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1. Pontua o art. 114, § 3º , da CLT, que "compete ainda à Justiça do Trabalho executar, de ofício, as contribuições sociais previstas no art. 195, I, "a", e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir". Já o art. 276, § 7º , do Decreto nº 3.048/99, regulamentando o art. 43 da Lei nº 8.212/91, dispõe que "se da decisão resultar reconhecimento de vínculo empregatício, deverão ser exigidas as contribuições, tanto do empregador como do reclamante, para todo o período reconhecido, ainda que o pagamento das remunerações a ele correspondentes não tenham sido reclamadas na ação". Não cabe ao intérprete distinguir onde a lei não o faz. Tal postulado, sendo valioso no que diz respeito ao ordenamento infraconstitucional, torna-se impositivo, quando se leva em conta a necessidade de se emprestar efeito ao regramento inscrito na Carta Magna. É patente que o art. 114, § 3º , da Constituição Federal alude, genericamente, a "sentenças", não excluindo, portanto, aquelas de cunho declaratório. Se há Justiça Especializada, não se justifica a bipartição de competência. O interesse público - e o bom senso - aconselharão que aquele que bate às portas do Judiciário, via Justiça do Trabalho, aí tenha solvidas todas as questões decorrentes de sua irresignação, quando acolhida. O pagamento das

contribuições sociais e o conseqüente reconhecimento previdenciário do

tempo de serviço são de fundamental importância para quem, contrastando o propósito irregular do mau empregador, vê reconhecida a existência de contrato individual de trabalho. Obrigá-lo (porque o interesse não pertencerá apenas à Autarquia) a reiniciar marcha processual, em outro ramo do Poder, seria desafio de discutível sobriedade. A interpretação sistemática leva à conclusão de que o art. 109, I, da Carta Magna, não persevera, perante a especificidade do art. 114, § 3º , do mesmo texto. A edição de norma regulamentar, em tal sentido, enquanto chancela a interpretação, faz patente o interesse social que a deseja.

2. A condenação imposta pelo título executivo, ainda que consista, em tese, somente, em obrigação de fazer (registro de CTPS), decorre do prévio reconhecimento de relação de emprego, fato jurídico hábil ao surgimento do crédito da seguridade social.

3. Competência da Justiça do Trabalho reconhecida. Recurso de revista conhecido e provido.

DECISÃO

Por maioria, vencida a Exma. Sra. Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, conhecer do recurso de revista, por violação do § 3º do art. 114 da Constituição Federal, e, no mérito, dar-lhe provimento, para determinar o retorno dos autos à Vara de origem, onde prosseguir-se-á na execução das

contribuições previdenciárias relativas ao período integral da relação de

Nesse mesmo sentido, foi a decisão proferida em 1-10-2003, também pela 3ª Turma do TST, nos autos do processo RR - 490/2001-003-24-40, publicada no DJ de 24-10-2003,

sendo relator o Ministro Carlos Alberto Reis de Paula, conforme segue:

EXECUÇÃO DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS DECORRENTES DO RECONHECIMENTO DE VÍNCULO DE EMPREGO, ENTRE RECLAMANTES E RECLAMADA, E INCIDENTES SOBRE PARCELAS PAGAS NO CURSO DA CONTRATUALIDADE. Nos termos do § 3º do art. 114 da Constituição, que foi acrescido pela Emenda Constitucional nº 20/98, é competente a Justiça do Trabalho para a execução, de ofício, de contribuições previdenciárias decorrentes de sentença declaratória de reconhecimento de vínculo de emprego e que determinou a anotação da CTPS, embora não tenha havido condenação ao pagamento dos salários no período respectivo. Trata-se de atribuir à norma constitucional a máxima eficácia. Recurso de Revista conhecido e provido.52

O cerne da questão parece não estar na simples interpretação da parte final do texto constitucional que trata da matéria, o inciso VIII, do art. 114 da CF, mas sim em uma análise do dispositivo53 como um todo.

Segundo o inciso I, a, do art. 195 da CF, a seguridade social é financiada, entre outras formas, de recursos provenientes das contribuições sociais do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício.

Portanto, o fato gerador das contribuições sociais devidas pela empregadora ou pela empresa tomadora dos serviços é o pagamento ou o crédito realizado à pessoa física. A única

52 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista nº TST-RR-490/2001-003-24-40.6. Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. Recorridas: Silviane Batista De Camargo E Outra e CEMDEF- Centro de Educação Multidisciplinar ao Portador de Deficiência Física.

