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COMIDA PERVERSA

No documento Download/Open (páginas 59-68)

Este é um capítulo de especial importância na educação das crianças e

jovens, pois em escala crescente e alarmante aparece o problema da obesidade.

Para ficarmos somente com uma das tantas notícias recentes sobre o assunto a

Globo News - 26/04/2012, 11h27, escreveu:

Brasil pode viver aumento perigoso da obesidade entre os adolescentes, alerta pesquisadora - Um estudo vai ser feito por

mais de 20 instituições de pesquisa, universidades e hospitais do Brasil para avaliar a saúde dos jovens.

No Dia Nacional de Combate à Pressão Arterial, 26 de abril, um dado preocupa: a hipertensão atinge 30% dos brasileiros na fase adulta e é responsável também pelo grande índice de infartos. E no Brasil, assim como nos países desenvolvidos que sofrem com a obesidade, Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, o sobrepeso na adolescência começa a representar um risco de saúde ainda maior. ―Temos dados nacionais de pesquisas que vêm mostrando um aumento muito importante da obesidade entre os jovens brasileiros. A gente vê que esses níveis tendem a se manter durante a vida adulta‖, explica a coordenadora do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), Katia Bloch.

Hoje doenças cardiovasculares, como a hipertensão, podem ser diagnosticadas em muitos jovens. Isso porque a obesidade e o sedentarismo não são mais características exclusivas de quem já passou dos 30. O estudo ―Erica‖ vai ser feito por mais de 20 instituições de pesquisa, universidades e hospitais do Brasil para avaliar a saúde dos adolescentes.

Eles vão passar por uma bateria de exames clínicos e vão responder questões sobre a alimentação e o histórico familiar. Outro objetivo do estudo é verificar a incidência da síndrome metabólica entre os jovens. Considerada um mal moderno, a doença pode ser relacionada a queda da desnutrição e o aumento das taxas de obesidade no País.

É preciso descobrir se a atual oferta de alimentos gordurosos e os hábitos sedentários podem fazer das próximas gerações vítimas de diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares. ―O tratamento das doenças crônicas é muito difícil, então, prevenir é o mais importante‖, alerta a coordenadora do ―Erica‖, Katia Bloch. (http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2012/04/brasil-pode-viver- aumento-perigoso-da-obesidade-entre-os-adolescentes-alerta- pesquisadora.html).

Naturalmente, não nos cabe aqui aprofundar os aspectos médicos do

problema (por todos conhecido), nem discutir a perversa pressão da mídia ou, por

exemplo, dos fabricantes de salgadinho, para tornar irresistível o sucumbir as

tentações desse comer errado. Sabe-se, por exemplo, que os fabricantes de chips

estudam a química do tempero para oferecer um resultado de sabor intenso, mas

que se desvanece em fração de segundos, convidando (ou impondo...) – à indefesa

criança (ou adulto) – a reiteração. O lema publicitário ―Impossível comer um só‖

aproxima-se da verdade.

Uma interessante atividade, em parceria com a educação artística, pode ser a

de elaborar rótulos à semelhança dos que o Ministério da Saúde impõe aos maços

de cigarros. Em vez de animaizinhos etc., a embalagem deveria conter, por

exemplo, alertas para a hipertensão. É uma vergonha que apareçam em corpo 7 os

níveis de sódio desses produtos. No exemplo abaixo, só com dois palitinhos ingere-

se mais do que 1 grama de sódio! E o produto é 90% carboidrato!

www.paodeacucar.com.br/produto/27692/palitos-salgados-stiksy-elma-chips-

90g#

Industrializados à parte, NH, em Não é Sopa, fala da ―Comida perversa‖ em

geral:

Comida perversa é aquela que você come sabendo eu é brega e que faz mal. É autodestrutiva e gostosa. Está fincada no imaginário, mata a profunda fome do vulgar de cada um.

É mais encontrada em botequins, padarias, nas lembranças de infância, em feiras, na rua.

Em primeiro lugar, disparado, está o pastel de feira, este enigma. Qual a origem do pastel? Daqueles de feira mesmo, fritos, de carne moída, palmito e queijo...Existem pastéis iguais aos nossos em outros em outros lugares do mundo? Foram os portugueses , libaneses, africanos, japoneses ou chineses eu inventaram o pastel, ou é um sincretismo pastelar?

