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Quando o carteiro chegou (p 97)

Fonte: Jornal de Casa, Belo Horizonte, 22 a 28 dez. 1996, p.7. (Semanário; fragmento; reportagem de Luciana Morais).

O texto a ser apresentado em seguida foi retirado do semanário intitulado “Jornal de Casa”, do estado de Belo Horizonte. Não há indicação se o mesmo é destinado ao público infantil.

Quando o carteiro chegou…

E lá vem ele, o carteiro. Na cabeça, o inseparável bonezinho e muitos, muitos sonhos, nomes de ruas e números. Nas mãos, notícias ansiosamente aguardadas, alegrias, surpresas agradáveis, outras nem tanto. Assim como algumas cartas, o tradicional uniforme, o alto astral e o bom humor são as marcas registradas desses “pombos-correios” que trabalham como formiguinhas, espalhados por todos os cantos da cidade nesta época do ano. Ao final da tarde, depois de cumprir a tarefa diária, sua melhor recompensa é voltar de mãos vazias, sinal de que a missão foi cumprida.

Quando se pensa na infinidade de endereços e nomes de pessoas, o compromisso de atender toda a cidade parece uma missão impossível. Para facilitar a entrega, cada um se torna especialista em ruas, bairro ou região. Depois de percorrer religiosamente o mesmo trajeto, e entregar as correspondências quase sempre nos mesmos lugares, eles acabam decorando os locais e fazendo amizade com as pessoas que encontram pelo caminho. No entanto, eles são figuras anônimas. A carta deixada debaixo da porta, na portaria do prédio, ou colocada na caixinha é o único sinal de que estiveram lá.

Luciana Morais

Apesar de ser um fragmento, há unidade de sentido no texto. No entanto, diferentemente das outras reportagens, não há inserção de depoimentos de pessoas sobre o tema. Não fica claro se tal ausência é uma característica dessa reportagem ou se os depoimentos foram cortados.

A reportagem (p. 97) fala sobre o papel dos carteiros. Implicitamente é dito que são pessoas boas e bem humoradas e que trabalham com alegria, mas que nem sempre são reconhecidos em seu trabalho. Isso fica evidenciado quando a autora do texto faz as seguintes afirmações: “Assim como as cartas, o tradicional uniforme, o alto astral e o bom humor são as marcas registradas desses “pombos-correios” que trabalham como formiguinhas (...) No entanto para a grande maioria, eles são figuras anônimas”. Também é defendido que os carteiros se sentem recompensados em conseguir entregar todas as cartas (“No final da tarde, depois de cumprir a tarefa diária, sua melhor recompensa é voltar de mãos vazias, sinal de que a missão foi cumprida”).

Deparamo-nos com uma reportagem temática abordando o papel do carteiro no fim de ano. Como citamos anteriormente, esse tipo de reportagem caracteriza-se por fazer o levantamento de um assunto conforme ângulo pré-estabelecido (Lage, 1987).

O trabalho com esse texto é iniciado na página 96 com a seção “Preparação para a leitura”. A seção é iniciada com uma referência ao texto anterior, um poema que falava de

carteiros e compara-os a magos e unicórnios. Logo após, é apresentada uma propaganda dos correios. Em seguida, é perguntado: como a gente sabe que este homem é um carteiro? Espera-se que, com base na imagem, os alunos identifiquem o profissional pela farda e pela logomarca dos correios. Em seguida, são realizadas questões de comparação entre o Papai Noel e os carteiros, com exploração da parte verbal do texto: “Papai Noel 365 dias por ano”. Essa atividade serviu para introduzir a temática das reportagens que seriam apresentadas em seguida.

A seção “Leitura silenciosa” é anunciada com o comando em que há explicitação de que os alunos vão ler “trechos” de reportagens e não reportagens inteiras: “Você vai ler dois trechos de reportagens sobre os carteiros. Leia, inicialmente, este trecho de uma das reportagens”.

Após a leitura do texto, na seção “Interpretação oral”, a discussão é iniciada com exploração do suporte do qual o texto foi retirado, perguntando-se o que é um semanário. Há, desse modo, acréscimo de mais um tipo de suporte diferente dos que haviam sido propostos anteriormente (suplemento infantil de jornal, revista).

