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As Consequências Positivas Advindas das Ações Voltadas para a Adequação O novo contexto mundial, citado no item 1.6, cria demandas relacionadas à

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Rodada Tóquio

EMPRESAS agentes clientes

3.4 As Consequências Positivas Advindas das Ações Voltadas para a Adequação O novo contexto mundial, citado no item 1.6, cria demandas relacionadas à

normalização, rastreabilidade e à fiscalização mais abrangentes e eficazes dos produtos a serem exportados, obrigando os exportadores nacionais a mudarem sua política de produção. De acordo com a hipótese levantada pela tese, é plausível supor que o esforço dos países/empresas para superar as barreiras não-tarifárias, estabelecidas sob a forma de normas, padrões ou regulamentos, gere benefícios tangíveis e intangíveis para a sociedade como um todo.

Ainda que muitos países percebam grande parte das exigências externas apenas como medidas não justificáveis ou que não realizam ganhos por seus esforços apenas para manterem seus mercados, existem benefícios indiretos e intangíveis de difícil mensuração e correlação com esses custos. Parte desses benefícios pode ser classificada como externalidades positivas. Uma externalidade surge quando um indivíduo ou uma firma leva a cabo uma ação que afeta outros diretamente, sem que tenha que pagar pelo resultado maléfico, ou sem que tenha vantagens pelo resultado benéfico (STIGLITZ & WALSH, 2003). Quando os Estados Unidos estabelecem um padrão que reduz o nível tolerado de pesticida em um produto originário do Brasil, por exemplo, o foco de sua preocupação é a saúde dos cidadãos americanos, mas indiretamente pode acabar por beneficiar também a sociedade brasileira com essa medida.

Dado que os custos de adequação às novas normas são tipicamente os elementos mais paupáveis do processo, estes são normalmente percebidos como desnecessários e injustificados. A falta de percepção da extensão de todos os benefícios de forma completa pode ocasionar uma subestimação dos níveis de retorno dos investimentos. O que, por sua vez, pode levar os empresários a incorporar uma cultura de dependência e a uma tendência a aguardar, seja pela assistência técnica disponibilizada por outros países, seja pela intervenção do Estado. Entretanto, via de regra, tanto um quanto o outro são lentos e ocorrem como resposta às situações de crise, ou seja, são estratégias reativas. E, conforme verificado no tópico anterior, buscar portos seguros e relações cômodas com os clientes e/ou fornecedores serve, apenas, para reforçar comportamentos passados e restringe ações inovativas.

Uma abordagem alternativa e menos pessimista desenvolvida nesta tese, enfatiza as oportunidades potenciais promovidas por certas barreiras não-tarifárias e a possibilidade de que alguns países em desenvolvimento e suas empresas possam utilizar estas oportunidades como vantagens competitivas. A partir dessa perspectiva, muitos padrões públicos e privados são considerados como uma ponte necessária entre as demandas crescentes dos consumidores e a participação dos fornecedores cada vez mais distantes. Muitos destes padrões fornecem uma linguagem comum para toda a cadeia de fornecedores e trazem a confiança na segurança dos alimentos até o consumidor final. Sem essa confiança, o mercado destes produtos não se sustentaria comprometendo o comércio internacional.

Antes de prosseguir, é preciso estabelecer uma ressalva à teoria aqui desenvolvida. A heterogeneidade dos países classificados como “em desenvolvimento” é extremamente significativa e está relacionada a variáveis como: infra-estrutura institucional, perfil sociológico da população, disponibilidade de recursos naturais, perfil das exportações, parque industrial, entre outras. Estas particularidades influenciam de forma determinante a capacidade destes países de absorver e de reagir às exigências internacionais, revertendo-as em benefícios a curto e médio prazos para a população. Segundo Peters & Vanzetti (2004),

essa heterogeneidade também dificulta a determinação de quais países devem ser alvo dos benefícios e/ou de dos tratamentos diferenciados previstos nos acordos internacionais. Assim sendo, países que não atingiram um estágio de desenvolvimento que permita absorver e transformar as exigências internacionais em oportunidades; e que ainda não recebem ajuda adequada para isso, podem sofrer grandes perdas de mercado e falência de empresas, decorrentes de exigências mais rigorosas de comercialização.

