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6 COMENTÁRIOS À LEI 10.035/2000 PROCEDIMENTOS PARA A LIQUIDAÇÃO E A EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS

A Lei 10.035, de 25/10/2000, alterou a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, para

estabelecer os procedimentos de execução das contribuições devidas à Previdência Social, de competência da Justiça do Trabalho. Em realidade, o legislador ordinário procurou

regulamentar a previsão constitucional do § 3º do art. 114, inserido pela Emenda

Constitucional 20/98.

O primeiro artigo da Consolidação das Leis do Trabalho alterado pela lei 10.035/2000

foi o 831, que passou a ter em seu parágrafo único a seguinte disposição: “No caso de

conciliação, o termo que for lavrado valerá como decisão irrecorrível, salvo para a Previdência Social quanto às contribuições que lhe forem devidas”.

Trata-se de uma verdadeira inovação para o Direito do Trabalho Brasileiro. A

homologação pelo Juiz de um acordo entre as partes no processo trabalhista sempre teve

como conseqüência sua imutabilidade. A decisão homologatória de acordo sempre foi

irrecorrível, produzindo efeito de coisa julgada, sem sequer haver necessidade de escoar

qualquer prazo recursal. Somente através de ação rescisória podiam as partes interessadas tentar desconstituir a sentença e seus efeitos jurídicos. A inovação trazida pela Lei 10.035 é

que a sentença que homologa o acordo pode ser sim objeto de recurso do INSS.

Art. 832 ...

§ 4º O INSS será intimado, por via postal, das decisões homologatórias de acordos que contenham parcela indenizatória, sendo-lhe facultado interpor recurso relativo às contribuições que lhe forem devidas.

O recurso cabível é o ordinário, previsto no art. 895, a, da CLT, se o processo se encontra em fase de conhecimento e a decisão que homologa o acordo é proferida de forma definitiva pelo Juiz da Vara. O prazo para o referido recurso é de 16 (dezesseis) dias, pois a autarquia goza de prazo em dobro, nos termos do art. 1º , III, do Decreto-lei nº 229/67.

Conforme Amador Paes de Almeida68, a sentença conciliatória de homologação é sentença de mérito, inclusive estabelecendo regras e conseqüências próprias das sentenças definitivas, dentre as quais a eficácia executiva, nos termos do art. 584, III, do CPC:

São títulos executivos judiciais: [...]

III – a sentença arbitral e a sentença homologatória de transação ou de conciliação.

Se o processo já estiver em fase de execução, contra eventual decisão homologatória, proferida quando já existir decisão cognitiva nos autos, transitada em julgado, o recurso

cabível é o Agravo de Petição, nos termos do art. 897, a, da CLT.

O objetivo do recurso eventualmente interposto pelo INSS somente poderá ser a discussão em relação à natureza das parcelas do acordo. Jamais poderá o órgão previdenciário discutir os termos do acordo em si, como valores, prazos, forma de pagamento ou alcance da quitação passada pela parte. Tal limitação pode ser facilmente extraída da redação do parágrafo primeiro do art. 831 da CLT.

68 ALMEIDA, Amador Paes de. CLT comentada: legislação:doutrina:jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 401.

Caso o acordo não contenha parcelas indenizatórias, mas apenas salariais, não há razão

para que o INSS seja intimado da decisão homologatória.

Ao art. 832 da CLT também foi acrescido o parágrafo terceiro, segundo o qual:

As decisões cognitivas ou homologatórias deverão sempre indicar a natureza jurídica das parcelas constantes da condenação ou do acordo homologado, inclusive o limite de responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da contribuição providenciaria, se for o caso.

Decisões cognitivas são aquelas que julgam o mérito da ação na fase de conhecimento. Decisões homologatórias são aquelas em que o Juiz simplesmente homologa acordo estabelecido entre as partes.

