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Como surgiu o NVDA e seus Objetivos e Princípios

3 A RESISTÊNCIA DOS DEFICIENTES EM LUTAREM PELOS SEUS DIREITOS

3.5 História do Dosvox e NVDA Leitores de Telas Gratuitos

3.5.2 Como surgiu o NVDA e seus Objetivos e Princípios

O NVDA foi iniciado em meados de 2006, pelo jovem australiano Michael Curran, de apelido Mick (pronuncia-se maik). Mick então cursava o segundo ano de bacharelado em Ciência da Computação, mas muito tempo antes ele já percebera as distorções e mazelas que cerceiam o acesso das pessoas cegas, mais especificamente no campo tecnológico.

Sendo ele cego, foi obrigado a comprar um leitor de tela comercial para uso pessoal, profissional e estudantil. Apesar de esse leitor proporcionar acesso relativamente ótimo aos computadores que Mick precisaria usar, com o passar do tempo e convívio com pessoas em situação semelhante mundo afora, pelo menos três problemas ficaram claros para ele:

1- O alto custo financeiro desses produtos impõe sérias restrições a muitas pessoas, de maneira calamitosa, nas nações menos afortunadas do planeta.

2 - Questão de ordem técnica, diz respeito ao condicionamento dos usuários cegos às políticas e ideias das empresas específicas que desenvolvem o software assistivo. Por mais excelentes que sejam as soluções encontradas por um determinado fabricante

de software, cada pessoa em particular, como usuária e também consumidora, sempre ficará insatisfeita com algum detalhe, isso porque essas soluções geralmente são designadas para atender a todos de modo genérico e não específico. Como a licença desses softwares é quase sempre restritiva, torna-se impossível a cada usuário ou grupo de usuários adaptarem o software em questão àquela necessidade em específico.

3 - Finalmente, o principal problema envolve aspectos morais e éticos. No caso que estamos tratando, não é justo que as pessoas cegas tenham de providenciar sozinhas os meios necessários e arcar por si só com os custos das soluções assistivas, para dispor de acesso às mesmas informações que as demais pessoas dispõe proporcionadas pela tecnologia. Sabendo disso, muitos optam por adquirir cópias ilegais desses softwares, o que, por um lado ameniza os gastos financeiros, mas de outro mantém a sujeição desses usuários às políticas do fabricante daquele software, além de ferir a licença outorgada por esse fabricante.

Em razão de tudo isso, Mick resolveu abandonar por completo a faculdade de Ciência da Computação e dedicar-se a um projeto capaz de solucionar esses e outros problemas de quem necessita trabalhar em sistemas Windows, que são dominantes entre os sistemas operacionais no mercado atuais.

Para atingir esse objetivo, Mick decidiu iniciar o desenvolvimento de um leitor de telas para Windows, estabelecendo alguns princípios básicos a serem seguidos:

◦O leitor deve ser gratuito, com o fim de facilitar a disponibilidade do mesmo e o acesso de qualquer pessoa aos mesmos sistemas dos demais leitores de tela sem custos adicionais e exorbitantes;

◦O leitor deve ser licenciado de modo a que qualquer pessoa capaz do mundo possa contribuir para a melhoria e aperfeiçoamento deste, como adaptá-lo às necessidades específicas e redistribuí-lo, se for o caso.

◦O leitor deve sempre permanecer aberto a novas ideias, sugestões e experimentos provindos de todas as partes do mundo, a fim de não limitar- se ao que já foi tentado nos produtos comerciais similares.

◦O leitor deve, na medida do possível, seguir um "design" de fácil entendimento para programadores iniciantes, sem deixar de oferecer uma arquitetura poderosa e flexível ao máximo, que permita melhorar e implementar mais recursos e portar o programa para outros dispositivos e sistemas proprietários, quando for o caso.

Mick chamou, então, esse leitor de "Non Visual Desktop Access" ou NVDA, e escolheu como licença a largamente reconhecida e consagrada GPL (sigla em Inglês para "LICENÇA PÚBLICA GERAL GNU"), de autoria da Fundação para o Software Livre e adotada pelos sistemas GNU/Linux e outros.