O Brasil pode ser considerado como um bom exemplo de país em desenvolvimento que atualmente se encontra em um estágio que lhe permite a absorção rápida dessas exigências, revertendo-as a curto e médio prazos em benefícios para a sociedade e sem perdas significativas para suas empresas. Benefícios estes sob a forma de produtos de maior qualidade para o mercado interno, do aumento da competitividade de seus produtos (ainda que esta ocorra a médio e longo prazos), ou ainda da melhoria da qualidade de vida de sua população. Dentre os eventuais benefícios intangíveis pode-se citar a melhoria da imagem, tanto das empresas como do país; que, por sua vez, facilita a inserção dos produtos destes países/empresas em outros mercados

Ainda sob a perspectiva das normas e padrões como catalisadores do processo inovativo, as mudanças relacionadas à adequação aos mesmos podem significar, em alguns casos, um importante incentivo à modernização das cadeias exportadoras dos países em desenvolvimento e fornecer uma maior visibilidade ao gerenciamento apropriado da governança nas mesmas. Além disso, promovem uma maior disseminação de “boas práticas” por empresários que serão, muitas vezes, imitados pelos produtores domésticos, gerando spillovers que irão beneficiar, também desta forma, os consumidores locais. Segundo Jaffee & Hedson (2004), o processo de adequação aos padrões pode, conceitualmente, promover, a longo-prazo, a base para um comércio mais justo e sustentável, ainda que haja perdedores e ganhadores em particular.

Os benefícios citados não ocorrem, portanto, apenas no ato de adequação às normas, mas anterior à implementação destas. A chave está na habilidade dos países em desenvolvimento de criar ou aprimorar suas capacidades e fazer os ajustes estruturais e operacionais necessários em suas cadeias produtivas para responder da forma mais adequada às pressões exercidas pelo aumento da adoção das barreiras não-tarifárias.

As externalidades positivas e benefícios citados encontram-se entrelaçados e dispersos em diversos setores da cadeia ou de uma empresa157. Ainda assim, para os fins didáticos dessa tese, os benefícios advindos da adequação ou antecipação às normas internacionais de comércio foram classificados em vários grupos e serão tratados de forma particularizada nos itens seguintes.

Inovações tecnológicas

“A inovação resulta, com freqüência, da pressão, necessidade ou mesmo adversidade” (PORTER, 1989).

Grande parte das normas técnicas do comércio internacional reflete o estado da arte, em termos de exigência de conhecimento e capacitação tecnológica, impostos pelos países desenvolvidos, visando ao domínio e delimitação de mercados. Estas normas acabam por se constituir em barreiras técnicas ao comércio internacional, na medida em que os concorrentes diretos, inclusive países em desenvolvimento como o Brasil, não realizam investimentos efetivos em qualidade e na geração de inovações e tornando seus produtos mais competitivos. O principal desafio com que se defronta o setor produtivo brasileiro diz respeito à fabricar produtos internacionalmente competitivos, atividade que está cada vez mais atrelada à

157 Um bom exemplo é o avanço tecnológico e a melhoria da qualidade ambiental gerados a partir da exigência da Alemanha em não importar celulose branqueada a cloro, obrigando os exportadores a investir no desenvolvimento de uma tecnologia mais limpa à base de oxigênio.

qualidade e à inovação. Nas palavras de Delfim Netto (2007): “É um fato empiricamente comprovado que as empresas exportadoras tendem a ser mais inovadoras, têm maior produtividade, pagam salários mais altos e introduzem novas tecnologias, que se transmitem para o mercado interno, acelerando o desenvolvimento econômico”.

O conhecimento acerca das funções tecnológicas (metrologia, normalização, avaliação da conformidade, propriedade intelectual158, informação tecnológica e tecnologias de gestão), quando empregado eficazmente, contribui para a redução de custos, aumento da produtividade, melhorias do produto e do processo produtivo, fortalecimento da marca, proteção do conhecimento, etc. Enfim, possibilitam, em última análise, incrementar o desempenho competitivo de produtos e serviços159 (da SILVA, 2004). Depoimentos sobre o papel da tecnologia na competitividade internacional, colhidos por Tigre (2002) junto a dirigentes de empresas exportadoras, atestam que a diferenciação do produto é considerada um fator competitivo mais importante que o preço. Um produto original abre seu próprio mercado e aumenta a possibilidade de agregação de valor160161.