53 VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;”

forma de uma sentença originar um fato gerador que se enquadre na previsão legal de incidência de contribuição previdenciária, ou seja, uma hipótese de incidência tributária, se dá através de uma condenação. As sentenças exclusivamente declaratórias que analisam pedidos de vínculo de emprego não geram pagamentos, mas apenas reconhecem a natureza da relação jurídica mantida entre as partes envolvidas no litígio.

As contribuições sociais devidas por uma empresa que perde uma reclamação trabalhista com pedido de vínculo de emprego, no que se refere aos pagamentos já efetuados no decorrer da relação declarada como de emprego não decorrem da sentença, mas sim dos próprios pagamentos que foram creditados mensalmente à pessoa física do trabalhador. O fato gerador das contribuições é o pagamento ao trabalhador de parcelas que integram o salário de contribuição e não o teor da sentença trabalhista. Veja-se a jurisprudência:

EXECUÇÃO DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRAIS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. LIMITAÇÃO.

O disposto no parágrafo 3º , do art. 114 da CF/88, deu competência à Justiça do Trabalho para executar, de ofício, as contribuições sociais previstas no art. 195, I, "a" e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir. Ou seja, para que haja execução, necessária prévia condenação. Nos casos de reconhecimento judicial de vínculo empregatício, por si só, a sentença tem natureza declaratória e não condenatória. Por sua vez, as cotas previdenciárias apenas incidem sobre verbas de natureza salarial constantes da sentença condenatória ou do acordo homologado. Ademais, o reconhecimento de vínculo de emprego nem sempre induz à cobrança obrigatória de contribuição social, porquanto há possibilidade de recolhimento espontâneo pelo empregador ou tomador ou pela Cooperativa decorrentes dos serviços prestados por pessoa física como empregado urbano, rural ou doméstico, como trabalhador temporário, autônomo, eventual ou avulso, como cooperado e até como empresário ou firma individual (reconhecidos judicialmente como empregados). Por isso, a execução fiscal perante o Juízo competente deve ser precedida de fiscalização e, se for o caso, de autuação, lançamento, cobrança administrativa e, por fim, de inscrição da dívida ativa, valendo sua certidão como título executivo extrajudicial para que haja exigibilidade e certeza de liquidez da cobrança parcial ou total, porque obrigatória a observância do teto de contribuição. 54

54 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 2ª Região. Acórdão nº 20040679599. AP 01 - 00919-2003-057- 02-00. Relatora: Juíza Maria Isabel de Carvalho Viana. DOE 21 jan. 2005.

CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. § 3º , DO ART. 114, DA CF. PERÍODO DA RELAÇÃO DE EMPREGO. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO: Não compete à Justiça do Trabalho, ao pronunciar a relação de emprego, realizar a constituição do crédito das contribuições sociais, que deveriam ser recolhidas, decorrentes dos pagamentos feitos ao Reclamante, oriundos daquele fato gerador (vínculo de emprego). A sentença proferida não criou uma nova obrigação tributária, nem um novo fato gerador. Aquela relação a ela preexistia. O que se dava era a declaração não verdadeira de fatos sobre os quais incidia a contribuição social que, em se tratando de contribuição previdenciária se faz por autolançamento. A distinção que se impõe, então, naquela competência outorgada pelo § 3º , do art.114 da Constituição da República, diz respeito à formação do crédito tributário. Fixa-se, pois, não no efeito declaratório da sentença, mas na condenação de parcelas que se tornaram devidas pela decisão. Enquanto meramente declaratória, as contribuições previdenciárias restavam devidas e já constituídas independente dela, havia pagamentos decorrentes da prestação de serviços que deveriam ser recolhidos sob determinada forma legal e, no entanto, não o foram, a questão, por conseguinte, situa-se no âmbito da fiscalização e da retificação do pagamento, tarefa afeta ao titular do crédito tributário. Já na condenação o fato gerador, o pagamento das parcelas da condenação, surge com o cumprimento da sentença, e uma vez realizado, somente nesse caso cabe à Justiça do Trabalho tornar efetivo o recolhimento do tributo. 55

Segundo os fundamentos do Acórdão 633/02, proferido em 30-04-2002, nos autos do processo 00537-2001-063-03-00-5:

A extensão da competência da Justiça do Trabalho decorrente da Emenda nº 20/98, com acréscimo do § 3º , ao art. 114, da Constituição da República, não alforriou o INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS da sua obrigação de fiscalizar e, pela via legal, constituir o crédito das contribuições sociais. Em se tratando de norma de natureza especial, exceção ao procedimento administrativo de cobrança de tributos, não comporta interpretação extensiva, para alcançar, também, as sentenças de natureza declaratória que, como se sabe, não constituí o débito, mas apenas define a relação jurídica, a ela preexistente.

