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O patrimônio industrial na cidade de São Paulo

IMÓVEIS TOMBADOS: ENDEREÇO T

5.1 Edifícios e áreas abandonadas:

O patrimônio industrial é constituído em grande parte por grandes conjuntos abandonados, ruínas de nosso passado recente. A asserção de Henri – Pierre Jeudy é bastante ilustrativa a esse respeito:

Quem não sente ainda grande emoção ao passear por áreas industriais abandonadas, fábricas desocupadas, ou portos onde gruas enferrujam, ou por estações desativadas? Uma emoção estranha, uma vez que não está necessariamente relacionada, como freqüentemente se acredita, à nostalgia de uma outra época. Nossa “boa” consciência, por outro lado, nos coloca em estado de alerta: como podemos sentir saudade de um tempo em que nossos antepassados eram condenados a horas de trabalho intensivo, em condições sanitárias difíceis? O silêncio desses territórios abandonados, dessas construções desmoronadas, nos coloca, contudo, em um estado de alucinação, uma vez que podemos ver corpos, escutar vozes e gritos, ter a sensação de uma atmosfera de vida comum que a literatura e o cinema nos sugerem o tempo todo. (JEUDY, 2005, p.25)

Internacionalmente são inúmeros os casos que se enquadram nessa categoria de patrimônio, daí inclusive a grande motivação em preservá-los antes da perda total. De um modo geral, esses grandes complexos industriais abandonados em estados precários ou subutilizados relacionam-se ao denominado processo de desindustrialização, que foi

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Ao mencionar os itens tombados ou em estudo pelo CONPRESP, tomam-se como referência as tabelas elaboradas pelo autor que constam no capítulo três.

desencadeado mundialmente a partir da década de 1970 e ocorreu em diversos graus nos diferentes países.

Como mencionado anteriormente, o “sistema de fábrica manchesteriano” propiciou as condições para que a tecnologia se transformasse no elemento prioritário da acumulação capitalista, estimulando o desenvolvimento da ideologia moderna em que a máquina ampliava o potencial da produtividade humana. No entanto, a evolução dos meios produtivos e das formas de organização do trabalho pode induzir à obsolescência do aparato tecnológico. Para a compreensão desse fenômeno é conveniente considerar sua amplitude, pois frente à abrangência conceitual e cronológica do patrimônio industrial, a obsolescência tecnológica não é necessariamente uma condicionante isolada para a perda da função. Algumas tipologias ou programas são mais suscetíveis à perda de função, principalmente aqueles intimamente relacionados às atividades produtivas que não atendem mais à demanda do capital, mas há aqueles que ainda exercem sua função inicial, como apresentado no capítulo dois.

No âmbito do processo de desindustrialização, cuja complexidade envolve a lógica de mercado e de acumulação capitalista e a conjuntura econômica, social e cultural; a questão tecnológica e sua obsolescência é apenas mais um aspecto, evidenciado, provavelmente, por incidir de forma mais direta na materialidade dos artefatos industriais tendo como uma conseqüência quase natural o estado de abandono desse patrimônio. Buchanan destaca especialmente esse aspecto em sua definição de monumento industrial:

[...] Para os fins dessa definição, um “monumento industrial” é qualquer relíquia de uma

fase obsoleta de uma indústria ou sistema de transporte, abarcando desde uma pedreira de

sílex neolítica até uma aeronave ou computador que se tornaram recentemente obsoletos. [...] (BUCHANAN, 1972 apud KÜHL, 1998, p.223 – grifo nosso).

Na cidade de São Paulo, conforme analisado no capítulo quatro, a perda do uso industrial deriva de uma complexa conjuntura envolvendo aspectos políticos, sociais, culturais e, sobretudo, econômicos, vinculados em muitos casos à própria evolução urbana. Entretanto, foram identificados dois momentos decisivos: a mudança da implantação das indústrias dos eixos ferroviários para os rodoviários na década de 1950 e a mudança do perfil econômico da cidade de São Paulo de suporte industrial para serviços a partir da década de 1980, em decorrência das alterações mundiais do processo produtivo. A indústria tradicional (têxtil, metalúrgica e alimentícia) praticamente desapareceu deixando a maioria dos antigos edifícios fabris. Alguns foram adaptados e convertidos para o comércio ou serviços, mas em sua

maioria o ex-cinturão industrial ao longo das linhas férreas ostenta fileiras de galpões industriais fechados e degradados. A situação se repete nos bairros tradicionalmente fabris como: Mooca (região da Av. Presidente Wilson, Rua Borges Figueiredo, Rua dos Trilhos, etc.), Belenzinho (Av. Celso Garcia) e Lapa (Av. Guaicurus, Rua William Speers).

Ao verificar os remanescentes industriais abarcados pelo CONPRESP há uma extensa lista de bens que se encontram nesse estado, como por exemplo, o significativo conjunto da Companhia Antártica Paulista na Av. Presidente Wilson, na Mooca, cujo processo de tombamento foi aberto em 2007; e os muitos exemplares enquadrados como ZEPEC em diferentes regiões da cidade.

Fig. 35 A: Companhia Antártica Paulista, atualmente

sem uso - APT 09/07. Vista da Av. Presidente Wilson. Foto: Autor, 2009

Fig. 35 B: Companhia Antártica Paulista, atualmente

sem uso - APT 09/07. Vista da linha férrea. Foto: Autor, 2009

Fig. 36: Antiga Tecelagem Labor, atualmente sem

uso – ZEPEC 26/04. Rua da Mooca, 815 e 775. Foto: Autor, 2009

Fig. 37: Antiga Fábrica Orion, atualmente sem uso –

ZEPEC 26/04. Vista da Rua Behring x R. Fernão de Magalhães. Foto: Autor, 2009

Inserem-se também nessa categoria, alguns bens que passaram por demolições parciais ou totais, como a antiga Fábrica de Tecidos e Bordados da Lapa localizada na Rua Engenheiro Fox, indicada como ZEPEC, que foi demolida durante o processo de estudo; o antigo Lanifício Paulista na região do Brás, Belenzinho, também enquadrado como ZEPEC e que passou por demolições; o caso do conjunto das edificações na Rua Borges de Figueiredo,

dos números 680 a 828 - antigos armazéns das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo - demolidos em 2007, em meio ao processo de abertura de tombamento (APT 08/07) 2; a antiga Companhia de Refinadores União também na Rua Borges de Figueiredo que teve todo seu conjunto demolido e somente a chaminé foi mantida e tombada em 2010.

Fig. 38: Parte do antigo Lanifício Paulista, demolição

- ZEPEC 26/04 – Rua João Bohemer 66 e 106. Foto: Autor, 2009

Fig. 39: Chaminé da antiga Companhia de

Refinadores União – Res. 05/10 – Rua Borges de Figueiredo x R. João Antônio de Oliveira.

Foto: Autor, 2009