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Dados os aspectos históricos, sociais e culturais atribuídos à es- cola e considerando-se que grande parte dos estudos acadêmicos provém de pesquisas no campo da Educação, fazia-se necessária a análise do modo como os espaços, processos e agentes escolares foram pensados nesses estudos que os relacionam às discussões sobre sexualidade.

Segundo Carvalho (2006), a Educação é considerada unanime- mente um dos principais veículos de socialização e de promoção do desenvolvimento individual. Para o autor, por estarem inseridos num contexto mais amplo, os sistemas educativos ilustram bem os valores que orientam a sociedade e o que esta quer transmitir.

Para Mafra (2003), ao se referir às pesquisas que tomam a escola como objeto de estudo de forma efetiva, devem-se pensar:

os processos mais particulares e contingentes da escola, privile- giando as análises culturais do cotidiano, os acontecimentos, as in-

terações sociais, as relações de poder, as vivências escolares, os saberes constituídos, reproduzidos e transformados no seu inte- rior, que fazem dessas escolas instituições marcadamente dife- rentes de outra. (p.127)

Diante disso, de início foram levantados os eixos temáticos tra- balhados nas pesquisas e, em seguida, procuramos relacioná-los às discussões efetivamente ligadas às dinâmicas do trabalho escolar. Assim, a partir de análise transversal dos enunciados presentes na base documental, cruzando-os e comparando-os, buscando suas relações com temas, objetos e teorias diversas, chegamos à elabora- ção dos seguintes eixos temáticos: a) políticas (públicas), currículo e discurso; b) representações, concepções e práticas dos agentes es- colares; c) identidade e diversidade sexual; d) formação docente; e) gravidez e saúde sexual/reprodutiva.

Analisados, organizados e classificados, os resumos demons- tram, em primeiro lugar, um relativo equilíbrio entre os eixos (a) e (b), sendo superados quantitativamente apenas pelo eixo (e). Ob- servamos também que os eixos (c) e (d) não tiveram uma represen- tatividade tão significativa quanto os demais.

Assim, na mesma proporção em que os trabalhos na área da Saúde tiveram um significativo aumento nas discussões sobre Edu- cação Sexual, houve também um aumento semelhante no conjunto de trabalhos que abordam questões relativas à gravidez e à saúde, mesmo entre aqueles produzidos no campo da Educação.

Outro ponto analisado foi a importância atribuída às institui- ções escolares nesses trabalhos que se propunham a discutir as- pectos relacionados à educação. Apesar de haver uma tendência de se discutir tais questões em programas de pós-graduação em Edu- cação, ficou evidente nas análises a superioridade no número de trabalhos que confirmavam uma visão das questões relacionadas à sexualidade como fatores criados e transmitidos fora dos muros da escola. Aquilo que acontece, de modo mais particular, no âmbito cultural e organizacional das escolas ainda é pouco investigado e analisado, apesar de essas discussões terem uma importância in-

questionável naqueles estudos que se dispõem a reconhecer as- pectos diversos da vida de uma parcela da população que pretende analisar e, coincidentemente, também faz parte do ambiente es- colar. Portanto, os resultados são menos relevantes em relação a uma perspectiva de análise da organização escolar como um todo e o conjunto de elementos que a constitui, visto que nesses estudos destacam-se, principalmente, os que privilegiam o trabalho no es- paço escolar apenas para o desenvolvimento de pesquisa sobre jo- vens, visto que lá eles se reúnem com regularidade, sem que os focos da pesquisa sejam a escola e as questões ligadas a ela. Por- tanto, há, nesse conjunto de pesquisas, uma grande representati- vidade daquelas que se propõem a analisar alunos, professores, a família dos alunos, questões de gênero e diversidade sexual, entre outros elementos da ordem escolar, sem que se pense a própria es- cola e as teias que se tecem em seu interior como significativas para as questões relativas à Educação Sexual.

Alguns estudos, porém, já se comprometem a reconhecer a es- trutura do trabalho escolar como um todo e os aspectos culturais produzidos e transmitidos na e pela própria escola. Esses trabalhos, por um lado, envolvem análises sobre o conjunto de indivíduos e dos elementos constituintes do espaço escolar, como alunos, pro- fessores, gestão, currículo e as dinâmicas de seu funcionamento. Por outro lado, tratam tais aspectos como parte do conjunto de fa- tores que constituem a escola e podem ser entendidos como repre- sentativos de uma cultura própria, criada e transmitida dentro de seus espaços. Esses estudos, apesar de terem se apresentado em menor número se comparado ao modelo anterior, enfrentam um desafio maior e um campo de análise vasto que, aparentemente, ainda é pouco explorado.

Pensamos que esse modelo de análise da escola e, por con- seguinte, da educação escolar no campo da sexualidade, pode trazer à tona questões especificamente ligadas a essa instituição, pos- sibilitando que sejam discutidos temas relevantes aos processos educacionais da forma como são concebidos dentro dos espaços es- colares. Tal ênfase permite verificar como são problematizadas as

questões envolvidas com mudanças e novas propostas para um mo- delo de escola que trabalhe as expectativas de formação e atuação de todos os sujeitos e elementos nela incluídos. No que tange à Educação Sexual, essa visão é uma ferramenta indispensável aos estudos que se proponham a reconhecer as questões ligadas à se- xualidade evidenciadas no ambiente escolar, tanto de forma sis- temática e intencional como aquelas que ocorrem nas interações entre os diversos agentes, nas falas e nos silêncios, nas transgres- sões e nas acomodações, nos trajes e nos comportamentos, tanto na sala de aula como nos demais espaços que compõem a escola.

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