De carne soltinha com azeitona, pouca carne, para que sacudido, faça um barulho de chocalho. De queijo, um enorme retângulo, com o queijo, objeto de desejo, lá, na última mordida, já começando a endurecer. O de palmito, bendito na sua umidade, e todos eles fritos na panela de mil frituras. Comer um pastel, encostada no carrinho de feira já cheio, tomando garapa gelada, de preferência com bobs e lenço amarrado na cabeça, é o máximo de perversidade e coragem a que se pode chegar. Mas há outras, há outras.

Nos botequins simplesinhos existe sempre uma esperança, nem que seja um ovo cozido pintado de vermelho. Torresmo de padaria, bem crocante, grande, embrulhado em papel pardo para viagem. Fatias de pernil com bastante molho, dentro do pão francês. Coxinhas de galinha com osso, muito mais saborosas que as outras. Podem ser de camarão, quando são apelidadas de ―Jesus está chamando‖. Pão com mortadela respingada de limão. Chá-mate com leite, acompanhado por linguiça, e manjubinhas fritas, secas, torradas e já frias...chicken nuggets com três molhos e batatas fritas com ketchup. Nas memórias de infância, despontam perversidades doces: leite condensado direto da lata; bolacha Maria molhada no café, retirada no momento certo para que não caia dentro da xícara; pão com manteiga e açúcar; brigadeiro às colheradas, direto da panela.

Há uma categoria de comidas perversas que nem às paredes confessamos. Taras individuais, indesculpáveis, segredos confidenciados só às geladeiras, na calada da noite. Sanduíches de feijão frio, restos gelados de pizza, gordura de picanha sem a picanha, bolo de Natal com queijo roquefort, macarrão com farofa. E existem as perversidades caseiras, que estão por aí para todo mundo ver e que não envergonham ninguém...Coquetel de camarão com muito creme e Ketchup, frango com catupiry e, last but not least, docinhos de casamento de bandeja de filó, com um fondant de açúcar bem grosso. Resistir, quem há de?

E a ―comida perversa‖, chamariz do pecado capital da gula, requer extrema

força de vontade ou medidas extremas, como o quadro abaixo, retirado do blog de

uma colega nutricionista: Lícia Vendruscolo:

Para tanto, as geladeiras muitas vezes são suportes de dietas prontas do que

comer e não comer ou mesmo recortes de revistas com mulheres lindas e esbeltas

dando ao dono da geladeira um estímulo para iniciar a dieta, que costumeiramente

inicia-se na segunda-feira e termina na terça, isso se não acabar na própria

segunda-feira no lanche da tarde com um pedaço de torta com massa flora

17

e

recheio de palmito (mais light) com muito creme de requeijão e parmesão por cima e

claro que acompanhado de um refrigerante diet

18

.

Aqui discorro sobre as ―comidas perversas‖ que podemos encontrar. São

muitas, pois cada pessoa tem aquilo que ao comer se sente abraçado, confortado e

acima de tudo com muito prazer. Nem sempre a ―comida perversa‖ deve ser

saboreada furtivamente, na calada da noite sem que ninguém veja esse momento

gastronômico único; ela pode surgir em meio a milhares de pessoas, degustada em

pé ou em poltronas não tão confortáveis e com outras milhares de pessoas

completamente diferentes de nós. Para isso é preciso apreciar a “comida de

estádio” que na gastronomia classifica-se como junk food ou comida porcaria,

besteira, lixo..., mas que é saborosa principalmente quando seu time está ganhando.

17

. Massa flora: conhecida como massa podre, é preparada com farinha de trigo, algumas vezes com amido de milho e muita, mas muita gordura que pode ser manteiga, margarina ou gordura vegetal.

18

. Diet é a terminologia usada para alimentos que possuem ingredientes que foram modificados quimicamente, ex.: açúcar pelo adoçante e confere pouco ou nenhum valor calórico.

