• Nenhum resultado encontrado

Comparando os dois experimentos em inglês

2.2 Os verbos SEE e VER

2.2.3 Comparando os dois experimentos em inglês

Quando testados novamente com as perguntas em (21) e (22), repetidas abaixo, todos os adultos do grupo-controle responderam categoricamente não para as perguntas da condição 2, em (a); e sim para as perguntas da condição 3, em (b). Assim sendo, imaginamos finalmente ter encontrado um contraste ideal entre a percepção direta e a indireta de uma mesma situação, sintaticamente codificada com perguntas com o

complemento finito e com o infinitivo. Observemos novamente as quatro perguntas modificadas nas duas condições.

(21) a. Did you see the vase get broken? (Não – Condição 2) b. Did you see that the vase got broken? (Sim – Condição 3)

(22) a. Did you see the plant grow? (Não – Condição 2)

b. Did you see that the plant grew? (Sim – Condição 3)

Nesta subseção comparamos os resultados dos dois experimentos feitos no inglês com o verbo see. Uma vez que essas condições foram modificadas, cabe verificar se houve alguma mudança em relação às mesmas condições 2 e 3 do experimento anterior, em que 42 crianças foram testadas e desconsideradas por razões dadas na subseção anterior. O segundo teste, feito com mais 51 crianças, revela uma melhora significativa no número de respostas esperadas para a condição 3 e uma piora também acentuada para a condição 2, revelando resultados surpreendentes. As Tabelas 13 e 14 mostram os resultados, por idade, dos dois grupos para as condições 2 e 3, respectivamente.

Tabela 13 – Resultados da Condição 2 por idade, nos dois grupos testados em inglês

Condição 2 – Infinitivo – Não

Idade

Respostas esperadas obtidas

N=42 N=51 # % # % 4 anos 18/18 100% 5/18 28% 5 anos 18/20 90% 4/22 18% 6 anos 18/18 100% 5/10 50% 7 anos 12/12 100% 17/20 85% 8 anos 12/12 100% 19/24 79,1% 9 anos 4/4 100% 8/8 100% Total 82/84 97,6% 58/102 56,8%

A mudança da condição 2 ocorreu em decorrência da mudança da condição 3 e gerou resultados não esperados. O percentual de respostas esperadas, que era inicialmente de 97,6% para as 42 crianças (com apenas duas perguntas discrepantes no total de 84 perguntas feitas), despencou para 56,8% para a nova condição com as outras 51 crianças testadas. As maiores diferenças encontradas nos resultados dessa condição são em relação às crianças de 4 e 5 anos, que juntas possuíam 36 respostas esperadas num universo de 38 (94,7%) e na nova condição são apenas nove respostas esperadas de 40 possíveis (22,5%). Isso revela um aumento de 72,2 pontos percentuais nas respostas não esperadas. As diferenças tendem a diminuir com as idades a partir dos 6 anos, idade em que ainda encontramos um percentual relativamente baixo (50%). Aos 7 e aos 8 anos os resultados estão acima dos 75% (85% e 79,1%, respectivamente) e aos 9 anos os resultados se mantêm em 100% nos dois grupos.

Na estrutura infinitiva anteriormente utilizada na pergunta, apesar de haver um quantificador (someone) na posição de sujeito, este não pareceu impor dificuldades para as 42 crianças testadas, visto que a resposta esperada era não, ou seja, não havia a percepção direta nem indireta. Entretanto, na nova condição 2, as crianças de 4 e 5 anos responderam como esperado apenas seis vezes das 40 oportunidades de resposta. Uma queda no percentual ocorreu até os 8 anos de idade, e ainda que não seja tão acentuada quanto a das crianças mais novas, carece de explicação. Responsabilizamos a metodologia empregada por essa queda, pois testar o contraste utilizando as duas perguntas semelhantes para a mesma situação experimental apresenta tanto vantagens quanto desvantagens: ao mesmo tempo em que o contraste é testado de uma só vez, permite que as duas estruturas sejam tomadas como sinônimas e, consequentemente, não revela claramente qual é a interpretação infantil assumida.33

