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Texto 4 Covardia explícita (reportagem, p.50)

4.3. Comparação dos livros

Nessa pesquisa, foram analisados dois livros didáticos distintos, com o intuito de vermos a recorrência do gênero reportagem neles, bem como, a forma como as reportagens encontradas são tratadas no eixo da leitura.

No livro A, foram encontradas sete reportagens distintas, das quais cinco eram de natureza factual. Em seis das sete reportagens, foi percebida uma dimensão argumentativa. As questões envolvendo o trabalho com os textos desse gênero, nessa obra, foram diversificadas. As perguntas invocavam o trabalho com o conteúdo textual e com o gênero. Quanto ao gênero, foram elaboradas questões que visavam à reflexão sobre aspectos referentes ao suporte de onde os textos foram retirados, sobre a forma de apresentação dos textos (em boxes e colunas), os contextualizadores de tempo e espaço, os modos de inserção de vozes de pessoas entrevistadas; às características e funções da manchete e do olho da reportagem; os modos de inserção dos pontos de vista defendidos. Quanto ao desenvolvimento das estratégias de leitura, foram encontradas questões de elaboração de inferências, localização de informações, articulação de imagem ao texto verbal, questões de análise de pistas gramaticais para constituição de sentidos do texto, questões de apreensão do sentido global do texto, questões de aplicação dos conhecimentos/informações do texto a novas situações, e de elaboração pessoal.

Na análise do livro B, encontramos sete reportagens distintas, quatro factuais e três não-factuais. O trabalho realizado com essas reportagens foi voltado para o desenvolvimento de habilidades de leitura em duas seqüências, “Tubarão à vista” e “Poluição... de informações?!” com foco em características do gênero e estímulo ao desenvolvimento de estratégias de leitura e sumarização, tais como questões de ativação de conhecimentos prévios; questões de interpretação de frases e expressões no texto; questões de apreensão de sentido global do texto, questões de localização de informações e de elaboração de inferências. Nas outras seqüências, o foco foi relativo a conteúdos gramaticais, e modo desarticulado do trabalho de leitura. As reportagens eram apenas pretextos para as tarefas escolares.

O quadro abaixo sintetiza as diferenças entre as duas obras.

Aspecto analisado Livro A Livro B

Quantidade de reportagens encontradas

7 reportagens 7 reportagens

Quantidade de seqüências que contemplaram o trabalho voltado para a compreensão de

textos

Tipos de reportagens 5 reportagens de pesquisa e 2 de aprofundamento

4 reportagens de

aprofundamento e 3 de pesquisa Qualidade das reportagens 5 Textos integrais e autênticos e

2 fragmentos com unidade de sentido

3 Textos integrais e autênticos e 3 textos adaptados e 1 fragmento com unidade de sentido.

Exploração de aspectos

referentes ao suporte textual

Reflexão sobre o caderno infanto-juvenil e sobre semanário, exploração dos contextualizadores de local e data de publicação.

Não houve exploração desse aspecto.

Exploração de questões

referentes às características do gênero

Conceituação do gênero; reflexões sobre a manchete e o olho da reportagem; reflexões sobre a organização dos textos em boxes ou colunas; reflexões sobre o uso de imagens para construir sentidos do texto; reflexões sobre as expressões de tempo usadas nesses textos; reflexões sobre o vocabulário utilizado de acordo com o público esperado; reflexões

sobre a inserção de

depoimentos e exemplos nos textos para corroborar pontos de vista ou testemunhas sobre fatos ocorridos.

Reflexão sobre as manchetes e os olhos das matérias; exploração das questões que compõem o lead, reflexão sobre as estratégias dos jornalistas para causar efeitos de sentido nos textos, tais como seleção lexical, seleção de depoimentos e organização das informações no texto.

Estratégias de leitura

estimuladas Ativação de conhecimentos prévios sobre o tema, antecipação de sentidos do texto com base no título e na

imagem; elaboração de

inferências; localização de informações e interpretação de frases e/ou expressões do texto, emissão de opinião sobre os pontos de vista expostos, apreensão do sentido global do texto.

Comparação de textos;

levantamento de hipóteses e previsões sobre texto; ativação de conhecimentos prévios; questões de interpretação de frases e expressões no texto; questões de apreensão de sentido global do texto, questões de localização de informações e de elaboração de inferências.

Exploração de aspectos

referentes à dimensão

argumentativa dos textos

Exploração de posicionamentos contrários em um texto; reflexões sobre inconsistência argumentativa de um texto; identificação de pontos de vista implícitos e explícitos; identificação de justificativas de pontos de vista defendidos pelo

autor e por pessoas

entrevistadas.

Comparação de textos quanto aos pontos de vista defendidos pelos autores, com reflexões sobre as estratégias discursivas adotadas.

Como pode ser observado, as duas coleções contavam com a mesma quantidade de reportagens, no entanto, enquanto na coleção A seis seqüências foram elaboradas para a exploração da leitura, com boas atividades de compreensão dos textos e reflexão sobre características do gênero, na coleção B, apenas duas seqüências tiveram tal orientação. Desse modo, fica claro que a coleção A dedicou-se muito mais ao trabalho de exploração das reportagens, retomando habilidades e conhecimentos em diferentes seqüências. Embora as duas coleções tenham apresentado boas atividades com base nas reportagens escolhidas, a coleção B dedicou muito espaço à utilização de reportagens como pretexto para ensino de conteúdos gramaticais, sem fazer articulação com aspectos relativos ao gênero em foco.