[...] [...]

Daí, não é da competência da Justiça do Trabalho realizar a cobrança (execução) de contribuições previdenciárias decorrentes de fatos geradores preexistentes à sentença proferida, ainda que declare a relação jurídica diretamente ou de forma incidental. Limita-se a tornar efetivo o recolhimento das contribuições previdenciárias quando o seu fato gerador (pagamento das parcelas da condenação de natureza salarial) decorre da própria sentença. Correta, portanto, a decisão de origem, que se mantém por si mesma.

55 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 3ª Região. Acórdão 633/02. Relator o Juiz Antônio Fernando Guimarães.

A análise realizada nos fundamentos do acórdão 633/02 não merece reparos. Não há base legal para a cobrança pela Justiça do Trabalho de contribuições sociais que possuem fatos geradores preexistente à sentença trabalhista.

O Superior Tribunal de Justiça – STJ, nos autos do processo 200302367368, que teve como relator o Ministro Luiz Fux, proferiu a seguinte decisão:

Ementa

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA ENTRE JUSTIÇA FEDERAL E TRABALHISTA. EXECUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. ACORDO EXTRAJUDICIAL. ARTIGO 114, § 3º , CF/88. INAPLICABILIDADE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

1. A competência da Justiça do Trabalho, conferida pelo § 3º do artigo 114 da Constituição Federal, para executar, de ofício, as contribuições sociais que prevê, decorre de norma de exceção, a ser interpretada restritivamente. Nela está abrangida apenas a execução de contribuições previdenciárias incidentes sobre pagamentos efetuados em decorrência de sentenças proferidas pelo Juízo Trabalhista, única suscetível de ser desencadeada “de ofício”.

2. Não compete à Justiça Trabalhista processar execução movida pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS para cobrar contribuições sociais incidentes sobre pagamentos previstos em acordo celebrado extrajudicialmente, que não submetido à homologação judicial, do qual a autarquia sequer foi parte e que não traz qualquer menção a créditos previdenciários.

3. Compete à Justiça Federal processar e julgar a causa em que figurar a União, suas autarquias ou empresa pública federal na condição de autora, ré, assistente ou opoente (CF, art. 109, I ).

(Conflito de Competência nº 38.315/RJ, Rel. para o Acórdão: Min. Teori Albano Zavascki, DJ 23/08/2004)

4. Ressalva do ponto de vista do Relator, no sentido de que a competência é da Justiça do Trabalho, uma vez que compete ao juízo de cognição a execução do título extrajudicial (art. 877-A da CLT), consistente no Termo de Conciliação derivado de acordo celebrado perante comissão de conciliação prévia (art. 625-E da CLT). Tendo em vista que referido termo constitui título executivo, cabendo ao interessado promover na Justiça do Trabalho a sua efetivação (art. 625-E da CLT), inegável é a legitimação do credor da contribuição para a provocação com o escopo de que se inicie a execução, tanto mais que nas atividades em que o juízo pode agir de ofício, não se exclui a iniciativa da parte.

5. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 18ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Rio de Janeiro/RJ, o suscitante.56 (grifo nosso)

56 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. CC - CONFLITO DE COMPETÊNCIA – 41233. DJ 29 nov. 2004, p. 218.

O STJ foi taxativo ao referir que compete à Justiça do Trabalho a competência apenas das contribuições previdenciárias incidentes sobre pagamentos efetuados em decorrência de sentenças proferidas pelo Juízo Trabalhista. Deve ser observada a correção da redação do acórdão: “[...] contribuições previdenciárias incidentes sobre pagamentos efetuados em decorrência [...]”. As contribuições decorrem dos pagamentos aos trabalhadores, fatos geradores típicos, e não das sentenças propriamente ditas.

O TRT da 4ª Região, através da Resolução Administrativa nº 08/2004, publicada no DOE nos dias 2, 5 e 6 de julho de 2004, diante de reiteradas decisões57, editou a súmula nº 34, no seguinte sentido:

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INCIDÊNCIA. CONTRATO