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3 QUEM SÃO ESSAS MULHERES?

4.5 Como será na hora em que

Esse tópico diz respeito ao eixo como as jovens pensam o prazer sexual. Neste, as respostas dadas levam a entender que sobre esse tema as interlocutoras compreenderam especificamente sobre quais ideias e pensamentos estão presentes antes e durante o momento da relação sexual. Apenas uma respondeu sobre o que sente no momento do contato íntimo, como sendo “fogo”, sensação essa que se interpreta como sendo tesão.

Desse modo, o que as jovens pensam antes e durante a relação sexual com o namorado ou marido, encontram-se respostas desde pensar que não vai perder a virgindade, como também ser um momento de muita adrenalina e realização de fantasias.

Quadro 5 - Prazer sexual

INTERLOCUTORA PERGUNTAS RESPOSTAS

Alexandra (18) Anna: quando você tá com seu namorado tendo intimidades o que você pensa?

Penso que não vai acontecer nada.

Ariane (18) Anna: Agora eu me

lembro que você disse que nunca teve namorado.

Nunca disse pai, mãe tô namorando.

Anna: nem namorinho? Nunca, nunca passou na minha cabeça, nunca tive nem juízo e nem cabeça pra isso não. É nem por medo, porque meu pai fala que é normal, que vai chegar o tempo, porque se eu tiver um namorado eu chego e falo logo, tenho frescura não, pra quê? Ficar arrodeando. Muito difícil pra mim ficar com um menino, eu vejo o que minha prima passou, eu vejo que minha amiga passou, foi até aqui na avenida todo mundo aqui brincando, se divertindo, todo mundo com 13, 14 anos, não com 16,17,18 tinha a irmã da minha amiga que no caso ela tinha 20, 22 anos, tava até minha mãe e meu pai junto, a gente subiu e desceu, e depois encostou na mesma barraca que meu pai e minha mãe estava e ela estava com namorado e ela não tava tão animada como a gente estava, aí minha mãe disse: tá vendo aí, tá vendo ai, por isso que ela não namora, aí meu pai, daqui a pouco chega o tempo dela

Lisa (19) Anna: que eu saiba, você hoje tá apaixonada por uma menina.

É.

Anna: E o que está acontecendo no relacionamento entre vocês? Assim, durante as intimidades?

(Risos) nada. A gente fica abraçadinha, lá no antigo, ela pega na minha mão e só. Nunca ficamos sozinhas.

Nala (17) Anna: quando você está com seu namorado tendo intimidades, o que você pensa?

Penso no medo que tô sentindo de minha mãe descobrir. Dá uma adrenalina!

Fernanda (22) Anna: quando você tava casada como era a transa com ele pra você?

A gente tinha muita fantasia sabe? E a gente de vez em quando fazia umas.

Lua (17) Anna: apesar de sua

história sobre como perdeu a virgindade, como é a hora da transa pra você?

Antes eu não gostava muito não. Vivia trocando de

namorado quando começava a querer fazer alguma coisa comigo. Aí o pessoal me chamava de puta, porque eu vivia trocando de namorado. Agora com esse namorado não tenho problemas. Tô gostando mais de transar.

Helena (19) Anna: quando você tava casada e antes mesmo no namoro como era a transa com ele pra você?

Muito fogo. Muito fogo. Era só pra realizar fantasias.

Fonte: Formatação da autora

Sobre as falas das jovens a respeito do prazer sexual, encontra-se em cada interlocutora uma experiência diferente não permitindo aproximá-las em alguma categoria, mas dar um tratamento individual a cada narrativa. Ou seja, cada interlocutora relata uma experiência, um modo particular de sentir, pensar e expressar sobre o tema.

Desse modo, Alexandra (18) no momento de contato íntimo com o namorado referiu “Penso que não vai acontecer nada”. A fala desta interlocutora diz respeito a ser neste momento em que ela potencializa a ideia que vem mantendo de não ter relações sexuais com o namorado, para evitar um possível matrimônio, caso a família descubra que não seja mais virgem. Desse modo, pode-se observar que em algumas jovens o controle da sexualidade acontece através de um pensamento presente durante as trocas de carícias com o namorado, no qual consegue controlar os próprios impulsos sexuais durante esses momentos.

Por outro lado, Ariane (19) revela não pensar sobre prazer sexual “Nunca, nunca passou na minha cabeça, nunca tive nem juízo e nem cabeça pra isso não.” O argumento apresentado pela interlocutora está mais próximo de uma justificativa pela qual não namora, do que especificamente conseguir definir o que seja prazer sexual. O argumento-base está vinculado ao que ela percebe como relações de gênero. Ou seja, ao referir a situação vivenciada pela amiga, numa saída com o namorado e grupo de amigos, percebeu que a jovem não se encontrava à vontade, não se comunicava e se expressava com liberdade, concluindo que a

aproximação do namorado controlava a espontaneidade da amiga. Deste modo, a interlocutora teme perder a liberdade que acredita ter, quando arrumar um namorado. Pois as relações desiguais de gênero dita normas diferentes para mulheres e homens.

