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Segundo Wearing e McGehee (2013), a literatura sobre turismo voluntário já está na fase da plataforma científica, tendo passado pelas fases anteriores de advocacy, cautionary e

adaptancy (JAFARI, 2001). Na fase atual, devem ser utilizados métodos estruturados

interdisciplinares, transnacionais e abordagens mixed methods para examinar o fenômeno de uma maneira mais sistemática e lógica, portanto sendo válido incluir desde estudos de casos qualitativos até análises macro-quantitativas de dados para que seja possível obter um entendimento mais profundo e amplo sobre esse tema. Apesar de a Aprendizagem Transformadora já ter sido vastamente utilizada no meio acadêmico para diversas áreas de estudo, o turismo voluntário ainda é um fenômeno recente e pouco abordado em pesquisas, portanto torna-se pertinente detalhar as etapas que levarão até a coleta de dados e posterior análise deles neste trabalho.

Na figura 5, ilustra-se de forma resumida o processo pelo qual a Exchange do Bem atua, inserida em um contexto em que se enxerga como parte da sociedade, da qual capta interessados para atuar, por meio do turismo voluntário, em projetos cadastrados ao redor do mundo. Essa captação ocorre com interessados por voluntariado, por turismo em geral, por indivíduos que tiveram contato com campanhas da Exchange do Bem ou com ex-voluntários que acabam divulgando de alguma maneira a sua experiência e tomaram conhecimento sobre os serviços da empresa. Após a captação do cliente, cujas habilidades e conhecimentos devem estar alinhadas com as necessidades do projeto, são passadas as orientações para a viagem para que o turista voluntário possa realizar o voluntariado de maneira correta, indo então para a fase de acompanhamento onde a Exchange do Bem mantém contato constante com a instituição local

e o turista voluntário por meio de aplicativos online, telefone e e-mails. Ao fim da viagem, é feita uma avaliação da experiência, o turista voluntário é questionado sobre os prós e contras da viagem e atuação no projeto, como ele percebe sua contribuição para a comunidade e sugestões para os próximos voluntários darem continuidade ao trabalho realizado. A ideia é que com experiências de turismo voluntário organizadas, feitas de maneira correta e com resultados positivos, impactantes e transformadores, ao retornarem para sociedade de origem, esses turistas voluntários atuem como embaixadores do voluntariado, para que se difunda e ocorra o crescimento das práticas de voluntariado (representado pela linha tracejada vermelha) na sociedade.

Figura 5 - Processo de atuação da Exchange do Bem

Fonte: Elaborada pelo autor (2019)

Ilustrado o processo desde a captação do cliente até a finalização da viagem, podemos focar em cada etapa desse processo conforme figura 6 para continuar explicando o raciocínio utilizado para realizar a análise de dados.

Figura 6 - Etapas do turismo voluntário na Exchange do Bem

Fonte:Elaborada pelo autor (2019)

Detalhadas as etapas, buscou-se o embasamento teórico para poder estudar o fenômeno do turismo voluntário de maneira coerente com cada uma delas dentro do contexto da Aprendizagem Transformadora, conforme figura 7.

Figura 7 - Relação das etapas com o referencial teórico

Pode-se argumentar que nem todas agências de turismo voluntário operam dessa maneira, porém no Brasil, a Exchange do Bem é uma de duas conhecidas empresas dedicadas exclusivamente ao turismo voluntário, portanto o seu modelo de atuação é de certa relevância para o tema.

Definido o referencial teórico, a coleta de dados foi estruturada conforme o quadro 8.

Quadro 8 - Etapas da coleta de dados Objetivos Descrição/

Categorização

Autores Etapa Instrumento Alvo

1. Caracterização Raso, Intermediário, Profundo Callanan & Thomas (2005) Captação Formulário de Inscrição e entrevistas Grupo Índia

Detalhamento: Permite o levantamento de habilidades e qualificações de cada voluntário e de outras características pertinentes ao turismo voluntário de acordo com Framework de Callanan e Thomas (2005) classificando-os como Rasos, Intermediários e Profundos.

2. Motivações Pessoal, Interpessoal, Outros

Chen & Chen (2011) Callanan & Thomas (2005)

Orientação Entrevistas Grupo Índia

Detalhamento: As entrevistas pré viagem serão feitas com o grupo de turistas voluntários da Índia e focarão nas motivações, com intenção de categorizar as respostas dentro do framework motivacional de Chen e Chen (2011) separando-as em Pessoal e Interpessoal, relacionando-as com as classificações da etapa anterior.

3. Experiência Observar atividades realizadas durante o programa Sipos, Battisti e Grimm (2008) Batson (2002) Acompa- nhamento Observação, entrevistas e relatos Grupo Índia

Detalhamento: Relacionar as atividades realizadas durante a viagem no orfanato indiano com o framework de Sipos, Battisti e Grimm (2008), verificando se estão presentes as combinações de Head, Hands e Heart para que a experiência potencialize uma possível Aprendizagem Transformadora. Verificar, por meio de relatos, conversas informais e entrevista pós viagem, em quais voluntários ocorre a emergência do sentimento de empatia já que, conforme Batson (2002), ele favorece a ocorrência de atitudes verdadeiramente altruístas, que por sua vez evidenciam um olhar voltado para fora de si em direção ao outro – algo que é determinante para a ocorrência da AT.