A Folha de S. Paulo, publicou em 2007 a matéria ―Veja os "cardápios" de

quatro estádios‖:

MINEIRÃO: Escalação: no entorno do estádio, churrasquinhos variados (R$ 2,50), sanduíche de pernil (R$ 3) e tropeiro (entre R$ 4 e R$ 6). Na parte interna, bolinhos de feijão (R$ 0,50) vendidos por ambulantes; nos bares, tropeiro (R$ 5), porção de torresmo (R$ 2), sanduíche de lombo (R$ 2) e mais churrasquinhos sortidos (R$ 2) Gol de placa: o tropeiro, em qualquer variação, na marmita ou no prato

Endereço: av. Antônio Abrahão Caram, 1001, Belo Horizonte Próximo jogo: Cruzeiro x Atlético-PR, sábado, dia 27, às 18h10 MARACANÃ: Escalação: é o mais enxuto. Na área externa, os churrasquinhos de praxe (R$ 3) dividem as atenções com barraquinhas de salsichão (R$ 2), cachorro-quente (R$ 2) e amendoim doce (R$ 1). Dentro do estádio, o cardápio é reforçado pelo tradicional biscoito de polvilho Globo (R$ 2), pipoca e picolés. O Matte Leão (R$ 2), ícone da carioquice, refresca a torcida

Gol de placa: a dupla mate/ biscoito de polvilho Endereço: av. Maracanã, s/ nº, Rio de Janeiro

Próximo jogo: Fluminense x Atlético-MG, sábado, dia 27, às 18h10 MORUMBI: Escalação: coxinha de frango (R$ 0,50), sanduíches de pernil e calabresa (R$ 5), cachorro-quente (R$ 2,50), espetinho de carne e calabresa (R$ 2; três por R$ 5) são as opções da "praça de alimentação" informal que surge nas imediações do estádio a cada partida, com duas dezenas de barraquinhas ladeadas por mesas e cadeiras. O interior da arena é domínio compartilhado pela rede Habib's e pelos sorvetes Kibon

Gol de placa: sanduíche de pernil

Endereço: pça. Roberto Gomes Pedrosa, 1, São Paulo

Próximo jogo: São Paulo x América-RN, quinta, dia 31, às 21h45 PALESTRA ITÁLIA: Escalação: no entorno (onde é proibido montar barracas), pacotes de amendoim (R$ 1) churrasquinhos (R$ 2), sanduíches de pernil e calabresa (entre R$ 4 e R$ 5) disputam espaço em bancadas improvisadas. Nos bares, para bolsos mais forrados, vende-se macarrão (R$ 8, no bar Alviverde), feijoada (R$ 10) e pizza (de R$ 8 a R$ 14). Passada a catraca, o cardápio (montado pela empresa que detém o monopólio da alimentação no estádio) inclui churros (R$ 3), pipoca (R$ 2), hambúrguer (R$ 3), cachorro-quente (R$ 3), salgadinhos (R$ 3) e sorvete (R$ 3)

Gol de placa: como no Morumbi, a pedida é o lanche de pernil dos arredores

Endereço: rua Turiassú, 1.840, São Paulo

Próximo jogo: Palmeiras x Juventude, sexta, dia 1º, às 20h30. http://www1.folha.uol.com.br/folha/comida/ult10005u339668.shtml

Ainda na mesma linha de ―comida perversa‖ temos as comidas prontas e

congeladas, enlatadas e tantas outras que nos salvam quando estamos com fome e

com desejos que muitas vezes são inexplicáveis.

Não é porque é comida pronta congelada ou enlatada que precisa ser ruim,

geralmente possuem quantidade elevada de sódio, nosso temível sal, muita gordura

e conservantes, corantes, acidulantes, aromatizantes...chega! Ela tem muito sabor e

como NH diz sem culpa alguma:

...Em culinária, nos cabe falar do que se come. A "cuisine" depende de civilização, fartura de ingredientes, lazer, educação para comer. Enquanto isso vai se perdendo o passado, por falta de treino. Não cozinhamos mais. Não temos tempo. A culinária está se tornando um fenômeno sociológico. Ou se come fora, ou se engana, com um sanduíche, um lanchinho, uma comida congelada, um Miojo. E todo mundo entende que a vida é pouca para tanta correria. E a comida brasileira, comidinha de todo dia, arroz, feijão, legume cozido, salada, carne assada, purê de batata... Essa é a mais difícil de ser preparada, a que mais suja as panelas. É preciso um exército de empregadas para ter todo dia, no almoço e no jantar, uma refeição típica brasileira. O que se vai fazer?...(FSP, 01-09-95,

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/9/01/ilustrada/25.html).

