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Estudo de casos: Vidraria Santa Marina (atual Saint Gobain), Companhia Goodyear do Brasil (antiga

6.2 Companhia Goodyear do Brasil (Antiga Fábrica Maria Zélia) 3 :

A antiga Fábrica Maria Zélia da Cia. Nacional de Tecidos de Juta foi construída em 1913 sob a direção de Jorge Street, num amplo terreno de 300.000 m2 que ia da Av. Celso Garcia ao Rio Tietê, no bairro do Belenzinho que englobava as características adequadas ao empreendimento: grande área, próximo à água em quantidade (necessária para todas as etapas da produção têxtil) e abundância de mão de obra (BLAY, 1985, p. 224).

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O material sobre o histórico das instalações da antiga Fábrica Maria Zélia, atual Companhia Goodyear do Brasil foi obtido junto ao processo de tombamento de alguns remanescentes desse conjunto fabril. Processos consultados: SÃO PAULO (Estado). CONDEPHAAT. Processo 24268/85, Vila Maria Zélia e SÃO PAULO (cidade). SMC/ CONPRESP. Res. 39/92 - Vila e Antiga Fábrica Maria Zélia. Processos 01- 053.418-79*50 e 16-007.602-93*04 (Contestação ao Tombamento da Antiga Fábrica Maria Zélia). O material específico sobre a Companhia Goodyear do Brasil foi obtido em publicações da empresa como o livro Goodyear do Brasil – 90 anos Rumo ao Futuro (2009), além de revistas e catálogo, bem como em uma visita realizada em 17 Nov. 2009 e acompanhada pelas funcionárias Lilian A. Sguillar e Gisleine Giugliano (Assessora de Relações Públicas e Imprensa), em que foi possível conhecer o atual processo produtivo e verificar a atual situação das edificações, porém, não foi possível fazer um levantamento fotográfico, alegando-se questões de segurança. A empresa também forneceu material iconográfico através de Gisleine Giugliano.

A fábrica moderna contava com setores para tinturaria, fiação, tecelagem, sacaria, estamparia e mercerisação do algodão, sendo no total 200 teares e 84000 fusos. Em 1916 a 1918, na área adjacente à fábrica foi construída a Vila Maria Zélia, projeto encomendado por Street ao arquiteto francês Pedarieux. A vila era composta por 176 casas e uma ampla infra- estrutura (escolas, creches, igreja, restaurantes, farmácia, etc.). O industrial concebeu a vila como espaço higienizado e moralizado com a preocupação de isolar os operários do restante da cidade.

Fig. 55 A: Vista parcial da Vila e fábrica Maria Zélia,

1919. Fonte: TEIXEIRA, 1990, p.129. Fig. 55 B: Vista parcial da Vila e fábrica Maria Zélia, 1918. Fonte: TEIXEIRA, 1990, p.130.

Fig. 56 A: Vila Maria Zélia, situação atual, vista do

colégio. Foto: Autor, 2009 Fig. 56 B: Vila Maria Zélia, situação atual, vista do armazém. Foto: Autor, 2009 Figura polêmica e controversa Jorge Street é visto por alguns como o industrial à frente de seu tempo, o bom patrão que até defendia “idéias socialistas” e por outros como o burguês capitalista que sabia explorar com astúcia seus operários (SÃO PAULO – cidade, SMC/CONPRESP, Res.39/1992, p. 89). Em suas palavras:

Quero dar ao operário não só ótimas condições de trabalho e consciência do seu valor na produção na qual coopera, mas um verdadeiro bem estar na sua casa, tanto do ponto de vista financeiro, como higiênico e moral. Por isso comprei uma grande área de terreno, no Belenzinho, muito maior que a necessária para uma indústria, e, [...] instalei uma fábrica modelo, onde os operários trabalham não como brutos, mas como seres humanos [...] (MORAES FILHO apud SÃO PAULO – cidade, SMC/CONPRESP, Res.39/1992, p.130).

Em 1925, por fatores econômicos relacionados à crise do setor têxtil e à própria administração de Jorge Street, o conjunto da fábrica e da vila foi vendido à família Scarpa que alterou o nome para Cotonifício Scarpa, e Vila Scarpa. Porém, logo em 1926 a fábrica foi fechada e hipotecada ao Estado. Em 1931, a empresa Guinle Irmãos e o Banco do Brasil adquiriram parte do Cotonifício Scarpa, e parte foi solicitada pelo Governo Vargas para a instalação de presídio político. Em 1936 a Guinle Irmãos comprou a parte do Banco do Brasil. Em 1938, a Companhia. Goodyear do Brasil – Produtos de Borracha Ltda. adquiriu parte do terreno, que incluía a fábrica, a creche, o jardim de infância e cerca de 20 casas da Vila.

