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I. TEORIA GERAL DOS RECURSOS TRABALHISTAS

4. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E DE MÉRITO

4.4. Competência

O juízo de admissibilidade dos recursos é exercido em duas fases. Primeiramente, o juízo monocrático faz o juízo de admissibilidade inicial. O segundo juízo de admissibilidade é exercido pelo órgão ad quem. O órgão ad quem não está vinculado ao primeiro juízo de admissibilidade. São razões de economia processual que justificam o primeiro juízo de admissibilidade perante o órgão a quo. Há casos em que a inadmissibilidade do recurso é tão manifesta que acertou o legislador ao abreviar o tempo e a atividade jurisdicional, de modo a ceifar a admissibilidade do recurso já no seu nascedouro, não havendo justificativa para sua remessa ao órgão recursal.

Como o juízo de admissibilidade praticado pelo juízo a quo é provisório e a ele não está vinculado o órgão ad quem, não pode ser o recorrente privado de seu direito constitucional de ação de ver o seu recurso apreciado pela instância ad quem. Desta forma, o sistema conferiu à parte o direito de recorrer ao órgão que seria o competente para analisar se estavam presentes ou não os requisitos do recurso.

Se o primeiro juízo de admissibilidade for negativo apenas em parte, não há interesse do recorrente em ingressar com o agravo de instrumento para impugnar o primeiro juízo de admissibilidade. Nesse caso, deverá o órgão recursal apreciar a admissibilidade do recurso em sua

integralidade, sobretudo porque não está vinculado ao primeiro juízo de admissibilidade e não há qualquer gravame ou prejuízo ao recorrente.77 Nesse

sentido, o teor da Súmula n. 285 do Colendo Tribunal Superior do Trabalho: “Recurso de revista. Admissibilidade parcial pelo Juiz-

Presidente do Tribunal Regional do Trabalho. Efeito. O fato de o juízo primeiro de admissibilidade do recurso de revista entendê-lo cabível apenas quanto a parte das matérias veiculadas não impede a apreciação integral pela Turma do Tribunal Superior do Trabalho, sendo imprópria a interposição de agravo de instrumento”.

No processo civil o recurso cabível contra a decisão de não conhecimento do recurso pelo órgão a quo é o agravo na modalidade instrumento ou mesmo agravo interno ou regimental. Se se tratar de inadmissão da apelação, poderá a parte interpor o agravo de instrumento. Se não forem conhecidos os embargos infringentes, há previsão de agravo inominado (artigo 532, do CPC). Em casos de recurso especial, extraordinário ou ordinário, o recorrente poderá utilizar-se de agravo de instrumento de despacho denegatório. Há ainda o agravo regimental, regulado nos regimentos dos Tribunais, utilizado para casos de não admissão dos embargos de divergência.

No Processo do Trabalho, para impugnar as decisões monocráticas de primeiro grau que negam seguimento a recurso, a parte deverá se valer do agravo de instrumento, com previsão no artigo 897, alínea “b”, da Consolidação das Leis do Trabalho. Das decisões em que o Relator nega seguimento a recurso nas hipóteses do artigo 557 do Código de Processo Civil, a parte deverá se valer do agravo na forma regimental.

A decisão do juízo a quo que denega seguimento a recurso deverá ser fundamentada, conforme a dicção do artigo 93, IX, da Constituição Federal. Porém, se o juízo de admissibilidade é positivo não há necessidade de exposição dos motivos pelos quais o recurso é conhecido, uma vez que não haverá consequência prática.78

Se o órgão julgador ad quem passa a examinar diretamente acerca do mérito, sem se pronunciar em relação ao juízo de admissibilidade há de se presumir um juízo positivo implícito das questões preliminares.

No processo do trabalho, em razão da informalidade e simplicidade, há mais razão ainda para não se exigir a necessidade de decisão explícita acerca da admissibilidade recursal. No processo civil, igualmente os termos do artigo 518 do Código Processual Civil não se referem à necessidade de fundamentação. Em contraposição, porém, o artigo 542, parágrafo primeiro, do Código de Processo Civil em que há menção expressa de que em relação aos recursos especial e extraordinário é necessária decisão fundamentada de admissibilidade.79

Em relação ao juízo de admissibilidade a quo positivo não cabe recurso algum. O recorrido será intimado para oferecer contrarrazões, sem a possibilidade de interpor o recurso de agravo contra a decisão provisória de admissibilidade. Não há interesse recursal ao recorrido em agravar a decisão de admissibilidade do juízo a quo. Em contrarrazões o recorrido deverá demonstrar ao órgão ad quem os fundamentos pelos quais pugna pela inadmissibilidade recursal. Ademais, como são questões de ordem pública não há a necessidade de a parte recorrida provocar o órgão ad quem.

78 JORGE, Flávio Cheim, op. cit., p. 75.

79 Artigo 542, parágrafo 1º, do CPC: Findo esse prazo, serão os autos conclusos para

Ao contrário do que ocorre com o juízo de admissibilidade, o exame do juízo de mérito dos recursos é feito somente em uma fase e pelo órgão ad quem.

O sistema comporta exceções em relação ao juízo de mérito proferido unicamente pelo órgão ad quem. Uma das exceções é prevista no artigo 296 do Código de Processo Civil80, aplicável ao processo do trabalho por força do artigo 769 da Consolidação das Leis do Trabalho. Nesse caso, o mérito recursal é apreciado pelo órgão a quo, através do juízo de retratação.

Digno de destaque, também, é o teor do artigo 285-A, parágrafo 1º, do Estatuto Processual Civil.81 No caso desse artigo, o juízo a quo acolhe as razões recursais do recorrente e determina o prosseguimento do feito. Isso não quer dizer que o juízo de retratação se pronuncia tão logo sobre o mérito da ação. Ao revés, apenas exerce um juízo de retratação e determina o prosseguimento do feito com o percurso de toda a fase procedimental e consequente prolação de uma nova sentença, que pode ser de procedência ou de improcedência, a despeito da outrora sentença proferida.82

Nas diversas modalidades de agravo aplicáveis no processo civil também é possível que o juízo a quo examine o mérito recursal.83 Ao

80 Art. 296 do CPC: Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no

prazo de 48 (quarenta e oito) horas, reformar sua decisão. Parágrafo único: Não sendo reformada a decisão, os autos serão imediatamente encaminhados ao tribunal competente.

81 Art. 285-A do CPC: Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já

houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada. Parágrafo 1º: Se o autor apelar, é facultado ao juiz decidir, no prazo de 5 (cinco) dias, não manter a sentença e determinar o prosseguimento da ação. Parágrafo 2º: Caso seja mantida a sentença, será ordenada a citação do réu para responder ao recurso.

82 Júlio César Bebber denomina de juízo de cassação o disposto no artigo 285-A do CPC. (in

BEBBER, Júlio César, op. cit., p. 95).

83 Aqui referimo-nos às diversas modalidades de agravo no âmbito do processo civil, com a

ressalva de que nem todos os agravos previstos no CPC (instrumento, retido, inominado, agravo de instrumento de despacho denegatório de recurso especial ou extraordinário) são aplicáveis ao processo do trabalho.

exercer o juízo de retratação, característico dos agravos84, poderá o juiz ao julgar o mérito do agravo e, desde que convencido das razões recursais, reformar motu proprio a decisão que proferiu. Cabe ressaltar que no processo do trabalho, o agravo de instrumento tem finalidade exclusiva para liberar o recurso trancado pelo órgão a quo.

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2012 (páginas 71-75)