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Relembrando o passado: o percurso das entrevistas

CAPÍTULO I TEMPOS E LUGARES DE LEMBRAR: HISTÓRIA ORAL TEMÁTICA

1.4 Relembrando o passado: o percurso das entrevistas

A História Oral enquanto metodologia de pesquisa utiliza a técnica da entrevista e outros procedimentos articulados entre si, no registro da experiência humana,48 nesse sentido a História Oral é utilizada nesse estudo como fonte, reconhecendo as entrevistas gravadas e transcritas como um documento.

As narrativas dos depoentes por meio da História oral é um procedimento, um meio e um caminho que nos conduz na produção do conhecimento histórico. Permite-nos, por meio da interferência do historiador, conhecer fontes de duplos ensinamentos, sobre o tempo passado que é a época enfocada no depoimento e sobre o tempo presente, em que ele foi produzido,

A história oral é um procedimento metodológico que busca, pela construção de fontes e documentos, registrar, através de narrativas induzidas e estimuladas, testemunhos, versões e interpretações sobre a História em suas múltiplas dimensões: factuais, temporais, espaciais, conflituosas, consensuais.49

Nesse sentido, o passado, espelhado no presente permite, por meio das narrativas, reproduzir a dinâmica da vida pessoal conectada com os processos coletivos. A reconstituição dessa dinâmica se dá pelo processo de recordação do passado e inclui momentos de ênfase, esquecimentos, omissões e lapsos que contribuem para reconstituição do passado segundo o olhar de cada depoente. Dessa forma, o trabalho com História oral, exige do pesquisador grande respeito pelo outro, por suas ideias, opiniões, atitudes e principalmente por sua visão de mundo que é o que norteia o seu relato:

É essa visão de mundo que norteia que norteia seu depoimento e que imprime significados aos fatos e acontecimentos narrados. Ela é individual, particular àquele depoente, mas constitui também elemento indispensável para compreensão de seu grupo social, sua geração, seu país e da humanidade como um todo, se considerarmos que há universais nas diferenças50.

48 FREITAS, Sônia Maria de. História oral: possibilidades e procedimentos. 2. Ed.

– São Paulo: Associação Editorial Humanistas, 2006, p. 35.

49 DELGADO, Lucília de Almeida Neves. História Oral, memória, tempo, identidades. Belo Horizonte:

Autêntica, 2006, p. 15.

Ao trabalharmos com as visões particulares e com comportamentos peculiares a cada um, temos a possibilidade de ampliar nosso conhecimento sobre a história, uma história concebida de forma semelhante ou diferente, criadas e divulgadas por pessoas em seu contato com o mundo.

O percurso de elaboração da entrevista e da escolha dos entrevistados, passa primeiramente por nosso projeto de pesquisa, uma vez que esses procedimentos estão diretamente ligados aos objetivos estabelecidos no mesmo (ALBERTI, 2005)51. Dessa forma, os roteiros de entrevista previamente construído nesse estudo52 foram elaborados de forma a conduzir as entrevistas a pontos que fizessem convergência com os objetivos propostos pela pesquisa.

O primeiro contato com os depoentes deu-se por contato pessoal onde tivemos a oportunidade de informar aos entrevistados/as o teor da pesquisa, fornecer o roteiro da entrevista quando solicitado e marcar antecipadamente a data e o local onde a mesma seria realizada. A escolha do local foi feita pelo depoente sob a nossa orientação quanto a ser um lugar reservado, priorizamos um local onde os/as mesmos ficassem o mais confortável possível. A utilização de uma mesa no local da mesma foi por nós organizado para facilitar o manuseio do gravador e dos documentos e auxiliar na concentração das pessoas envolvidas.

A relação estabelecida com as pessoas que nos forneceram as entrevistas foi uma relação marcada por empatia e de certa forma de cumplicidade em torno da experiência de rememoração dos fatos passados.

Uma relação de entrevista é, em primeiro lugar, uma relação entre pessoas diferentes. Com experiências diferentes e opiniões também diferentes, que tem em comum o interesse por determinado tema, por determinados acontecimentos e conjunturas do passado.53

A realização da entrevista foi alcançada por meio de interação entre entrevistador e entrevistado, entre sujeitos distintos; às vezes de diferentes gerações, conhecimentos, linguagens, culturas e saberes mas unidos por um mesmo tema. O interesse pela entrevista foi ampliado em relação às duas partes pelo conhecimento prévio que ambas possuíam pelo assunto, adquirido pelo

51 ALBERTI, Verena. Manual de história Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. 52 Os Roteiros de entrevista encontram-se em anexo.

entrevistador em suas atividades de pesquisa e pelo entrevistado oriundo de sua experiência de vida.

Nesse percurso, procuramos conduzir o diálogo de maneira informal, permitindo certa cumplicidade entre as duas partes na medida em que ambos se embrenharam na reconstrução, na reflexão e na interpretação do passado. Procuramos ainda respeitar o entrevistado em seu ritmo ao retomar o percurso da lembrança e da construção da linha do pensamento. Isso faz com que cada entrevista seja única, mesmo que repetida com o mesmo entrevistado e com o mesmo assunto pois ―a entrevista – e a relação de entre-vista -, além de se constituir num todo, é sempre única, não havendo possibilidade de se repetir em outras circunstancias‖54.

A entrevista, assim como cada pesquisa apresenta-se como única, reconhecendo a unicidade de cada estudo e a importância de cada um deles, o capítulo que se segue foi elaborado com o objetivo de apresentar um levantamento das pesquisas que problematizaram a formação docente nas Escolas Normais.

Esse capítulo apresento levantamento de estudos relacionados às instituições escolares, considerando que o processo de resgate das Instituições Escolares ganha significado possibilitando a expressão de sujeitos ou grupos sociais específicos55, dessa forma, desvela um contexto histórico determinado, sendo

relevante para compreensão da História da Educação de uma sociedade.

54 Ibidem, p. 105

55 NASCIMENTO, Maria Isabel Moura. As instituições escolares públicas dos Campos Gerais

– PR (1904 – 1950). Revista HISTEDBR On line, Campinas, mai 2012, p. 77.

CAPÍTULO II - FORMAÇÃO DOCENTE: SENTIDOS E PERSPECTIVAS DAS