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CAPÍTULO 5 – Referenciais: Teórico e Conceituais

5.1 Jean Watson e a Ciência do Cuidado como Ciência Sagrada

Jean Watson freqüentou a Lewis Gale School of Nursing em Roanoke, Virginia e obteve o grau de bacharel em enfermagem, mestrado em ciência em enfermagem psiquiátrica – saúde mental e doutorado em psicologia educacional e aconselhamento, todos na University of Colorado (Neil apud McEwen & Wills, 2009). Watson é autora que publica textos em todo mundo, tendo escrito livros, capítulos e artigos sobre a ciência do atendimento humano (Watson, 1994; Watson, 1996a,b; Watson, 1999; Watson, 2005).

Sua teoria denominada Ciência do Cuidado como Ciência Sagrada, baseia-se no trabalho anterior intitulado Nursing: Human Science and Human Care: A Theory of Nursing. A autora entende o ser humano como holístico e interativo, posicionamento que fica mais claro quando o descreve como um campo de energia, ela explica ainda saúde e doença como manifestações do padrão humano. A Teoria do Cuidado Humano e a Arte e Ciência da Enfermagem traduz de melhor maneira as teorias da enfermagem do processo interativo, e tem sido usada por enfermeiros em diversos contextos, tendo sido implantados, por exemplo, em unidades perioperatórias e de transplante (WATSON, 1996b apud McEWEN & WILLS, 2009).

Em relação aos fundamentos filosóficos da teoria, Watson lança mão de Nightingale e Rogers, e ainda utiliza conceitos dos psicólogos Giorgi, Johnson e Kock, assim como também da filosofia. Em seu trabalho mais recente (2005), a autora procura a união de paradigmas e aponta na direção de modelos que possam transformar o séc. XXI (McEWEN & WILLS, 2009).

Sua teoria do Cuidado Humano possui como sistema de valor um “profundo respeito pelas maravilhas e mistérios da vida” (WATSON [1988, p.34] apud McEWEN & WILLS, 2009) e reconhece ainda que as dimensões espirituais e éticas são os principais elementos do processo de cuidado humano.

Já como pressuposto da teoria da Ciência do Cuidado como Ciência Sagrada, ela acredita que os profissionais de saúde fazem contribuições sociais, morais e científicas para a humanidade como um todo e que o “ideal de atendimento” a ser

realizado por enfermeiros pode afetar o ser humano em seu nível de desenvolvimento (McEWEN & WILLS, 2009).

Na década de 80, Watson enumera 10 fatores caritativos que representam as necessidades de cuidado específicas em relação às experiências humanas que devem ser abordadas por enfermeiros com seus clientes no momento do atendimento.

Os 10 fatores caritativos de Watson 1. Sistema de valores humanísticos e altruísticos

2. Fé/ esperança

3. Sensibilidade para si e para os outros

4. Desenvolvimento das relações de auxílio, confiança, cuidado 5. Expressão dos sentimentos e emoções, positivas e negativas

6. Processo de cuidado criativo e individualizado para solução de problema 7. Ensino e aprendizado transpessoais

8. Ambiente sustentador, protetor e/ou corretivo, mental, físico, social e espiritual

9. Assistência às necessidades humanas

10. Forças existencial-fenomenológicas e espirituais

Quadro 2: Os 10 fatores caritativos de Watson

Fonte: Watson [1988, 2005] apud McEwen & Wills, 2009

A autora traz ainda no mesmo período, diferentes conceitos e termos que auxiliam no entendimento da Ciência do Cuidado Humano, como o de: Ser Humano, Saúde, Enfermagem, Ocasião real de atendimento, Campo fenomenal, Eu, Tempo e Transpessoal. A definição deste último que se segue logo abaixo pautou as relações da teoria que Watson aperfeiçoou e atualizou para que se pudesse entender o cuidado humano e a espiritualidade.

