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Princípio da concentração ou irrecorribilidade imediata das

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2012 (páginas 39-43)

I. TEORIA GERAL DOS RECURSOS TRABALHISTAS

3. PRINCÍPIOS RECURSAIS TRABALHISTAS

3.5. Princípio da concentração ou irrecorribilidade imediata das

O princípio da concentração ou irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias está insculpido no parágrafo 1º do artigo 893 da Consolidação das Leis do Trabalho, verbis:

Art. 893, Parágrafo 1. “Os incidentes do processo são resolvidos pelo próprio Juízo ou Tribunal, admitindo-se a apreciação do merecimento das decisões interlocutórias somente em recursos da decisão definitiva”.

Consta-se que referido princípio tem por objetivo a busca constante de um processo rápido e efetivo. Para atingir esse desiderato, o legislador retira das partes o direito à impugnação imediata de determinados atos decisórios do juiz. Tal princípio está estreitamente vinculado à razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII) e as garantias constitucionais da efetividade (CF, art. 5º, XXXV).

De forma diversa ocorre no Processo Civil, onde as decisões interlocutórias proferidas no curso do processo podem ser impugnadas por agravo de instrumento. Já no Processo do Trabalho não se admite recurso imediato contra tais espécies de atos judiciais. O momento para impugnação das decisões interlocutórias fica postergado para a eventual interposição de recurso quanto a decisões terminativas do feito, no âmbito da Justiça do Trabalho. Porém, cabe à parte que se sentir prejudicada o oferecimento oportuno do denominado protesto nos autos em relação à determinada decisão interlocutória proferida contra seu interesse. O protesto deverá ser interposto na primeira oportunidade que as partes tiverem de se manifestar nos autos,

sob pena de preclusão temporal, conforme artigo 795 da Consolidação das Leis do Trabalho.

O princípio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias, entretanto, não possui caráter absoluto. As exceções estão contempladas na legislação e na jurisprudência sumulada do C. Tribunal Superior do Trabalho.35 O artigo 897, alínea “b”, da Consolidação das Leis do Trabalho, admite a interposição de agravo de instrumento dos despachos que denegarem a interposição de recursos.

Deve-se ressaltar, também, o artigo 2º, parágrafos 1º e 2º da Lei 5.584/70 que determina que se nos dissídios individuais o valor da causa for indeterminado, deverá o juiz fixar o valor da alçada antes de passar à instrução da causa e, se o juiz mantiver o valor da causa em caso de impugnação, poderá a parte formular revisão da decisão ao Presidente do Tribunal Regional ao qual está vinculado o Juiz prolator da decisão. Trata-se de recurso contra decisão interlocutória recorrível de imediato.36

O recurso de Agravo de Petição, previsto no artigo 897, alínea “a”, da Consolidação das Leis do Trabalho também constitui exceção ao princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias.

35 Francisco de Oliveira admite apenas uma exceção ao princípio da irrecorribilidade das

decisões interlocutórias: Conforme o renomado autor, “o princípio encontra uma única exceção prevista no parágrafo 1º, do art. 2º, da Lei n. 5.584/70, que previu o pedido de revisão do valor da causa e no caso de decisão proferida em embargos à execução que admite agravo de petição”. (OLIVEIRA, Francisco Antônio de. Tratado de direito processual do trabalho. São Paulo: LTr, 2008, página 1249).

36 Artigo 2º: Nos dissídios individuais, proposta a conciliação, e não havendo acordo, o

Presidente da Junta ou Juiz, antes de passar à instrução da causa, fixar-lhe-á o valor para a determinação da alçada, se este for indeterminado no pedido. Parágrafo 1º. Em audiência, ao aduzir razões finais, poderá qualquer das partes impugnar o valor fixado e, se o Juiz o mantiver, pedir revisão da decisão, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, ao Presidente do Tribunal Regional. Parágrafo 2º. O pedido de revisão, que não terá efeito suspensivo, deverá ser instruído com a petição inicial e a Ata da Audiência, em cópia autenticada pela Secretaria da Junta, e será julgado em 48 (quarenta e oito) horas, a partir do seu recebimento pelo Presidente do Tribunal Regional.

