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Instituições Internacionais de Normalização

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Rodada Tóquio

1.5 Instituições Internacionais de Normalização

Retomando a descrição da organização institucional do comércio mundial, este tópico introduz algumas instituições que apresentam atividades relacionadas com o desenvolvimento, implementação e difusão de normas, padrões e regulamentos, relevantes para as transações internacionais envolvendo produtos agropecuários.

A World Standards Services Network (WSSN), é uma instituição que disponibiliza, por meio da rede mundial de computadores (internet), informações a respeito dos padrões de algumas organizações mundiais que trabalham com a elaboração de normas e padrões. Dentre as associadas à WSSN podemos destacar a Organização Internacional de Normalização (ISO25), criada em 1947. A ISO é uma organização não governamental com sede em Genebra, estruturada como uma federação mundial de órgãos de normalização nacionais de aproximadamente 156 países, cuja missão é desenvolver padrões e atividades relacionadas de

25 A sigla ISO não significa apenas as iniciais de sua denominação em inglês, mas também é utilizada em todos os países para se evitar confusões nas traduções em diversas línguas, pois ela provém do grego em que iso significa igual.

modo a facilitar o intercâmbio de mercadorias e serviços e desenvolver a cooperação nas esferas da atividade intelectual, científica, tecnológica e econômica. Para isso, a ISO estabelece regras ou características para processos ou produtos, de atividades comuns ou repetidas, almejando alcançar o grau ótimo de qualidade em um contexto específico (HENSON, 2004). Além de cerca de 17 mil padrões internacionais relativos a vários setores, foram desenvolvidos, em seus comitês e sub-comitês técnicos, padrões de sistema de gerenciamento genéricos previstos nas ISO 9000 (gerenciamento de qualidade), ISO 14000 (meio ambiente) e SA 8000 (Sistema de Gestão de Responsabilidade Social)26 (WSSM, 2006). Uma das séries mais relevantes para o tema em questão é a ISO 22.000, considerada como um marco na consolidação de toda a mudança no conceito de segurança alimentar e qualidade do alimento gerada nos últimos anos após o escândalo da “vaca louca”.

Outro grupo de instituições internacionais que estabelece padrões e normas relevantes estão relacionados a problemas sanitários e fitossanitários. As reconhecidas pelo Acordo Sobre Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (AMSF) são:

a) Codex Alimentarius, criado em 1961 a partir de uma iniciativa conjunta entre a FAO e a OMS, tem entre seus objetivos: i) proteger a saúde dos consumidores e assegurar práticas eqüitativas no comércio de alimentos; ii) promover a coordenação dos trabalhos referentes a normas e padrões alimentares; e iii) elaborar, revisar e modificar normas e padrões internacionais. Os padrões desenvolvidos no âmbito do Codex27 são reconhecidos pela OMC como fundamentados cientificamente e constituem ponto de referência para avaliação de medidas e regulamentos nacionais. Por ocasião das disputas comerciais, muitos países argumentam que medidas de controle sanitário mais rígidas do que as preconizados pelo Codex, devem consideradas como barreiras não-tarifárias. Entretanto, a demora para consolidação de uma norma no Codex, em comparação com as velocidades na inovação e das descobertas científicas28 não permitem essa constatação.

b) Organização Internacional de Epizootias (OIE), criada em 1924 para: i) disseminar informações obtidas junto aos membros sobre surtos epidêmicos; ii) coletar, analisar e disseminar informações científicas sobre o controle de epidemias; iii) fornecer suporte institucional e técnico aos países em desenvolvimento nos seus esforços de construção de capacidade de controle de epidemias animais; iv) estabelecer as normas que os países utilizam para se protegerem da entrada de doenças e patógenos em seu território (BANCO MUNDIAL, 2005); e v) reconhecer as áreas livres de doenças, classificando os países segundo sua condição perante a febre aftosa e a doença da vaca louca (LIMA et al, 2005). Atualmente é composta por 158 nações membros. A OIE é responsável pela padronização dos métodos de diagnóstico, metodologias de vacinas, e difusão de informação sobre a situação da doença nos nações membros. Ou seja, de modo sucinto, objetiva a promoção da saúde animal e um comércio seguro. As políticas e decisões da OIE normalmente geram conseqüências efetivas para o comércio internacional, pois é o organismo que a OMC reconhece como modelo de referência para saúde animal na resolução de litígios (BROWN & NATH, 2003).

c) Convenção Internacional sobre Proteção Vegetal (IPPC), assinado em 1952, é um tratado multilateral resultante da Conferência da FAO realizada no ano anterior, cujo propósito básico é o de assegurar medidas efetivas para prevenir a disseminação e a

26 A ISO 26000, referente à responsabilidade social está em fase de debate para posterior implementação. 27 O Brasil é um dos países da América Latina que tem maior tradição de participação nos trabalhos do Codex

Alimentarius. Coordenou o Comitê Regional do Codex para a América Latina e o Caribe, no período de 1991 a 1995 e, em seguida foi eleito para ocupar um posto no Comitê Executivo, como Representante Geográfico para a América Latina e o Caribe, de 1995 a 2003 (ALMEIDA, 2005).