Paulo Emílio Ribeiro de Vilhena entende que os dispositivos acima referidos inseridos na CLT pela Lei nº 10.035 ocasionou uma balbúrdia procedimental69 e que o § 3º do art. 831

sequer está em consonância com o dispositivo constitucional que trata da matéria. Segundo o conceituado autor:

De início, vê-se que o § 3º acima não se encaixa – pelo contrário, desnivela- se – do novo § 3º do art. 114 constitucional, porquanto este, em cometimento estrito e objetivo, voltando-se para o Juiz do Trabalho, fala em “sentenças que proferir”, ou seja, naquelas que decidem (ou, na mais precisa expressão francesa trancher um différend ou não menos precisa versão alemã einen

Streit entscheiden), já que, ao contrário, o ato homologatório de um acordo

pressupõe o encerramento da lide através de um negócio jurídico das partes, em que apenas extrinsecamente participa o Juiz, que o completa apenas formalmente porque praticado em juízo.

Na verdade, o novo § 3º , agregado pela Lei n. 10.035/2000, ao mencionar “decisões [...] homologatórias” está pressupondo, em sua hipótese, que a lide se encerrou pela conciliação, desfecho este que, pela força da coisa julgada, constitui título executório definitivo, só atacável pela ação rescisória, como um princípio constitucional de ordem geral e indiscriminável, em que mais uma vez resguarda a autonomia processual das partes e o devido processo legal (Const. Federal de 1998, art. 5º , inciso LVI), provido de conceito e de

executividade nos arts. 269, inciso III, 449 e 584, inciso III, do Código de Processo Civil, com os quais guardava sintonia o anterior parágrafo único do art. 831 da CLT.

É palpável agora que o novo parágrafo único do art. 831 e o § 3º do art. 832 transcritos, num passe de mágica, vieram colar, em um só e mesmo ato processual (o acordo), duas peças que se pré-excluem, por serem entre si flagrantemente antinômicas: de um lado, chega-se a uma sentença homologatória, que é metade coisa julgada e metade recorrível; de outro lado, pinça-se alhures o INSS, que em momento algum esteve na causa, e se lhe modula um posto-condição de suposta parte no acordo de que posteriormente é notificado, o que se vê, sem maiores perquirições, no § 4º , citado no art. 832:

[...]

Igualmente viola as normas constitucionais antes apontadas o § 3º do mesmo art. 832, quando – equiparando o acordo à sentença condenatória -, determina “que se indique a natureza jurídica das parcelas constantes ... do acordo”, o que não passa de arrematada insanidade jur ídica, quando tal determinação é ontologicamente incompatível com o ato a que se refere a declaração. Não cabe ao juiz impor a observância ou o condicionamento desse preceito no ato da conciliação, pois, se o fizer, estará intervindo no acordo, impondo-lhe cláusulas e fazendo-as qualificar como se parte fosse ele nas condições materiais das avenças. 70

A questão não parece ser tão problemática, até mesmo porque a decisão que homologa um acordo é sentença de mérito. Não se identifica, portanto, o desencontro da lei com o dispositivo constitucional.

Porém, há um grande equívoco na redação do § 3º do artigo 832 da CLT quando determina que o Juiz especifique a natureza das parcelas constantes da condenação nas decisões cognitivas. Uma sentença condenatória julga procedentes ou improcedentes pedidos formulados na petição inicial. Essas verbas já possuem natureza jurídica desde a formulação da petição inicial e não podem sofrer qualquer alteração pela prolação de uma sentença judicial. Como exemplo, o Juiz não pode condenar uma empresa ao pagamento exclusivamente de horas extras e estabelecer nesta mesma sentença que as verbas possuem natureza indenizatória e não salarial. Para os casos de acordo, já há uma situação distinta, pois pode o Juiz definir a que parcelas do pedido o acordo se refere. Assim, é possível que se

realize na sentença homologatória a indicação das parcelas que constituem o acordo, nos

limites do pedido formulado na ação. Esse é o entendimento da jurisprudência predominante,

como se pode observar da decisão abaixo:

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – ACORDO – DISCRIMINAÇÃO

ULTRA E EXTRA PETITA – FRAUDE.

