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O termo “proposição” é usado para se referir às entidades que possuem valor de verdade, aos objetos de crença e de “atitudes proposicionais” (ou seja, o que se acredita, se duvida etc.). Também pode ser usado para se referir a qualquer que seja o conteúdo semântico de um sentença-que15. Tomando proposições como objetos compartilháveis das

12 A posição do autor coloca eventos no meio de um continuum que vai desde uma concepção altamente

concreta até concepções exclusivamente abstratas.

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Aqui nesta tese, não nos comprometemos e nem nos aprofundamos em uma ou outra análise, mas apenas destacaremos que um complemento eventivo é menor e está contido em um complemento proposicional, ao menos para os verbos perceptivos.

14 Existem outras definições para proposições que fogem do que se pretende defender neste trabalho, a saber:

Rescher (1968, p. 24) é bastante breve ao definir proposição e o faz da seguinte maneira: “A proposition is

presented by a complete, self-contained statement which taken as a whole, will be true or false: the cat is on the mat, for example.” [Uma proposição é apresentada por uma declaração completa que é tomada como um

único objeto sintático, que terá o valor de verdadeiro ou falso: o gato está no tapete, por exemplo]. A noção de declaração completa é vaga e permite virtualmente que todo e qualquer objeto linguístico seja tratado como uma proposição, desde que seja tomado como uma unidade. As proposições, então, são um conjunto virtualmente infinito de objetos com valores verdadeiros ou falsos. Talvez seja essa a posição do autor. Outra definição, dada por Chisholm (1970, p. 20), é a de que proposição é qualquer “estado de coisas que seja necessariamente tal que ou ele [o estado de coisas] ou a sua negação não ocorra”, conforme adiantamos anteriormente.

15 É importante notar que nem todas as sentenças com que são necessariamente do mesmo tipo. Tanto em

português quanto em inglês, por exemplo, uma sentença pode conter o complementizador que no sujeito (‘Que ele perdeu foi surpreendente’), como um complemento verbal (‘O barômetro indicou que ia chover’),

atitudes e como dotada de um valor de verdade, a definição naturalmente as diferencia de outras entidades como eventos concretos ou fatos, que não podem ser falsos. Portanto, as proposições, em oposição aos eventos, são comumente entendidas como um conjunto de mundos possíveis que se referem a estados de coisas, pontos de vista (crenças) e pensamentos. Não são entidades linguísticas, mas podem ser linguisticamente traduzidas de várias formas.

Parsons (1990) argumenta que proposições são “objetos de crença” e define esses objetos linguisticamente, como o conteúdo ao qual uma sentença finita (that-clauses) se refere quando precedida do verbo acreditar. O autor não se limita apenas a esse verbo e também admite que, por serem vários os termos lexicais que podem ser utilizados para a referência aos objetos de crença e para “comunicarmos nossas mentes”, as sentenças condicionais (if-clauses) e as que expressam dúvida (em referência mais especifica às sentenças concessivas – whether-clauses) são também proposicionais.

Lewis (1973) identifica uma proposição como existente dentro de um conjunto de mundos possíveis em que ela é verdadeira. Para esse autor, uma proposição não é uma entidade linguística, de modo que uma sentença expressa linguisticamente uma proposição se e apenas se a sentença e a proposição são verdadeiras exatamente nos mesmos mundos. Nenhuma língua terá sentenças para expressar todas as proposições, pois não haverá sentenças suficientes para tanto. Por isso, a proposição deve ser asseverada, e apenas o conteúdo dessa asserção pode ser questionado, negado ou meramente suposto (Lewis, 1946

apud Palmer, 1985). Em outro trabalho, Lewis (1980) relaciona a noção de proposições aos

significados ou conteúdos semânticos de frases, fundamentais para a semântica e a filosofia da linguagem. Esta ideia é compartilhada por McGrath (2012), que afirma que proposições possuem propriedades modais (deônticas e epistêmicas). Veremos um pouco mais sobre elas na próxima seção. Por ora, destaca-se que neste trabalho proposições serão entendidas como entidades não linguísticas, cujo caráter proposicional/epistêmico pode ser traduzido linguisticamente nos complementos finitos, que possuem valor de verdade e, consequentemente, podem ser julgados como verdadeiros ou falsos. Sintaticamente, elas

um complemento de um adjetivo (‘Estou feliz que vou ter férias’) ou como complemento nominal (‘A

possibilidade (de) que chova me alegra’). Para uma discussão sobre se as sentenças que (that-clauses), que

são geralmente introduzidas por verbos mentais ou epistêmicos, por complementos sentenciais do tipo -que ou mesmo encontradas em sentenças com um outro modo gramatical, o irrealis.

Resumidamente, vimos até agora que um complemento finito é mais complexo cognitivamente que um complemento infinitivo (seguindo Givón, 1979, 2001; Vesterinen, 2007, 2008), ainda que seja mais independente da oração principal. Viu-se também que um complemento finito (do tipo -que) introduz uma proposição e um complemento infinitivo, do tipo nu16, é sempre eventivo e tem suas informações temporais atreladas às mesmas do predicado matriz (cf. Parsons, 1990; Castillo, 2001; Butler, 2004; Rodrigues, 2006; Hornstein, Martins & Nunes 2006, 2008; Freire, 2007).

Na próxima seção, trataremos um pouco mais dos conteúdos semânticos das sentenças e de seus complementos, verificando o que é proposto por McGrath (2012), que afirma que proposições possuem propriedades modais (deônticas e epistêmicas). Discutiremos, portanto, mais alguns conceitos necessários para a compreensão das informações denotadas pelos complementos dos verbos perceptivos e causativos, e em especial, os de modalidade.

3 Modalidade

Dedicamos esta seção para explorarmos as modalidades mais detalhadamente. Duas em especial estão mais relacionadas às estruturas verbais utilizadas neste estudo e são aqui

16 O complemento sentencial infinitivo com a partícula to, no inglês, é proposicional. O trabalho de Butler

(2004) verifica o tipo de informação veiculada por infinitivos nos verbos perceptivos e epistêmicos no inglês. Para o autor, a leitura do infinitivo pode ser de dois tipos: situacional ou proposicional. O primeiro tipo denota um evento, enquanto o segundo se refere a uma proposição, e pode ser julgado como verdadeiro. Os verbos de percepção devem ser seguidos por um “infinitivo nu”, como em (i). Já verbos epistêmicos como acreditar e

achar, o infinitivo deve vir precedido da partícula to, como em (ii).

(i) a. I saw John leave. b. *I saw John to leave. (ii) a. *I believe John leave.

b. I believe John to have left.

No PB, como o infinitivo preposicionado não é pertinente a este estudo, sugere-se que a forma finita análoga ao infinitivo com a partícula to no inglês possa ser o subjuntivo, por também denotar uma proposição.

apresentadas: a epistêmica e a deôntica. Na discussão dos dados de aquisição nos capítulos 4 e 6, ambas serão retomadas e discutidas no contexto dos verbos estudados e dos resultados.