28 Desenvolvimento de novos produtos, novos métodos de análise ou identificação de componentes prejudiciais a saúde nos alimentos.

introdução de pragas e produtos vegetais e potencialmente ao equilíbrio ambiental local (OLIVEIRA, 2005).

As bases legais para as normas desenvolvidas no âmbito do Codex, OIE e IPPC são fornecidas pelo Acordo de Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias - Acordo AMSF e no Acordo de Barreiras Técnicas ao Comércio – Acordo TBT, ambos incluídos no Acordo Multilateral de Comércio de Mercadorias, anexados ao Acordo de Marrakech que criou a OMC. O Acordo AMSF representa o principal instrumento normativo em âmbito multilateral regulando o tema e está em vigor desde janeiro de 1995 para os países desenvolvidos, desde janeiro de 1997 para os países em desenvolvimento e a partir de janeiro de 2000 para os países menos desenvolvidos. A entrada em vigor destas normas resultou em avanços importantes na busca da harmonização das políticas sanitárias e fitossanitárias dos países membros, os quais tiveram que adequar suas legislações internas de acordo com os princípios e diretrizes traçadas pela OMC e pelas organizações internacionais competentes (ALMEIDA, 2004).

É importante observar que os Acordos citados protegem o direito de cada país de estipular o nível de proteção que considere mais adequado, desde que este esteja em sintonia com o princípio de não dificultar o comércio internacional. As normas, tendências e recomendações desenvolvidas pelas instituições citadas refletem os consensos científicos internacionais das boas práticas de monitoramento de riscos e níveis aceitáveis de tolerância. Como esses processos podem ser relativamente demorados, em algumas situações, as normas se encontram defasadas em relação aos padrões já adotados na prática pela iniciativa privada. Ainda assim eles têm, cada vez mais, servido de base na construção das legislações nacionais e dos sistemas relacionados a questões sanitárias e de qualidade de alimentos, principalmente dos países em desenvolvimento.

Uma confusão comum quando se trata das Instituições de Normatização é a percepção que estas são responsáveis pela análise e ou certificação de uma empresa. Na verdade, o papel destas instituições, via de regra, se restrige à elaboração das normas29. A função de certificar as empresas, avaliando se a mesma está ou não de acordo com as normas, está a cargo das chamadas certificadoras. As certificadoras podem ser representadas por empresas particulares, públicas ou ainda ONGs que possuam a competência e a isenção para realizar a certificação. Para tanto, as certificadoras, devem passar por um processo de acreditação, que pode ser definido como o procedimento pelo qual uma autoridade com este mandado, reconhece que uma determinada instituição, ou empresa é competente para exercer uma determinada tarefa. Nenhuma certificadora pode operar em um determinado país sem que seja licenciada por uma agência acreditadora relevante. Neste contexto, há a possibilidade de que a instituição que analisa a conformidade de um determinado país não seja reconhecida por outro. Isto pode ocorrer por procedimentos de acreditação não harmonizados ou incompletos, ou em função de diferentes estruturas de acreditação (ROTHERHAM, 2003). Segundo Laudísio (2005), “a avaliação da conformidade é um processo sistematizado com regras determinadas, que são avaliadas para garantir que um produto, processo, serviço ou profissional atenda aos requisitos mínimos de confiança pré-estabelecidos em Normas ou Regulamentos”. A certificação tem como objetivo estabelecer um canal de confiança, entre o consumidor e o fornecedor, normalmente relativo a questões de qualidade e/ou segurança.

Desde meados de 1990, têm sido realizados esforços no sentido de hamonizar os processos de acreditação. Entre estes estão os Acordos de Reconhecimento Multilateral

29 A International Federation of Organic Agriculture Movement (IFOAM), pode ser citada como exemplo de instituição de normatização que também se responsabilizada pelo processo de acreditação (ROTHERHAM, 2003). A IFOAM é uma organização não-governamental sediada em Bonn, Alemanha, que atualmente abriga 770 organizações (incluindo-se certificadoras, processadores e distribuidores), além de pesquisadores de 107 países (RAMOS, 2007).

(ARM), desenvolvido pelo Fórum Internacional de Acreditação e pelo Laboratório Internacional de Cooperação em Acreditação. Signatários dos ARMs são obrigados a reconhecer qualquer instituição certificadora acreditada por outro signatário e, conseqüentemente, aceitar os certificados obtidos pelas empresas por meio dessas entidades (ROTHERHAM, 2003).

A acreditação e a certificação vêm ganhando cada vez mais destaque, sobretudo em função das novas exigências do mercado mundial de serviços e trocas de mercadorias tratados no tópico seguinte.

1.6

Nova Institucionalidade do Comércio Internacional de Alimentos Processados e

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