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2.3 Comportamento estratégico de internacionalização: um framework

2.3.5 Como se internacionalizar?

A decisão da maneira de se inserir e se envolver internacionalmente, em certa medida da escolha do foreign market-servicing strategy (BUCKLEY, 1998), decorre tanto de fatores econômicos quanto comportamentais e estratégicos, como analisado pelo Paradigma Eclético, Modelo de Uppsala e teorias das networks e networks resources. Pela perspectiva econômica, o Paradigma Eclético retoma a questão ao incorporar os estudos de Coase (1937) e Buckley e Casson (2002), considerando que a empresa decidirá por se internacionalizar via realização de investimento direto por motivos atrelados aos benefícios (vantagens) da internalização (I). A partir de tais proveitos, conforme argumentado por Dunning (2002f), a justificativa de uma empresa para realizar investimentos no exterior em função de suas vantagens de propriedade (O) só será tida como rentável quando a sua coordenação e sinergias internas na alocação desses recursos e ativos forem superiores a sua realização por meio das transações com o

Origem Destino Vantagens de Localização (L) Vantagens de Localização (L)  Políticas governamentais (incentivos; apoio; subsídios; proteção; entre outros), tais como: tecnológica, de comércio exterior, de apoio à internacionalização.  Diferenças de preços (insumos; matérias- primas);  Qualidade de insumos e fatores; potencial de mercado;  Custos de transporte, comunicação infraestrutura;  Distância física, cultural

etc.; barreiras comerciais;  Distribuição geoeconômica

dos fatores; políticas governamentais.  Conhecimento;  Práticas;  Experiências;  Informações;  Recursos;  Familiaridade. Distância Psíquica Inserção em Redes

mercado. Nesse sentido, as vantagens de internalização (I), como demonstradas, determinam a escolha das empresas em se inserir internacionalmente internalizando a produção, isto é, constituindo ativos de sua propriedade e controle no exterior pela realização de investimento direto estrangeiro.

Torna-se evidente que, pelos propósitos do Paradigma Eclético, essas vantagens são analisadas à luz das decisões que levam à escolha das formas de investimento. Contudo, não obstante essa predileção, é implícito, por todo arcabouço teórico desenvolvido, que as vantagens de internalização (I) permitem às empresas decidir se irão explorar as suas propriedades (O) direta e internamente sob seu controle (investimento), ou utilizando o mercado para isso, via contratos com terceiros, ou, ainda, pelas exportações. Esta questão fica mais clara no trabalho de Guisinger (2001), que, em revisão aos trabalhos de Dunning, propõe migrar as vantagens de internalização (I) para as de modos de entrada (M), uma vez que é imediatamente perceptível que a internalização direciona as empresas a selecionar os seus modos de inserção e não necessária e exclusivamente o investimento direto estrangeiro – este seria apenas uma das escolhas pelas vantagens da internalização em detrimento de outras formas. A ideia é pertinente, pois, não apenas amplia o escopo de possibilidades operacionais de entrada no estrangeiro, como possui as suas determinantes de escolha fundamentadas na abordagem dos custos de transação, além de variáveis comportamentais; o que agrega elementos teóricos pertinentes das abordagens. Entretanto, é relevante ressaltar o seu viés da análise.

Como é possível de ser notada nos estudos de Dunning (2002f) e de Guisinger (2001), a construção analítica de seus referenciais é sempre centrada na entrada em mercados estrangeiros. Ou seja, ainda que o primeiro esteja restrito somente aos investimentos (Dunning) e o segundo em outras formas (Guisinger), é ponto comum que ambas incluem apenas as expansões internacionais de “dentro para fora”; isto é, movimentos de saída. Não há a incorporação dos possíveis envolvimentos e expansões organizacionais e operacionais realizados “de fora para dentro”, como é o caso evidente das importações. Logo, uma vez que se considera, para efeitos da presente tese, um conceito mais abrangente de internacionalização, assim como a noção de que o foreign market-servicing strategy diz respeito à forma como um empresa se vincula ao estrangeiro por meio de operações internacionais, a denominação a ser adotada, porque mais adequada, será a de vantagens de modos de operação (M) e não apenas de internalização ou de entrada, computando, em suas

estratégias operacionais comerciais, as importações, bem como as direções realizadas “de fora para dentro” em outras operações possíveis, tais como ser contratado ou receber aporte de investimento.

Não obstante a questão e relevância de tais vantagens, faz-se importante destacar que, na abordagem comportamental, como analisado, a seleção do modo de entrada também ocorre pela distância psíquica percebida e pelos conhecimentos e experiências acumulados nos mercados estrangeiros, assim como pela participação em redes de relacionamento (networks). A experiência de mercado, adquirida via conhecimento prático, juntamente com a aprendizagem organizacional propiciada, diminuem a distância psíquica percebida, que se torna um conceito dinâmico (JOHANSON; VAHLNE, 1990). Ademais, a maior exposição aos mercados possibilita práticas e inserção em redes (networks) no exterior, servindo de pontes para outros mercados, assim como fatores de confiança para os executivos optarem por avançar no envolvimento e no comprometimento de recursos das empresas no exterior (ELLIS, 2000). Processo que, de acordo com Johanson e Vahlne (2009), também é propiciado na origem, principalmente na participação de redes capazes de constituir ativos estratégicos informacionais e de recursos. Por conseguinte, pode-se concluir que os processos de engajamento em redes de relacionamento nos mercados de origem e de destino não apenas influencia o momento (quando) de se internacionalizar, mas também irão afetar a escolha pelo modo de entrada e operação (como).

Todavia, é necessário ponderar sobre os seus efeitos nos modos de operação. Conforme demonstrado por Ellis (2008), não foi encontrada correlação entre distância psíquica e sequência de modos de entrada; porém, os dados revelam que a distância psíquica exerce grande efeito moderador nessas escolhas. Como tratado anteriormente, a distância psíquica não deve ser considerada única preditora, mas moderadora, contrastado com variáveis econômicas, principalmente as vantagens de localização (L), e as comportamentais e estratégicas, em que se destacam a participação em redes de relacionamento. Não se trata de uma dimensão imutável, mas sim constantemente reordenada por um conjunto de fatores experienciais, institucionais e de aprendizagem, que normalmente é proporcionado por diversos canais e ações, sejam individuais, coletivos e/ou governamentais.

No limite, os entraves nos fluxos de informação entre origem e destino devem ser entendidos como um dos fatores que propiciam a empresa a caminhar cautelosamente em terreno

desconhecido (CARLSON, 1975), o que se altera substancialmente com a posição da empresa nas redes nacionais e internacionais de relacionamentos. Neste sentido, não se descartam totalmente os impactos da distância psíquica; há apenas a sua relativização. Até porque, como evidenciado por Barkema, Bell e Pennings (1996), as empresas, em seus modelos de expansão internacional, são impactadas e corroboram dimensões-chave da Escola Nórdica deste conceito: elas se deparam com barreiras culturais, aprendem com suas experiências prévias a partir do momento que vão gradualmente se expandindo por novos espaços culturais e descobrem que padrões de expansão centrífuga são mais exitosos do que estratégias aleatórias. Conforme observado na Figura XII.

Figura XII – Processo de escolha do modo e forma de operação e atuação

Fonte: elaborada pelo autor a partir de Dunning (2000; 2002f), Guisinger (2001), Barkema, Bell e Pennings (1996), Elango e Pattnaik (2007), Boehe (2011) e Coelho e Oliveira Junior (2012).