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VEGETARIANISMO, CARNE & CIA

No documento Download/Open (páginas 110-115)

Outro tema importante a ser considerado na escola é o vegetarianismo (em

suas diversas formas), que, para além das meras considerações das ciências

usualmente ligadas à nutrição, desperta também discussões sobre visão de mundo

e estilo de vida.

Comecemos com as considerações de NH:

A palavra "vegetarianismo" foi cunhada em 1840 e se tornou oficial com o nascimento da Sociedade Vegetariana, em 1847. Viria para alguns do latim "vegetus" (vivaz, vigoroso, ativo, fogoso), interpretação que nunca pegou muito bem, porque o movimento sempre teve uma conotação de comida ruim, principalmente na época vitoriana, ligado a moralismos, tempero que tem por dom acabar com a melhor das comidas. (FSP, 24-10-02, http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2410200212.htm).

O assunto é hoje muito discutido em todo o mundo. Existem diversos tipos de

vegetarianos, tal como expõe o militante site SítioVeg

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Vegetariano: o vegetariano não come nada que implique em tirar a vida de um animal. O regime vegetariano não é, pois, exclusivamente vegetal e seu nome não se origina de alimentação vegetal e, sim, do latim vegetus que significa "forte", "vigoroso", "saudável".

Ovo-lacto-vegetariano: não consome nenhum tipo de carne, mas inclui ovos e leite (e derivados, como queijo, iogurte etc.) em sua alimentação. Esta é a forma mais "popular" de vegetarianismo. Lacto-vegetariano: não consome nenhum tipo de carne, mas inclui leite e derivados do leite (laticínios).

Vegano: os veganos excluem de sua alimentação todos os produtos de origem animal. Além de carnes, peixes, aves, laticínios (leite, manteiga, queijo, iogurte etc.), excluem ovos, mel, gelatina etc. Os veganos evitam o uso de couro, lã, seda e de outros produtos menos óbvios de origem animal, como óleos e secreções presentes em sabonetes, xampus, cosméticos, detergentes, perfumes, filmes etc.

Do ponto de vista de técnica dietética e da botânica, a alimentação comum a

todas as classes de vegetarianos está nos vegetais, o que comporta raízes (rizomas,

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bulbos e tubérculos) , caules, folhas, flores, frutos e sementes. Exemplos: gengibre,

cebola, mandioca, palmito, rúcula, cambuquira, quiabo e girassol respectivamente.

Claro que essas distinções (além de outras derivadas como a de se o tomate

é fruto ou fruta) podem propiciar interessantes discussões em sala de aula,

envolvendo diversas disciplinas

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.

Ainda sobre o vegetarianismo, diz NH:

Pitágoras era vegetariano e aprendera tudo em teorias do antigo Egito. Radical. Cereais, frutas, nozes - e se acabou velho, ativo e bonitão. Os admiradores dele foram atrás, se apavoravam com a matança inútil dos animais e morriam de pena das muitas ruindades praticadas contra as pobres criaturas, como furar os porcos com ferros candentes para amaciá-los, costurar os olhos de gansos para que engordassem no escurinho, meu Deus até onde vai a gula do homem! - Na Roma Imperial, por exemplo, a carne era status. Quanto mais carne, maior a folia da festa. Até hoje. (No bufê, se oferecemos um menu sem carne, sacodem a cabeça, será? Não fica pobre? E talvez fique). Além disso, se recusar a comer carne ia contra todos os valores da ocasião, era inclusive um insulto aos deuses que viviam do cheiro dela, da fumaça que subia dos sacrifícios assados e temperadinhos na grelha. (Espertos esses humanos que inventaram esse modo de sacrifício, quem parte e reparte fica sempre com a melhor parte). Lá se ia a fumaça para os deuses e a carne para os ofertantes. Às vezes, as vísceras ficavam também para os céus, mas, diga-se de passagem, parece que os deuses tinham lá seus problemas alimentares, preconceitos contra miúdos, porque jamais se ouviu falar que um desses sacrifícios tenha sido tocado pela mão ou boca dos homenageados. (FSP, 24-10-02, http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2410200212.htm).

Darko Veljan associa o vegetarianismo da escola pitagórica, os mathematikoi,

a uma busca de ascensão espiritual

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:

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. Tomate é fruto ou fruta dependendo da espécie e do amadurecimento. O outra questão que surge são os tipos de amadurecimento, basicamente dois: o natural e o artificial que é a adição do gás etileno, apresentado abaixo é composto de duas moléculas de carbono com dupla ligação e quatro moléculas de hidrogênio com ligações simples, lembrando que o carbono é tetravalente, ou seja, com quatro possibilidades de ligações.