As barreiras técnicas possuem a propriedade de revelar gargalos e tornar visíveis as deficiências dos países/empresas exportadores. Dessa forma, é possível identificar mais facilmente os setores e segmentos da cadeia produtiva que devem ser alvo das iniciativas públicas de fomento, bem como as oportunidades de investimento para o setor privado. Entretanto, assim como a superdosagem de um remédio pode levar à morte do paciente, o excesso de adversidades pode levar à paralisia e ao desestímulo pela busca de uma posição competitiva melhor. Um exemplo de como as fortes restrições ao uso de determinados fatores podem ser estimulantes à inovação, é o desenvolvimento de tecnologias para extração de petróleo em águas profundas realizado nos últimos anos pela PETROBRAS, que passou a exportar essa tecnologia para vários países.

O fato de que grande parte das barreiras técnicas possa ser superada por meio do desenvolvimento tecnológico, cria um ambiente propício para o estreitamento dos laços entre os integrantes do Sistema Nacional de Inovação (SNI). Entretanto, este movimento não se restringe ao nível nacional; com o intuito de aprimorar as trocas internacionais de produtos e serviços, os países mais desenvolvidos têm promovido programas de cooperação técnica com os países menos desenvolvidos. Estes programas possibilitam a transferência de tecnologia e experiências, permitindo ainda que se estabeleça um nível de confiança suficiente entre os países para a assinatura de novos acordos comerciais162. Neste sentido é desejável e benéfico para o SNI, que as empresas se aproximem dos centros de pesquisa públicos por períodos determinados pela duração de projetos específicos. Não se espera, entretanto, uma espécie de fusão de metas e objetivos de instituições com origem, cultura e papéis tão distintos na

158 Segundo previsão da FAO, há uma grande possibilidade de que a propriedade intelectual figure cada vez mais como causas de conflitos comerciais na área agrícola. Isso porque há uma expectativa de que o número de plantas genticamente modificadas e, portanto passíveis de patenteamento, aumente a cada ano (BRUINSMA, 2003).

159 Na área agrícola, um bom exemplo é o da biotecnologia, que apresenta um grande potencial como fonte de inovações voltadas para a superação das barreiras sanitárias, normalmente por meio do desenvolvimento de espécies mais resistentes a determinadas doenças e, dessa forma, permitindo uma redução no uso de antibióticos ou herbicidas eventualmente exigidos pelas normas.

160 Segundo Arbix et al (2004) a probabilidade de a firma ser exportadora aumenta em 16% quando ela realiza inovação tecnológica.

161 Pesquisas realizadas nos anos 90 pela Universidade de Sussex com importadores europeus mostram que cerca de 60% das importações envolvem produtos considerados únicos, sobre os quais os mercados têm pouca influência direta nos preços.

162 Como exemplos, pode-se citar o memorando de entendimento entre o Inmetro e o Institute of Standards and

Technology; o acordo entre o Inmetro e o Physikalisch-Technische Bundesanstalt (PTB) e o memorando de entendimento entre o Inmetro e o Bundesanstalt für Materialforschung und– Prüfung (BAM), todos assinados em 2002.

sociedade. O fomento e o estímulo ao desenvolvimento científico e tecnológico são papéis essencialmente do Estado, cabendo às empresas gerar as inovações de modo a difundir os benefícios da pesquisa para a economia nacional.

O Brasil tem criado, ainda que tardiamente, interessantes instrumentos voltados ao incentivo de P&D nas empresas, lutando contra uma questão muitas vezes de origem cultural de parte dos empresários brasileiros. Esses incentivos passam por créditos e isenções fiscais, até a remuneração de profissionais altamente qualificados para trabalharem em projetos de inovação tecnológica dentro das empresas. O governo brasileiro tem também estabelecido temas prioritários portadores de futuro como nanotecnologia e biotecnologia, direcionando seus investimentos para projetos cooperativos com empresas nestas áreas.

Embora estejam eminentemente difusas e variem muito dependendo das características de cada cadeia produtiva, as implicações positivas das barreiras não-tarifárias no que se relaciona às inovações tecnológicas podem ser relacionadas a: i) aumento do lançamento de novos produtos; ii) aumento do volume e da qualidade da cooperação entre empresas (nacionais e/ou estrangeiras) ou entre estas e as instituições de ensino e pesquisa, iii) aumento do número de patentes depositadas por residentes; iv) aumento do volume de investimento em P,D&I por parte das empresas e do governo; v) aumento da contratação de profissionais especializados; vi) investimento governamental em Tecnologia Industrial Básica; vii) desenvolvimento de processos de produção.

