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Combinando a Próxima Etapa

No documento priscilafernandessantanna (páginas 173-178)

Excerto 10- “Quinta-feira da semana que vem? O que a senhora acha?”

6. ANÁLISE DE DADOS

6.2 ANÁLISE QUALITATIVA

6.2.5 Combinando a Próxima Etapa

Essa fase da entrevista encontra-se, preferencialmente, no final do encontro, embora contemple também sequências diferentes daquelas que indicam o encerramento do tipo de atividade entrevista de pré-mediação.

Nessa fase, a mediadora faz interrupções bruscas na narrativa do participante com o intuito de sinalizar a mudança do enquadre interacional, ratificando o caráter assimétrico dos papéis discursivos em contextos institucionais de uso da linguagem. Os movimentos de negociação de encerramento do encontro são realizados entre os participantes e, ao mesmo tempo, Sônia tenta garantir a presença dos mediandos para a continuidade da tarefa de mediação. Trata-se de uma fase comum a encontros comunicativos de forma geral, mas que, pela especificidade de a mediadora precisar conciliar as agendas pessoais e profissionais de duas partes de um processo, a fim de que elas estejam juntas enfrentando seus conflitos, demonstra uma especificidade da mediação que exige habilidades da mediadora.

Pode ocorrer, na fase “combinando a próxima etapa”, a retomada de algumas etapas da mediação, mas, aqui, geralmente a mediadora trata esse assunto como dado, de maneira distinta da primeira fase, quando explica as regras e etapas da atividade profissional em curso.

Excerto 9– “O senhor quer que eu escreva num pedacinho de papel pro senhor não esquecer”? – EPM Sônia/Rui 50 min 30 s – 54 min 14 s, 2007.

01 02 03

Sônia seu rui, como ela teve aqui ontem, ela tem-, ela tinha uma disponibilidade mais fácil que o senhor pra gente fazer a entrevista. =

04 Rui = uhum =

05 Sônia = aí a gente pensou: 06 (1.0)

07 Sônia de conversar então juntos, na quinta-feira depois do feriado 08 Rui = [tá]

09 Sônia [dá] dia vinte e quatro, de: abril= 10 Rui = não, beleza

11 (0.2)

12 Sônia dez horas da manhã? =

13 Rui = beleza não tem problema. =

14 Sônia = porque ela- ela tem que tá livre: = 15 Rui =é. =

16 Sônia = umas onze horas- = 17 Rui = é =

18 Sônia = umas onze e meia =

19 Rui = é porque [ >ela pega meio-dia lá<]

20 Sônia [pra poder ir pro trabalho] é = 21 Rui = ela pega meio-dia.

22 (0.5)

23 Sônia o senhor acha que daria? = 24 Rui = dá com certeza =

25 Sônia = o senhor quer que eu escreva? num pe[dacinho d]e papel? = 26 Rui [po:de sim]

27 Sônia = pro [senhor não esq]uecer? 28 Rui [ faz o favor ] 29 (0.2)

30 Rui faz o favor. 31 (7.0)

O excerto 9, em análise, é iniciado por Sônia, por meio vocativo "seu rui " (linha 01) indicando um convite ao participante para a mudança de enquadre. Em seguida, a mediadora refere-se a sua entrevista com a outra parte do processo "como ela teve aqui ontem" (linha 01) e reafirma a condição imparcial de verificar a disponibilidade dos dois de forma igual, sem prejudicar nenhuma das partes, o que é característico da mediação, que tem como objetivo sempre buscar priorizar os interesses das partes, já que em ambientes jurídicos formais, os horários são impostos e não negociados, como acontece na mediação. O turno explicativo de Sônia é monitorado por Rui, que profere um continuador como forma de expressar o seu alinhamento ao que está sendo exposto pela representante da instituição ( “= uhum”, linha 04).

Como forma de ratificar o espaço da mediação e garantir a presença do participante na primeira sessão de mediação realizada conjuntamente com as duas partes do processo, Sônia remetendo a ideia de se incluir na decisão e se colocando na condição de responsável por tal tarefa "aí a gente pensou", introduz ao mediando o que foi negociado quanto às disponibilidades de Arminda. Contudo, a escolha pelo verbo “pensar” constrói a ideia de possibilidade,já que, na linha 02, ela deixa claro que, segundo seu entendimento, o horário de Arminda é mais flexível, sendo possível, dessa forma, alguma alteração se necessário.

Na linha 07, além de verificar a disponibilidade do participante da mediação, o que também é imputado ao seu mandato institucional, Sônia ressalta o novo formato dos próximos encontros “de conversar então juntos, na quinta-feira depois do feriado”. A mediadora pede, desse modo, o consentimento de Rui em relação à data e o horário e, sobretudo, ao trabalho de mediação. Em seus turnos de resposta aos pedidos de consentimento da agenda de trabalho, o mediando, por meio de respostas objetivas, mostra-se de acordo com o combinado.

As repetidas pausas observadas na fase em estudo, sem o movimento do mediando para a tomada do turno de fala, justificam-se pelo caráter de institucionalidade das ações desempenhadas. Dentre as atribuições da mediadora, as explicações iniciais e os arranjos finais são reconhecidamente desenvolvidos pela representante da instituição. Nesse sentido, Rui participa apenas afirmando a sua disponibilidade de horários e demonstrando-se interessado e disposto à realização do trabalho de mediação. O participante não se opõe ao combinado com a outra parte, pelo contrário, nas linhas 15,17 e 19, Rui concorda com a justifica de Sonia, deixando claro que está ciente da condição de horário da ex-mulher, assumindo o papel que vem tentando construir ao longo da entrevista: de ex marido interessado, amigo, que deseja o melhor pra ex companheira.