Ainda que se diga que às partes é dada a faculdade de “prevenirem, ou terminarem o litígio mediante concessões mútuas” (art. 1025, do Código Civil), só podem fazê-lo observados os limites dos pedidos, sendo defesa a transação sobre valores a eles superiores (extra petita) ou referentes a parcelas não pleiteadas (ultra petita), porque patente a intenção de fraude aos cofres previdenciários. Se é certo que a lei autoriza e estimula a transação (art. 764/CLT), não o é, porém, que o Juiz seja um mero homologador dela, já que a Justiça do Trabalho pode, e deve, evitar a fraude escancaradamente realizada. Por isso preceitua o art. 129/CPC que “convence ndo-se, pelas circunstâncias da causa, de que autor é réu se serviram do processo para [...] conseguir fim proibido por lei, o juiz proferirá sentença que obste aos objetivos da parte”. É que a justiça é cega, mas o magistrado não, e judicar não é simplesmente aplicar a lei, mas, sobretudo, aplicá-la com bom senso e razoabilidade.71

Já nos acordos realizados na fase de execução, deve o Juiz determinar, para o recolhimento das contribuições sociais, a observância da proporcionalidade das verbas de natureza salarial e indenizatória da decisão transitada em julgado. Nesse sentido foi o Acórdão proferido pela 3ª Turma do TRT da 3ª Região, a seguir reproduzido:

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – TRANSAÇÃO – EXECUÇÃO. O cálculo de contribuição previdenciária relativamente a acordo feito na fase de execução, antes da apresentação e/ou homologação de cálculos, deve respeitar as bases aproximadas da natureza das verbas objeto da condenação, como referencial para cálculo de proporcionalidades.72

71 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO/RO – 12195/02 – Tel. Juiz José Miguel de Campos – Pebl. No MG/DJ de 23/11/2002. In: ROCHA LIMA, Maria da Glória. Execução das contribuições previdenciárias pela

Justiça do Trabalho. Belo Horizonte: Presidência do TRT 3ª região, 2004, p. 91.

72 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO. AP – 5075/02. Relatora: Juíza Monica Sette Lopes. MG. 12 out. 2002. In: ALVES, Emérson José; LOPES, Mônica Sette (Coord.). Execução previdenciária na Justiça do

Essa limitação de discriminação de verbas quando da realização do acordo é passível

de discussão, pois o Juiz do Trabalho estaria intervindo no ajuste entre as partes. Paulo Emílio

Ribeiro de Vilhena73 entende que o

Juiz do Trabalho não pode intervir no ato de elaboração das condições materiais do acordo nem desvirtuar-lhe os motivos que levaram as partes a realizá-lo, e menos ainda obstaculá-lo, com inserção de cláusulas ou condições externas à vontade autônoma dos interessados, pois o Estado não integra substancialmente a transação mas, na Justiça, o faz tão-só formalmente, com o ato formal da homologação pelo Juiz, que extingue a lide e faz a coisa julgada.

O próprio TRT de Minas Gerais já proferiu decisão nesse mesmo sentido:

ACORDO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. Os litigantes, em face da res dubia e dos riscos que a demanda oferece, podem celebrar acordo para extingui-la, o que implica renúncias ou concessões recíprocas. A transação deixa, portanto, de guardar relação com o que se pediu na inicial e o que se impugnou na defesa. E o acordo homologado em Juízo faz coisa julgada entre as partes, incumbindo a elas declarar a natureza das parcelas objeto da avenca, descabendo questionamento posteriores acerca de tal declaração, ainda que as parcelas indicadas possam conflitar com o que se postulou na peça de ingresso. Com a celebração do acordo, não há reconhecimento do pedido inicial e a pretensão deduzida, portanto, não pode ser invocada para fins de incidência de contribuições previdenciárias.74

Não parece correta a homologação de acordo pelo Juiz com discriminação de parcelas que não fazem parte da lide, pois a petição inicial já apresenta a natureza das parcelas que são objeto da ação. As concessões mútuas previstas no art. 840 do Novo Código Civil podem ser acordadas, inclusive quanto aos efeitos da quitação dada pelos transatores, mas a natureza das parcelas pagas em razão do acordo deve observar os pedidos formulados na inicial, dentro de seus limites. Somente se ultrapassados os valores pretendidos na petição inicial é que se poderia atribuir natureza distinta àquela dos pedidos da ação.

73 VILHENA, 2003, p. 19-20.

74 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO. AP – 7837/01 Relator: Juiz José Maria Caldeira – MG, 17.4.2002. In: ALVES, Emérson José; LOPES, Mônica Sette (Coord.). Execução previdenciária na Justiça do

Seguindo a análise dos artigos da CLT, alterados pela Lei 10.035/2000, constata-se

que o parágrafo único do 876 da CLT apenas confirma a previsão constitucional, para que o Juiz do Trabalho execute ex officio os créditos previdenciários devidos em decorrência de

decisão proferida na Justiça do Trabalho. Traz, no entanto, um importante acréscimo quando

refere ao final do parágrafo que somente são executadas ex officio as contribuições

previdenciárias resultantes de condenação ou homologação de acordo.

