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Colégio Normal do Colégio São José

CAPÍTULO IV HISTÓRIA LOCAL E LOCAL DE HISTÓRIAS

4.3 As Escolas Normais do município de Ituiutaba

4.3.4 Colégio Normal do Colégio São José

A gênese do colégio São José, deu-se na casa paroquial dos padres Estigmatinos com os padres José Tondim e Fortunato Morelli e participação do Padre José Missoni, quando em reforma da casa paroquial selecionaram alguns cômodos que pudessem servir como salas de aula, o que ocorreu somente em 1940 após a chegada das Irmãs Scalabrinianas de São Carlos Borromeu e à solicitação da elite local que necessitava educar os filhos,

Mas não tardou e o Colégio São José originou-se para atender os anseios de parte da elite local, embora nessa época o Colégio Marden já atendesse um pouco esses alunos. O desejo dos fazendeiros e dos comerciantes locais era ter um colégio que servisse de internato e externato para atender a juventude masculina da época, assim os pais não precisariam enviar seus filhos para estudar em Uberaba ou Uberlândia.226

Essa instituição oferecia ao mesmo tempo o ensino primário e orientação católica para os alunos, o que aliada à severa disciplina imposta pelos padres atraia as famílias, em sua maioria católicas. Em 1945, os padres iniciam a reforma da casa paroquial, onde até então funcionava o Colégio São José, inclusive o internato.

Há vários anos que os Padres Estigmatinos sustentam e dirigem o pequeno colégio em um externato/internato para meninos do curso primário. Junto com o Colégio Santa Teresa, esse estabelecimento

225 EDUCANDÁRIO ITUIUTABANO, Ata de Resultados Finais, 1965- 1972. Arquivo Passivo: SEE

Ituiutaba,MG.

226 PACHECO, Simone Beatriz Neves. Colégio São José: gênese e funcionamento da escola dos estigmatinos em Ituiutaba, MG (1940-1971). Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de

de ensino, muito serve para o bem espiritual da paróquia, por isso de acordo com o Snr. Bispo Diocesano, os Padres estabeleceram aumentar o prédio e abrir quanto antes um ginásio. O Snr. Armindo Paione de Ribeirão Preto, engenheiro de valor e grande benfeitor dos nossos Padres naquela próspera cidade paulista, veio aqui, estudou o terreno e voltou prometendo-nos mandar o quanto antes o projeto do novo ginásio. Assinou o Vigário Pe, João Avi no dia 17 de julho de 1945.227

Os padres travaram, a partir desse momento duas importantes batalhas, a primeira para construir o prédio onde funcionaria a instituição e a outra pelo reconhecimento do Ginásio São José, o que ocorreu somente em 1947 por meio da portaria 609 de 30 de dezembro de 1947. Por meio dessa portaria, ficou reconhecido o nível ginasial do Colégio São José que passou a se chamar então Ginásio São José, começando suas atividades em 1948, recebendo matrículas tanto de meninas como de meninos.

Para as famílias católicas, estabelecia nesse momento, uma tradição de ensino, de educação dos filhos e filhas, a Escola Santa Teresa e o Ginásio São José, período em que o ensino confessional prevalecia no município. Carvalho rememora as escolhas da família,

Então a escolha... porque eu venho de uma família religiosa, no catolicismo, e meus pais sempre quiseram que agente estudasse em colégio católico, quando era possível. No caso, em Ituiutaba nós só tínhamos os dois além do Instituto Marden, o Colégio São José e o Santa Tereza que trabalhava só com o sexo feminino, então, nós fizemos o ginásio no colégio dos padres, e o normal a gente optou pelo Colégio Santa Tereza em função até dessa tradição da família, religiosa mesmo.228

A demora na construção do novo prédio que abrigaria o colégio foi tema de manchete na imprensa local.

227 Livro Tombo nº 3

– Paróchia de São José – 1945. / PACHECO, 2012.

