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Princípio da dialeticidade

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2012 (páginas 35-39)

I. TEORIA GERAL DOS RECURSOS TRABALHISTAS

3. PRINCÍPIOS RECURSAIS TRABALHISTAS

3.4. Princípio da dialeticidade

O princípio da dialeticidade consiste no entendimento de que o recorrente deve apresentar os fundamentos que demonstrem sua insatisfação com a decisão recorrida, não bastando a mera manifestação do interesse em recorrer.

O artigo 899 da Consolidação das Leis do Trabalho estabelece:

“os recursos serão interpostos por simples petição e terão efeito meramente devolutivo, salvo as exceções previstas neste Título, permitida a execução provisória até a penhora”.

Qual o entendimento doutrinário em relação ao teor do dispositivo?

Não há consenso. Expressiva corrente doutrinária adota o entendimento da necessidade de que o recorrente motive as razões de seu

23 BEBBER, Júlio César, op. cit., p. 250.

24 Nesse sentido: SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. São Paulo:

Editora Método, 2007. p. 445; RODRIGUES PINTO, José Augusto. Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: LTr.

inconformismo.25 Outra corrente de doutrinadores adota uma posição intermediária e argumenta que a interpretação literal do dispositivo aplicar-se-ia apenas àqueles que militam na Justiça do Trabalho no exercício do jus

postulandi.26 Por fim, há ainda aqueles que, adotando posição minoritária,

defendem a aplicação ipsis litteris da norma consolidada.27

Com efeito, segundo Valentin Carrion:

“as razões do inconformismo da parte são requisitos para apreciação do mérito e até para seu recebimento pelo juízo recorrido ou simples conhecimento prefacial pelo juízo a quo. A interposição “por simples petição” (CLT, art. 899) significa não haver necessidade de outras formalidades, como, por exemplo, o “termo de agravo nos autos”, que era exigido no CPC de 1939, art. 85228, vigente quando promulgada a CLT. Mas a

fundamentação é indispensável, não só para saber quais as partes da sentença recorrida que transitaram em julgado, como para analisar as razões que o Tribunal deverá examinar, convencendo-se ou não, para reformar o julgado”.29

Compartilha dessa mesma posição Carlos Henrique Bezerra Leite. Defende o renomado autor a não interpretação literal do dispositivo consolidado (artigo 899) e compara o recurso sem fundamentação com a petição inicial sem causa de pedir.30

Também é o entendimento de Júlio César Bebber:

“Ao recorrente, portanto, incumbe declarar expressamente a sua insatisfação (elemento volitivo) e os motivos desta (elemento de razão ou descritivo), sob cominação de não conhecimento do recurso interposto.31

25 Nesse sentido: BEBBER, Júlio César, op. cit., p. 249; BEZERRA LEITE, Carlos Henrique, op.

cit., p. 599.

26 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. São Paulo: Atlas, 2005. p. 402. 27 GIGLIO, Wagner. Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: LTr, 1986. p. 342. 28 O artigo 810 do CPC de 1939 tinha a seguinte redação: Art. 852. O agravo no auto do

processo, reduzido a termo, poderá ser interposto verbalmente ou por petição em que se mencionem a decisão agravada e as razões de sua ilegalidade, afim de que dela conheça, como preliminar, o Tribunal Superior, por ocasião do Julgamento da apelação (arts. 876 a 878).

29 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. São Paulo: Saraiva,

2004. p. 780.

30 BEZERRA LEITE, Carlos Henrique, op. cit., p. 599. 31 BEBBER, Júlio César, op. cit., p. 249.

Sérgio Pinto Martins admite a aplicabilidade literal do artigo 899 da Consolidação das Leis do Trabalho, porém sem vigência para recursos técnicos, como é o caso do recurso de revista e embargos. Para o autor, basta mero pedido de reexame, sem necessidade de fundamentação. Ressalva o autor, entretanto, que a interpretação acerca da desnecessidade de fundamentação só pode ser utilizada em casos em que a parte esteja no exercício do jus postulandi, conforme artigo 791 da norma consolidada.32

Por fim, a abalizada opinião de Wagner Giglio:

“Entendemos até, contra opinião da quase unanimidade dos doutrinadores, que a autorização contida no artigo 899 da CLT, de interposição dos recursos por simples petição, significa exatamente o que diz: basta uma simples petição para desencadear a revisão do julgado. Mesmo que não denunciem os motivos da irresignação, o mero pedido de reexame, despido de qualquer fundamentação, é hábil para provocar novo pronunciamento judicial. Em suma: a fundamentação constitui simples ônus do recorrente, que corre o risco de não convencer a Corte revisora do erro, engano ou injustiça da decisão impugnada, mas não requisito essencial do recurso”.33

Em nosso sentir, as razões recursais são indispensáveis a fim de possibilitar ao órgão de segundo grau o conhecimento dos motivos do recurso. Não se pode olvidar que o exercício do direito de defesa e o contraditório são princípios constitucionais previstos no artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal. Assim, deve a parte declinar o motivo do pedido de reexame da decisão, pois só assim a parte adversa poderá apresentar as contrarrazões.

Ademais, são as razões que fixam o quantum apellatum. Qual seria a extensão do contraditório em grau de recurso se não houvesse as razões recursais?

32 MARTINS, Sérgio Pinto, op. cit., p. 402. 33 GIGLIO, Wagner, op. cit., p. 342.

Além disso, as razões recursais também são necessárias para saber quais as partes da sentença recorrida que transitaram em julgado.

A jurisprudência do Colendo Tribunal Superior do Trabalho, através de sua Súmula 422 reconhece o princípio da dialeticidade, verbis:

Súmula 422 do TST: “RECURSO. APELO QUE NÃO ATACA OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO RECORRIDA. NÃO CONHECIMENTO. ART. 514, II, do CPC. Não se conhece de recurso para o TST, pela ausência do requisito de admissibilidade inscrito no art. 514, II, do CPC, quando as razões do recorrente não impugnam os fundamentos da decisão recorrida, nos termos em que fora proposta”.

Já a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal também respalda o princípio da dialeticidade na Súmula de número 282:

Súmula 282 do STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles”.

A legislação infraconstitucional igualmente abraça o princípio da dialeticidade nos artigos 514, inciso II, 524 e 541 do Código de Processo Civil, bem como o já comentado artigo 899 da Consolidação das Leis do Trabalho.34

34 Art. 514 do CPC: A apelação, interposta por petição dirigida ao juiz conterá: I – os nomes e a

qualificação das partes; II – os fundamentos de fato e de direito; III – o pedido de nova decisão. Art. 524 do CPC: O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal competente, através de petição com os seguintes requisitos: I – a exposição do fato e do direito; II – as razões do pedido de reforma da decisão; III – o nome e o endereço completo dos advogados, constantes do processo. Art. 541 do CPC: O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice presidente do tribunal recorrido, em petições distintas, que conterão: I – a exposição do fato e do direito; II – a demonstração do cabimento do recurso interposto; III –as razões do pedido de reforma da decisão recorrida; par. único (...). Art. 899, caput, da CLT: os recursos serão interpostos por simples petição e terão efeito meramente devolutivo, salvo as exceções previstas neste Título, permitida a execução provisória até a penhora.

3.5. Princípio da concentração ou irrecorribilidade imediata das decisões

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2012 (páginas 35-39)