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The mathematikoi lived permanently with the Society, had no personal possessions, and were vegetarians. They were taught by Pythagoras himself and obeyed strict rules. Among the beliefs of Pythagoras were these: (1) reality is fundamentally mathematical; (2) philosophy can lead to spiritual purification; (3) the soul can rise to union with the divine; (4) certain symbols have mystical significance; and (5) all members of the order should observe strict loyalty and secrecy.

E, ainda hoje, quem queira dar um toque ―espiritualista‖ a sua proposta

doutrinal, pode obter um diferencial, propondo-se como, em algum grau,

vegetariano. Da autenticidade de um Mahatma Gandhi ao folclórico tupiniquim INRI

Cristo.

Para além de considerações filosóficas e religiosas, e é necessário muito

cuidado ao tratar dessa dimensão em aula, NH, sempre atenta à base material da

vida humana, prossegue observando: ―É claro que muita gente foi e é vegetariana

sem querer, pois carne e leite são caros e muitas vezes escassos.‖

E é que há vegetarianos ―fáticos‖, que se submetem a tal estilo

exclusivamente por falta de dinheiro.

A alternativa para alimentar esses vegetarianos ―forçados‖ é a xepa que se

define pelas hortaliças e frutas não vendidas em feiras livres. Num estudo sobre o

assunto, Saglio-Yatzimirsky, 2006 diz em sua pesquisa:

Estratégias de compras – Na Maravilha (uma das favelas pesquisadas), as pessoas compram na feira. Vão "fazer a xepa" ou pegar o que sobra: folha de couve-flor, folha de cenoura, de beterraba. O problema é que as pessoas têm vergonha de pedir, e em geral mandam as crianças.

Segundo Instituto Akatu, 2004: Os números supracitados fazem do Brasil um

dos campeões mundiais de desperdício. Analisando estes dados de uma forma mais

simples, isso significa que uma casa brasileira desperdiça, em média, 20% dos

alimentos que compra semanalmente, o que remete a uma perda de US$ 1 bilhão

por ano, ou o suficiente para alimentar 500 mil famílias.

Prova deste desperdício financeiro é ressaltada pela 8ª Avaliação de Perdas

no Varejo Brasileiro, em 2007, que demonstra que os supermercados perderam

4,48% de seu movimento financeiro, em perecíveis. Além disso, uma estimativa

realizada pela Coordenadoria de Abastecimento da Secretaria de Agricultura e

Abastecimento do Estado de São Paulo indicara que perdas na cadeia produtiva dos

alimentos equivalem a 1,4% do PIB – Produto Interno Bruto.

Ainda

atenta

à

base

material,

diz

NH

(FSP,

09-12-10,

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0912201031.htm):

Com o preço do filé-mignon pulando 80% em 20 dias, começam certos efeitos salutares para o paladar.

Primeiro, a revalorização dos saborosos cortes da costela e da alcatra, entre outros -que, mesmo mais caros, custam menos que os famosos. Além dos cortes que se consideravam "de segunda", mais duros, do dianteiro, excelentes para panela e forno.

Outra consequência poderá ser a redescoberta dos miúdos e semelhantes (língua, fígado, rins), meio saboroso, nutritivo e barato de manter a paixão histórica da humanidade pela carne.

Para isso, porém, seria preciso que a causa perversa -a alta nos preços- não se reverta.

Como diz a própria NH, feijoadinha é uma jóia negra. Podemos aqui parar e

refletir sobre como se iniciou o consumo das vísceras.

Em apenas um assunto pode ser explorado um conteúdo além das ementas e

plano disciplinares, o aluno deve ter o direito de aprender pelas panelas e cozinhas

em seu cotidiano.

Como seu material didático deve conter além do lápis e caderno, uma avental,

utensílios de cozinha e ambiente propício como pia e fogão sob a supervisão de

uma adulto-professor. O assunto vegetariano é um banquete para o conhecimento e

a transdisciplinaridade.

A cozinha traz para quem a habita ou observa alguém cozinhando diversas

formas de socialização e faz que o conhecimento e o aprendizado se torne algo

comum, costumeiro, cotidiano.

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