• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 O QUADRIÊNIO DE 1922 A 1926

3.2 Movimentos militares

3.2.2 Coluna Prestes

Enquanto as forças de Isidoro combatem no Paraná irrompe, em Santo Ângelo, o levante comandado pelo Capitão Luís Carlos Prestes. O encontro das duas colunas ocorre em 11 de abril

81 GARCIA, 2006, op. cit., p.530-531. 82 CORRÊA, op. cit., p. 187.

83

CARONE, 1969, op. cit., p. 266.

84 APM. Belo Horizonte, 1924. (Cx. 15, AB-RP).

85 Esse episódio ficou conhecido como Campanha do Paraná e Campanha do Contestado. 86 CIDADE, op. cit., p. 567.

de 1925. Acredita o movimento que “marchando, engrossará a Coluna” classificando, assim, a chamada guerra de movimento preconizada pelos militantes. Prestes classifica sua coluna:

Todo o Brasil, de Norte a Sul, ardentemente deseja, no íntimo de sua consciência, a vitória dos revolucionários, porque eles lutam por amor do Brasil, porque eles querem que o voto do povo seja secreto, que a vontade soberana do povo seja uma verdade respeitada nas urnas, porque eles querem que sejam confiscadas as grandes fortunas feitas por membros do governo à custa dos dinheiros do Brasil, porque eles querem que os governos tratem menos da politicagem e cuidem mais do auxílio ao povo laborioso, que numa mescla sublime de brasileiros e estrangeiros, irmanados por um mesmo ideal, vive trabalhando honestamente pela grandeza do Brasil. [...] Todos sabem hoje, apesar da censura da imprensa e do Telégrafo, apesar das mentiras oficiais espalhadas por toda a parte, que os revolucionários têm recebido verdadeira consagração por onde têm passado e que até hoje não foram batidos. [...] a ordem, o respeito à propriedade e à família serão mantidos rigorosamente e, para isso, o governo revolucionário provisório conta com o auxílio da própria população.87

Em alguns vilarejos o movimento encontra hostilidade até mesmo pela propaganda contrária feita aos tenentes. Mas em outros, ele recebe alimentos e, principalmente, informações. Os revolucionários chegam a assumir que destruíram documentos, mas se defendem afirmando que destruíram apenas os documentos cujo teor se refere à lista de cobranças de impostos; afirmam também que libertaram presos, justificando que eles foram injustiçados e vítimas de perseguição. Estes são alguns dos atos cometidos pela Coluna.88 E assim, o movimento vai se prolongando com o intenso avanço pelo interior. Pelas justificativas de Bernardes, a contenção ao movimento não permite uma ação rápida devido às “distâncias, a falta de meios de transporte, as moléstias, as dificuldades de abastecimento”, que dificultam a ação governamental. Assim, as forças da União têm que agir de maneira “preparada” e com “calma” para que a ação seja eficiente e decisiva.89

Não se pode perder de vista na conjuntura desses movimentos a questão fronteiriça com os países sul-americanos. As forças revolucionárias chegam a transpor fronteiras de outros países, como o Paraguai, a fim de romper um cerco que haviam feito contra eles. Os revolucionários entregam uma declaração ao país vizinho na qual se comprometem a respeitar suas leis e sua soberania. A Coluna marcha, assim, durante 3 dias por 120 km em território paraguaio. Note que

87 Assinado por Luiz Carlos Prestes apud CARONE, 1969, op. cit., p. 264-266.

88 SODRÉ, Nelson Werneck. A Coluna Prestes: análise e depoimentos. São Paulo: Círculo do Livro, 1986. p. 29-47. 89 APM. Belo Horizonte, 1925. p. 15. (Mensagens Presidenciais).

a Coluna, opondo-se à doutrina de guerra em defesa fixa – preconizada pelo General Gamelin e pela Missão Francesa – pratica a guerra de movimento “tendo seus Chefes demonstrado capacidade estratégica e tática.”90

