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Colégio Normal do ―Educandário Ituiutabano‖

CAPÍTULO IV HISTÓRIA LOCAL E LOCAL DE HISTÓRIAS

4.3 As Escolas Normais do município de Ituiutaba

4.3.3 Colégio Normal do ―Educandário Ituiutabano‖

A década de 1950 foi um período de grande crescimento no município de Ituiutaba, a economia estava baseada na agricultura e pecuária. O índice de analfabetismo do município ainda era alarmante de acordo com os dados do Censo, 57% da população acima de 5 anos de idade era analfabeta, esses índices estavam mais concentrados na zona rural, que apesar de um número significativo de escolas municipais, não conseguia atender a infinidade de pequenas comunidades nas fazendas espalhadas pelo município. Outro fator que dificultava a escolarização dos moradores da zona rural era o número expressivo de escolas rurais que estavam

218 PEREIRA, Ivanilde Terezinha. Entrevista concedida mim em 20 de janeiro de 2007. 1 fita cassete

(100 min.). In: MORAES, Andréia Demétrio Jorge. História e ofício de Alfabetizadoras: Ituiutaba, 1931-1961. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2008.

fechadas por falta de professores. O fato fica explícito com a leitura das atas da Câmara municipal durante a votação de projeto para criação de novas escolas na zona rural, de autoria do vereador Antenor Tomaz Domingues,

Com a palavra o vereador Daniel de Freitas Barros que baseado em informações prestada pela Prefeitura Municipal de que existem 20 escolas paralisadas por falta de professores, acha desnecessário no momento, a criação de escolas, que viriam a onerar o município. O vereador Antenor, com a palavra presta esclarecimentos, justificando seu projeto. Usa da palavra Dr. Hélio Chaves, que acha justa a opinião do seu colega Dr. Daniel, porém mostra dificuldade de se conseguir professoras para funcionarem na zona rural, motivo por que se encontram tantas escolas paralisadas.219

A situação de fechamento das escolas por falta de professores para lecionar era uma constante na zona rural, mas a falta desse profissional também fazia-se sentir nas escolas da zona urbana. Essa não era uma situação exclusiva da zona rural, o mesmo acontecia na zona urbana, porém na cidade as escolas utilizavam do serviço de monitoria das alunas do curso Ginasial e Curso Normal para cobrirem a falta de professores no município.

Outro fator que contribuiu para o alto índice de analfabetismo no município foi a escassez de oferta de ensino primário público gratuito e a inexistência de ensino ginasial e secundário públicos e gratuitos que permitiria à população de ampliar os estudos, restringia ainda a formação de maior número de normalistas que pudessem atuar como professoras, tanto na zona urbana quanto na rural. O curso de formação de professores até então era oferecido somente pelo Instituto Marden, escola de ensino privado e pela escola Santa Teresa, privada e confessional.

Nesse contexto a União da Mocidade Espírita de Ituiutaba – UMEI se dispôs à construção do Educandário Ituiutabano, com a proposta de erguer uma escola ginasial e gratuita, iniciou as obras da instituição em 1954, contando também com as contribuições da população e especialmente da comunidade espírita do município. Realizaram uma grande campanha para angariar fundos para a construção a maior arrecadação com esse fim, vinha dos bailes para a eleição da Rainha do Arroz onde as candidatas, moças da sociedade vendiam votos no município e região, saindo vitoriosa aquela que mais arrecadações conseguisse. Esse foi um período de grande atuação da comunidade espírita de Ituiutaba,

O espiritismo em Ituiutaba possuiu um dos períodos mais fecundos durante as décadas de 1950 e 1960, por se consolidar na construção de algumas obras assistenciais que auxiliaram a promoção da própria cidade nos meios mais carentes. Além da expansão dos centros espíritas e das associações, houve profunda atuação nos campos social e educacional. Os espíritas cuidaram daquela parcela da população que não era percebida pelas autoridades política: os pobres, os doentes mentais, os anciões abandonados, os órfãos, os jovens e as crianças sem instrução.220

Dessa forma, em fevereiro de 1958, foi inaugurado o prédio que abrigaria o Educandário Ituiutabano, a figura abaixo apresenta a fachada do prédio em 1958, em sua inauguração.

