• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 – As Emoções e seus caminhos de afluência

4.3 Quais são as emoções que conhecemos?

Na verdade existem mais sutilezas de emoções do que palavras que temos para defini-las.” Daniel Goleman

As palavras de Daniel Goleman confortam, já que alguém de seu calibre, admite que há rudeza demais nas palavras para definir todas as emoções. Termo este, já discutido por psicólogos, filósofos e pesquisadores no assunto há mais de um século. Ao longo deste tempo, foram construídos conceitos e definições que vão sofrendo adaptações e atualizações ao passo que novas descobertas são feitas.

Segundo o dicionário (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2010, p. 478) emoção é uma reação afetiva provocada por diferentes situações, agradáveis ou desagradáveis, que se manifesta por meio de sentimentos como raiva, alegria etc.

Para Juan Casassus (2009, p. 87):

[...] as emoções são energias vitais, tratando-se de um tipo de energia que une os acontecimentos externos aos acontecimentos internos. Por essa qualidade de ligar o externo com o interno, as emoções estão no centro da experiência humana interna e social.

Para Daniel Goleman (2007, p. 303) [...] emoção se refere a um sentimento e seus pensamentos distintos, estados psicológicos e biológicos, e a uma gama de tendências a agir.

Podemos afirmar que, logo num primeiro momento parece haver um senso comum no que diz respeito ao entendimento entre as pessoas do que seja emoção, no entanto, ao ter que defini-la constata-se tamanha dificuldade que esta tarefa envolve. Além do mais, embora várias pessoas utilizem a mesma palavra numa tentativa de definição, não quer dizer que o entendimento seja o mesmo entre elas, por isso o conhecimento das emoções é ainda parcial e fragmentado, e muitas são as questões que se encontram ainda em aberto, principalmente para os estudiosos (ROAZZI, 2011).

Mas afinal, há tipos de emoções? Ao partirmos de nossa vivência, empiricamente, podemos constatar que sim, há diferentes tipos de emoções. E, historicamente foram percebidas tais diferenças. O povo grego antigo distinguiu quatro temperamentos básicos na natureza humana: colérico, sanguíneo, melancólico e fleumático. Ainda na antiguidade, os médicos chineses também acreditavam que os seres humanos possuíam quatro emoções básicas: felicidade, raiva, tristeza e medo, que estariam conectadas, respectivamente, às atividades do coração, fígado, pulmões e rins (BRANDÃ0, 2004).

Atualmente, há um consenso geral que nomeia como emoções primárias, básicas ou fundamentais: o medo, a raiva, a tristeza e a alegria (CASASSUS, 2009).

Goleman (2007) traz que Paul Ekman, da Universidade da Califórnia- em São Francisco (EUA), observou que as expressões faciais do medo, da ira, da tristeza e da alegria são reconhecidas por povos de culturas de todovii o mundo, inclusive povos denominados pré-letrados, que se pressupõe serem intocados pela exposição ao cinema ou a televisão, o que sugere a universalidade destas emoções.

A razão para serem primárias ou básicas é que são biologicamente primitivas, pois aparecem poucos meses depois do nascimento, afirma Casassus (2009). A emoção também é considerada como primária quando ela ocorre sem que necessariamente haja uma causa conhecida ou exista algum objeto aparente. Estas emoções têm expressões faciais universais, sendo reconhecíveis por todos os indivíduos de uma espécie, reitera Casassus (2009), corroborando com as ideias de Goleman e Ekman.

vii

No entanto, Casassus (2009, p. 95) destaca ainda algumas diferenças trazidas por outros autores no que tange a classificação deste tipo de emoção:

Alguns autores incluem outras emoções entre as básicas ou primárias. S. Bloch e H. Maturana (1996) incluem duas formas de amor, o amor erótico e o amor ternura. D. Goleman (1995) acrescenta o desgosto, a surpresa e a vergonha. K. Oatley e P. N Johnson-Laird (1998) também falam do apego, do amor paterno e do repúdio. O que diferencia essas emoções das quatro primeiras é que, para senti-las, é necessário ter uma pessoa ou objeto.