A Goodyear 4 tinha inaugurado um escritório de vendas no Rio de Janeiro em 1919, comercializando produtos trazidos dos Estados Unidos. Posteriormente, a sede inicial foi transferida para São Paulo, onde um amplo espaço passou a abrigar escritórios e showroom de produtos. Nas décadas seguintes, a companhia foi crescendo e abriu filiais em outras capitais, além de um armazém em Santos. Por volta de 1937, começaram as negociações com o governo brasileiro, para a instalação de uma fábrica no país. Depois de meses de reuniões, a lei que daria permissão para a fábrica ficou parada no Senado, que foi fechado pelo presidente Getúlio Vargas, mas dois anos depois, o projeto foi retomado. Nessa época, a cidade de São Paulo já era o maior centro industrial da América Latina, empresas como a GM e a Ford já montavam veículos no Brasil com peças e componentes vindos do exterior. Nesse contexto, em setembro de 1939, a Goodyear inaugurou sua fábrica no bairro do Belém, em São Paulo, produzindo pneumáticos, câmaras de ar e artefatos de borracha com 366 operários. As vantagens da localização estratégica próxima ao centro e ao Rio Tietê e a disponibilidade de mão de obra do bairro foram fatores determinantes para a compra dessa área. Na década de 1940, foram construídos novos edifícios fabris numa área que originalmente pertencia à vila, e, conseqüentemente, parte desta foi demolida.

Inicialmente, a produção diária era de 400 pneus, paulatinamente esse número foi crescendo. Durante os quase seis anos da Segunda Guerra, as importações tornaram-se difíceis, abrindo mercado para os produtos Goodyear e impulsionando os negócios no Brasil. A empresa passou a fabricar mangueiras para água e ar comprimido e, em 1943, iniciou a produção de pneus para avião. Com o término da Segunda Guerra, máquinas superadas nos Estados Unidos foram incorporadas aqui e consideradas de grande eficiência. Em 1946 a Goodyear atingiu a marca de um milhão de pneus fabricados no Brasil.

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A Goodyear Tire & Ruber Company foi fundada em 1898 por Frank Seiberling em Akron, Ohio, meio oeste americano, cidade conhecida como a capital mundial da borracha (GOODYEAR, 2009, p.12)

Na década de 1950, com o impulso à industrialização e a definitiva implantação da indústria automobilística no país, a Goodyear renovou sua linha de pneus para o atendimento direto às montadoras. Para reforçar sua independência no abastecimento de matéria-prima, em 1954 a empresa passou a plantar seringueiras na Fazenda Marathon, no Pará (GOODYEAR, 2009, p. 51). Acompanhando a evolução da tecnologia, em 1958 a companhia passou a usar o processo 3-T na fabricação, exclusivo da companhia, que consistia na construção de pneus com cordonéis temperados sob tensão, temperatura e tempo precisos, formando lonas mais fortes, resistentes e praticamente imunes a deformações (GOODYEAR, 2009, p. 51 e p.53).

Completando 20 anos de sua fábrica no Brasil, a Goodyear comemorou em 1959 a produção do seu pneu de número 8 milhões. A evolução da empresa acompanhava o processo de modernização do país em relação à implantação da indústria automobilística. Novos modelos de pneus foram lançados, novos processos passaram a ser utilizados e novas formas de gestão adotadas. Também em 1959 foi instalado o escritório da empresa no centro de São Paulo para onde foram transferidas as atividades administrativas e de vendas realizadas anteriormente na fábrica (GOODYEAR, 2009, p. 58).

Antes do final da década de 1960, devido à demanda das atividades produtivas a fábrica foi ampliada com a compra de um terreno vizinho com área de 13160 m2 de propriedade da Fiação Brasileira de Lã (GOODYEAR, 2009, p. 58-59). Na década de 1970 a fábrica de São Paulo estava atingindo seu limite em termos de possibilidades de expansão, decidiu-se então construir uma nova unidade em Americana-SP, em fins de 1973 esta unidade já estava em atividade.

Fig. 57: Vista aérea da Companhia Goodyear do Brasil, década 1970.

A Vila está em primeiro plano ao lado esquerdo. Fonte: SÃO PAULO (Estado), CONDEPHAAT, Processo 24268/85, Vila Maria Zélia, p.111.

Durante a década de 1980, período de crise econômica no Brasil, a Goodyear voltou- se para incorporar conceitos e técnicas novos, principalmente a partir do exemplo japonês, objetivando uma maior qualidade dos produtos. Nesse período, as montadoras passaram a investir mais em parcerias com seus fornecedores. A orientação para a inovação e qualidade, somadas à tradição do conhecimento do mercado continuaram como política da empresa durante a década de 1990 norteando a modernização de equipamentos, processos e uma readequação física da planta, para torná-la mais eficiente e lucrativa, ao mesmo tempo em que foram eliminadas linhas de negócios não rentáveis (GOODYEAR, 2009, p.95). Em 2000 foi construída uma nova fábrica em Santa Bárbara do Oeste - SP, a presidência da Goodyear América Latina também foi transferida para São Paulo.

Atualmente a empresa trabalha com 11 linhas de produtos, são correias em V, correias transportadoras, moldes, pneus para aviões, recauchutagem de pneus de avião, componentes de borracha para a indústria de pneumáticos, pneus radiais off Road e para tratores e pneus convencionais de trator, camioneta e caminhão. De acordo com informações obtidas com a funcionária Lilian A. Sguillar em visita à empresa 5, a unidade do Belenzinho trabalha principalmente com a manufatura de pneus de avião (Flight Leader), trator (traseiro e dianteiro), caminhão, caminhonete e recauchutagem de pneus de avião. A marca Veyance é uma concessão da Divisão de Produtos de Engenharia (mangueiras, mangotes, correias) em parte das instalações do Belenzinho que foi terceirizada durante a década de 1990 para a produção de material de engenharia; em 2006 vendeu essa concessão, mas continua a fornecer borracha.