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Segundo a visão histórica das antigas religiões e até mesmo do Velho Testamento, pessoas com alguma deficiência poderiam ser descartados da vida em sociedade, eles não estavam aptos para o convívio em família. Toda pessoa que sofre algum tipo de doença que cause cegueira ou baixa visão acaba sendo rotulada de coitadinho ou de infeliz. Isso acontece porque desde o princípio da humanidade, a Bíblia sempre coloca o cego como um ser sem fé, como veremos na história do cego de Jericó, segundo Marcos (10.46-52):

Depois, foram para Jericó. E, saindo ele de Jericó com seus discípulos e uma grande multidão, Bartimeu, o cego, filho de Timeu, estava assentado junto do caminho, mendigando.

E, ouvindo que era Jesus de Nazaré, começou a clamar, e a dizer: Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim.

E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava cada vez mais: Filho de Davi! tem misericórdia de mim.

E Jesus, parando, disse que o chamassem; e chamaram o cego, dizendo- lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, que ele te chama.

E ele, lançando de si a sua capa, levantou-se, e foi ter com Jesus.

E Jesus, falando, disse-lhe: Que queres que te faça? E o cego lhe disse: Mestre, que eu tenha vista.

E Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E logo viu, e seguiu a Jesus pelo caminho. (BÍBLIA. N.T.)

Segundo as crenças daquela época, os cegos só voltariam a enxergar se eles cressem em Deus, só assim deixariam de serem amaldiçoados por não ter fé. Em outras civilizações tratam os cegos como imprestáveis que devem ser eliminados. Um exemplo clássico era Esparta, eles matavam todos os bebês que tivessem alguma deficiência e não tinham o menor arrependimento de praticar tal ato. Para eles, os deficientes não conseguiriam ter uma vida normal como os demais sujeitos da época. Consequentemente, o cego era incapacitado de continuar

aprendendo sem a visão. Todavia esse pensamento era capaz, devido à falta de métodos científicos, para provar para eles que mesmo com ausência de visão a evolução do cidadão era possível. Faltava a eles saber e ter consciência que todos os indivíduos são seres históricos, com uma capacidade própria e única de se adaptar ao novo por serem pessoas singulares na existência humana, porque as experiências de vida são individuais e dicotômicas entre si. Por isso, quase todos que sofrem alguma deficiência qualquer que seja, tendo conhecimento e auxílio de alguma pessoa, tecnologia é capaz de superar a sua limitação. Mesmo que sem ajuda de ninguém o sujeito com deficiência vai aprendendo a vencer as dificuldades da sua própria maneira. Assim, fica claro que todos nós precisamos uns dos outros, pois temos habilidades diferentes como sujeitos históricos e juntos podemos nos completar. Sendo um ser humano melhor e mais funcional nas tarefas do cotidiano, quando tentamos vencer uma limitação sozinho, acaba sendo mais sofrido e mais prolongado a sua reabilitação. Todavia, com uma participação de terceiros que estejam focados no mesmo objetivo tudo vai ser mais ameno, fácil e com menos perda de tempo para alcançar as metas.

2.2.1 Personagens

Na Idade Média, as pessoas com deficiência eram isoladas, seja porque eram vistas como pessoas sem alma ou porque, em alguns casos, vistas como divindades. Nos palácios, podíamos encontrar pessoas com deficiência servindo como “Bobos da Corte”.

A visão bíblica do velho testamento está constantemente atrelada a civilização ocidental Europeia como na Américas colonizadas pelos mesmos e aculturadas através, do eurocentrismo e uma das tradições eram que bobos da cortes fossem pessoas com deficiência. Isso no período medieval no século XIII até XVII e, além disso, os deficientes, cegos encontraram asilos e abrigos nas igrejas. Que serviam de prisão e nem eram lugar especializado para colaborar com a superação dos deficientes. (O bobo da corte teve a sua origem em bizâncio atual Istambul, capital da Turquia), isso, no final das cruzadas e foi expandindo pela Europa até o século XVII, onde acabou essa prática. Na Grécia antiga os Cegos eram respeitados como oráculos. Eles acreditavam que os cegos poderiam prever o

futuro e prever fatos e até aconselhar sobre assuntos importantes. Como Tirésias o profeta muito conhecido através da literatura, filmes que relatam os mitos Gregos.