4. Transformação Aprendizagem de 1ª, 2ª ou 3ª ordem

Sterling (2011) Mezirow (1978)

Taylor (1997)

Devolutiva Entrevistas Grupo Índia

Detalhamento: Entrevistas pós viagem com o grupo da Índia para identificar possíveis aprendizagens com a experiência de turismo voluntário. Os estudos de Mezirow (1978) e Taylor (1997) servirão como base para analisarmos as respostas das entrevistas enquanto os Níveis de Conhecimento de Sterling (2011) fornecerão um norte para identificarmos o tipo de aprendizagem pelo qual os participantes passaram.

Para atingir os objetivos propostos de maneira satisfatória, nota-se que cada um dos passos busca esclarecer um dos objetivos específicos da presente pesquisa, conforme capítulo 2, enquanto a análise do conjunto de dados coletados permitirá o esclarecimento do objetivo geral. Sendo assim, a coleta de dados ocorreu por meio de análise de documentos, realização de entrevistas e observações.

Antes de dar início à coleta é importante ter um desenho da pesquisa, conforme figura 8:

Figura 8 - Desenho de pesquisa

Fonte:Elaborada pelo autor (2019)

Pode-se observar o delineamento do caso, a viagem em grupo para a Índia, os procedimentos do estudo no círculo maior, os contextos envolvidos no estudo nos círculos à direita e nos quadros abaixo a definição dos problemas e as informações necessárias que devem ser obtidas e analisadas. Referente aos contextos do estudo, eles se tornam importantes ao passo que a pesquisa qualitativa envolve interpretar o que as pessoas disseram e o que o pesquisador viu e leu, portanto é um processo de criar significados e significados são sempre considerados dentro de contextos (MERRIAM, 2009).

Conforme Taylor (1997), para a AT é essencial entender o contexto em que o aprendiz está inserido, portanto além da viagem de turismo voluntário, as vivências prévias dos integrantes do grupo podem oferecer insights e informações que venham a se tornar relevante ao longo da análise de dados. No segundo círculo, o roteiro da viagem e as atividades desenvolvidas devem proporcionar o engajamento de diferentes saberes dos participantes ao atuarem no projeto e a troca cultural além de promover condições favoráveis para a criação de uma identidade de grupo entre os participantes, ligando assim com o terceiro círculo, para que ocorram discussões, troca de opiniões e visões de mundo, estimulo à reflexão crítica e criação de soluções que sejam efetivas para solucionar problemas dentro do contexto sociocultural local do projeto, etapa que pode ser fortemente influenciada pela ação da agência que faz a ligação dos voluntários com o projeto.

Para a documentação, foram analisados os materiais informativos utilizados pela agência para preparar os voluntários para a viagem, os formulários de inscrição preenchidos pelos voluntários, as pesquisas de satisfação preenchidas após o retorno da viagem, materiais fornecidos pelas ONGs, folders, notícias sobre a empresa publicadas na mídia e outras fontes que se apresentem relevantes. Yin (2001, p. 109) considera que “o uso mais importante de documentos é corroborar e valorizar as evidências oriundas de outras fontes”.

A observação foi realizada de forma ativa, por meio da observação participante, durante a participação do autor na viagem para a Índia junto ao grupo. A observação participante consiste na participação real do observador na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada não apenas para se aproximar dos outros participantes, mas para tentar aprender algo com a experiência que eles têm descrita no papel (STAKE, 2016). Segundo Merriam (2009), por vezes, ser membro de um grupo pode ser a única maneira de se obter acesso a informações confiáveis. Para Yin (2001, p. 115) “As provas observacionais são, em geral, úteis para fornecer informações adicionais sobre o tópico que está sendo estudado”.

Referente às entrevistas, Yin (2001, p. 112) as considera como “uma das mais importantes fontes de informações para um estudo de caso” enquanto Stake (1995) aponta que os principais motivos para o uso de estudos de caso são para obter descrições e interpretações de outros, já que o mesmo caso não é visto da mesma maneira por todos, portanto a entrevista é o principal caminho para múltiplas realidades. As entrevistas foram feitas entre outubro de 2018 (pré-viagem) e abril de 2019 (pós viagem), online por meio de aplicativos como Skype, com base em um roteiro semiestruturado (Apêndice D) com os participantes da viagem para a Índia. As perguntas foram do tipo abertas, permitindo o aprofundamento das questões e dando flexibilidade para se adequar aos diferentes momentos da entrevista. Para tal, as entrevistas

foram gravadas (com as devidas autorizações dos participantes), sendo posteriormente transcritas pelo pesquisador com durações conforme o quadro 9.

Quadro 9 - Característica das Entrevistas Entrevistado Duração da Entrevista Tipo de Entrevista Pré-viagem Pós-viagem VI1 47’ 22’ Skype VI2 27’ 22’ Skype VI3 26’ 23’ Skype VI4 34’ 26’ Skype VI5 38’ 15’ Skype VI6 69’ 20’ Skype VI7 61’ 28’ Skype VI8 67’ 21’ Skype

Fonte:Elaborado pelo autor (2019)

O método online de entrevistas se apresentou como uma maneira prática e de fácil acesso para os participantes e o pesquisador, porém por não precisar estarem no mesmo ambiente físico, a praticidade acaba por atrapalhar no sentido de que as entrevistas poderiam ser feitas em qualquer momento, incluindo intervalos de trabalho, horário de almoço ou entre uma atividade e outra em que os participantes estivessem envolvidos. Em alguns casos isso resultava em interrupções durante algumas entrevistas.