Em seguida, chama-se a atenção para o contextualizador de tempo. É feita uma pergunta sobre a data de publicação do texto: “Observem a data do semanário, releiam este trecho da reportagem: ‘trabalham como formiguinhas, espalhados por todos os cantos da cidade nesta época do ano’. Que época do ano é? Por que, nesta época do ano, os carteiros trabalham espalhados por todos os cantos da cidade?”. A informação relativa à data é enfocada na busca de contextualizar o momento em que o texto foi escrito. Mais uma vez, essa característica do gênero – usar expressões de tempo relativas ao momento da escrita (nesta época do ano) – é objeto de reflexão. Esse tipo de questão vem sendo explorado em reportagens anteriores. Ele permitirá aos alunos elaborar inferências e compreender partes do texto.

As questões 2, 3, 4 e 5, são de elaboração de inferências. Solé (1998) considera as questões de elaboração de inferências um dos tipos principais de pergunta de compreensão textual. Para respondê-las, é preciso entender o que está nas entrelinhas do texto, o que está implícito. É preciso articular partes do texto ou relacionar informações dadas no texto com os conhecimentos prévios do leitor.

A questão 2 (Os carteiros foram comparados com unicórnios, com magos, com Papai Noel... Nesta reportagem, eles são comparados com pombos-correios e com formiguinhas. – Que semelhança há entre os carteiros e os pombos-correios? – Que semelhança há entre os carteiros e as formiguinhas?) busca estimular os alunos a reconhecer metáforas usadas no

texto. É uma questão inferencial porque as comparações entre carteiro e pombo-correio e entre carteiro e formiguinha não são explicitadas. Essa questão permitirá aos alunos relacionar os conhecimentos que têm armazenado sobre pombos-correios e formigas e contrapor com carteiros e assim entender por que esses são como os outros. Além disso, coloca em relevo um tipo de recurso lingüístico mais elaborado, que o aluno precisa reconhecer no texto – a utilização de metáforas.

A questão 3 (A reportagem diz que os carteiros, para a maioria das pessoas, são figuras anônimas. Por que são anônimas?) contempla dois objetivos importantíssimos: refletir sobre o vocabulário usado na matéria lida; realizar inferência acerca dos motivos pelos quais esses profissionais podem ser considerados anônimos. É uma questão que demanda a elaboração de inferência extra-textual.

Na questão 4 (Releia, logo no início da reportagem, o trecho que diz que, na cabeça, o carteiro traz: “o inseparável bonezinho e muitos, muitos sonhos, nomes de ruas e números”. Cabeça, nesse trecho, tem dois significados: parte superior do corpo; mente, memória. ♦ O que é que o carteiro traz na cabeça, parte superior do corpo? ♦ O que é que o carteiro traz na cabeça, mente, memória?), como podemos perceber, novamente é feito um trabalho com vocabulário, só que, dessa vez, busca-se que os alunos reconheçam contextualmente o sentido da palavra. Para fazer tal reconhecimento, é preciso elaborar inferências com base nos conhecimentos prévios.

A questão seguinte (A reportagem fala também das mãos do carteiro: “Nas mãos, notícias ansiosamente aguardadas, alegrias, surpresas agradáveis, outras nem tanto”. – Não é possível segurar nas mãos notícias, alegrias, surpresas... Na verdade, o carteiro traz o que, nas mãos? ♦ O carteiro volta, ao final da tarde, de mãos vazias. Volta de mãos vazias de quê?) é voltada para a reflexão sobre os recursos utilizados pelo autor para causar efeitos poéticos no texto. No primeiro caso, os alunos precisam inferir que, ao falar que nas mãos são levadas notícias ansiosamente aguardadas, o autor está dizendo que os carteiros levam as cartas e que essas cartas veiculam as notícias que estão sendo aguardadas. No segundo caso, os carteiros voltam de mãos vazias porque as cartas foram entregues.

As questões propostas nessa seção exigem do leitor a articulação entre o que está exposto no texto e os conhecimentos de mundo de quem o lê. Todas são questões de elaboração de inferências. Na continuidade da seqüência, é apresentada uma segunda reportagem.