Por tanto, Alexandre10, o Grande, difundiu a cultura Grega para outras regiões conquistadas pelo mesmo. E, Roma foi uma delas. Isso acarretou em um relativismo cultural. Essa crença Grega nos cegos não foi passada para frente por uma gama de fatores. Um dos principais é que as religiões Greco-Romanas eram muito semelhantes e cometiam os mesmos erros. Ambas, não davam a possibilidade de o povo ir ao céu após a morte. Esse mérito de ir para o Céu era exclusivo para os deuses e semideuses. A plebe como era conhecida o povo da época não poderia ter essa honra. Já a religião católica dava essa possibilidade através de condutas e de venda de indulgências que acabam reverberando nas Cruzadas. E isso fez com que os povos fossem adotando a nova religião e esquecendo as religiões Gregas-Romanas e suas tradições e o fim definitivo foi quando o imperador Constantino adotou a religião Católica como oficial de Roma e Bizâncio.

2.2.2 Conceitos: dignidade e relações humanas

Os conceitos que temos sobre as pessoas com deficiência foram construídos, desta forma, não nasceram com a gente, muito menos com nossos pais, foram passados de geração para geração durante centenas e milhares de anos. O que justifica relacionarmos palavras e expressões negativas às pessoas com deficiência. Isso acontece devido à mentalidade criada aos longos dos anos na História Antiga passando por uma transição dessa mentalidade que acaba ficando mais branda no período medieval.

O trabalho é fundamental para a dignidade do homem, e sem meios para tal fica inviável o sustento do sujeito cego. Assim fortalecendo a mendicância nas ruas por parte dos mesmos, visto que sem essa prática, eles não podiam sobreviver dignamente, Pois para qualquer ser humano de boa índole ficar dependendo de terceiros para sobreviver e dar trabalho para tarefas simples que ele mesmo poderia executar. Acaba causando um constrangimento mesmo que esse conceito não existisse em períodos passados. O ser humano não ficaria bem sendo alimentado e

10Alexandre era filho de Filipe da Macedônia, que se tornou rei em 338 a.C., dominando toda a

Grécia, com exceção de Esparta.... - < https://educacao.uol.com.br/biografias/alexandre-o- grande.htm>. Acesso em: 10/07/2017.

cuidado pela vida toda sem dar uma contribuição si quer para a pessoa que acolheu e protegeu o mesmo por tanto, tempo. E a dignidade vem desse pensamento lógico de retribuir toda forma de cuidado e zelo que a sociedade e o grupo social têm com o sujeito com deficiência ou sem. A dignidade através do trabalho remonta conceitos, pois antes mesmo de surgir nomenclaturas para ações abstratas como trabalho, por exemplo. Quando uma pessoa pensa em trabalho hoje em dia logo surge uma gama de profissões, porém a palavra trabalho é abstrata ninguém consegue tocar no trabalho ou mesmo desenhar o mesmo. Além disso, a palavra trabalho deriva de um instrumento de tortura do período medieval chamado tripalium, ou seja, antes da nomenclatura já existia trabalho só que com outro nome. O mesmo acontece com a dignidade do ser humano. Mais uma vez, uma palavra abstrata totalmente emocional que é singular para cada individuo pois cada sujeito vai ter o seu próprio conceito de dignidade ou seja, o que interessa na dignidade através do trabalho é sensação de pertencimento de ser útil para a sua família ou sociedade de alguma forma contribuindo com ações que beneficie o grupo e com isso, o indivíduo consiga respeito e ser lembrado pelos demais. Por isso, não importa quando foi produzido o conceito, mas sim o sentimento, significado ao longo dos séculos.

2.2.2 Repulsa

Os doentes mentais eram mais perseguidos no período medieval, e sua especificidades acabaram sendo atribuídas às outras deficiências e a ideia de pessoas amaldiçoadas ou demônios que estavam incorporados nelas. E isso, causou uma ilusão que esse fato poderia ser contraído através do contato com elas. Logo, acarretou o afastamento dos cidadãos leigos, dos sujeitos com algum tipo de deficiência.

Ainda na Bíblia, algumas vezes, a cegueira é comparada com a morte como se fosse algo análogo. Consequentemente, fica claro o preconceito criado através das sociedades durante os anos. A mentalidade arraigada no subconsciente dos indivíduos foi passando de geração em geração.