Já Nala (17) revelou que o medo de ser descoberta pela mãe a respeito da sua não virgindade lhe faz sentir como se estivesse numa aventura, arriscando-se, em um momento de perigo - “Penso no medo que tô sentindo de minha mãe descobrir. Dá uma adrenalina!”. É possível supor que para além dos sentimentos e desejos devotados ao rapaz, Nala aprecia a sensação de adrenalina causada pela suposição a respeito da mãe descobrir que vem mantendo relações sexuais. A relação sexual quando presente tesão e medo, juntos provocam a sensação do perigo por estar fazendo algo não aceito pela mãe proporcionando mais prazer.

A figura da mãe nas narrativas desta interlocutora tem importância primordial para compreender o controle da sexualidade das jovens, pois é a mãe quem reproduz a opressão com a filha que um dia já sofreu enquanto jovem. Assim, o ciclo de um opressor, oprimir outro, constitui uma hierarquia de opressões, no qual não há uma figura que finalize em si a opressão, pois irá oprimir alguém em posição inferior à sua (SAFFIOTI, 1997).

Para Fernanda (22) e Helena (19) o modo que elas utilizaram para falar de prazer em suas relações foi através da realização das fantasias “A gente tinha muita fantasia sabe? E a gente de vez em quando fazia umas” e “muito fogo. Muito fogo. Era só pra realizar fantasias”, respectivamente. Segundo as interlocutoras, as fantasias que mais realizavam era ter relações em locais da praia, principalmente entre as pedras à beira mar, sendo esse espaço bastante utilizado pelos casais da região de acordo com Helena. Desse modo, compreende-se para estas interlocutoras um dos caminhos do prazer sexual acontece pela realização das fantasias do casal, uma vez que há um favorecimento do local para estas práticas. Por ser um lugar de praia, sem iluminação noturna na praia, com rochas e boa vegetação, possibilita para o casal realizarem as fantasias sexuais sem serem descobertos por outros moradores.

A interlocutora Lua (17), relatou não gostar de ter relações sexuais devido à violência sexual que sofreu. As lembranças do estupro que ruminavam em sua memória, impediram-na de, nos namoros que sucederam o estupro, manter relações sexuais, levando-a a terminar com os namorados toda vez quando eles sinalizavam terem relações sexuais. Os namoros breves, devido a esse cenário e arrumando outro parceiro em seguida, fez com que resultasse infelizmente na fama de “puta”, pois sempre estava com um namorado novo.

A lógica das relações desiguais de gênero não possibilita às mulheres, da mesma forma que permite aos homens, as trocas constantes de parceria. À mulher cabe relacionamentos duradouros e quando o namoro termina, não deve arrumar outro namorado em seguida. Pois

segundo a mesma lógica, a consequência é a difamação, pelo comportamento “promíscuo” da jovem, enquanto o homem, o mesmo comportamento é considerado positivamente e afirmador do modelo masculino heterossexual.

No entanto, com o namorado atual a interlocutora afirma, “Tô gostando mais de transar”. Segundo a interlocutora em roda de conversa, referiu que este namorado era bastante paciente, respeitava o tempo dela, e ciente do estupro, não insistiu para que iniciassem a relação sexual, atitudes que a deixou mais segura para tomar a decisão sobre se queria ter a relação e quando aconteceria. Porém, na fala da jovem sobre estar gostando de transar, tem como significado o fato de estar aprendendo e compreendendo nesta relação que pode haver respeito quanto à vontade dela, e que seu consentimento para transarem é valorizado. Diferentemente da violência que sofreu na casa do professor de dança, em que confiava nele e mesmo sem o consentimento da jovem, assistiu à cena de estupro praticado por um rapaz que ela estava interessada.

Percebe-se a violência sexual sofrida pela interlocutora como fruto de uma cenário cultural machista, em que o corpo da mulher, “pode” ser violentado para realização do prazer masculino. De tal modo que, não importa os meios para que se obtenha esse prazer, e o aniquilamento da mulher é um fato em uma cena como a que se dá o estupro. A cultura do estupro (SOUSA, 2017) é legitimada pelo pensamento que atitudes e vestuário da mulher, é um “convite à violência”, provocando inclusive a criminalização das vítimas. E no caso da interlocutora, apenas a atração sexual que sentia pelo agressor, foi o “motivo” para “acharem” que ela “queria” que a violência acontecesse. Observa-se este pensamento através da postura do professor de dança que, pela relação que mantinha com a aluna e pela função que ocupa, deveria ter protegido, evitado a violência e acolhido a aluna, mas ele compactuou com o crime, uma vez que também é produto e produtor da cultura machista.