Benefícios Sociais

Não há dúvidas de que as inovações tecnológicas tratadas no tópico anterior demandam, além de eventuais investimentos em equipamentos, a contratação de mão-de-obra especializada, consultores e supervisores gerando, portanto, novas oportunidades de trabalho como parte do efeito multiplicador das ações voltadas para a adequação às normas comerciais internacionais.

Diante do ritmo imposto pela competição global as empresas necessitam manter seu quadro de funcionários permanente atualizados, sendo este um importante fator de valorização dos trabalhadores. Segundo estudo desenvolvido por Arbix et al (2004), das quatro variáveis que mais afetam a probabilidade de a firma ser inovadora, duas delas estão diretamente vinculadas à mão-de-obra: treinamento e escolaridade163. A Pesquisa de Inovação Tecnológica - PINTEC 2005 corrobora essa afirmação, ao expor que o treinamento figura em segundo lugar quanto é medida à percepção qualitativa da importância das atividades desenvolvidas para inovar, com 68,3% das empresas pesquisadas creditando relevância a esta atividade164 (IBGE, 2007). Isto demonstra a importância de fatores imateriais, da expertise científica e técnica, no esforço inovativo. Complementarmente, De Negri e Freitas (2004) chegaram à conclusão que, de um modo geral, as firmas exportadoras, expostas a normas mais rígidas de qualidade, empregam mão-de-obra mais qualificada. A média da escolaridade do trabalhador encontrada nas empresas pesquisadas não-exportadoras era de 6,73 anos, enquanto que nas exportadoras era de 7,34. Portanto, é bastante plausível supor que, quanto maior a escolaridade, maior a capacidade inovadora das firmas e, conseqüentemente, mais capacitada a firma estará para exportar.

Ainda em relação ao aumento da oferta de empregos, as empresas que optam por direcionar sua produção para o mercado externo, via de regra, precisam criar um setor específico dentro da empresa para tratar da prospecção de novos mercados e para análise de suas normas e regulamentos específicos.

163 As outras seriam investimentos em P&D e projeto industrial. 164 Ficando atrás apenas das atividades internas de P&D.

Estudos têm demonstrado que o cumprimento das normas trabalhistas, normalmente visto como barreiras protecionistas, está ligado a maiores níveis de desenvolvimento econômico, especialmente para países mais pobres. Normas trabalhistas rígidas incentivam investimentos em treinamento em busca de aumento de produtividade como forma de compensar os gastos com o cumprimento das mesmas. Por outro lado, os empregados se vêem incentivados a melhorar suas habilidades de forma a aumentarem seus ganhos quando as normas mínimas são respeitadas.

Os argumentos prós e contra a padronização das normas trabalhistas internacionais, tanto dos governos quanto de sindicatos, não sofreram variações significativas ao longo dos anos. Aqueles a favor argumentam que este seria um instrumento para assegurar o respeito aos padrões trabalhistas mínimos e que permitiriam aos trabalhadores de qualquer país organizar-se e negociar melhores condições de trabalho e salário. Os contrários chamam atenção para o risco de sua utilização para fins protecionistas que, em vez de melhorar a qualidade dos empregos, pode destruí-los, ao dificultar o acesso aos mercados dos países desenvolvidos165.

Em relação às multinacionais, ao contrário do que é usualmente divulgado, na grande maioria dos casos, sobretudo em países em desenvolvimento, dispõem de condições trabalhistas melhores do que aquelas oferecidas pelas firmas locais. Diante da grande disputa às vagas de empregos nestas empresas, é plausível concluir que estas empresas devem oferecer condições atrativas, seja em termos monetários166 ou de condições de trabalho, quando comparadas às empresas nacionais. Segundo dados da OIT, menos de 5% das crianças que trabalham em desacordo às normas internacionais estão em indústrias exportadoras (SINGH & ZAMMIT 2000).