228 CARVALHO, Helena Theresa de Moura. Ituiutaba, 17 de junho de 2014. Arquivo digital (46 min.).

Figura 24 - Nota do Jornal Folha de Ituiutaba do dia 13 de dezembro de 1952, divulga o início das obras do novo prédio para o ginásio São José e oferece informações sobre

o atraso nas obras

Fonte: Acervo da Fundação Cultural de Ituiutaba.

A reportagem acima evidencia que há muito se sabe das intenções dos padres estigmatinos em construir um novo prédio para o Ginásio São José, justifica que a demora certamente não foi por temor de que a cidade não comportasse instituição tão grande devido à concorrência e sim por motivos superiores à vontade dos padres, devido à falta de terreno e maquinário, somente naquele mês havia iniciado as obras de fundação no terreno.

Ressalta ainda que o novo prédio terá a capacidade para atender 900 alunos, salas espaçosas e arejadas proporcionando um ambiente saudável, quanto a esse ambiente, Veiga se posiciona,

Os princípios médicos e higienistas tiveram uma forte caracterização moralista. Eram pautados pela associação entre as condições higiênicas de vida e de moradia dos pobres e a condição moral. Para esses técnicos, em meio a essa população tudo denotava anormalidade social – os lazeres, a resistência ao trabalho, e a ignorância. Como consequência, desenvolviam-se os vícios, a prostituição e a ―vagabundagem‖. Buscou-se então a integração dos pobres aos valores burgueses, tendo como referência o trabalho, o

lar e a escola, valores esses necessários para seu saneamento moral. 229

A previsão de termino da obra do Ginásio estava prevista para 1953 e o início das aulas no novo prédio para 1954. Esse novo espaço abrigaria então o curso primário, curso ginasial e os cursos clássicos: científico, comercial e ainda uma escola filiada ao Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC que preparará práticos para o comercio. Os prazos estipulados para o término da obra acabaram não se cumprir, o prédio foi sendo terminado aos poucos como mostra a imagem abaixo,

Figura 25 - Fachada do novo prédio do Ginásio São José (1955)

Fonte: Arquivo pessoal de Helena Theresa de Moura Carvalho.

Na imagem acima, podemos observar o grande número de janelas existentes no prédio, confirmando a ideia de um edifício que foi planejado de forma a garantir a ventilação e a entrada de luz. O grande número de cômodos abrigava as salas de aula, biblioteca, o internato.

Quanto ao ensino profissional, esse vinha, desde a década de 1940, ganhando as atenções do governo e se estabelecendo como forma de produção de mão de obra para o país, principalmente após a promulgação da Lei Orgânica do Ensino Comercial em 1943, da Lei Orgânica do Ensino Normal e do Ensino Agrícola em 1946. Surge ainda o sistema ―S‖ com o Serviço Nacional de Aprendizagem

Industrial – SENAC e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI com a finalidade de oferecer qualificação profissional à população de baixa renda.

O novo prédio ficaria completamente pronto somente em 1959, quando então o nome da instituição volta a ser Colégio São José. O mesmo foi construído em terreno doado pelo governo municipal que contribuía com subvenções anuais. Diferindo da construção do Colégio Santa Teresa, divulgado na imprensa local e apresentado anteriormente, os Estigmatinos, não realizaram campanha de arrecadação de fundos para a construção que se erguia. Em seu depoimento Andrade explica que ―[...] ele o padre Mário que construiu tudo aquilo, com o dinheiro dele, se a congregação ajudou com algum dinheiro eu não sei te falar, só sei que era o sonho dele construir aquele colégio, ele era muito rico‖230.

O ginásio São José, recebia a cada ano mais alunos, de ambos os sexos, tanto da comunidade ituiutabana quanto das cidades vizinhas. Os padres Estigmatinos, preocupavam-se em oferecer aos alunos uma formação completa, ou seja, intelectual, moral e religiosa. O ginásio, contava, além das mensalidades pagas pelos alunos, de Subvenção Municipal para manutenção do ensino primário. Oferecia, de acordo com a política dos estigmatinos bolsas de estudo a alunos carentes.