Como linguagem de programação ele escolheu a Python, uma linguagem de fácil aprendizado e ao mesmo tempo riquíssima em recursos, usada inclusive internacionalmente por muitos professores universitários para introduzir estudantes de ciência da Computação ao universo da programação de computadores36.

As duas Histórias de vida de ambos os universitários Australiano e o Brasileiro são totalmente paralelas, já que o Sistema Dosvox não é considerado um

leitor de tela, porém ele tem um leitor de tela chamado munitivox, E O NVDA é um leitor de tela global com diversos idiomas e podendo ser utilizados em uma gama de infinidade de aplicações em produtos variados, por ter um código livre aberto para alterações. Como podemos notar, a diferença educacional do Brasil em relação à Austrália é gritante, pois a Austrália é considerada um país de primeiro mundo dando assim mais possiblidades para a inclusão e o poder econômico dos cidadãos são superiores do que os dos brasileiros. Mesmo assim, o graduando australiano solidário com as outras pessoas com deficiência visual dos outros países que não têm tanto recurso para comprar um leitor de tela restritivo, onde a sua aplicação é por computador e não podendo ser de uso doméstico e profissional. Esse uso só seria possível se o sujeito que adquirir a licença use apenas um computador em casa ou no trabalho. Então, o estudante australiano acabou com esse monopólio das empresas fabricantes de leitores de telas. Ele inovou, pois quando uma tecnologia é lançada os deficientes normalmente não são lembrados e daí vinha alguma empresa criando algo específico que possibilitava o uso por pessoas com deficiência. Logo, o sujeito com problema visual teria que arcar com o gasto extra. Além do objeto teria que ter um adicional para dar acessibilidade. Já na atualidade temos empresas que já produzem seus produtos com acessibilidade são os casos dos smartphones que já vem com um leitor de telas nativo de fábrica. E como são sabidos, esses aparelhos tem inúmeras aplicações como GPS, entretenimento, educação notícias e possibilita pagamentos de contas lerem faturas impressas que chegam à sua residência e também, até auxiliam nos transportes, possibilita o sujeito com problema visual a tirar fotografia com autonomia dentre outras aplicações que surgem constantemente.

Já o Sistema Dosvox é uma aplicação que trabalha no seu próprio sistema e segrega o deficiente limitando a ter contato apenas com pessoas com deficiência. E para dar aula do mesmo é preciso uma qualificação diferente dos usuários padrão do Windows, pois qualquer sujeito que domine o teclado e conheça o mínimo de informática pode ter dificuldade na hora de ensinar informática a um sujeito com deficiência visual através do Dosvox, porém um sujeito com o mesmo conhecimento básico pode ensinar utilizando dessa ferramenta de inclusão que é o NVDA, Já o Dosvox não trabalha bem no sistema Windows e é limitado para trabalhar com outros sistemas operacionais quando ele trabalha fora da sua plataforma. Ele faz uma adaptação do conteúdo para o seu próprio sistema. Um exemplo à navegação

pela internet feita tradicionalmente com imagens o Sistema Dosvox deixa tudo sem fotos e quando tem a mesma ele toca um som para indicar que ali tinha uma fotografia. O sistema em questão foi sem dúvida muito importante quando surgiu, porém continuar com o seu uso é uma situação arcaica que estabelecimentos que possuam apenas o Dosvox estão tão ou mais defasados como o uso do Dosvox. Na atualidade a tecnologia de ponta é o NVDA que deve ser empregado em todos os estabelecimentos para facilitar na inclusão.

