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2.2 GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

2.2.3 Política Nacional de Recursos Hídricos

2.2.3.1 Instrumentos de gestão de recursos hídricos na Lei das Águas

Como base ao processo de gestão de recursos hídricos, a Lei das Águas definiu cinco instrumentos, que estão pautados na PNRH, a fim de viabilizar a gestão das águas, onde, dentre os quais, existe uma relação de interdependência, e sugere que, para que haja uma exitosa gestão das águas, se faz necessário a implementação dos referidos instrumentos, associados a outros estabelecidos em distintas políticas, a exemplo da Política Nacional de Meio Ambiente (ANA, 2013).

A ideia de se estabelecer os instrumentos, tem na origem, o meio pelo qual seriam cumpridos os objetivos da PNRH, a qual elencou a princípio seis instrumentos, a saber: os Planos de Recursos Hídricos; o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; a cobrança pelo uso de Recursos Hídricos; a compensação a Municípios; e o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos. Entretanto, a Lei Federal n° 9433/1997, vetou por meio do art. 24 o instrumento que trata da compensação a Municípios.

A relação de interdependência, que ocorre de maneira natural entre os instrumentos, pode ser entendida conforme esquema daFigura 2, tendo como elemento principal dessa cadeia de ligação, os Planos de Recursos Hídricos (PRH), que segundo a Lei das Águas podem ser elaborados por bacia hidrográfica, por Estado e para o País. Nesse ponto, o modo como os PRH devem ser construídos, permite orientar os demais instrumentos, ou seja, a partir da visão macro dos recursos hídricos, a depender do fim a que se propõe o Plano, que pode ser por bacia, por exemplo, prevê informações relativas ao diagnóstico e prognóstico dos recursos hídricos, assim como, definições e orientações, as quais devem ser trabalhadas a fim de dar suporte e direção na construção dos instrumentos: enquadramento, cobrança, outorga e Sistema de Informações.

Figura 2 – Interdependência dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH)

Fonte: Adaptado de ANA (2013).

Em se tratando do enquadramento dos corpos de água em classes, pode se destacar que as propostas para construção desse instrumento, terão como base os dados previstos nos PRH, relativos ao balanço hídrico, a demanda, os múltiplos usos e a projeção de consumo dos recursos hídricos. Por sua vez, o resultado do enquadramento pode sugerir ajustes nas diretrizes dos PRH e atualização desses. O enquadramento na direção do instrumento de cobrança possibilita definir o padrão de qualidade da água, assegurando a destinação desse recurso e critérios para uso e pagamento, em contrapartida pela apropriação do bem público. Por outro lado, a caracterização dos corpos de água, proveniente do diagnóstico apontado nos PRH contribui para alimentar o banco de dados do Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

Quanto ao instrumento de cobrança, que tem caráter econômico, possibilita valorar o uso pelos recursos hídricos, podendo provocar o uso racional desses recursos. Dessa forma, esse instrumento segue na direção das metas estabelecidas nos Planos. Por sua vez, a cobrança se efetiva a partir dos usuários que estão devidamente outorgados.

Em relação ao instrumento de outorga, este mantém uma relação direta com os PRH, também, uma vez que, os usos a serem outorgados dependem da definição das categorias prioritárias previstas nos Planos. Por sua vez, esse instrumento alimenta o Sistema de

COBRANÇA OUTORGA PLANO DE RECURSOS HÍDRICOS ENQUADRAMENTO SISTEMA DE INFORMAÇÕES

Informações sobre Recursos Hídricos, que armazena no banco de dados as informações sobre as outorgas emitidas ou em trâmites.

O Sistema de Informações compartilha dados relativo ao cadastro de usuários para subsidiar a elaboração dos PRH. Na direção do enquadramento de corpos de água, esse instrumento fornece informações quanto a condição de uso dos recursos hídricos a fim de dar suporte à definição dos prognósticos.

Nesse ponto, não há pretensão de esgotar-se a discussão relativa à dimensão da dependência bilateral que existe entre os instrumentos, mas, apontar alguns aspectos que podem configurar essa cadeia de ligação, e ponderar que, a ausência de determinado instrumento no processo de gestão de recursos hídricos pode interferir no desempenho dos demais. Fazendo uma analogia a um processo produtivo, o resultado de um instrumento funciona como matéria- prima para alimentar outros. Segundo Porto e Porto (2008), de modo particular, cada instrumento apresenta objetivos distintos e quando aplicados podem atingir inúmeros fins. Desse modo, e, diante da relação de dependência que existe, a implementação pontual ou mesmo fragmentada dos instrumentos pode comprometer a eficácia do sistema de gestão das águas.

Para Couceiro e Hamada (2011), os instrumentos da PNRH contribuem no processo de gestão dos recursos hídricos, ao passo que: a) favorecem o desenvolvimento sustentável3 da região, a partir da identificação das potencialidades hídricas e demandas ao longo da bacia hidrográfica; b) estabelecem plano de investimentos que conduzirão as ações direcionadas aos recursos hídricos; c) apontam para existência de conflitos pelo uso da água; e d) definem projetos estruturados para conservação ambiental, com vistas à mitigação de conflitos entre os usuários de água e estes com o meio ambiente4.

3 Desenvolvimento sustentável - A Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento definiu desenvolvimento sustentável como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”. Esse conceito busca incorporar a conservação ambiental, ao crescimento econômico e a equidade social (ESPINOSA, 1993).

4 Meio ambiente - Circunvizinhança em cuja área uma organização opera, abarcando o ar, a água, o solo, recursos naturais, a flora, a fauna, seres humanos e suas inter-relações (CEOLATO, 2002).