Em seu primeiro estatuto, fica evidenciado a disciplina e rigor na formação do alunado que seguiam regras rígidas que se não fossem seguidas teriam como consequência severas punições231.

Em 1967, dando continuidade à implantação dos cursos profissionalizantes o Colégio São José abre as matrículas para o Curso Normal com funcionamento no turno noturno e divulga na imprensa local aviso aos estudantes.

230 ANDRADE, Lázara Vilela. Entrevista concedida a Simone Beatriz Neves Pacheco. Ituiutaba, 22/02/

2011

231 PACHECO, Simone Beatriz Neves. Colégio São José: gênese e funcionamento da escola dos estigmatinos em Ituiutaba, MG (1940-1971). Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de

Figura 26 - Nota do Jornal Cidade de Ituiutaba no dia 18 de fevereiro de 1967, onde a diretoria do Colégio São José avisa à população que as matrículas para o corrente

ano estão abertas

Fonte: Acervo da Fundação Cultural de Ituiutaba.

Na figura acima, a direção do colégio São José informa à população por meio da imprensa, que estão abertas as matrículas para os cursos: primário, ginasial, comercial, científico, técnico em contabilidade e datilografia para o corrente ano e que todos os cursos oferecidos serão para turmas mistas. Destaca, que nesse ano de 1976 a instituição dará inicio ao Curso Normal que funcionará no noturno. Marca ainda, as datas dos exames de admissão e de segunda época. A divulgação do Curso Normal do Colégio São José trouxe alunas de outras escolas, que tinham a opção de estudar e concomitantemente de trabalhar, o depoimento de Resende confirma:

Terminei o ginásio lá no.... como que chama lá? No Israel Pinheiro, e comecei a trabalhar. Daí a minha opção de estudar à noite, e onde tinha Escola Normal era no São José onde estava abrindo o curso e nós fomos para lá, e realmente foi um curso muito bom que nós fizemos [...] No Marden já não tinha mais a Escola Normal noturna

tinha contabilidade, no Estadual tinha contabilidade, mas não interessava para nós a contabilidade.232

A primeira turma da Escola Normal do Colégio São José, contou com a matrícula somente do sexo feminino, em número de 24 alunas.233 A estrutura física

da instituição era bastante adequada, funcionava na parte de cima do prédio, trazendo empolgação às alunas. O curso, conforme a filosofia das escolas particulares cobrava mensalidades das alunas. O depoimento de Resende confirma,

Tinha, nossa turma devia ser mais ou menos de vinte e oito a trinta alunos, nós não recordamos o nome de todas não é, mas era uma turma grande. Não, não tinha moço fazendo Curso Normal porque até então não usava na época, eles faziam mais opção por contabilidade. [...] Era pago, eu não lembro a mensalidade, mas o curso era pago. [...] No colégio, na parte de cima do colégio, em uma sala muito ampla, escadaria, um corredor, uma estrutura muito boa, em tudo era muito bom sabe, bons professores.234

O Curso Normal dessa instituição teve vida efêmera com apenas três turmas matriculadas conforme pode-se observar no registro do quadro com o fluxo de matrículas de 1966 a 1972.

232RESENDE, Maria Terezinha Pereira. Ituiutaba, 30 de junho de 2014. Arquivo digital (36 min.)

Entrevista concedida a mim.

233 Diário da disciplina de Português. Março de 1967

234 RESENDE, Maria Terezinha Pereira. Ituiutaba, 30 de junho de 2014. Arquivo digital (36 min.)

Figura 27 - Documento expedido pelo Colégio São José apresentando o fluxo de matrículas no período de 1966 a 1972

Fonte: Arquivo passivo do Colégio São José.

No quadro acima, observa-se que o curso iniciou em 1967, abrindo nova turma em 1968 e outra em 1969, nos anos seguintes não foram oferecidas novas turmas. Acredito que, nesse período, o Curso Normal do Educandário Ituiutabano e o Curso Normal Municipal, ambos de ensino gratuito e noturno tenham contribuído para o encerramento das atividades dessa instituição nesse ramo de ensino.