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Comércio internacional e a competitividade das nações

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Rodada Tóquio

2 COMÉRCIO INTERNACIONAL

2.1 Comércio Internacional e o Desenvolvimento

2.1.4 Comércio internacional e a competitividade das nações

Segundo Porter (1989), a estratégia de aumento da competitividade das empresas passa, necessariamente, pela melhoria constante do seu ambiente nacional e pela presença da inovação de seus produtos e/ou serviços. As forças competitivas que impulsionam as empresas nesta direção são: i) a ameaça de novas empresas, ii) a ameaça de novos produtos ou serviços, iii) o poder de barganha dos fornecedores, iv) o poder de barganha dos compradores, v) a rivalidade entre competidores existentes e, vi) mudanças nos regulamentos governamentais. Como esses fatores nunca são homogêneos para todos os setores produtivos e de serviços de um determinado país, verifica-se que um determinado setor pode se beneficiar de um melhor ambiente para a competição em um país do que em outros. Porter defende a tese de que a vantagem comparativa é criada e mantida através de um processo

altamente localizado, influenciado por diferenças nas estruturas econômicas, valores, culturas, instituições e histórias nacionais. Contraditoriamente, a globalização da competição fortalece o papel do país onde estão localizadas as sedes das empresas, fonte do conhecimento e da tecnologia que sustenta a vantagem competitiva.

Com a globalização a disponibilidade local de certos fatores passa a ser menos relevante. A moderna empresa global pode abastecer-se de fatores de outros países, comprando deles ou localizando neles suas atividades. Ou seja, a questão central não é o simples acesso aos fatores, mas sim a capacidade de usá-los produtivamente (PORTER, 1989). Neste contexto, variáveis extraídas da Nova Economia Institucional também podem ser observadas nas transações entre os países. Em relação à especificidade dos ativos, existem países que apresentam produtos muito específicos e até mesmo únicos, como é o caso de alguns minérios. Quanto à freqüência das transações bem-sucedidas, à medida em que estas aumentam, os trâmites burocráticos podem ser facilitados pois cria-se uma percepção de que as ações oportunistas serão cada vez menos prováveis. E finalmente, como em qualquer transação, a despeito dos esforços da OMC e outros organismos, a assimetria de informações continua sendo um fator determinante para o sucesso ou fracasso de muitas negociações. Sobre essa questão, Pitelli e Moares (2006) concluíram que “O aumento das exigências dos consumidores europeus quanto à segurança do alimento conduziu a mudanças no ambiente institucional nacional, e como conseqüência, aumentou o grau da especificidade dos ativos empregados nessa atividade, o que implica numa maior dependência entre os agentes” (pág.42).

Os mesmos países que se industrializaram utilizando-se de uma série de medidas para proteger suas economias, hoje impedem, unilateralmente ou por intermédio das instituições multilaterais, que os países emergentes apliquem as mesmas medidas até que suas economias estejam consolidadas e preparadas para a competição no comércio internacional (CHANG, 2004). No caso dos Tigres do Leste Asiático, os governos da Coréia e Taiwan recorreram a estratégias heterodoxas: protegeram os mercados internos para aumentar lucros, concederam subsídios generosos aos exportadores, incentivaram as empresas a fazer a engenharia reversa de produtos estrangeiros patenteados e impuseram condições aos investidores estrangeiros (quando lhes foi permitida a entrada), tais como exigências de equilíbrio na exportação- importação e de conteúdo nacional. Todas essas estratégias são hoje severamente limitadas pelos acordos da OMC (MALHORTA, 2004).

A vantagem competitiva pode ser basicamente em dois tipos: menor custo e diferenciação. Embora, normalmente, os competidores optem por enfatizar um dos dois tipos, qualquer estratégia bem sucedida não deve perder nenhum dos dois de vista. Em relação à fonte da vantagem, Porter (1989) as classifica em: i) vantagens competitivas de ordem inferior, como baixos custos de matérias-primas, de mão-de-obra ou ainda aquelas advindas de novas tecnologias que geram exclusivamente economias de escala; estas vantagens, via de regra são facilmente imitadas e superadas; ii) vantagens competitivas de ordem superior, compostas por tecnologias de processamento protegidas por direito de propriedade, diferenciação baseada em produtos ou serviços excepcionais, reputação da marca firmada em esforços cumulativos de comercialização e relações com os clientes protegidas pelos elevados custos que estes teriam ao mudar de fornecedor. A buscas pelas vantagens competitivas de ordem superior envolve investimentos constantes, cumulativos e, muitas vezes, arriscados em instalações físicas, aprendizado especializado, pesquisa, desenvolvimento e relacionamento diferenciado com clientes.