Mesmo depois de todas as confirmações de Rui, ao longo de sua exposição do horário e das justificativas quanto a essa escolha, Sonia insiste na solicitação de confirmação (“o senhor acha que daria?”, linha 23) e obtém do mediando uma confirmação mais precisa (“dá com certeza”, linha 24). Como forma de encerrar o encontro, a representante enfatiza a necessidade da presença do mediando à próxima sessão e faz anotações visando garantir a continuidade do trabalho (“= o

senhor quer que eu escreva? num pe[dacinho d]e papel? =”, linha 25, “pro [senhor não esq]uecer”, linha 27 ).

O próximo excerto demonstra o agendamento da sessão de mediação na entrevista entre Sônia e Arminda.

Excerto 10 – “Quinta-feira da semana que vem? O que a senhora acha?” - EPM Sônia/Arminda 48 min 09 s – 51 min 25 s, 2007.

01 02

Sônia dona arminda, a gente podia marcar o nosso próximo compromisso então

03 (0.5)

04 05

Sônia a se- a senhora, tem dificuldade de sair da fábrica?, como que é?

06 (0.5)

07 Sônia a senhora falou que trabalha que [horas: 08

09

Arminda [eu trabalho de uma hora até [(dez)e vinte. ]

10 11

Sônia [ah, é:: ], isso mesmo, e o senhor rui. como é o horário dele?

12 (0.5)

13 Sônia [ é mais (livre)?] 14

15 16 17

Arminda [eles tão, falan-], eu não sei se ele tá de férias, ou se- se ele largou do serviço porque eles tão falando que ele ta em casa, né (.) a gabi falou que ele tá em casa direto. = 18 19 20 Sônia Arminda

= pra senhora então teria que ser::, de manhã mesmo, nesse horário, que a [senhora falou] =

[é melhor] 21

22 23

Sônia = que o melhor seria pra- para a senhora nesse horário né, pra dar tempo pra- da senhora chegar no trabalho da senhora.

24 (0.8)

25 Sônia então ta.

26 (2.0)

27 Sônia eu marquei com senhor rui (0.2) amanhã.

28 (0.5)

29 30

Sônia então, a gente já podia deixar marcado um compromisso pra semana que vem:.

31 (1.0)

32 Sônia quinta-feira da semana que vem? o que a senhora acha. = 33 Arminda = pode. =

Na linha 01, Sônia retoma o acordo realizado no início da entrevista, após a descrição dos objetivos da mediação, em que discorre sobre os benefícios da prática profissional para a melhora na comunicação entre pais que precisam conviver “dona arminda, a gente podia marcar o nosso próximo compromisso então”., linhas 01 e 02. Dessa forma, também por meio de um vocativo, Sônia introduz um novo tópico discursivo e, em consequência disso a mudança no enquadre interacional, a fim de

consolidar os objetivos da pré-mediação e passar para a segunda fase do trabalho, de acordo com a validação da medianda. O termo “compromisso” é uma evidência da necessidade de cooperação e engajamento mútuos cara à atividade de mediação, evocada pela mediadora.

Entre as linhas 07 e 13, observamos o processo de negociação das agendas das participantes (“a senhora falou que trabalha que [horas:”), bem como o interesse de Sônia a respeito da disponibilidade de Rui (“e o senhor rui. como é o horário dele?”). Visando responder sobre os horários do ex marido, Arminda, na linha 14, inicia uma breve narrativa, em que apesar de responder a pergunta de Sonia particularidades do ex-companheiro, ela também possui um objetivo secundário, de acordo com a pergunta da mediadora, de fornecer informações relevantes sobre Rui. Informações estas que favorecem a imagem da requerida neste processo (“eu não sei se ele tá de férias, ou se- se ele largou do serviço porque eles tão falando que ele ta em casa, né (.) a gabi falou que ele tá em casa direto. =”, linhas 14 a 17).

No entanto, com a mudança do enquadre situacional delimitada no início da sequência em análise, Sônia não se mostra orientada ao conteúdo da narrativa de Arminda e tenta retomar o propósito comunicativo de agendamento do encontro futuro: “pra senhora então teria que ser::, de manhã mesmo, nesse horário, que a [senhora falou]”, linhas 18 e 19. Essas narrativas em que os participantes tentam dar mais informações sobre a parte ausente, a fim de denegrir a imagem do outro, mostram-se recorrentes na fase em curso. Elas acontecem mais de uma vez em ambos as entrevistas e demandam da mediadora uma retomada do que estava sendo proposto no momento atual, assim como a retomada do propósito desta fase. Após a nova sinalização da mediadora acerca dos objetivos da fase em curso, as participantes conseguem confirmar a agenda e encerrar o encontro, tal como podemos perceber entre as linhas 24 e 30. As pausas entre as sequências de PPP pergunta de confirmação de disponibilidade e SPP confirmação da disponibilidade ratificam o caráter assimétrico e institucional mais acentuado nesta fase.

O próximo capítulo discute os resultados desta pesquisa com base nas análises aqui depreendidas.

No documento priscilafernandessantanna (páginas 173-178)