E sobre a fome de noite, ―Fecha a geladeira, abre de novo e assim vai-se o

pudim inteiro; aconselho deixá-la aberta de uma vez‖:

ACONTECE NAS melhores famílias. O passeio à geladeira nas profundas da noite. Os resultados quase sempre são pífios se for fase de regime. Além da geladeira estar tendendo para vazia, só tem coisas que não lhe tentam absolutamente à noite. Ninguém se senta na cozinha para comer folhas de alface crocantes nem tem vontade de passar um peito de frango na frigideira. É uma fome da noite, ousada, curiosa, que não está nem aí para as convenções do que é bom ou ruim. Estamos sós no mundo escuro, longe do olhar reprovador do outro. A noite é nossa, como seria a de um ladrão sem escrúpulos.

Tupperwares fechados. É um empecilho ao assalto, chato ter que colocar tudo sobre a pia, abrir e fechar depois. Malditos, não sei quem inventou aquelas milhares de tampas e caixinhas desencontradas. Em geral são cheios de arroz, feijão, um bife à milanesa gelado, restos de uma salada. O mais perverso é o bife, que muitas vezes é retirado e colocado, frio, com maionese, no pão da manhã, muxibento. Uma boa Coca-Cola bem geladinha ajuda a descer.

O que mais revela sua potência noturna é a pizza. No micro-ondas não esquenta direito, mas, no forno, nem pensar. O negócio é aquecer no micro mesmo, de onde ela sai como se o menino do delivery tivesse caído num mangue e salvado a pizza napolitana para a eternidade das madrugadas.

O capítulo "doces" é bendito. São necessárias algumas colheres porque o glutão vai pegar uma colherada de pudim ou de musse de chocolate, só uma, só uma. Fecha a geladeira, abre de novo e assim vai-se o pudim inteiro, mas às colheradas.

Isso é eficiente também com requeijão e doce de leite. Aconselho deixar a geladeira aberta de uma vez, como um display de

supermercado. Diminui um tanto a culpa por não se escutar o bater repetitivo da porta. Pode-se espetar uma colher de plástico em cada doce e fazer uma degustação. Ter gelatina diet é o mesmo que não ter nada, é a sobremesa atlética, de almoços saudáveis.

Lá em casa tem sempre uma caixinha de insuportáveis kiwis. Em falta de melhor, é abrir, descascar e a cozinha é tomada por um momento de beleza se a fruta estiver bem madura. Vai-se cortando a pele marrom, rude, e um verde brilhante, sedoso, toma conta. Não que se esteja morrendo de vontade de comer aquilo, não é fruta da noite, muito fria e elegante. Se por acaso houver jaca no freezer, é uma pedida porque jaca gelada não tem cheiro, é sorvete com gosto bom. Mas nunca esquecer de guardar de novo porque o cheiro volta e começa a encher a casa de palmeiras e elefantes e "tantam" de tambores.

Maionese sempre tem e uns tomates maduros, que também vão bem com o pão velho. Cuidado com pão preto orgânico. À meia-luz, corre- se o risco de se confundir fungo com terciopelo, com veludo e, quando se vê, já se está toda fungada.

A dificuldade é fazer alguma coisa sem barulho. Ovo frito dá cheiro, o perigo é descer a família inteira para compartilhar, então, nada que precise ir para a panela, nada. Tem que ser direto, como um copo de bom leite bem gelado. Se quiser variar, pode pôr o leite num prato fundo e sobre ele pedaços de orelha de goiaba bem doce. O caldo da goiaba faz estrias no leite e fica uma delícia silenciosa.

Se não for preciso acordar cedo no dia seguinte, um saco de pipoca não é de todo mau, pipoca de micro é boa para acompanhar filmes da madrugada. Aliás, o horário nobre da TV.

Balas de coco são uma ótima comidinha noturna, misturando com equilíbrio culpa e prazer.

Se tivéssemos espaço, entraríamos no capítulo "embutidos", um dos mais solicitados à noite. Salaminho em fatias disformes com um pouco da cera do invólucro, por exemplo. Tem gente que se contenta com arroz e feijão frios. Não fica bem, é trash demais.

Não esquecer de escovar os dentes, o que neutraliza um pouco o

pecado (FSP, 13-05, 10,

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1305201021.htm)

E por aí vai: é a pipoca de cinema com extra de manteiga e sal, a fogazza de

quermesse, cachorro quente de barraquinha com os ingredientes sob o Sol e muito

escapamento de carro, salgadinhos de festa infantil que depois do terceiro todos tem

o mesmo gosto, mas que só paramos de comer quando somos chamados para

cantar parabéns; daí outro momento do bolo com sorvete na casca de biju,

brigadeiro, cajuzinho, beijinho...mesa de guloseimas, ufa! Quanta comida, boa! E

perversa, quantos quilos a mais, coronárias entupidas, pele oleosa, unhas

quebradiças, mas muito prazer e satisfação e como diz NH na sua última frase

citada acima, escove o dente que neutraliza um pouco o pecado.