Figura 23 - Fachada do prédio do Educandário Ituiutabano - 1958

Fonte: Acervo de Nicola Frattari Neto.

Os fundadores, membros e mantenedores da escola eram os membros da União da Mocidade Espírita de Ituiutaba, composto por profissionais liberais, industriais, proprietários de terras, enfim faziam parte da elite da cidade. Com o propósito de uma educação diferenciada, implantaram no Educandário Ituiutabano um ensino aberto aos jovens, respeitando todo tipo de religião. Para manter a instituição funcionando contavam com professores voluntários, Almeida reforça,

220 FRATTARI NETO, Nicola José. Educandário Espírita Ituiutabano: caminhos cruzados entre a ação inovadora e sua organização conservadora. Ituiutaba, MG (1954-1973). Dissertação (Mestrado em

Já estava com algumas dificuldades o Educandário, porque a escola funcionava mais com professores voluntários, porque ela não tinha verba, não tinha subvenção, é uma escola mantida pela União Espírita, e todos que trabalhavam lá, eram mais ou menos assim, doadores!221

Em 1960 assume a direção, o professor Paulo dos Santos, professor graduado em Direito, ainda na direção fazia o curso de Psicologia em Uberaba. À frente da direção, juntamente com o grupo, proporcionaram uma educação diferenciada, acolhendo os estudantes que tinham poucas oportunidades, Almeida reforça,

O professor Paulo, ele foi um diretor diferente de todos os diretores que eu conheci, tanto que o Educandário, ele tem assim a característica até hoje de quem foi educandariano, era a escola que acolhia o negro, os sem oportunidades, os expulsos das escolas tradicionais.222

Nesse período, a educação pública primária e gratuita do município era deficitária e a educação ginasial estava a cargo de instituições particulares, com a intenção de fazer crescer a instituição e atender a demanda do município por vagas, o diretor Paulo amplia as opções da escola implantando o Curso Normal ―E ele, o sonho dele era que a escola crescesse, já tinha contabilidade, então faltava a Escola Normal.223 O desejo de ampliação dos cursos oferecidos pelo Educandário encontrou ressonância nas alunas que estavam terminando o curso ginasial, dessa forma,

[...] quando o professor Paulo fez a proposta, nós estávamos já na 8ª série, que ele iria abrir uma sala de magistério, de Curso Normal, na época falava Escola Normal. E que quem gostaria de ser professora, e naquela época ser professor era assim a coisa mais importante, era como se fosse o presidente da república numa família, hoje já é tão tranquilo ser um educador, que passou a ser uma profissão comum! Mas na minha época não! A família que tinha um professor, aquela família era diferenciada. E ele abriu essa sala, nós fomos para o... Machado de Assis, ficamos acho que dois ou três meses assistindo aula lá, até ele organizar a sala e voltamos, foi uma turma muito boa!224

221 ALMEIDA, Regina de Souza Marques. Ituiutaba, 03 de junho de 2014. Arquivo digital (32 min.).

Entrevista concedida a mim.

222 Ibidem. 223 Ibidem. 224 Ibidem.

O reconhecimento do Colégio Normal do Educandário Ituiutabano deu-se por meio do Decreto Estadual n. 8331 de 20/05/1965, ano que já havia iniciado a primeira turma de normalista. Nessa instituição, formaram seis turmas de professoras primárias, a primeira iniciando o 1º ano em 1965 e a última turma iniciando em 1970 e encerrando em 1972225, entendo que em função da Lei 5.692/71, que passa a formação de professores a ser realizada como uma das habilitações do 2º grau.