No âmbito jurisprudencial, o Tribunal Superior do Trabalho, sobre o tema, editou a Súmula 214, que dispõe:

Súmula 214 do TST: “Decisão interlocutória. Irrecorribilidade. Na Justiça do Trabalho, nos termos art. 893, parágrafo 1º, da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipóteses de decisão: a) de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, consoante o disposto no artigo 799, parágrafo 2º, da CLT”.

A Súmula 214 do TST prevê, portanto, três exceções a este princípio, mas mesmo nos casos referidos pela súmula o recurso cabível é o recurso ordinário e não o agravo de instrumento.

Digna de elogio o conteúdo disposto na alínea “a” da referida Súmula. Nesse sentido, vale citar o magistério de Carlos Henrique Bezerra Leite:

“Andou bem o TST ao permitir a interposição imediata de recurso de decisões dos TRTs contrárias às Súmulas ou Orientações Jurisprudenciais. Trata-se de homenagem aos princípios da economia e celeridade processual, pois evita que o processo retorne à Vara do Trabalho quando a decisão atacada (do TRT) esteja em desconformidade com entendimento sumulado, reiterado, iterativo e atual do TST”.37 Nos termos da alínea “b” da referida Súmula - permissão de recurso para o mesmo Tribunal - citamos o exemplo clássico de agravo regimental em relação à decisão monocrática do Relator que defere ou indefere liminar.

Finalmente, no caso da alínea “c” da Súmula 214, conquanto a decisão tenha natureza jurídica de decisão interlocutória, poderá ser

impugnada por meio de recurso ordinário, revista ou embargos. Trata-se de decisão declinatória de foro, nos termos do parágrafo 2º, do artigo 799 da Consolidação das Leis do Trabalho, verbis:

Art. 799 da CLT. Nas causas da jurisdição da Justiça do Trabalho, somente podem ser opostas, com suspensão do feito, as exceções de suspeição ou incompetência. Parágrafo 1º. As demais exceções serão alegadas como matéria de defesa. Parágrafo 2º. Das decisões sobre exceções de suspeição e incompetência, salvo, quanto a estas, se terminativas do feito, não caberá recurso, podendo, no entanto, as partes alegá-las novamente no recurso que couber da decisão final.

Discute-se o cabimento de decisão interlocutória que acolhe incompetência em razão da matéria ou da pessoa.

Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite:

“Com a devida vênia, pensamos que a Súmula 214 do TST, embora pareça exaurir o tema, na verdade descuidou de mencionar outras decisões interlocutórias suscetíveis de interposição imediata de recurso. Basta lembrar a decisão interlocutória que acolhe preliminar de incompetência em razão da matéria ou da pessoa. Nesse caso trata-se de decisão interlocutória terminativa do feito, pois o processo (ou melhor, os autos) é remetido para outro ramo do Poder Judiciário”.38 Não há coerência em se admitir o recurso imediato de decisão que remete os autos para outro Tribunal, dentro da Justiça do Trabalho, mas não se admitir o recurso imediato quando a remessa é feita para Tribunal integrante de outro ramo do Poder Judiciário. Neste caso, trata-se de decisão interlocutória terminativa do feito, pois remete o julgamento da causa para outro ramo do Poder Judiciário. É possível a interposição imediata de recurso.

Neste sentido, a Súmula 225 do Superior Tribunal de Justiça que alberga tal entendimento:

“Compete ao Tribunal Regional do Trabalho apreciar recurso

contra sentença proferida por órgão de primeiro grau da Justiça Trabalhista, ainda que para declarar-lhe a nulidade em virtude de incompetência”.

De se destacar, ainda, a admissão pelo Tribunal Superior do Trabalho do uso do mandado de segurança como meio de impugnação autônoma das decisões interlocutórias na Justiça do Trabalho, conforme teor da súmula 414 do C Tribunal Superior do Trabalho:

MANDADO DE SEGURANÇA. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA (OU LIMINAR) CONCEDIDA ANTES OU NA SENTENÇA. I - A antecipação da tutela concedida na sentença não comporta impugnação pela via do mandado de segurança, por ser impugnável mediante recurso ordinário. A ação cautelar é o meio próprio para se obter efeito suspensivo a recurso. II - No caso da tutela antecipada (ou liminar) ser concedida antes da sentença, cabe a impetração do mandado de segurança, em face da inexistência de recurso próprio. III - A superveniência da sentença, nos autos originários, faz perder o objeto do mandado de segurança que impugnava a concessão da tutela antecipada (ou liminar)”.

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2012 (páginas 39-43)