A ―comida perversa‖ é uma gula pessoal que vai suprir desejos, necessidades

ou os dois e para continuar não se pode comentar das grávidas que possuem os

desejos mais estranhos conhecidos como melancia fora de época e claro à noite,

café com farofa pronta ou mesmo não querer comer aquilo que sempre gostou.

Em um estudo de Cláudia Saunders et al, 2009 diz sobre as preferências das

grávidas por alimentos e ―coisas‖ estranhas:

Na literatura nacional e internacional, vários termos são utilizados para descrever a desordem alimentar conhecida como pica, caracterizada pela ingestão persistente de substâncias inadequadas com pequeno ou nenhum valor nutritivo, ou de substâncias comestíveis, mas não na sua forma habitual. Além desse, outros termos são propostos, tais como: picamalácia, picacia, picacismo, malácia, geomania, pseudorexia, entre outros – todos com diferentes graus de descontrole do apetite. Outra definição para pica refere-se ao gosto por alimentos esdrúxulos, condimentos raros ou substâncias estranhas.

Dentre as perversões do apetite mais comuns encontram- se a pagofagia (ingestão de gelo), a geofagia (ingestão de terra ou barro), a amilofagia (ingestão de goma, principalmente a de lavanderia), o consumo de miscelâneas (combinações atípicas) e frutas verdes. No entanto, outras substâncias não alimentares também são referidas, como palitos de fósforo queimados, cabelo, pedra e cascalho, carvão, fuligem, cinzas, comprimidos de antiácidos, leite de magnésia, borra de café, bolinhas de naftalina, pedaços de câmara de ar, plástico, tinta, sabonete, giz, toalha de papel e, até mesmo, sujeira.

E NH atenta ao assunto fala sobre o hábito de algumas mulheres e em

especial das grávidas:

SAIU NA Folha como "Bolacha de barro é saída contra a fome". Numa pequena coluna, o repórter comenta que em Cité Soleil, bairro mais pobre de Porto Príncipe, uma mulher não se alimenta desde o dia do terremoto a não ser de bolachas de barro. Diz ela que vende as bolachas para os haitianos mais pobres, e são feitas de uma mistura de argila, manteiga e água não muito limpa, amassada em grandes bacias pela família. Depois, são modeladas como pires e secadas ao sol. Não são uma invenção pós-terremoto. A mulher aprendeu a fazê-las com a mãe, que aprendeu com a avó, que aprendeu com a mãe...

Sabia que já havia visto argila em saquinhos e em pedras de formatos diferentes à venda em mercados, já lera sobre o assunto e fui atrás de mais informações. Afinal, achei numa revista "Gastronômica" (Califórnia Press) de 2002. Na verdade, se forem pesquisar geofagia (prática de comer substâncias terrestres, como argila, frequentemente para melhorar uma nutrição deficiente em minerais), encontrarão um assunto fascinante e depoimentos interessantes de mulheres que não podem ver um muro de tijolos sem dar uma lambida, outras que já esburacaram toda a parede da

casa e aquelas que enchem a boca de água só em pensar no cheirinho de terra lavada depois da chuva. Mulheres são as principais comedoras de barro e argila em quase todo o mundo, como Nepal, África, Índia, América Central, Brasil, China e sul dos EUA. E as mais gulosas são as grávidas. O próprio desejo de comer o barro pode ser a indicação da gravidez (FSP, 28-01-10, http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2801201020.htm).

Como foi dito é uma comida que sabemos que faz mal ao corpo, pode causar

doenças graves, mas ela nos conforta de um mal ainda maior que pode ser a

angústia de uma notícia que não chegou, uma vazio que dói, uma ansiedade

incontrolável.

A mesma comida que pode trazer os malefícios da gula pode confortar a alma

e o coração, acalmar situações e ainda nos conhecermos melhor. Ela se torna a

maior companheira das aflições e acima de tudo nos mostra os outros caminhos, ou

seja, a ―comida perversa‖, nos faz deitar no divã e ser atendido pelo psicólogo dos

sabores e aromas.

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