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CAPÍTULO 4 – As Emoções e seus caminhos de afluência

4.1 Começando pelo começo – A evolução do cérebro

Para que tracemos os caminhos que pretendemos neste capítulo, iniciaremos naturalmente com o primeiro passo, ao afirmar que os centros emocionais surgiram da mais primitiva raiz, o tronco cerebral. Bem mais tarde, cerca de milhões de anos depois, com o evoluir das áreas emocionais, se desenvolvera o cérebro denominado “pensante”, ou neocórtex: o grande bulbo de tecidos ondulados que forma as camadas externas. Com isso existiu um cérebro emocional muito antes do surgimento do cérebro racional, tendo, portanto o cérebro pensante se desenvolvido a partir das emoções. Se comparado ao antigo córtex de somente duas camadas, o neocórtex oferecia incrível vantagem intelectiva (GOLEMAN, 2007).

Afirma-se ainda que o olfato, ou mais exatamente, o lobo olfativo - onde estão as células que absorvem e analisam o cheiro - representa o primeiro grande ponto de partida de nossa vida emocional. É deste lobo que começaram a evoluir os antigos centros de emoção, que se tornaram grandes o suficiente para envolver o topo do tronco cerebral. Nos estágios rudimentares, o centro olfativo era composto de tênues camadas de neurônios agrupados para analisar o cheiro. Uma camada destas células era responsável por receber o que era cheirado, classificando em categorias importantes como: tóxico ou comestível, inimigo, sexualmente acessível ou comida. Já a segunda camada de células enviava para o sistema nervoso, mensagens reflexivas, informando o que o corpo deveria fazer: cuspir, morder, abordar, fugir, caçar (GOLEMAN, 2007).

Ao surgirem os primeiros mamíferos, apareceram novas e decisivas camadas- chave do cérebro emocional. Por cercar o tronco cerebral esta parte foi denominada sistema límbico, sendo limbus palavra latina que significa “margem”. Com o advento deste novo território neural foram adicionadas emoções propriamente ditas ao repertório cerebral. Como exemplifica Goleman (2007), o sistema límbico é quem nos tem em seu poder quando estamos dominados por anseios ou fúria, apaixonados ou apavorados.

Realmente acreditava-se inicialmente que o lobo límbico descrito por Pierre Paul Broca - primeiro a cartografar as funções cerebrais - estaria relacionado ao olfato, mas Joseph Papez levantou a hipótese de que as estruturas do lobo límbico constituiriam o substrato neural das emoções (BRANDÃO, 2004 p.126). Demonstrou por sua vez, que suas diferentes porções estavam juntas e coordenadas entre si, formando uma espécie de circuito, que compreendia o córtex cingulado, o hipocampo, o hipotálamo e os núcleos anteriores do tálamo (PAPEZ, 1937 apud ESPERIDIÃO- ANTONIO, 2008; BRANDÃO, 2004).

A partir daí, o Sistema Límbico (SL) passou a ser denominado como circuito neural relacionado às respostas emocionais e aos impulsos motivacionais, tendo sido incluídas em sua alçada, estruturas como o hipotálamo, a amígdala, núcleos da base, área frontal, cerebelo e septo, sendo o hipocampo a princípio inserido, no entanto, este não parece ter participação decisiva nos mecanismos neurais das emoções, tendo sua função mais voltada para a consolidação da memória, incluída aquela de conteúdo emocional. Daí a relação, mas destaca-se que este último elemento não constitui o SL (PERGHER, 2006; PAPEZ, 1937 apud ESPERIDIÃO- ANTONIO, 2008).

Mais tarde em 1970, o conceito de Sistema Límbico foi expandido por Paul McLean, que incluiu outras regiões do hipotálamo, a área septal, o núcleo accumbens (parte do estriado) e áreas neocorticais como o córtex orbitofrontal. Compunha o SL ainda, a amígdala e o subículo (estrutura de matéria cinzenta interposta entre o córtex primitivo do hipocampo e o tecido neocortical do córtex temporal, que constitui a origem das fibras do fórnix que inervam o hipotálamo) (BRANDÃO, 2004).

Neste caminho, Brandão (2004) afirma que as bases anatômicas do comportamento emocional localizam-se mesmo no sistema límbico, onde se sobreleva o papel do hipotálamo, que possui inúmeras evidências que indicam que sua estimulação produz efeitos autonômicos, endócrinos e motores semelhantes àqueles observados em diversos estados emocionais, o que sugere que toda esta estrutura coordena e integra de fato as emoções.

Mesmo frente a estas constatações de pesquisa, ainda hoje não existe um perfeito acordo sobre os componentes do SL, ainda que a classificação sistema límbico seja usada até então para designar componentes envolvidos nos circuitos cerebrais das emoções. Esta denominação vem sofrendo críticas em diferentes níveis, não havendo critérios largamente aceitos para se decidir sobre sua constituição, já que têm sido identificados diferentes circuitos e áreas do Sistema Nervoso Central (SNC) que se interconectam aos diversos estados classificados como emoções (ESPERIDIÃO- ANTONIO, 2008).

