA DOS RECURSOS