Embora estejam dispersas e variem muito de acordo com cada cadeia e/ou ramo de negócio, as implicações positivas das barreiras não-tarifárias relacionadas aos benefícios sociais podem ser observadas por meio de: i) aumento do nível de satisfação dos funcionários da empresa; ii) melhoria nas condições de trabalho; aumento do número de empregados com carteira assinada; iii) aumento salarial em função do aumento das exportações; iv) maior absorção de mão-de-obra especializada (mestres e doutores) pela iniciativa privada, v) aumento dos programas de capacitação e valorização dos funcionários.

Os ganhos, entretanto, não se restringem ao âmbito empresarial. Muitas exigências dos compradores externos implicam em melhorias no processo produtivo ou no produto, que não podem ser restritas a linhas de produção destinadas ao mercado externo. A título de exemplo, pode-se citar a exigência, por parte de alguns segmentos do setor alimentício da União Européia, do Japão e dos Estados Unidos, para a adoção de modernos sistemas de controle da qualidade, entre os quais o APPCC. Como este não pode ser aplicado apenas na linha de produção voltada a exportação167, ganha o consumidor interno que passa a ter acesso a produtos com o mesmo padrão internacional de qualidade.

Finalmente, havendo estímulos adequados para a livre circulação da mão-de-obra a formulação e promoção ativa de normas e padrões laborais mais avançados, pode atuar como elemento de melhoria nos padrões de vida da maioria da população, sobretudo nos países ainda em desenvolvimento, servindo para elevar a produtividade do trabalho e a performance geral das economias mais atrasadas (ALMEIDA, 2002).

165 Estima-se que o processamento de alimentos na Europa, setor onde as pequenas e médias empresas dominam, empregue cerca de 4,2 milhões (WILKINSON & ROCHA, 2006).

166 No México as empresas que exportam mais de 80% de sua produção apresentam uma média salarial 58% mais elevada em comparação com firmas não-exportadoras.

Benefícios Ambientais

Quando se discutem os efeitos da aplicação de uma norma ambiental internacional estão em discussão outros valores além dos estritamente econômicos (MIRANDA et al, 2003). O estabelecimento de barreiras ambientais legítimas gera ganhos sociais claros para o país exportador; ao passo que o fim destas barreiras pode trazer efeitos adversos, com o agravamento dos problemas ambientais à medida em que os países intensificam sua produção (poluidora) para aumentar as exportações. Um efeito esperado da liberação dessas barreiras seria a tendência das empresas poluidoras migrarem para os países com menor preocupação ambiental (CASTRO, 2003).

Durante vários anos, a visão comum a respeito da proteção ao ambiente mantida pelo setor produtivo era a de que essa funcionava como um freio ao crescimento econômico por elevar os custos de produção. Atualmente, a proteção ao ambiente vem se convertendo em oportunidades no contexto comercial, auxiliando tanto na expansão de mercados, como na prevenção contra possíveis restrições de acesso aos mercados externos. Um exemplo disso são os programas de rotulagem ambiental, que agregam valor ao produto em mercados de maior sensibilidade ambiental dos consumidores168. Ao induzir a preferência para os produtos rotulados, esses programas buscam também sensibilizar os produtores, por intermédio do comportamento da demanda, a melhorarem a qualidade ambiental de seus produtos e a alterarem seus métodos e processos de produção de forma a reduzir os níveis de contaminação por eles gerados, bem como a demanda por energia e recursos renováveis169 (CAMPOS e CORRÊA, 1998).

Outra suspeita comum em relação às medidas ambientais é a de que estas limitariam o crescimento econômico, reduzindo o emprego; representando apenas uma extravagância dos países industrializados que atrapalha as metas de redução de pobreza dos países em desenvolvimento. É verdade que nas fases iniciais do processo de implementação de políticas de proteção ao meio-ambiente, o potencial de perda de empregos e de competitividade são particularmente aparentes, com algumas empresas, inclusive, ameaçando encerrar suas atividades. Entretanto, estudos empíricos têm mostrado que os custos do controle ambiental geralmente representam uma fração muito pequena dos custos de produção. Além disso, as oportunidades de negócios que envolvem os bens e serviços relacionados à proteção ambiental representam um mercado em franca expansão.

Os impasses entre comércio e meio-ambiente sempre existirão, pois, apesar de todos os argumentos plausíveis, a implementação de medidas que, eventualmente, se tornem uma

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