Neste sentido, Brandão (2004) informa que as taxonomias mais modernas das emoções humanas consideram um espectro mais amplo, que inclui: o prazer, a surpresa, a agonia, a curiosidade, o desprezo e o pânico. Adiciona ainda que com as pesquisas psiconeurais atuais é possível delinear circuitos emocionais no cérebro para algumas delas como: medo, raiva, prazer (recompensa) e pânico.

Além das emoções primárias, a literatura classifica as emoções como secundárias ou derivadas, que na verdade podem ser uma combinação das primárias como nas cores (primárias: azul, amarelo e vermelho; secundárias, produto de mistura: amarelo + azul= verde, azul + vermelho= violeta, vermelho + amarelo = laranja), ou simplesmente podem não seguir esta regra. De qualquer maneira, a teoria que é amplamente aceita entende que para que as emoções secundárias possam surgir, é preciso um desenvolvimento de “autoreferência de”, ou seja, um desenvolvimento da imagem de si mesmo ou desenvolvimento do ego, e ainda um dado desenvolvimento cognitivo, onde por exemplo o medo e a raiva seriam considerados emoções primárias, e a vergonha e a inveja emoções secundárias, já que demandam um reconhecimento de si mesmo perante o outro, para que dessa maneira possam emergir (CASASSUS, 2009).

No quadro abaixo se encontram dispostos o conjunto de características relativas a cada emoção como disposto nas publicações de Casassus (2009) e Goleman (2007), grifados de maneiras distintas, de modo que se destaque em ambos, quais famílias estes autores consideram como constituintes ou caracterizadoras das emoções principais.

Quadro 1: As famílias básicas de emoções e seus membros Fonte: Casassus (2009, p. 96-97); Goleman (2007, p. 303)

Emoção Características

Raiva Agressão, repugnância, ira, fúria, ódio, cólera, irritação, desgosto, exasperação.

Tristeza Tristeza

Aflição. Pesar, melancolia, pessimismo, abatimento, desespero, depressão, impotência, descontentamento.

Sofrimento, mágoa, desânimo, desalento, melancolia, autopiedade, solidão, desamparo, desespero, e quando patológica, severa depressão. Medo

Medo

Angústia, inquietação, horror, espanto, temor, terror, ansiedade, apreensão, pânico.

Ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, consternação, cautela, escrúpulo, inquietação, pavor, susto, terror e, como psicopatologia, fobia e pânico.

Alegria Riso, felicidade, contentamento, entusiasmo,

bom humor, comicidade, prazer, júbilo, diversão.

Amor Amor

Amizade, afetividade, abertura, ternura, confiança, simpatia, adoração.

Aceitação, amizade, confiança, afinidade, dedicação, adoração, paixão, ágape.

Ira Fúria, revolta, ressentimento, raiva, exasperação, indignação, vexame, acrimônia, animosidade, aborrecimento, irritabilidade, hostilidade e, talvez no extremo, ódio e violência patológicos.

Prazer Felicidade, alegria, alívio, contentamento, deleite, diversão, orgulho, prazer sensual, emoção, arrebatamento, gratificação, satisfação, bom humor, euforia, êxtase e, no extremo, mania. Surpresa Choque, espanto, pasmo, maravilha.

Nojo Desprezo, desdém, antipatia, aversão,

repugnância, repulsa.

Vergonha Culpa, vexame, mágoa, remorso, humilhação, arrependimento, mortificação e contrição.

Os autores reiteram que mesmo com a lista disposta acima, não se elucida a lista de caracterização das emoções, já que poderíamos ter combinações diferentes entre si como exemplifica Goleman (2007), como o que seria o ciúme, representando uma variante da ira, misturado com tristeza e medo? E as virtudes esperança, fé, perdão? O autor indica que ainda não há respostas claras para tais questões e que o debate científico em torno da classificação das emoções está em vigor.

4.4 A família e sua influência no campo emocional dos profissionais de