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3 QUEM SÃO ESSAS MULHERES?

4.6 Prevenção gravidez e Prevenção DST

No eixo noções e o exercício da contracepção e prevenção das DST, as falas das jovens variaram em relação ao uso do preservativo para se prevenir de uma gravidez separado da prevenção DST. Ou seja, as falas das jovens quando perguntadas sobre como você vem realizando a prevenção contra gravidez e DST, havia uma maior prontidão para respostas que dessem conta de falar sobre a prevenção da gravidez, separando ou excluindo a prevenção das DST, sendo necessário iniciar uma nova pergunta que pudesse colher dados sobre como a jovem vem realizando a prevenção das DST.

Quadro 6 - Respostas sobre prevenção à gravidez e DST’s

INTERLOCUTORA PERGUNTAS RESPOSTAS

Alexandra (18) Anna: Quando tu namora quando tu fica, e você diz: não vai rolar nada. Né? Não vai ter nada. Mas como você pensa em se prevenir? Tu pensa em que assim?

Como assim?

Anna: Quais métodos você vai usar para se prevenir da gravidez e da DST?

Não. Tem que ter camisinha.

Anna: Com camisinha Tenho medo de engravidar. Deus me livre! Essas coisas sou meio traumatizada. Ariane (18) Anna: Você já pensou alguma

vez sobre método para

prevenir gravidez ou doenças? Alguma vez na vida?

Não. Nem penso em namorar e essas coisas é que nem penso mesmo. Lisa (19) Anna: Você acha que um dia

vai usar algum método de prevenção contra doenças ou até mesmo gravidez?

Não sei.

Nala (17) Anna: como você está se

prevenindo atualmente? Que método você tá usando com seu namorado?

A gente usa camisinha.

Anna: E já aconteceu de na hora vocês não terem a camisinha e mesmo assim terem a relação.

Já.

Letícia (23) Anna: Você disse que casou virgem e só teve a primeira relação na lua de mel?

É.

Anna: e vocês estão juntos mais de dois anos?

É sim. Anna: E qual método

preventivo contra gravidez e doenças vocês usavam?

Comecei tomando injeção.

Anna: qual? A de um mês? Ou de três meses?

Não, a de um mês. Fernanda (22) Anna: quando você estava

casada, você se prevenia contra doenças? Fazia uso de métodos para não engravidar?

Sim. Na primeira vez usei camisinha e depois de um tempo eu parei.

Anna: o que? Anticoncepcional. Anna: usa atualmente? Não. Parei quando me

separei. Mas, quando eu fizer relação de novo volto a usar.

Lua (17) Anna: você costuma se

prevenir contra gravidez ou doenças com o seu atual namorado?

Tive duas relações a primeira foi com

camisinha, e a segunda não usei. Tô até com medo de tá grávida.

Helena (19) Anna: faz pouco tempo que estais separada né? Você se prevenia durante as relações com seu marido?

A gente usava camisinha. Mas, depois que eu fiquei sabendo da traição fiz tudo que era exame.

Fonte: Formatação da autora

Sobre as falas das jovens pesquisadas quando perguntadas sobre prevenção, encontra- se como primeira resposta prevenir-se contra a gravidez. De acordo com a fala de Alexandra (18) “Tenho medo de engravidar. Deus me livre! Essas coisas sou meio traumatizada” tal resposta aparece em primeira mão muito em função de a responsabilidade sobre a contracepção ser ainda um cuidado feminino, desse modo, a mulher é quem teme engravidar e, assim, “quem deve” se responsabilizar pela contracepção. As relações desiguais de gênero acabam por ir constituindo sujeitos que vão reproduzindo os papéis tão desiguais difundidos para homens e mulheres.

No que diz respeito ao tipo de contracepção, as jovens pesquisadas estão utilizando a camisinha, a pílula e a injeção mensal. No entanto, a camisinha surge nas seguintes situações: a) na primeira relação sexual, como no caso de Alexandra (18) “Tem que ter camisinha”, no qual ela apresenta a pretensão de usar; b) na situação em que a camisinha está presente na primeira relação sexual, como Fernanda (22) que narra: “Sim. Na primeira vez usei camisinha e depois de um tempo eu parei” e Lua (17) “Tive duas relações a primeira foi com camisinha, e a segunda não usei”, e c) no uso da camisinha intermitente, ou seja, ela pode estar presente na cena ou não, como no caso de Nala (17) que ao se perguntar sobre o fato de ter tido relações sexuais sem usar camisinha, ela responde “já”. Assim como Helena (19) que referiu sobre o uso da camisinha com o marido “A gente usava camisinha”.

No entanto, o dado que chama a atenção é o fato da camisinha estar presente na primeira relação sexual e depois sair de cena, como no caso de Lua (17) e Fernanda (22). Com Lua, a ausência da camisinha acontece na segunda relação sexual, despertando inclusive o medo de estar grávida, narrado durante a entrevista: “Tô até com medo de tá grávida”. No caso de

Fernanda (22), a camisinha é abandonada durante o relacionamento com o marido, sendo substituída pelo anticoncepcional e, com o fim do relacionamento, abandonou a contracepção porque está sem namorado, revelando a volta ao uso depois que estiver num relacionamento em que ocorrerá a relação sexual.

Por outro lado, encontramos duas interlocutoras que não referem uso de nenhum método contraceptivo, Ariane (18) e Lisa (19). Ariane conta que não pensa sobre o fato de usar um dia, por que não pensa em namorado, em namorar, sendo por consequência não pensar em métodos contraceptivos. Já Lisa ao responder “não sei” sobre se acredita que um dia utilizará algum método contraceptivo ou para prevenção de doenças, pelo fato de, durante todo o momento da pesquisa de campo (rodas de conversas/ entrevista), a jovem se encontrava enamorada de outra jovem, desse modo não haveria riscos de uma gravidez. No entanto, desconsidera outros riscos, como os relativos às DST mesmo vivendo uma relação lésbica, muito em função de acreditar não haver riscos de contaminação numa relação entre mulheres.

O que se observa a partir dos dados acima apresentados sobre os sentidos da prevenção contra a gravidez ou DST entre as jovens interlocutoras, é que para elas dada a natureza das suas práticas afetivo-sexuais, ou seja, circunstanciadas nas relações de namoro ou casamento, dificultam a percepção sobre a possibilidade de para além de uma gravidez, o contato com uma possível DST.

A preocupação só vem à tona quando acontece algum fato e se deparam com uma ameaça, como no caso de Helena (19), que o uso da camisinha durante os cinco anos de relacionamento serviu para impedir a gravidez, mas ao flagrar o marido com prostitutas, dá-se a preocupação real da possibilidade de contrair uma DST.

Percebe-se a partir dos dados acima apresentados, que há uma adesão ao uso da camisinha, mesmo que intermitente, e uma preocupação maior das jovens com a gravidez. Compreende-se que no campo da saúde reprodutiva e saúde sexual há uma desigualdade relativa a vida das jovens, devido a presença de uma grande preocupação para não engravidar em detrimento da preocupação com a prevenção as DST’s. Acredita-se que uma melhor aplicação das políticas públicas que consideram a saúde reprodutiva e saúde sexual das adolescentes em espaços como escolas e unidades de saúde, contribuiriam para minimização dessa disparidade com relação a prevenção das DST’s. Por outro lado, acredita-se numa intervenção que leve em conta as relações desiguais de gênero que as jovens vivenciam no campo da sexualidade, no sentido de minimizar a responsabilidade para elas no quesito gravidez e chamar a participação dos rapazes também.