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Governo de Artur Bernardes

No documento O governo Bernardes e a Liga das Nações (páginas 80-84)

CAPÍTULO 3 O QUADRIÊNIO DE 1922 A 1926

3.3 Governo de Artur Bernardes

Nessa moldura revolucionária, que marca o período Bernardes, o julgamento em relação ao presidente deve ser feito tomando emprestados os seguintes termos: “O bernadismo não é, em

95 APM. Belo Horizonte, 1925. p. 111. (Mensagens Presidenciais). Cf. GARCIA, 2006, op. cit., p. 544-546. 96 APM. Belo Horizonte, 1926. p. 134-5. (Mensagens Presidenciais).

97 APM. Belo Horizonte, 1925. p. 113. (Mensagens Presidenciais).

98 A Coluna sob o comando de Prestes e Miguel Costa conta com a participação de jovens revolucionários como

Juarez Távora, Lourenço Moreira Lima, Cordeiro de Farias, Siqueira Campos, dentre outros.

99 As tropas “bernardescas” lutam para irromper o grupo. Para isso, contam com o cangaço, inclusive o grupo de

Lampião, para combater os revolucionários.

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Luis Carlos Prestes e outros soldados da Coluna são contratados para trabalhar numa empresa britânica na Bolívia.

101 Prestes não participa dessa revolução ao lado de Getúlio Vargas. Nesse momento ele está mais ligado às idéias

suma, tão somente reflexo da triste personalidade do presidente Bernardes, mas um fenômeno social que se vem manifestando desde anos.” Assim, justifica-se a existência de “três mentalidades” que podem explicar o fenômeno da década de 1920: a existência dos “chefes políticos locais,” que deterioram todo o sistema político, como a existência do coronelismo e a descentralização política que permitem um enorme abuso de poder. Um segundo ponto é o “bacharelismo,” que não reconhece no produtor sua “dignidade”, não sabe “quanto custa produzir,” redundando numa sociedade desigual e numa rígida estrutura de exploração. Por fim, o “jesuitismo,” que simboliza as tradições e a presença de algumas continuidades, além de representar a existência de suportes ideológicos que ancoram o sistema sócio-político sedimentado na péssima distribuição de renda, na falta de igualdade e solidariedade entre seus compatriotas.102

Numa entrevista dada por Artur Bernardes em 1945 ele comenta o que pensa sobre as revoltas que ocorreram no seu mandato e faz seu próprio julgamento sobre as alterações no plano político-social:

A vida coletiva de uma nação representa, entretanto, uma continuidade no tempo, e a história ensina que são sempre temerárias, fadadas a fracassos desastrosos, as iniciativas tendentes a bruscas mutações, a alterações radicais, no plano político ou social. [...] Destas só podem advir prejuízos ou retrocessos.103

Está evidente, portanto, o desprezo que Bernardes tem em relação a qualquer tipo de movimento revolucionário. Ainda num discurso apresentado à Nação, em 1926, Bernardes tenta justificar as atitudes tomadas durante o conturbado período em que governou o país. Primeiramente, ele aponta a necessidade de se fazer o balanço das responsabilidades “sem perder de vista o ambiente dos acontecimentos” para lograr num “julgamento imparcial.” Ainda considera que a autonomia dos Estados nunca deve gerar situações de “desprestígio nacional e falseamento do regime” justificando, dessa maneira, suas várias intervenções.104Assim, ele tenta defender seus atos, afirmando serem pela Nação, mesmo que em alguns momentos se visse compelido a passar por cima da própria Constituição.

Para complementar essas idéias, em 1925, em suas mensagens presidenciais, ele defende a necessidade da “revisão de algumas leis orgânicas, a começar pela sua Constituição, como

102 APM. Belo Horizonte, [192-]. (Cx. 24, AB-RA).

103 APM. Belo Horizonte, 1945. p. 8. (Cx. 01, AB-F, doc. 11). 104 APM. Belo Horizonte, [19--?]. (Cx. 04, AB-PI).

condição da própria vida interna e internacional da República e do regime federativo”. Segundo ele, a Constituição teria sido elaborada para permitir um “sistema de excepcionais liberdades” no qual essas leis seriam “adiantadas, pouco adequadas ao nosso país, à nossa raça, à nossa índole, à nossa cultura social e política”. Comentando sobre a soberania da Constituição, ele defende que “imutável em sua essência, nem por isso pode a Constituição fugir às contingências do ambiente contemporâneo;” ela deve, portanto, ampliar-se “pela interpretação, pelos usos e costumes”. Assim, essa nova organização “desarmou o governo para defender convenientemente a ordem” tendo sido necessário adotar o estado de exceção para compelir a desordem.105

Alguns preceitos são então assinalados pelo presidente a fim de buscar uma melhor aplicação da lei no país: é preciso garantir um “equilíbrio orçamentário” e uma “ordem das finanças públicas,” que só podem ser realizadas através da eliminação das denominadas caudas

orçamentárias; deve-se proibir qualquer despesa ordinária sem a respectiva criação da despesa;

os Estados devem ser obrigados a prestar informações sobre sua administração e finanças à União; a questão da “igualdade de direitos dos estrangeiros não pode ter um caráter tão absoluto”, como a letra da Constituição parece prescrever, etc. 106

Muitos julgam o temperamento de Bernardes como “autoritário” e “vingativo por natureza,”107 mas apesar da maioria dos jornais da época criticarem as atitudes de Bernardes há, em contrapartida, uma outra parte que tenta defender sua atuação no cenário político nacional:

Com causas as mais variadas, resultantes de erros coletivos, históricos e conjunturais, todas elas somaram-se para gerar o clima de subversão que antecedeu e marcou o seu governo, inclusive as decorrentes da Grande Guerra e da nossa crise de crescimento, tudo a concorrer para a generalizada desordem espiritual e material.108

Assim, o governo de Bernardes deve ser julgado à luz de sua conjuntura. A ala defensora do presidente ainda complementa que Bernardes representa uma “estrutura metálica, uma segurança, um sistema sólido, ancorado na realidade”. Além disso, algumas virtudes são levantadas: “fidelidade irrestrita ao compromisso e à palavra empenhada” levando ele a uma

105 APM. Belo Horizonte, 1925. p.6-7. (Mensagens Presidenciais). 106 APM. Belo Horizonte, 1924. p. 6-9. (Mensagens Presidenciais). 107 BREDA DOS SANTOS, 1996, op. cit., p. 96.

“inabalável decisão de ir até o fim, a qualquer custo.”109 Procurar-se-á pensar todas essas características da personalidade de Bernardes e do momento histórico vivido no seu quatriênio correlatos para tentar fazer um julgamento mais fiel do personagem Bernardes e a partir disso tentar compreender o papel desempenhado por esse estadista na Liga das Nações, assunto do próximo capítulo.

CAPÍTULO 4 O SURGIMENTO DA LIGA DAS NAÇÕES E A PARTICIPAÇÃO

No documento O governo Bernardes e a Liga das Nações (páginas 80-84)