Transpessoal: relacionamento intersubjetivo ser-humano-para-ser-humano, no qual o enfermeiro afeta e é afetado pelo outro. Ambos estão totalmente presentes no momento e sentem a união com o outro; compartilham o campo fenomenal que se torna parte da história da vida dos dois. (WATSON [1999] apud McEWEN & WILLS, 2009, p. 217)

Desta maneira foram apresentadas algumas relações da teoria para que fosse possível serem analisadas suas crenças sobre atendimento, espiritualidade e campos

humanos e energéticos. Logo ao lado estão dispostas considerações breves de como tais relações estão diretamente associadas com o contexto do estudo. São elas:

A ATTEEOORRIIAAEESSUUAASSRREELLAAÇÇÕÕEESS C COOMMOOAATTEENNDDIIMMEENNTTOO,, E ESSPPIIRRIITTUUAALLIIDDAADDEE,,CCAAMMPPOOSS H HUUMMAANNOOSSEEEENNEERRGGÉÉTTIICCOOSS C COONNSSIIDDEERRAAÇÇÕÕEESS SSOOBBRREE AASS R REELLAAÇÇÕÕEESS DDAA TTEEOORRIIAA NNOO C COONNTTEEXXTTOODDOOEESSTTUUDDOO O campo de atendimento transpessoal

reside no campo unitário da

consciência e da energia que transcende o tempo, o espaço e a fisicalidade.

Profundidade de envolvimento energético, envolvendo elementos da consciência.

O relacionamento de atendimento transpessoal tem conotação como uma conexão unitária espírito-para-espírito dentro de um momento de cuidado, honrando o espírito incorporado do profissional e do paciente, dentro de um campo unitário de conscientização.

O momento da entrevista onde agem os elementos conscientes e inconscientes (reações espontâneas/emoções).

O relacionamento de atendimento transpessoal transcende o nível do ego do profissional e do paciente, criando um campo de cuidado com novas possibilidades de como se posicionar no momento.

Cada entrevista envolve reações diferentes onde também são encontradas diferentes/novas formas de emoções.

A intenção e a conscientização

autêntica de atendimento do

profissional tem uma freqüência de energia mais alta do que a consciência de não-atendimento, abrindo conexões para o campo de consciência universal e maior acesso ao curador interno da pessoa.

A realização da entrevista abre possibilidades de, independente da maneira com a qual a família se comportar, se haver um preparo emocional para o lidar com aquela situação, aumentando a freqüência da energia de quem entrevista.

O atendimento transpessoal é comunicado por meio dos padrões

energéticos de consciência,

intencionalidade e presença autêntica do profissional no relacionamento de cuidado.

Comportamento emocional.

As modalidades de atendimento/cura pertencem, com freqüência, àquelas do campo energético ambiental não-

invasivas, não-intrusivas e

naturais/humanas.

Força da educação e inteligência emocional para atingir os momentos de fraqueza energética.

O atendimento transpessoal promove

padrões e possibilidades de

autoconhecimento, autocontrole e autocura.

Procura ir além do técnico, permitindo- se entender que há troca de energias no contato profissional e entrevistado.

As modalidades avançadas de

atendimento transpessoal baseiam-se em várias maneiras de conhecer e ser; englobam o atendimento ético e relacional e as modalidades de consciência intelectual, que são de natureza energética (p. ex., forma, cor, luz, som, toque, visão, olfato) e honram a totalidade, a cura, o conforto, o equilíbrio, a harmonia e o bem estar.

Procurar o atendimento transpessoal aos entrevistados pela técnica propostas por Jung utilizada no momento da entrevista dos sujeitos.

Quadro 3: As relaçãoes da Teoria de J. Watson no contexto do estudo Fonte: Watson [2005, p. 6] apud McEwen & Wills, 2009.

Os grifos acima carregam relação direta com o proposto neste estudo, uma vez que elaboram de maneira sensível e criteriosa que há de fato trocas de energias no relacionamento do profissional com o paciente, denominado transpessoal. Em termos do que tratamos nesta investigação, a energia/cuidado transpessoal que se lança mão é a dos profissionais entrevistadores e dos familiares de doadores ou não.

A relação que é necessária ser estabelecida com estas pessoas em um momento de tantos encontros e confusões emocionais, devem, assim como afirma Watson, honrar a totalidade daqueles seres humanos, seu conforto, sua harmonia e seu bem estar.

Acontecendo desta maneira, acredito que uma vez repassado de modo transpessoal para o receptor da mensagem, o interlocutor da mesma forma pode senti-la de maneira natural. Mas para que se dê conta disso, é preciso que se estabeleça critérios, maneiras, formas de perceber essa troca. Acredito ainda que isso possa se dar pelo autoconhecimento e autocontrole assim como cita Watson. Mas como podemos chegar mais próximos do autoconhecimento para atingirmos maior autocontrole?

Para esta pergunta, apresentaremos os conceitos de Inteligência Emocional, propostos por Daniel Goleman e logo em seguida, conceitos propostos por Carlos Casassus sobre Educação Emocional.