Entretanto, vale destacar que, com base no resultado inicial das 42 crianças, nada podia ser dito sobre as diferenças entre a gramática adulta e infantil, pois as respostas de todas as faixas etárias eram iguais às dos adultos. Por outro lado, os resultados obtidos com a nova condição 2 apontam para a existência de diferenças entre as duas gramáticas e

33 Verificamos estatisticamente se a criança não estava sendo contraditória nas duas respostas dadas para a

condição 2 e para a condição 3; não encontramos significância estatística de que esse foi o caso. Considerações sobre a análise encontram-se no Apêndice.

posicionam o grupo de 9 anos mais próximo do comportamento da gramática adulta. Acreditamos que essa seja uma vantagem decorrente da mudança das condições 2 e 3.

Tabela 14 – Resultados da Condição 3 por idade, nos dois grupos testados em inglês

Condição 3 – Finito – Sim

Idade

Respostas esperadas obtidas

N=42 N=51 # % # % 4 anos 16/18 89% 2/18 11% 5 anos 2/20 10% 22/22 100% 6 anos 1/18 5,5% 10/10 100% 7 anos 0/12 0% 19/20 95% 8 anos 0/12 0% 22/24 91% 9 anos 0/4 0% 8/8 100% Total 5/84 5,9% 97/102 95%

Para a condição 3, o cenário é o oposto: enquanto das 84 perguntas inicialmente feitas, apenas cinco respostas dadas estavam de acordo com o esperado (5,9%), em um universo de 102 perguntas com o novo procedimento experimental, 97 respostas são esperadas e o percentual dispara para 95%. Ao considerarmos os resultados em cada idade, é possível verificar que a diferença se dá em todos os grupos e não apenas nas idades mais baixas. As crianças de 4 e 5 anos inicialmente testadas para a condição 3 forneceram juntas apenas quatro respostas esperadas (das 38 possíveis). Nas respostas anteriormente dadas pelos grupos de 7, 8 e 9 anos de idade, nenhuma delas estava de acordo com a esperada. A diferença de 75,4% entre o percentual total de respostas esperadas na antiga condição (5,9%) e o mesmo percentual obtido na nova condição (81,3%) confirmam que a mudança dos estímulos linguísticos foi uma decisão acertada.

Entretanto, algumas questões ainda permanecem inconclusivas. Para as respostas dadas à antiga condição 3, uma das sugestões era a de que o quantificador (someone) presente na pergunta poderia ser o responsável pelas respostas negativas não esperadas. A pergunta estruturada com someone poderia gerar tanto uma resposta afirmativa quanto uma

resposta negativa e por isso modificamos as perguntas finitas de modo a excluí-lo. Em decorrência dessa exclusão, as novas perguntas formuladas eliminaram o agente das ações e consequentemente também a necessidade de evidências para se acusar alguém. Mas como a presença desse quantificador pode facilitar a obtenção de respostas esperadas para a condição 3, e não para a condição 2? Ou seja, como explicar que o quantificador someone serviria como um facilitador apenas na estrutura infinitiva e não na estrutura finita?

Vejamos: na sentença finita, o someone introduz um agente direto – ver alguém

fazer algo implica ver esse alguém. Notemos que a condição 2 independia de como o

sujeito gramatical era expresso (quantificador someone ou por um DP pleno, referencial) para ser negada. O que estava em jogo era a percepção direta, que não ocorria e isso nada tinha a ver com seus autores. Já na antiga situação experimental 3, com uma sentença finita, deveria haver uma percepção indireta (e não direta) para que a resposta fosse a esperada. Ao responder não, a criança poderia estar se guiando pelo evento percebido diretamente e na falta da percepção dos autores para a situação ocorrida, a resposta era negativa. O mesmo também pode explicar a situação experimental 2, pois, na falta de autores e de percepção, a resposta também era negativa. As poucas respostas afirmativas da antiga condição 3 foram dadas exclusivamente pelas crianças mais novas, então sugerimos que essas respostas tenham sido dadas ao acaso, uma vez que todos os adultos responderam negativamente a esta condição, da mesma forma que os grupos de 7, 8 e 9 anos.