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6.1 PERFIL DO TURISTA VOLUNTÁRIO

6.1.1 Perfil do turista voluntário

6.1.1.5 Duração da viagem

No quesito duração da viagem, para essa oportunidade não havia a possibilidade de optar por ficar mais tempo no projeto, visto que era um roteiro fixo de 13 dias. De fato, os participantes poderiam ter optado por outros programas que os permitissem ficar mais tempo, porém existem limitações como período de férias, dinheiro, compromisso com filhos e familiares e o trabalho, entre outros. Assim, essas limitações foram consideradas e, durante as entrevistas, os participantes foram questionados se caso a duração da viagem dependesse apenas da vontade eles, sem outros fatores limitantes, se permaneceriam por mais tempo. Os que apresentaram falas que indicassem uma vontade ou possibilidade de permanecer por mais tempo sem considerar essas limitações foram classificados como intermediários, assim como aqueles que, em soma a isso, sentiram e expressaram que vivenciaram algo intenso (CALLANAN; THOMAS, 2005). Foram então classificados como rasos VI5 e VI7, como intermediários VI1, VI3, VI4, VI6 e VI8 e como profundo VI2.

Para VI5 o tempo de 13 dias foi o suficiente, pois com 30 dias de férias assim é possível fazer o trabalho voluntário e também aproveitar um pouco para descansar depois: “Eu, nesse tempo (duas semanas). Nem mais, nem menos. Mas essa é uma característica minha, porque os outros estavam falando que eles ficariam meses fora de casa. Eu não (VI5)”. Já VI7 pondera que por ser a sua primeira experiência de turismo voluntário, duas semanas para começar é adequado, mas pensa que em outras oportunidades isso possa mudar:

Como é a minha primeira experiência, eu acho que duas semanas está de bom tamanho. É o tempo que eu vou ter para poder começar. Isso, mais para frente, pode me abrir. Como eu te falei, eu sou aposentada e tenho tempo disponível. Para começar, eu acho que está de bom tamanho. Para uma primeira experiência (VI7).

Dado que é um fenômeno recente no Brasil, com poucas agências atuando no setor de turismo voluntário quando comparado ao turismo tradicional, é de se esperar que haja uma fase de conhecimento da experiência.

Nos classificados como intermediários, VI1 acha que as necessidades do projeto devem ser levadas em consideração para que seja determinada a duração da viagem, mas que de qualquer maneira foi uma experiência forte:

Eu acho que depende do objetivo de cada um dos projetos. Para o nosso projeto, eu achei que essas duas semanas são suficientes para o trabalho que a gente vai fazer, mas para outros precisaríamos de mais tempo [...] E é um negócio engraçado, eu voltei com uma felicidade tão grande de lá que eu não sei explicar, foi muito forte não sei. Tanto foi assim que a gente já está empolgada para a próxima, pensando no que fazer para a próxima (VI1).

Interessante destacar o relato de felicidade e vontade de dar sequência a esse tipo de viagem, presente em outros trabalhos científicos que até certo ponto questionam o quão duradoura essa sensação pode ser ao nos reinserimos na sociedade de origem (COGHLAN, 2008; BROWN, 2005; MCGEHEE; SANTOS, 2005).

VI3 já esteve antes em uma viagem com a Exchange do Bem em Gana, precisando voltar antes do tempo planejado devido a problemas de saúde na família e encurtando a experiência que também duraria duas semanas. Fora essas limitações gostaria de poder permanecer por mais tempo e demonstra ciência dos benefícios que uma estadia maior pode proporcionar:

Tirando as limitações, com certeza mais tempo. Eu acho, que você consegue sentir e gerar um maior impacto, porque em uma curva de aprendizado, acho que um pouco mais de tempo você consegue completar uma curva de aprendizado e de entrega suficientes. [...] Ficando mais tempo você acaba tendo uma certa relação com os alunos, qual que é aquele que precisa de mais atenção na hora do dever de casa, qual

que você tem que ter um pouco mais de cuidado em matemática, qual que tem que ter mais cuidado em física, em inglês. Então acho que esse tipo de relação você ganha com o tempo e se você fica pelo menos um mês, você tem uma troca maior (VI3).

Para VI4, o tempo foi adequado dada a demanda de trabalho e intensidade da experiência. Reconhece as limitações de ter sido uma viagem rápida e relaciona o cansaço a algo bom, pensando em ficar mais tempo em outra viagem para que tenha oportunidade de maior inserção cultural:

Eu achei que foi bom, porque foi muito cansativo. Foi muito intenso. Eu acho que se fosse mais dias para a gente, por exemplo, a gente pintou uma sala e lá na frente, mas se fosse para pintar outra sala acho que ficaria muito puxado. Mas tipo, eu pensei em fazer outro projeto, mas eu quero fazer por mais tempo para ver como é. Por mais que a gente foi e fez, eu queria uma imersão maior, na cultura, de tudo. De sentir mesmo o hardcore do negócio (VI4).

Similarmente, VI8 afirma que, se não fossem as limitações do trabalho, gostaria de ter experiências de turismo voluntário por mais tempo: “Mais tempo, nossa, eu ficaria muito tempo. [...] Mas tipo, sério mesmo, eu ficaria tipo por tempo indeterminado”. Porém, como não tiveram ainda outras experiências e apenas indicaram a vontade de que fosse algo por mais tempo, não foram classificados como profundos, mas sim como intermediários.

Algumas pessoas interessadas no turismo voluntário, que ainda não conhecem a prática desconhecem os custos envolvidos nas viagens e associam a experiência com o voluntariado na cidade onde residem, no qual não acarreta custos expressivos com logística e intermediários. As experiências de turismo voluntário, dependendo da duração e do destino, podem ter valores similares ao do turismo tradicional e a questão financeira é uma variável importante ao se considerar o tempo de permanência, conforme mencionado por VI6:

Eu gosto da ideia de mais tempo. Não sei, talvez um fator que pegue nessa questão do mais tempo, talvez seja o financeiro mesmo. Se bem que o mais caro é a passagem, que não vai fazer diferença. [...] Eu gosto de fazer viagens maiores, talvez para a primeira experiência, duas semanas esteja bom, mas eu pessoalmente gostaria de mais tempo (VI6).

Por fim, classificada como profunda, VI2 se diferencia dos demais participantes pois a viagem em grupo para a Índia foi a terceira participação dela em projetos de turismo voluntário já tendo a quarta agendada para julho de 2019, no Peru, totalizando 9 semanas de atividades em um ano. “Eu acho que duas semanas é um tempo legal. Para quem trabalha, às vezes, não consegue tirar muito tempo. Mas eu faria de mais tempo também, de um mês, porque é muito diferente de fazer. Com certeza eu faria (VI2)”. No entanto, o calendário da faculdade faz com

que tenha tempo para viagens apenas durante os meses de janeiro e julho e por isso vê duas semanas como um tempo bom, mas disposta a ficar mais tempo – e de fato ficando, quando possível. Nas duas semanas anteriores à Índia, estava em um projeto na Tailândia, ficando no total por 4 semanas em projetos de voluntariado em janeiro.