O NVDA, que significa não acesso visual ao desktop, vem concorrendo com o JAWS, que significa tubarão em português. Ambos são europeus, o JAWS é o maior leitor de tela do mundo com mais aceitação, e suas réplicas piratas permeiam milhares de lares de deficientes visuais que necessitam dessa tecnologia. Por isso, o NVDA está tomando o mercado por que é um leitor de código livre que seus comandos se assemelham muito com o JAWS. O NVDA é gratuito e pode ser utilizado em diversas formas dando uma ajuda quase que ilimitada, porque não tem restrição de cópia e pode ser instalado em qualquer empresa assim, favorecendo a empregabilidade do deficiente visual e pode ser instalado em outros aparelhos, basta alguém programar. É notória a evolução do NVDA a cada nova atualização. O que devemos frisar na história do NVDA é que seu criador era um cego, e que teve vontade de ajudar seus companheiros de deficiência, lançando um leitor de tela livre e gratuito. Isso só demonstra a busca por autonomia dos sujeitos com problema visual e o quanto o estudante teve sensibilidade de se preocupar com os outros deficientes de Países não tão desenvolvidos como a Austrália. E demonstra para a sociedade que um cego tem capacidade de produzir desde que tenha meios para tal Também, demonstra que com educação de qualidade e tecnologia os feitos de um sujeito sem visão, Que pensa no próximo e é empreendedor.

De forma geral, com essa atitude Mick desconstrói a visão histórica que cego é coitadinho, burro, dentre outros adjetivos atribuídos pela sociedade e a visão das religiões sobre PCDS. As Pessoas, grupos que enxergam ao entrar em convivência um com o outro começa a quebrar determinados paradigmas construídos hereditariamente. Quando uma pessoa dita normal percebe que outra pessoa com deficiência consegue fazer coisas que nem mesmo ela consegue executar, essa fica admirada e começa a existir uma alteridade de ambas as partes. E também, tem casos que a pessoa dita normal apostaria sem medo de errar que o indivíduo com

limitação nunca seria capaz de executar tal ação e acabam frustradas, pois existem inúmeras tarefas do cotidiano que os deficientes executam com maestria. Isso dependendo de cada área de limitação.

Os fotógrafos da matéria do Globo Play, sobre o casal de cegos que ganham um álbum sensorial com fotos do seu bebê, demonstra o quanto os mesmos foram éticos, e procuraram fazer e ser a diferença na vida de outros indivíduos com limitação. Essa atitude é louvável porque falta essa sensibilidade na sociedade, e pessoas que tentem melhorar a vida do próximo na construção de objetos e atitudes que possibilitem o cego quebrar o paradigma da mentalidade produzida ao longo dos séculos sobre eles.

Sendo assim, os deficientes visuais esperam que esse tipo de projeto seja incentivado para que a vida dos mesmos sejam mais autônoma e inclusiva, possibilitando sensações novas para esses grupos de cidadãos. Assim, contribuindo para quebrar as superestruturas criadas em relação aos PCDS, todavia se não entrarmos em confronto de ideias com as pessoas ditas "normais", nunca vamos ganhar voz ativa na sociedade e não vamos quebrar a postura de silêncio da maioria das pessoas com deficiência. Logo, todos têm que demonstrar o que são capazes e buscar minimizar a ignorância que as pessoas têm acerca de PCDS, pois o silêncio dos grupos de pessoas com deficiências ou limitações, oprimidos, sem vozes perante as classes sociais são vistos como coitadinhos que não sabem o que fazem ou dizem. É de conhecimento geral que um PCDS quando entra em um restaurante por, exemplo, o garçom quase sempre se dirige ao seu acompanhante para perguntar o que o deficiente deseja comer e não dialoga com o PCDS. Consequentemente, a mentalidade herdada do profissional acaba praticando uma das barreiras atitudinais bem comum na sociedade contemporânea, que é acreditar que o sujeito com alguma deficiência seja incapaz de ter vontade própria ou outra opinião sobre qualquer pauta do cotidiano. Então, isso acaba gerando um conflito de ideias.

Isso gera um sentimento de luta de classe, uma resistência natural da pessoa com ausência de visão, que tenha uma limitação para ser vencida e posteriormente seja inserida e integrada na sociedade. Procedendo dessa forma, dando o melhor de si para erradicarem essa mentalidade da sociedade, porém Falta fiscalização para que as políticas públicas e privadas para a inclusão da pessoa com deficiência. No mercado de trabalho e na educação aconteçam de verdade. Além

disso, faltam meios para que os PCDS sejam incluídos de fato, e também está escasso o apoio das instituições públicas ou privadas para dar uma qualificação para os deficientes. Logo, essa resistência é uma luta de classe que vem conquistando o seu espaço a cada dia, uma vitória em doses homeopáticas, onde seus gritos são atendidos com bastante luta.