Acertadamente não incluiu o legislador previsão para execução de contribuições

previdenciárias decorrentes de pagamentos efetuados em períodos que são objeto de análise

de sentenças declaratórias, como as que reconhecem o vínculo de emprego. Como se viu

anteriormente, as contribuições não decorrem das sentenças, mas sim da ocorrência no mundo

dos fatos da hipótese de incidência tributária.

No período que antecedeu a Lei 10.035/2000, todos tinham dúvidas de como proceder

nas execuções trabalhistas. Não se sabia se o INSS deveria intervir para realizar o lançamento

do tributo ou se primeiro se faria a execução do crédito trabalhista para somente após se dar

início ao processo de execução das contribuições previdenciárias.

O legislador ordinário, então, estabeleceu procedimentos que tornaram uniformes as

execuções na Justiça do Trabalho. Ao art. 879 da CLT foram acrescidos os §§ 1º-A e 1º-B,

que determinam que a fase de liquidação deve abranger, também, o cálculo das contribuições

previdenciárias devidas, as quais devem constar nos cálculos a serem apresentados pelas

partes ou por perito nomeado pelo Juiz. A atualização do crédito do INSS deve observar os

critérios estabelecidos na legislação previdenciária e não os critérios de atualização dos

Também trouxe inovação ao processo de liquidação o § 3º do art. 879 da CLT, que

determina que o Juiz proceda à intimação do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, para

que se manifeste, no prazo de dez dias, sob pena de preclusão.

Paulo Emílio Ribeiro de Vilhena75, ao comentar o dispositivo da lei supracitado,

refere: “Em realidade, a Lei n. 10.035/2000 criou, aboca nhando em transversas e curtas fatias

de jurisdição alheia, uma parte privilegiada no processo do trabalho, o INSS, que atropela as

garantias básicas de todo o sistema processual [...]”.

A cobrança das contribuições sociais se dá conjuntamente com o crédito trabalhista, na forma da nova redação do art. 880 da CLT:

O juiz ou presidente do tribunal, requerida a execução, mandará expedir mandado de citação ao executado, a fim de que cumpra a decisão ou o acordo no prazo, pelo modo e sob as cominações estabelecidas, ou, em se tratando de pagamento em dinheiro, incluídas as contribuições sociais devidas ao INSS, para que pague em quarenta e oito horas, ou garanta a execução, sob pena de penhora.

A dívida somente é considerada integralmente garantida após o depósito judicial ou a

penhora de bens suficientes para a execução das verbas trabalhistas e das contribuições previdenciárias.

A sentença de liquidação deverá analisar todas as matérias discutidas na fase de liquidação, ou seja, deverá obrigatoriamente se manifestar sobre eventuais controvérsias entre

o INSS e o devedor do tributo. O recurso a ser apresentado pelo INSS após a homologação de

cálculos é a Impugnação à Sentença de Liquidação, na forma do art. 884 da CLT.

75

Da decisão que apreciar a Impugnação à Sentença de Liquidação, qualquer das partes -

reclamante, reclamado e o próprio INSS - poderão interpor Agravo de Petição, recurso cabível

das decisões proferidas na fase de execução, nos termos da alínea a do art. 897 da CLT.

A novidade trazida pela Lei 10.035/2000, para esta fase recursal, está na disposição do

§ 8º do art. 897 da CLT, no sentido de que quando o Agravo de Petição versar apenas sobre as

contribuições sociais, o juiz da execução determinará a extração de cópias das peças

necessárias para e exame da matéria controvertida, em autos apartados, que deverão ser

remetidos à instância superior para apreciação, após contraminuta. Tal previsão evita que o

reclamante, maior interessado na execução de seus créditos, tenha prejuízos com o

retardamento do processo em razão de controvérsias não relacionadas com o objeto da ação.