Figura 2. Estruturas do Sistema Límbico.

Fonte: ESPERIDIÃO- ANTONIO, V et al. Neurobiologia das emoções. 2008. Em relação ainda ao neocórtex, este é denominado a sede do pensamento, pois contém os centros que reúnem e compreendem o que os sentidos percebem. Ele permite que tenhamos sentimentos sobre arte, símbolos, ideias e imagens. Ao longo da evolução, o neocórtex possibilitou um fino aprimoramento que, indubitavelmente, acrescentou grandes vantagens na capacidade de um organismo sobreviver à adversidade, tornando mais possível que sua progênie passasse adiante os genes que contém esses mesmos circuitos neurais. Portanto, segundo Goleman (2007) os triunfos da arte, civilização e cultura são todos frutos desta peça tão relevante que é o neocórtex.

Com o acréscimo promovido com o surgimento do neocórtex, se introduziu novos aspectos à vida emocional, como por exemplo, o amor. As estruturas pertencentes ao sistema límbico geram sentimentos de prazer e desejo sexual, emoções estas que alimentam a paixão sexual. Mas com o aparecimento do neocórtex e suas conexões com este sistema foi criada a ligação mãe-filho, que é a base da união da família e do

compromisso oferecido, a longo prazo, a partir da criação dos filhos, tornando possível o desenvolvimento humano. O autor esclarece que espécies, como os répteis, que não possuem neocórtex, carecem de afeição materna, tendo logo que nascem que se esconder para não serem canibalizados.

Daí a importância tamanha do desenvolvimento do neocórtex que abriga a sutileza e a complexidade da vida emocional, como por exemplo, a capacidade de termos sentimentos sobre nossos próprios sentimentos (GOLEMAN, 2007).

Goleman (2007) destaca ainda que esses centros superiores não controlam toda a vida emocional, pois nos problemas mais críticos que tratam sobre o coração e, mais exatamente, nas emergências emocionais, pode-se dizer que eles se sujeitam ao sistema límbico. Então, do neocórtex os sinais são enviados para o cérebro límbico, e de lá a resposta mais adequada se irradia pelo cérebro e pelo resto do corpo na maior parte do tempo. Goleman (2007) relata que estudos realizados por LeDoux (1997) – principal expoente de estudos sobre neurofisiologia do cérebro emocional - revelaram que além daqueles que seguem pelo caminho mais longo de neurônios até o córtex, há um pequeno feixe neural que vai direto do tálamo à amígdala cortical. Este “corte de caminho” permite que a amígdala receba alguns recursos direto dos sentidos e inicie uma resposta antes que eles sejam plenamente registrados pelo neocórtex.

Como traz Goleman (2007), as descobertas feitas por LeDoux revolucionaram a compreensão da vida emocional porque tal pesquisa foi a primeira a estabelecer os caminhos neurais de sentimentos que contornam o neocórtex.

LeDoux afirma, de acordo com Goleman (2007) que anatomicamente, o sistema emocional pode agir de modo independente do neocórtex, pois algumas reações e lembranças emocionais podem se formar sem que haja nenhuma participação consciente e cognitiva. E é na amígdala que essas lembranças e repertórios de respostas que por vezes interpretamos sem entender muito bem porque o fazemos, ficam guardadas, já que o atalho do tálamo à amígdala contorna completamente o neocórtex. Essa viela neural permite que a amígdala seja um repositório de impressões emocionais e lembranças de que na verdade, não temos plena consciência. Com isso, nossas emoções tem uma mente própria que pode ter opiniões divergentes da nossa mente racional.

Portanto, no sistema límbico, a amígdala ocupa papel central, que segundo Casassus (2009) funciona como fosse um computador avaliando e julgando o conteúdo emocional dos estímulos que chegam. Estes que podem ser preceitos simples – som ou

visão – ou complexos – aqueles dependentes de reconhecimento inconsciente ou consciente para que sejam determinados seus significados.

Desta maneira, a amígdala transmite um sinal não-verbal, ou seja, elétrico a diferentes partes cerebrais que mudam a atenção e começam respostas fisiológicas ao evento que disparou aquela reação, que irá variar de acordo com o lugar para onde foram enviados os sinais. Exemplifica Casassus (2009, p.93):

Diante de um sinal de medo, se os impulsos forem enviados para o centro de massa cinzenta, a pessoa fica paralisada; se forem enviados para o hipotálamo lateral, a pressão sanguínea se altera; se forem enviados para o hipotálamo paraventricular, os hormônios da tensão são ativados; se forem enviados para o centro reticular, ativam-se os reflexos da ação.

Assim nossa mente emocional é bem mais rápida que a racional, agindo irrefletidamente, sem parar para pensar.