O Governo brasileiro, assim, intensifica o cuidado nas regiões fronteiriças mantendo contato constante com os países vizinhos a fim de evitar apoio a atividades revolucionárias. O Itamaraty entra em contato com as delegações dos países vizinhos do sul do Brasil, assinalando que é mister “toda a vigilância” para impedir “absolutamente o embarque ou a vinda de qualquer armamento” para o Brasil.91 Pedro de Toledo, Embaixador do Brasil em Buenos Aires, procura o Ministro das Relações Exteriores da Argentina, Angel Gallardo, para tratar de assuntos “ligados à segurança, tais como o contrabando de armas, gasolina e mantimentos para os revoltosos, e as reuniões dos grupos revolucionários no território limítrofe.” Como resposta, Gallardo se compromete a tomar as providências possíveis, mas adianta que não pode impedir os revolucionários de atravessarem desarmados o território de seu país.92

Um incidente que causa sincero desconforto para o Brasil ocorre na fronteira uruguaio- brasileira. Forças brasileiras matam, por engano, achando ser um rebelde, um cidadão uruguaio, na fronteira Rivera-Santana do Livramento.93 A imprensa uruguaia denuncia as constantes violações do território na fronteira norte do país e “reclama providências enérgicas, exigindo explicações do governo brasileiro e o pagamento de indenizações segundo as normas do direito internacional.”94 Onda de protestos anti-brasileiros começam, portanto, a surgir no Uruguai.

Para tentar remediar todo o inconveniente causado por esse incidente e minimizar as “freqüentes reclamações por parte dos moradores das zonas mais próximas da fronteira, tanto de um lado, como de outro” o Brasil envia uma Missão Especial para o Uruguai, tendo como representante o Deputado Federal Dr. Joaquim Thomaz Nabuco de Gouvêa. As negociações culminam na concretização de um Convênio que, além de fixar “as regras a que as autoridades de cada um deles devem ajustar seu proceder nos casos de alteração da ordem interna do outro Estado,” ainda determina “quando e sob que forma cada Governo deve proceder à internação dos chefes rebeldes e à concentração de forças revolucionárias que se encontram na zona fronteiriça”.

90 MALAN, General Alfredo Souto. Missão militar francesa de instrução junto ao exército brasileiro. Rio de

Janeiro: Biblioteca do Exército, 1988. p.329. BN.

91 GARCIA, 2006, op. cit., p. 529. 92

Ibid., p. 538-539.

93 As investigações sobre a morte do cidadão uruguaio concluíram que ele estava vinculado ao movimento, pois

tentava atravessar a fronteira para engrossar as forças rebeldes.

Como resultado, os dois governos assumem o compromisso de “impedir o tráfico de armas e munições destinadas a alimentar a rebelião contra a qual luta o país amigo,” além de regular a “assistência aos feridos e foragidos” obedecendo aos “princípios humanitários” e às “regras de boa vizinhança e absoluta neutralidade”. O convênio simboliza, assim, um tipo de repressão “anti-revolucionaria.”95

É também promulgado, no que se refere às relações internacionais conseqüentes desses movimentos, o tratado de extradição de criminosos entre o Brasil e o Paraguai, assinado em Assunção, a 24 de fevereiro de 192296. Além das perturbações analisadas, o movimento ainda impede a visita de autoridades internacionais como a do Príncipe Humberto, da Itália.97

Em linhas gerais, esse é o cenário em que se desenrola a Coluna Prestes.98 Depois de percorrer mais de 25 mil km pelo interior do Brasil, a Coluna atravessa a fronteira da Bolívia, em 1927, que concede asilo político aos revolucionários. O movimento, que catalisa um sentimento anti-governamental e luta contra “forças regulares do Exército, polícias locais e até cangaceiros assalariados,”99 vai se refugiar em país vizinho contando, entre seus membros, com muitos asilados doentes e feridos. Esse episódio é concomitante à troca de governo no Brasil na qual é eleito Washington Luís, que tenta se reconciliar com a oposição enviando recursos farmacêuticos e provisões necessárias aos rebeldes.100 Os revolucionários só vão voltar a aparecer no cenário político brasileiro em 1930 para fazerem a Revolução, liderada por Getúlio Vargas, e pôr fim à Primeira República.101

No documento O governo Bernardes e a Liga das Nações (páginas 77-80)