O novo texto da CLT, cujos artigos foram objeto da análise acima, é útil para que se

tenha harmonia nas execuções trabalhistas, evitando a adoção de múltiplos procedimentos, ao

arbítrio do Juiz que atua na fase de liquidação de sentença e também na fase de execução.

A Lei 10035/2000, no entanto, apresenta um vício formal, pois estabelece normas

relacionadas ao Direito Tributário ao inserir na CLT disposições sobre a forma de apuração e

de cobrança de tributos no próprio processo trabalhista.

A alínea b, do inciso III, do art. 146, da CF, dispõe:

Art. 146 – Cabe à lei complementar: [...]

III – estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre:

[...]

Da forma como está previsto na CLT, o crédito tributário do INSS deve ser apurado e

executado diretamente pelo Juiz do Trabalho, sem a necessidade de lançamento por parte da autoridade administrativa competente.

O lançamento, segundo o art. 142 do Código Tributário Nacional, caput, se constitui em “um procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo o caso, propor a aplicação da penalidade cabível”.

Caracteriza-se o lançamento como um ato jurídico administrativo de natureza vinculada, que compete privativamente à autoridade administrativa realizar.

Segundo o Prof. Hugo de Brito Machado:

Mesmo tendo ocorrido o denominado fato gerador da obrigação tributária, o crédito tributário precisa, para ter existência jurídica, ser constituído, pelo lançamento, cuja feitura cabe à autoridade da Administração Tributária, competente para a prática dessa atividade. Não a qualquer outra autoridade administrativa, nem ao Juiz.76

Pois bem, a Lei Ordinária 10.035/2000, ao dispor de como deve ser apurado e cobrado o crédito tributário do INSS, acabou por tratar de matéria que somente poderia ser regulamentada por Lei Complementar, nos termos do art. 146 da CF.

76 MACHADO, Hugo de Brito. Lançamento tributário e sentença judicial. Revista Dialética de Direito

Para Alexandre Macedo Tavares e Marcus Vinícius Mendes Mugnaini77, a Lei 10.035/2000 revela-se inválida, pois “funde a fase de cálculo de liquidação da sentença com a constituição do crédito tributário, ao dispor que ‘a liquidação abrangerá, também, o cálculo das contribuições previdenciárias cabíveis’”. Segundo os referidos autores, o cálculo (liquidação) do quantum das contribuições previdenciárias devidas é tarefa que compete privativamente à autoridade administrativa realizar e não ao Juiz do Trabalho.

Apesar das disposições contidas na Constituição Federal e no Código Tributário Nacional, a Lei 10035/2000 ignora as exigências do sistema legal e determina a imediata execução dos créditos previdenciários, sem o preparo de um lançamento e sem a constituição de um título executivo, como observa Homero Batista Mateus da Silva.78

Diante das considerações acima, pode-se constatar que o novo art. 876 da CLT é ilegal por afrontar uma lei complementar (CTN) e é inconstitucional por não observar as exigências do art. 146, III, da CF, já que determina a execução imediata, sem o lançamento e sem título executivo, dos créditos previdenciários em decorrência de decisão proferida pelos Juízes e Tribunais do Trabalho, resultantes de condenação ou homologação de acordo. Por esses

77 TAVARES; MUGNAINI, 2002, p. 37.

78 O simples fato de a base de cálculo da contribuição residir no salário do trabalhador é insuficiente para autorizar o atropelamento dos princípios do direito tributário nacional, conquista histórica do cidadão brasileiro, com assento constitucional, reitere-se. [...] O crédito fiscal somente pode ser constituído quando presentes os elementos essenciais exigidos pelo art. 142 do Código, em uma atividade praticada pelo agente da administração, nunca pelo serventuário do Poder Judiciário ou pela autoridade judicial. A expressão “privativamente” não foi inserida no artigo como mera ênfase de sua responsabilidade funcional, mas também como garantia ao contribuinte de que, pelo menos nesta área, não haverá falar-se em terceirização.

São elementos essenciais desse ato: a) a verificação da ocorrência do fato gerador da obrigação, o que para nossa hipótese representa o recebimento pelo trabalhador de uma parcela de natureza salarial; b) a determinação da matéria tributável, o que levará a autoridade administrativa a separar as parcelas salariais para que nelas incidam as contribuições previdenciárias; c) o cálculo do montante devido, já aplicadas as