Ao se lançar ao comércio internacional, as empresas buscam combinar as vantagens criadas em seu país com outras como economias de escala, capacidade de servir a clientes multinacionais e uma reputação de marca transferível. A economia de escala obtida permite diluir o custo de pesquisa e desenvolvimento de produtos. Mais recentemente, muitas

empresas passaram a buscar a localização em outros países para ter acesso, não apenas a menores custos de fatores locais, mas também a conhecimentos locais especializados sobre tecnologia do produto ou processo, técnicas de comercialização e necessidades do comprador. A meta final da vantagem competitiva é modificar as regras do ambiente externo em favor da empresa, ou seja, criar assimetrias de mercado que melhorem sua competitividade (LEMOS & NASCIMENTO, 1999).

O sucesso de uma empresa no exterior decorre de uma efetiva estratégia de inovação que antecipe as necessidades internacionais ou que as crie. Para alcançar esse estágio, é preciso ter o país sede como centro de estímulo constante à melhoria competitiva e à inovação. Esse estímulo é conseguido por meio de uma conjunção de fatores que Porter (1989) chamou de determinantes da vantagem nacional:

i) Condições de fatores - fatores de produção como: trabalho especializado, recursos naturais, infra-estrutura ou recursos de capital; necessários à competição em determinada indústria. Mais importante do que o estoque de fatores em qualquer momento particular é o ritmo em que eles são criados e/ou aperfeiçoados.

ii) Condições de demanda - quanto mais exigente e sofisticada for a demanda interna, em relação ao produto ou aos serviços, mais a empresa será pressionada a melhorá-los, acabando por alcançar padrões elevados que os permitem inserir-se no mercado internacional. Esta demanda exigente pode agir ainda de forma a prever demandas por produtos ou normas de processamento que serão adotadas/exigidas posteriormente em outros países.

iii) Indústrias correlatas e de apoio - a presença, no país, de indústrias abastecedoras e indústrias correlatas que sejam internacionalmente competitivas potencializam a troca de informações e experiências locais relevantes. Os benefícios tangíveis e intangíveis estão principalmente relacionados a intercâmbios e à possibilidade de cooperação para a melhoria da vantagem competitiva nacional puxada por empresas de classe mundial, mas que beneficia, compradores, fornecedores e setores correlatos.

iv) Estratégia, estrutura e rivalidade das empresas - a maneira pela qual as empresas são criadas, organizadas e dirigidas e ainda a natureza da rivalidade interna são determinadas por uma gama enorme de fatores e da conjunção destes que têm sua origem em condições singulares como o sistema educacional, a história social e religiosa, as estruturas familiares e muitas outras. Via de regra, as empresas bem sucedidas globalmente participam de um clima de intensa competição em seu país que as impele a inovar e melhorar seus produtos e processos46.

Entretanto, as vantagens comparativas dependem significativamente também de como as transações, incluindo as atividades de comércio, ocorrem e são organizadas, e ainda de como as mudanças institucionais transformam a endogenia inicial. Conseqüentemente, duas dimensões devem ser consideradas: o ambiente institucional, isto é, o jogo de regras, leis, políticas, costumes, e normas que determinam as regras do jogo; e os arranjos organizacionais imersos neste ambiente e executados por agentes em seus esforços para alcançar seus objetivos (MÉNARD & VALCESCHINI, 2005). Neste contexto, o conceito de eficiência está ligado à redução dos custos de transação nessas duas dimensões.

Portanto, o governo também possui uma relevância significativa, pois a política adotada por um determinado país pode influenciar de forma decisiva qualquer um dos fatores citados, melhorando ou piorando a vantagem nacional. Para o escopo deste trabalho é importante o papel que os órgãos governamentais exercem ao estabelecer padrões ou regulamentos locais para os produtos, que condicionam ou influenciam as necessidades da demanda. Aos governos cabe, portanto, o papel de fixar metas de produtividade adequadas, estabelecer bases sustentáveis para a melhoria da vantagem competitiva na indústria do país e

46 Entretanto, existem exceções em monopólios nacionais bem-sucedidos internacionalmente, como nos casos da EMBRAER e da PETROBRAS.

estimular as empresas a fazerem o mesmo. O governo deve avaliar com muito cuidado e com base num espaço temporal amplo as pressões imediatistas de grupos em busca de subsídios e outras formas de proteção. A política governamental deve evoluir de forma a antecipar-se às necessidades de uma economia em desenvolvimento, permitindo e estimulando o avanço das empresas.

Uma variável que não deve ser desprezada é aquela advinda de eventos ocasionais, como é o caso da inserção de uma nova doença (vaca-louca) ou praga, que criam interrupções que podem destruir a competitividade nacional em poucos dias; ou ainda de uma descoberta científica com aplicações comerciais relevantes, que pode favorecer o país que se apropria da mesma de forma adequada. O acaso é importante pois cria interrupções que permitem mudanças na posição competitiva

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